Benefícios do Treinamento de Força
em Hipertensos
Alexandre Pugliese
Continuação...
TABELA I:
COMPARAÇÃO
DA PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA MÁXIMA
E DIASTÓLICA DURANTE VÁRIOS PERCENTUAIS
DE CONTRAÇÃO VOLUNTÁRIA MÁXIMA
(CVM) NO EXERCÍCIO ISOMÉTRICO E TIPO SUPINO
(BENCH PRESS), COM PESOS LIVRES E COM RESISTÊNCIA
HIDRÁULICA. |
|
Isométrico (a)
(% de CVM)
|
Pesos livres
Tipo supino (B)
|
Hidráulico
Tipo supino (C)
|
Condição |
25 50 75 100 |
25 50 |
Lento rápido |
Sistólica máxima,
mmHg |
172 179 200 225 |
169 232 |
237 245 |
Diastólica máxima,
MmHg
|
106 116 135 156 |
104 154 |
101 160 |
Os valores são
médias para sete indivíduos. laboratório
de desempenho humano, departamento da ciência do
exercício, universidade de Massachusetts, Amherst,
MA.
- Glote aberta (sem manobra de valsalva);
média de dois ensaios; tempo de contração
de 2 a 3 Segundos; a posição dos braços é aquela
do exercício tipo supino com as mãos
apenas ligeiramente acima do tórax.
- O peso levantado era de 25 ou 50% da
contração isométrica máxima
previamente determinada.
- Realizado no aparelho hidra-fitness
para pressão torácica na regulagem 3
do mostrador (lenta) e 5 (rápida) para 20 segundos
de contração máximas repetidas.
|
Outras pesquisas
também indicam que o exercício que requer uma
grande massa muscular e uma maior tensão relativa induz
a maior resposta por parte da pressão arterial, essa
resposta é devida a uma maior estimulação
do centro cardiovascular pelas áreas ativas do córtex
motor e a uma grande retro alimentação (feedback)
periférica para esse centro, proveniente da massa muscular
que está sendo contraída (McARDLE & KATCH,
KATCH, 1998).
A sobrecarga cardiovascular aguda observada com um exercício
intensivo de resistência poderia ser prejudicial para os indivíduos
que sofrem de doenças cardíacas vasculares, particularmente para
aqueles destreinados nessa forma de exercício. Para essas pessoas são
desejáveis e benéficas as formas mais rítmicas de exercício
moderado (McARDLE & KATCH, KATCH, 1998).
5. Efeitos Crônicos Do
Treinamento De Resistência:
O exercício
com resistência acarreta uma maior elevação
na pressão arterial que o movimento dinâmico de
menor intensidade, porém não produz qualquer
aumento a longo prazo na pressão arterial em repouso.
Ainda mais, um programa regular de treinamento de resistência
modera a resposta da pressão arterial a essa forma de
exercício. Por exemplo fisiculturistas treinados mostram
aumentos menores nas pressões sistólica e diastólica
com um exercício de resistência do que os fisiculturistas
novatos e os indivíduos destreinados (McARDLE & KATCH,
KATCH, 1998).
No que concerne ao efeito sobre a hipertensão, a maior
parte da pesquisa indica que treinamento padronizado de resistência é menos
eficaz no sentido de reduzir a pressão arterial em repouso que os programas
de exercícios aeróbico regular, apesar de já terem relatados
alguns efeitos positivos do treinamento de resistência (McARDLE & KATCH,
KATCH, 1998).
6. Pressão Arterial Nos
Exercício Com Os Braços:
Para um determinado
percentual da captação máxima de oxigênio,
nas pressões sistólica e diastólica são
consideravelmente mais altas quando o trabalho é realizado
com os braços que com as pernas. Isso porque a menor
massa muscular e árvore vascular dos braços oferece
uma maior resistência ao fluxo sangüíneo
que a maior massa da árvore vascular das pernas (McARDLE & KATCH,
KATCH, 1998). Essa forma de exercício representa claramente
uma maior sobrecarga cardiovascular, pois o trabalho do miocárdio
aumenta consideravelmente. Para os indivíduos com disfunção
cardiovascular, essas observações apoiam o uso
do exercício que requer grandes grupos musculares, tais
como marcha, ciclismo e corrida, ao contrário dos exercícios
desregulados nos quais participa uma massa muscular bastante
limitada, como trabalhar com uma pá, utilizar o martelo
para usar pregos em uma posição alta, ou até mesmo
os exercícios que consistem em ativar uma manivela com
os braços. Se for utilizar um programa sistemático
de exercícios com os braços para o treinamento
dos pacientes com coronariopatia , as cargas de trabalho deveram
ser estabelecidas com base na resposta individual a essa forma
de exercício, e não na prescrição
de algum teste de esforço que utiliza o ciclismo ou
a corrida (McARDLE & KATCH, KATCH, 1998).
7. Treinamento E Coração:
O músculo
cardíaco, ao contrário do que ocorre com os músculos
esqueléticos, encontra-se em constante atividade (WEINECK,
1999).
Com o decorrer do treinamento sob uma dada intensidade e volume,
dá-se a formação do "coração de atleta",
isto é, ocorre um aumento da cavidade cardíaca (dilatação),
aumento da espessura das paredes cardíacas (hipertrofia). (WEINECK,1999).
Paralelamente a hipertrofia, há síntese de organelas
celulares, para evitar que o coração trabalhe sobrecarregado, (KLEITKE,
1977; citado por WEINECK, 1999). Entretanto o coração não
deve ultrapassar o peso crítico de 500g, a partir do qual há comprometimento
da irrigação cardíaca (WEINECK, 1999).
O coração de pessoas não submetidas a
treinamento algum apresenta de 250-300g com um volume de 600 a 800 ml, ou seja
11-12 ml/Kg de peso corporal ; o coração de pessoas treinadas costuma
pesar de 350-500g, para um volume de 900-1300ml, ou seja de 14 -17 ml/Kg (MELLEROWICZ
/ MELLER, 1972; ISRAEL / WEBER, 1972; STRAUZENBERG / SCHWIDMANN, 1976; citado
por WEINECK, 1999).
O volume cardíaco de um levantador de pesos chega a
750 ml, ou 11,9 ml/Kg aproximadamente. (KINDERMANN, 1983; citado por WEINECK,
1999).
Segundo Israel (em STRAUUZENBERG / SCHWIDMANN, 1976; citado
por WEINECK, 1999), um aumento de 100 ml do volume cardíaco implica um
aumento de 200 ml do consumo máximo de oxigênio.
Um grande débito cardíaco é a base para
um trabalho cardíaco de atletas treinados em resistência em âmbito
submáximo e um pré requisito para o trabalho cardíaco sob
carga (estímulos) máxima. (WEINECK, 1999).
7.1 Adaptações Cardiovasculares:
As adaptações
cardiovasculares ao treinamento de força têm recebido
uma quantidade significativa de estudo durante os últimos
10 anos. Como todas as adaptações ao treinamento
de força, a resposta é afetada pelo volume e
intensidade do treinamento (FLECK & KRAEMER, 1997).
Pensava-se que o treinamento físico resultava em uma
condição denominada coração de atleta. O condicionamento
físico incluindo o treinamento de força resulta em adaptações
cardiovasculares que assemelham-se às adaptações à hipertensão
( isto é, espessura da parede ventricular e tamanho da câmara aumentados
). (FLECK & KRAEMER, 1997).
Se as mudanças são examinadas detalhadamente,
entretanto, há diferenças entre as adaptações à hipertensão
e o treinamento de força. Como exemplo, com a hipertensão a espessura
da parede ventricular aumentada além dos limites normais.
Com o treinamento de peso, isto raramente ocorre e não
fica evidente se a espessura da parede é examinada em relação à massa
corporal magra, enquanto que com a hipertensão os aumentos na espessura
da parede são evidentes mesmo quando examinados em relação
a massa corporal magra (FLECK & KRAEMER, 1997). Isso tem levado ao uso dos
termos hipertrofia patológica para as mudanças que ocorrem
com a hipertensão e hipertrofia fisiológica para as mudanças
que ocorrem com o treinamento físico .
As adaptações cardiovasculares são causadas
pelo estímulo de treinamento sobre o sistema cardiovascular (FLECK & KRAEMER,
1997). Há muito tempo se sabe que as adaptações cardiovasculares
ao treinamento de resistência aeróbica são diferentes das
adaptações ao treinamento de força (MORGANROTH et al., 1975
citado por FLECK & KRAEMER, 1997).
Em geral, estas diferenças são causadas pela
necessidade de bombear um grande volume de sangue em uma pressão relativamente
baixa durante o exercício de resistência, enquanto que durante o
treinamento de força um volume relativamente pequeno de sangue é bombeado
em uma pressão alta (FLECK & KRAEMER, 1997). Esta diferença
entre treinamento aeróbico e de força resulta em adaptações
diferentes.
7.2 Adaptações Do
Treinamento Em Repouso:
As adaptações
cardiovasculares em repouso ocorrem a partir da realização
do treinamento de força (FLECK & KRAEMER, 1997).
As mudanças na morfologia cardíaca, capacidade
de bombeamento, freqüência cardíaca, pressão
sangüínea e perfil lipídico indicam a função
cardiovascular; estes fatores são também indicadores
de risco cardiovascular (FLECK & KRAEMER, 1997). Ver próximas
tabelas:
TABELA II:
ADAPTAÇÕES
CARDIOVASCULARES CRÔNICAS EM REPOUSO DEVIDO AO
EXERCÍCIO DE FORÇA
|
Freqüência
cardíaca |
- ou sem mudança |
Pressão
sangüínea: |
|
Diastólica |
- ou sem mudança |
Sistólica |
- ou sem mudança |
Duplo produto |
- ou sem mudança |
Volume sistólico: |
|
Absoluto |
+ ou sem mudança |
Relativo a área
SC |
Sem mudança |
Relativo ao PCM |
Sem mudança |
Função
cardíaca : |
|
Diastólica |
Sem mudança
(+ ?) |
Sistólica |
+ ou sem mudança |
Perfil lipídico
: |
|
Colesterol total |
- ou sem mudança |
HDL-C |
+ ou sem mudança |
LDL-C |
- ou sem mudança |
- = diminui, + =
aumentoSC = superfície corporal, PCM = peso do corpo
magro, HDL = colesterol HDL (lipoproteína de alta
densidade), LDL = colesterol LDL (lipoproteína de
baixa densidade). |
TABELA III:
ADAPTAÇÕES
CARDÍACAS MORFOLÓGICAS DEVIDO AO TREINAMENTO
DE FORÇA |
|
Absoluta |
Relativa a área de
superfície do corpo de peso magro do corpo |
Espessura da parede : |
|
|
Ventrículo esquerdo |
++ |
+ ou sem mudança |
Septo |
++ |
+ ou sem mudança |
Ventrículo esquerdo |
Sem mudança |
Sem mudança |
Volume da câmara : |
|
|
Ventrículo esquerdo |
+ |
Sem mudança |
Ventrículo direito |
Sem mudança |
Sem mudança |
Massa ventricular esquerda |
++ |
+ ou sem mudança |
+ = aumentado |
Freqüência cardíaca.
Os atletas treinados em força em repouso, tem batimentos
cardíacos na média (FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER,
1997) ou abaixo da média (STONE, 1991 et al., citado por FLECK& KRAEMER,
1997). Os estudos de treinamento de força de períodos curtos resultaram
em diminuições significativas de 5% até 12% (FLECK, 1988,1992;
citado por FLECK & KRAEMER, 1997) e não significativas (FLECK, 1988,1992;
GOLDBERG, ELLIOTT & KUEHL, 1994; citado por FLECK & KRAEMER, 1997) na
freqüência cardíaca em repouso. A diminuição
da freqüência cardíaca em repouso de vido ao treinamento físico é normalmente
atribuída à combinação da estimulação
parassimpática aumentada e da simpática diminuída para o
coração (BLOMQVIST & SALTIM, 1983; FRICK, ELOVAINIO & SOMER,
1967; citado por FLECK& KRAEMER, 1997).
Pressão sangüínea.
A maioria dos relatos mostra atletas treinados em força
tendo pressão sangüínea diastólica e sistólica
em repouso na média ou ligeiramente abaixo da média (FLECK, 1988,1992;
citado por FLECK & KRAEMER, 1997). Os estudos em treinamento de curto período
em homens também demonstram nenhuma mudança ou leves diminuições
na pressão sangüínea sistólica e diastólica
em repouso (FLECK, 1988,1992; GOLDBERG, ELLIOTT & HUEHL, 1994; citado por
FLECK & KRAEMER, 1997). As pressões sangüíneas diminuídas
em descanso, quando ocorrem, são provavelmente relacionadas à diminuição
da gordura, corporal, diminuição do sal no organismo e alterações
no impulso simpático para o coração (FLECK, 1988,1992: citado
por FLECK & KRAEMER, 1997).
Apesar da evidência em contrário, existe ainda
uma concepção errônea comum de que o treinamento de força
resulta em hipertensão (FLECK & KRAEMER, 1997). A hipertensão,
quando ocorrem em atletas treinados em força, provavelmente está mais
relacionado à hipertensão essencial, excesso de treinamento crônico,
uso de esteróides, grandes aumentos em massa muscular ou aumento no peso
total do corpo (FLECK, 1992; STONE et al.,1991 citado por FLECK & KRAEMER,
1997).
Duplo produto.
A freqüência cardíaca multiplicada pela pressão
sistólica denomina-se duplo produto. É uma estimativa do trabalho
miocárdio e do consumo de oxigênio. Vários estudos de treinamento
de força de curto período mostram que o duplo produto em repouso
diminui significativamente (GOLDBERG, ELLIOT & KUEHL, 1994; STONE, 1991;
citado por FLECK & KRAEMER, 1997). Isto indica uma diminuição
no consumo miocárdico de oxigênio e é normalmente visto como
uma adaptação positiva ao treinamento.
Volume
sistólico.
Volume sistólico é a quantidade de sangue bombeado
a cada batimento cardíaco. Um aumento no volume sistólico em repouso é visto
como uma adaptação positiva ao treinamento. Homens altamente treinados
em força têm volumes sistólicos absolutos normais ou acima
do normal em repouso (EFFRON, 1989; FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER,
1997).
Entretanto relativamente a área de superfície
do corpo ou à massa corporal magra, o volume sistólico em repouso
de homens altamente treinados em força não é significativamente
diferente do normal (EFFRON, 1989; FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER,
1997). O volume sistólico absoluto maior do eu o normal é causado
por um diâmetro ventricular esquerdo diastólico significativamente
maior, indicando um maior enchimento do ventrículo com sangue antes de
cada batimento e uma fração de ejeção ou percentual
de sangue bombeado por batimento normal (FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER,
1997). Um estudo de treinamento de curta duração mostrou que o
volume sistólico absoluto de repouso não se alterou (LUSIANI et
al., 1986 citado por FLECK & KRAEMER, 1997), indicando que para aumentá-lo é necessário
um período longo de treinamento, um alto volume de treinamento em ambos.
Perfil
lipídico.
O efeito do treinamento de força no perfil lipídico é controverso.
Já se relatou que atletas homens treinados em força têm colesterol
de lipoproteína de alta densidade (ou colesterol HDL), colesterol de lipoproteína
de baixa densidade (ou colesterol LDL), colesterol total e relação
entre colesterol total e o colesterol HDL normais, mais altos ou mais baixos
do que o normal (KRAEMER, DESCHENES & FLECK, 1988; HURLEY, 1989; STONE et
al., 1991; citado por FLECK & KRAEMER, 1997).relatos sobre os perfis lipídicos
em mulheres atletas treinadas em força também não mostram
consenso (ELLIOT et al., 1987; MORGAN et al., 1986; citado por FLECK & KRAEMER,
1997). O perfil lipídico de fisiculturistas é semelhante ao dos
corredores, enquanto que os levantadores de potência têm valores
mais baixos de colesterol HDL e valores mais altos de colesterol LDL do que os
corredores quando são considerados a gordura corporal do corpo, a idade
e o uso de esteróides (o uso de esteróides diminui a concentração
de colesterol HDL) (HURLEY, SEALS, HAGBERG et al., 1987 citado por FLECK & KRAEMER,
1997).
Os estudos com períodos de treinamento curtos também
são inconclusivos. Demonstram-se tanto efeitos positivos como a ausência
de efeitos sobre o perfil lipídico a partir do treinamento de força
(HURLEY, 1989; LEE et al., 1990; STONE et al., 1991; citado por FLECK & KRAEMER,
1997). Embora o efeito desse treinamento no perfil lipídico varie, parece
que ele pode afetar positivamente este perfil. Os programas de volume alto com
períodos curtos de repouso entre séries e exercícios provavelmente
têm efeito mais positivo no perfil lipídico (FLECK & KRAEMER,
1997).
Espessura
da parede cardíaca.
A espessura aumentada das paredes ventriculares é uma
adaptação as pressões sangüíneas intermitentemente
elevadas durante o treinamento de força (EFFRON, 1989; citado por FLECK & KRAEMER,
1997). As técnicas ecocardiográficas e de RMI mostram que os atletas
altamente treinados em força têm a espessura absoluta da parede
posterior do ventrículo esquerdo e do septo intraventricular maior do
que o normal (FLECK, 1988; FLECK, HENKE & WILSON, 1989; SPIRITIS et al.,
1994; citado por FLECK & KRAEMER, 1997).
Em geral se estas espessuras de parede são expressas
relativamente à área de superfície do corpo ou à massa
corporal magra, não há diferença significativa em relação
ao normal (FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER, 1997).
O nível do atleta parece ter algum impacto na espessura
da parede ventricular. Uma meta-análise (um procedimento estatístico
no qual os dados provenientes de diferentes estudos podem ser analisados e comparados)
indica que a espessura absoluta da parede do septo ventricular, mas não
da parede ventricular esquerda posterior, é maior em atletas de nível
nacional e internacional do que em indivíduos que treinam força
por recreação (FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER, 1997).
Os estudos do treinamento de curta duração também mostram
que o treinamento de força resulta em aumento na espessura na parede ventricular
ou não têm efeito (EFFRON, 1989; FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER,
1997).
Se ocorrer ou não um aumento na espessura da parede
do ventrículo provavelmente depende de diferenças no desempenho
do treinamento. As pressões sangüíneas mais altas durante
uma série alta até a falha concêntrica ocorrem durante as últimas
repetições (FLECK & DEAN, 1987; MacDOUGALL et al., 1985; SALE
et al., 1994; citado por FLECK & KRAEMER, 1997). Desta forma, é possível
que para a espessura da parede do ventrículo esquerdo aumentar ao máximo
seja necessário executar as séries até a falha concêntrica.
Tem-se relatado que os exercícios envolvendo grandes massas musculares,
tais como o de pressão de pernas, produzem uma resposta da pressão
sangüínea maior do que o exercício envolvendo massas musculares
menores (MacDOUGALL et al., 1985; citado por FLECK & KRAEMER, 1997). Isto
indica que os exercícios realizados também podem ter um impacto
nos aumentos da espessura da parede ventricular.
Parece que o treinamento de força pode resultar em
espessura da parede ventricular esquerda aumentada, mas não é uma
conseqüência necessária de todos os programas desse treinamento.
A pressão sangüínea intermitentemente elevada durante o treinamento
de peso é estímulo para um aumento na espessura da parede ventricular
esquerda. Os fatore relacionados à espessura da parede ventricular esquerda
aumentada incluem o nível do atleta, se as séries são ou
não elevadas à falha concêntrica e o tamanho da massa muscular
envolvida nos exercícios (FLECK & KRAEMER, 1997).
Dimensões das câmaras
do coração.
Um aumento no tamanho ou volume da câmara ventricular
esquerda é uma indicação de sobrecarga de volume no coração,
como ocorre em atletas de endurance. A maioria dos estudos de treinamento de
períodos curtos e dos estudos em homens altamente treinados em força
mostra que o treinamento de força tem pouco ou nenhum impacto nas dimensões
absolutas internas ventriculares esquerdas, um indicador do tamanho da câmara
(EFFRON, 1989; FLECK, 1988; STONE et al., 1991; citado por FLECK & KRAEMER,
1997). Isto é verdade se as dimensões sistólica ou diastólicas
das câmaras são examinadas.
Tem sido relatado que em repouso os fisiculturistas, mas não
os levantadores de peso, têm volumes absolutos diastólico final
e sistólico do ventrículo esquerdo maiores do que o normal (DELIGIANNIS,
ZAHOPOULOU & MANDROUKAS, 1988; citado por FLECK & KRAEMER, 1997), que
indica que os programas de alto volume podem ter um impacto maior do que os de
baixo volume no volume ventricular. Se os volumes do ventrículo esquerdo
são examinados relativamente à área de superfície
do corpo ou massa corporal magra, entretanto, nem os fisiculturistas nem os levantadores
de peso são significativamente diferentes do normal. DELIGIANNIS, ZAHOPOULOU & MANDROUKAS
(1988); citado por FLECK & KRAEMER (1997), também relatam que em repouso
a dimensão interna do ventrículo direito de fisiculturistas, mas
não de levantadores de peso, é maior do que o normal em termos
absolutos e relativos à área de superfície do corpo e à massa
corporal magra. A descoberta que os levantadores de peso não têm
dimensões internas do ventrículo direito maiores do que o normal é apoida
por um outro estudo mostrando que isto é verdadeiro com levantadores de
peso de estilo olímpico, de alto nível e de categoria júnior
(FLECK, HENKE & WILSON, 1989; citado por FLECK & KRAEMER, 1997). A dimensão
interna atrial esquerda, tanto de fisiculturistas como de levantadores de peso, é maior
do que o normal em termos absolutos e relativos à área de superfície
do corpo e massa corporal magra (DELIGIANNIS, ZAHOPOULOU & MANDROUKAS, 1988;
citado por FLECK & KRAEMER, 1997). Os fisiculturistas também têm
uma dimensão interna atrial esquerda significativamente maior do que os
levantadores de peso (DELIGIANNIS, ZAHOPOULOU & MANDROUKAS, 1988; citado
por FLECK & KRAEMER, 1997).
Parece que o treinamento de força pode resultar em
um aumento tanto no volume atrial como ventricular. Entretanto, nenhuma diferença
do normal é aparente quando se examina o volume relativamente à área
de superfície do corpo ou a massa corporal magra. Parece que os programas
de alto volume dos fisiculturistas podem ter o maior potencial para afetar o
tamanho das câmaras cardíacas (FLECK & KRAEMER, 1997).
Massa ventricular esquerda.
Um aumento na massa ventricular pode ser produzido por um aumento
na espessura da parede ou no tamanho da câmara. A grande maioria dos estudos
com atletas altamente treinados em força e dos estudos com treinamentos
de curta duração mostra que a massa ventricular esquerda absoluta,
assim como a espessura da parede ventricular esquerda, é maior do que
o normal (FLECK, 1988; FLECK, HENKE & WILSON, 1989; STONE et al., 1991; citado
por FLECK & KRAEMER, 1997). Contudo a diferença é muito reduzida
ou não-existente relativamente à área de superfície
do corpo ou à massa corporal magra alguns dados indicam que atletas de
nível nacional têm uma massa ventricular esquerda, assim como a
espessura da parede, maior do que os atletas de menor nível (EFROON, 1989;
FLECK, 1988; citado por FLECK & KRAEMER, 1997).
Tanto os fisiculturistas como os levantadores de peso, tem
uma massa ventricular esquerda absoluta maior do que o normal. Entretanto, eles
não são significativamente diferentes uns dos outros. DELIGIANNIS,
ZAHOPOULOU & MANDROUKAS, 1988; citado por FLECK & KRAEMER, 1997); ambos
também têm a espessura da parede ventricular esquerda significativamente
maior do que o normal. Contudo, apenas os fisiculturistas têm uma dimensão
diastólica final ventricular esquerda significativamente maior do que
o normal (DELIGIANNIS, ZAHOPOULOU & MANDROUKAS, 1988; citado por FLECK & KRAEMER,
1997).
Desse modo, em fisiculturistas a massa ventricular esquerda
aumentada é causada tanto pela espessura da parede ventricular esquerda
maior como pelo tamanho da câmara, enquanto que nos levantadores de peso
o aumento é causado na maior parte apenas por uma espessura da parede
maior do que o normal. A massa ventricular esquerda absoluta pode ser aumentada
pelo treinamento de força; pode ser causada por um aumento tanto na espessura
da parede como pelo tamanho da câmara e também pode estar relacionada
ao tipo de programa realizado (FLECK & KRAEMER, 1997).
Função cardíaca.
Irregularidades na função sistólica e
diastólica estão associadas com a hipertrofia cardíaca causada
pela hipertensão e por doença valvular cardíaca. A maioria
dos estudos mostra que as medidas comuns da função sistólica - encurtamento
fracional percentual, fração de ejeção e velocidade
do encurtamento circunferencial - não são afetadas pelo treinamento
de força (FLECK, 1988, 1992; citado por FLECK & KRAEMER, 1997). Contudo
também foi relatado que o encurtamento fracional percentual é significativamente
maior nos atletas treinados em força do que em indivíduos normais
(COLAN, SANDERS, McPHERSON & BORROW, 1980; citado por FLECK & KRAEMER,
1997) e que o treinamento de curta duração aumentada significativamente
o encurtamento fracional percentual (KANAKIS & HICKSON, 1980; citado por
FLECK & KRAEMER, 1997), indicando um aumento na função sistólica.
Tem-se observado que os levantadores de potência, que
têm uma massa ventricular esquerda absoluta e relativa (à área
de superfície do corpo) significativamente maior, têm medidas de
função diastólica normais e até mesmo aumentadas
(velocidade de pico do aumento da câmara e do enchimento atrial) (COLAN
et al., 1985; PEARSON et al., 1986; citado por FLECK & KRAEMER, 1997). O
uso de esteróides e anabolizantes foi relatado como sendo prejudicial
(PERSON et al., 1986; citado por FLECK & KRAEMER, 1997) ou sem efeito (P.D.
THOMPSON et al., 1992; citado por FLECK & KRAEMER, 1997) em relação
as medidas de função diastólica.
As diferenças nos resultados destes dois estudos podem
estar relacionados à duração do uso e ao tipo de esteróide
utilizado. Um número limitado de estudos examinou o efeito do treinamento
de força na função cardíaca. Parece que, em geral,
ele não tem efeito ou mesmo um possível efeito positivo em algumas
medidas da função sistólica e diastólica (FLECK & KRAEMER,
1997).
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