MEDICINA
Tratamento Cirúrgico
da OBESIDADE
Texto modificado de: Dr.Luís César Fernandes, Luiz Pucca e Dr.
Délcio Matos
- Jornal Brasileiro de Medicina - Março/2001
A obesidade
consiste, em termos gerais, na elevação
de massa corporal do indivíduo acima de valores considerados
normais para a população. Em termos sanitários
e avaliada pelo IMC (índice de massa corporal = peso/altura²,
os indivíduos normais estão de 20-25 kg/m²,
os obesos situam-se de 30-40 kg/m² e Obesos mórbidos
superior a 40 kg/m². A obesidade mórbida corresponde
apenas de 3-5% da população das nações
desenvolvidas.
As consequências da Obesidade para os indivíduos, principalmente,na
faixa mórbida são as seguintes:
- REDUÇÃO
DA ESPECTATIVA DE VIDA;
- INCIDÊNCIA
DE PATOLOGIAS CONCOMITANTES (hipertensão arterial,
cardiopatias,morte súbita, insuficiência venosa,
hepatopatias, distúrbios hormonais,dermatites,osteoartrose,
etc..);
- PROBLEMAS
NO RELACIONAMENTO SOCIAL E PROFISSIONAL.
Para a resolução de tais relevantes
problemas diversas formas de tratamento têm sido utilizadas,
como:
- Dietas;
- Uso de
anorexígenos (moderadores de apetite):
- Alteração
de hábitos de vida;
- Exercícios
Físicos;
- Tratamentos
Cirúrgicos.
Origens da Obesidade
São várias as hipóteses
a respeito das origens da obesidade. De um modo geral, há um
desequilíbrio metabólico com predomínio
de ganhos de reservas sobre perdas no organismo, levando à elevação
das citadas reservas e da massa corporal do indivíduo.
Os motivos são incertos; baixo índice metabólico tem sido
apontado como um fator possível. Há evidências de influência
genética, não tendo sido determinada a anormalidade de genes
possivelmente responsáveis ou os fatores que definiriam o grau de expressão.
A obesidade consittui, na realidade, patologia (doença) de origem multifatorial
(muitas causas), decorrente de componentes genéticos, psicológicos,
ambientais, sociais e culturais, com diferentes intensidades e interações.
Indicações para o Tratamento
Cirúrgico
São consideradas indicações
e condições fundamentais pra o tratamento cirúrgico:
- Excesso
de peso correspondente a 45kg ou 100% do peso corporal
considerado normal; verifique
seu peso (clique)
- Tratamento
clínico pregresso ineficaz (já foram feitos
outros tratamentos médicos com fracasso);
- Presença
de complicação da obesidade objetiva e resolvível
com perda de peso;
- Compreensão
dos riscos inerentes a uma cirurgia do porte proposto e
possibilidade de seguimento pós-operatório
precoce e tardio com a equipe cirúrgica.
Atualmente, pacientes com IMC > 40 são admitidos para tratamento
cirúrgico, assim como indivíduos com IMC entre 30 e 40 com doença
associada que possa melhorar com perda de peso como: hipertensão arterial,
diabetes, artrite, apnéia do sono.
Critérios adicionais são:
- Idade entre 18 e 50 anos;
- Risco
cirúrgico aceitável para o procedimento.
Cirurgias
Os tratamentos
cirúrgicos idealizados
e disponíveis possuem o intuito de promover a redução
do volume de ingesta total do paciente (com restrição
mecânica gástrica provocando sensação
de saciedade precoce) e ou redução da absorção,
total ou seletiva, do conteúdo alimentar ingerido.
As cirurgias são feitas no aparelho digestivo, reduzindo o reservatório
gástrico (estômago); aumentando o tempo de esvaziamento do mesmo;
reduzindo a área de absorção intestinal (de forma global
ou específica para lipídios). E para atingir tal objetivo foram
desenvolvidas várias técnicas cirúrgicas:
- "Bypass" Gastrointestinal
: É considerado o melhor padrão cirúrgico
atual para redução do peso. Consiste na secção
gástrica (corte na parte de cima do estômago)
com construção de um reduzido reservatório
gástrico proximal com esvaziamento por derivação
em Y de Roux. O Orifício de esvaziamento do estômago
deve ser no máximo de 1,5 cm. e a capacidade do
reservatório no máximo 50 ml. O paciente
obtem com a cirurgia uma saciedade involuntária
e a reduzida comunicação do estômago
com o intestino promove um retardo do esvaziamento gástrico
deixando o paciente sempre satisfeito. Em certos casos
os pacientes voltam a ganhar peso que pode se dever à dilatação
do estômago (aumenta a medida que o paciente volta
a comer em excesso), alargamento do orifício entre
o estômago e intestino ou ocorrência de fístula
na região gastrointestinal.
- Gastroplastia: A técnica consiste na construção de pequeno
reservatório gástrico na parte de cima do estômago sem
outras modificações no trânsito gastrointestinal. Fisiologicamente,
baseia-se nos princípios de redução gástrica e
de retardo de esvaziamento com redução de ingestão alimentar;
a absorção de nutrientes mantêm-se inauterada.
O procedimento, consiste em desenvolver um estômago com capacidade máxima
de 30 ml com estreito estoma de drenagem com reforço para evitar dilatação
posterior. Destacam-se a gastroplastia com Banda Ajustável (anel em
volta da parte de cima do estômago) ou gastroplastia Bandada (granpeamento
e corte entre a pequena curvatura e o fundo do estômago), podendo ser
feitas por técnicas cirúrgicas convencionais e videolaparoscopia.
- "Bypass"Biliopancreático:
Técnica usada, principalmente, para absorção
de nutrientes, com pouca mudança no estômago em
relação a capacidade alimentar e sem o aumento
do tempo de esvaziamento. A cirurgia consiste em corte do intestino
delgado a 250 cm da válvula ileocecal; a alça
distal é anastomasada ao coto gástrico e a alça
proximal anastomasada à distal a 50 cm da transição
ileocecal, gerando uma drenagem gástrica com Y de Roux,
distal. Obtendo-se 3 porções absortivas: 1) alça
distal que constitui área de trânsito e absorção
alimentar;2) exclusiva para secreções biliopancreáticas.
3) juntando as duas forma um trato único com trânsito único
do alimento e secreções biliares e pancreáticas
onde ocorre a absorção lipídica.
Esta técnica pode causar desnutrição que devem ser acompanhados
assiduamente. É indicada para aqueles pacientes que não tiveram
sucesso nas outras cirurgias.
- "Bypass" gastrointestinal com Y de Roux distal: Nesta técnica
adiciona-se uma redução da área de absorção à semelhança
da derivação biliopancreática, construindo Y de Roux com
alça extremamente longa, com trato alimentar de 250 cm e trato comum
de 100 cm . Assim obtêm-se um pequeno reservatório feito na parte
de cima do estômago, aumentando o tempo de esvaziamento gástrico;redução
total e seletiva da área de absorção com 250 cm para digestão
alimentar e 100cm distais para absorção lipídica. Neste
caso não há o risco de desnutrição como a técnica
acima. Os resultados desta técnica ainda estão sendo avaliados.
Resultados
do Tramento Cirúrgico
Estas técnicas cirúrgicas citadas
acima não estão desprovidas de risco. O risco
de mortalidade oscila em 1%, a morbidade atinge 10% dos pacientes
com problemas do tipo: disfunção respiratória,
fístulas digestivas, trombose venosa profunda em membros
inferiores complicações em cicatriz cirúrgica.
O tempo de internação é em torno de 4
dias. As taxas de sucesso têm sido em torno de 40% nos
casos de gastroplastia e de 60% nos de bypass gastrointestinal.
No entanto, o tratamento cirúrgico tem sido apontado
como o método terapêutico mais efetivo na obesidade
mórbida. Com necessidade de suporte de outros profissionais
de saúde no pós-cirúrgico.
Cuidados
pós-operatórios
- A alimentação deve ser adequada
e supervisionada, com suplementação nutricional
de vitaminas, oligoelementos e ferro.
- Acompanhamento cirúrgico é essencial.
- O acompanhamento psicoterápico pode resolver situações
de conflito que o paciente passa a apresentar com a nova imagem corporal pessoal
que pode levar a períodos de insatisfação e sensações
de perda.
- Plásticas podem ser necessárias para correção
estética de excessos de pele, principalmente em mamas, membros superiores,
abdome e face interna das coxas;
É importante lembrar que a obesidade
mórbida deve ser evitada muito mais que incentivada
uma prática cirúrgica.
Os Pais devem se preocupar, severamente, desde cedo com a alimentação
e o sedentarismo dos filhos, procurando criar um ambiente familiar baseado
em exemplos de vida e hábitos saudáveis.
A cirurgia digestiva para controle do peso ponderal constitui um método
forçado de se promover o retorno aos parâmetros normais de peso
corporal de um organismo programado.
Leia também: Trabalho
de reabilitação para pacientes pós-operados
de Gastroplastia