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Qua, 29/6/11 22:45

Treinamento Funcional: Um novo conceito de Treinamento Físico para Idosos

Por: Kalysson Araujo Dias *
Data de Publicação: 23/06/2011

RESUMO

   O envelhecimento é um processo inevitável, associado ao declínio fisiológico e da capacidade funcional do ser humano. O treinamento funcional vem se desenvolvendo muito na área da saúde, tem como objetivo aperfeiçoar as capacidades físicas e motoras, assim favorecendo para diminuição de doenças crônicas e aumentando seu desempenho no dia-a-dia. Esta revisão teve como objetivo analisar, treinamento funcional: um novo conceito de treinamento físico para idosos, para nós darmos subsídios para desenvolvermos mais pesquisas sobre o assunto. Para tanto, procurou-se coletar dados quanto aos seguintes aspectos: a) conceituação do treinamento funcional; b) aptidão física e funcional c) impacto do envelhecimento no organismo humano d) treinamento funcional para idosos. Conclui-se que o treinamento funcional, tem maiores benefícios funcionais para a vida dos idosos, assim influenciando em seu cotidiano, o tornando mais ativo para suas tarefas diárias.

Palavras-chave - Envelhecimento; Capacidade funcional; Treinamento funcional; Idoso.

ABSTRACT

   Aging is an inevitable process associated with the physiological decline and functional capacity of human beings. Functional training has evolved much in the area of health, aims to improve physical and motor skills, thereby enhancing for reduction of chronic diseases and increasing their performance in day-to-day. This review aimed to examine functional training: a new concept of physical training for seniors, for us to give grants to develop more research on the subject. To this end, we attempted to collect data on the following aspects: a) concepts of functional training, b) physical fitness and functional c) the impact of aging on the human body d) functional training for seniors. We conclude that functional training, has greater functional benefits for the life of the elderly, thus, influence in their daily lives, making it more active for their daily tasks.

Keywords - Aging, Functional capacity, functional training; Elderly.

INTRODUÇÃO

   Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OLIVEIRA, 2002), entre 1950 e 1998, a porcentagem de pessoas com idade maior ou igual há 60 anos aumentou de 8 para 10%, e na projeção para 2050, as pessoas dentro dessa faixa etária seriam responsáveis por 20% da população mundial. Esses números se tornam mais surpreendentes, quando são calculados para projeção de países em desenvolvimento, onde a população de idosos aumentará cerca nove vezes até 2050, ou seja, de 171 milhões para 1,6 bilhões.
Para o Brasil, estas perspectivas são muito importantes, pois será um dos maiores contribuidores para o crescimento dessa população. O envelhecimento populacional, aliado à falta de políticas públicas voltadas a essa nova realidade mundial, vem preocupando todos os segmentos da sociedade. Faz-se necessário, uma concentração de esforços nas diferentes áreas profissionais, objetivando um maior conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento, e principalmente como envelhecer de forma saudável priorizando esses esforços na manutenção da independência e autonomia do indivíduo.

   De acordo com Robert A. Robergs e Scott O. Robert (2002) O envelhecimento não é simplesmente o passar do tempo, mas as manifestações de eventos biológicos que ocorrem ao longo de um período. Não há uma perfeita definição de envelhecimento. O envelhecimento não deve ser visto como uma doença, mas como um processo natural. De certa maneira, qualquer coisa neste planeta envelhece com o tempo, não apenas seres humanos. O período de vida é a duração máxima que um membro da espécie humana pode alcançar em condições ótimas. Como a morte precoce foi reduzida neste século, uma proporção maior da população tem sobrevivido ao seu período natural de vida, que parece ser de 85 anos.

   Durante o processo de envelhecimento são observados declínios significativos nos diferentes componentes da capacidade funcional (CF), em especial, nas expressões da força muscular (força muscular concêntrica, excêntrica e isométrica máxima, resistência de força, potência muscular, entre outras) e na flexibilidade, caracterizada pela capacidade de mover uma articulação através de sua amplitude máxima de movimento (ACSM, 1998). Assim, estudiosos têm utilizado critérios que combinam status funcional com nível de saúde que correspondem a aplicações práticas do dia-a-dia (COTTON, 1998). Para isso têm usado como referência as atividades da vida diária (AVD) para determinar se um idoso é capaz de viver independentemente. As medidas de AVD permitem saber o que um idoso pode realmente fazer (MATSUDO, 2004). Afinal, o treinamento funcional vem com uma proposta de tornar o indivíduo preparado para o seu dia-a-dia, assim prevenindo lesões, retardando o processo do envelhecimento e favorecendo as doenças crônicas, obesidade; hipertensão; diabetes; que são mais acometidas principalmente na terceira idade.

   De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o Educador Físico deverá lançar mão de todos os meios formais e não-formais (exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura, relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e para um estilo de vida ativo.
O CONFEF defende que este trabalho educativo a partir do movimento deve estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da Humanidade como as pessoas com necessidades especiais, a exclusão social, a paz e o meio ambiente.

   Com relação à legislação brasileira, no ano de 1994, foi sancionada a Lei nº 8.842, que dispõem sobre a Política Nacional do Idoso, onde se incluem menções "ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua participação na comunidade" (BRASIL, 1994).

   Com base nessas diretrizes, é de dever do Educador Físico proporcionar atividades que envolvam benefícios a essa população, como a promoção da saúde e prevenção de doenças, assim tendo menor incidência de morte nessa faixa etária. De certa forma, enfatizaremos a expansão de pesquisas relacionada ao assunto, buscando mobilizar projetos sociais para o mesmo. Esta revisão tem como objetivo investigar treinamento funcional: um novo conceito de treinamento físico para idosos constantes na literatura em língua portuguesa, sob forma de livros. Para tanto, procurou-se coletar dados quanto aos seguintes aspectos: a) Conceituação do treinamento funcional; b) Aptidão física e funcional c) Impacto do envelhecimento no organismo humano d) Treinamento funcional para idosos

Conceituação do Treinamento Funcional

O que é treinamento funcional?
   Em uma síntese das definições encontradas no dicionário Michaelis (2009), pode-se dizer que o treinamento funcional refere-se a um conjunto de exercícios praticados como preparo físico ou com o fim de apurar habilidades, em cuja execução se procura atender à função e ao fim prático, ou seja, os exercícios do treinamento funcional apresentam propósitos específicos, geralmente reproduzindo ações motoras que serão utilizadas pelo praticante em seu cotidiano.

   Em um conceito mais técnico, Clark (2001) diz que movimentos funcionais referem-se a movimentos integrados, multiplanares e que envolvem redução, estabilização e produção de força. Em outras palavras, os exercícios funcionais referem-se a movimentos que mobilizam mais de um segmento ao mesmo tempo, que pode ser realizado em diferentes planos e que envolvem diferentes ações musculares (excêntrica, concêntrica e isométrica). Para que esse treinamento seja eficiente, a cadeia cinética funcional deve ser treinada na busca da melhora de todos os componentes necessários para permitir ao praticante adquirir ou retornar a um nível ótimo de função.

Origens do treinamento funcional
   O treinamento funcional teve origem com os profissionais da área de fisioterapia e reabilitação, já que estes foram pioneiros na utilização de exercícios que imitavam o que os pacientes faziam em casa ou no trabalho durante a terapia, possibilitando, assim, um breve retorno à sua vida normal e as suas funções laborais após uma lesão ou cirurgia. Assim, se a tarefa ocupacional do paciente requeresse levantamentos de peso repetidos, a reabilitação deveria ter como objetivo principal permitir um retorno a essa função o mais breve possível, com bom desempenho e sem dor.

   Baseado no sucesso de sua aplicação na reabilitação, o conceito de treinamento funcional passou a ser utilizado no desenvolvimento de programas para a melhora do desempenho atlético e do condicionamento físico e para minimizar possíveis lesões dos praticantes da atividade física. Atualmente, muitos profissionais são adeptos dessa nova metodologia, mesmo com um volume pequeno de publicações científicas mostrando os benefícios desse tipo de treinamento em relação aos treinamentos tradicionais.

   O treinamento de força mais utilizado tradicionalmente tem seu foco em movimentos isolados, ganhos absolutos de força e treino de grupos musculares de forma independente e utiliza, geralmente, apenas um plano de movimento. Esse é o caso da musculação, atividade com muita procura nas academias de ginástica atualmente, pois é segura e eficiente em relação a um dos principais objetivos dos praticantes, que é o ganho de massa muscular e a manutenção de sua força para uma boa qualidade de vida. Utilizar o treinamento funcional como estratégia de treino refere-se a uma quebra de paradigmas e, portanto, torna-se necessário identificar algumas vantagens que o método possui em relação aos treinamentos tradicionais.

Caracterização do treinamento funcional: treinamento funcional x treinamento tradicional
   Algumas diferenças entre o treinamento funcional e o treinamento tradicional são apontadas no Quadro 1.0

Quadro 1. Diferenças entre o treinamento funcional e treinamento tradicional

Treinamento não funcional

Treinamento funcional

Isolado
      Rígido     
Limitado
Uniplanar

Integrado
Flexível
Ilimitado
Multiplanar

   No treinamento funcional, como pode ser observado, o condicionamento físico é conduzido por meio de exercícios que são integrados para que sejam alcançados padrões de movimentos mais eficientes. Sabe-se que o treinamento isolado apresenta resultados em termos de aumento de massa muscular e força, pois permite que haja fadiga individual dos músculos: entretanto, o treinamento funcional aproxima-se mais dos movimentos reais, ou seja, daqueles realizados no cotidiano e que envolvem integração de movimentos. Esse aspecto atende à especificidade que é um dos mais importantes princípios do treinamento. Segundo Weineck (2003), somente atividades semelhantes às do esporte desenvolverão uma melhora no desempenho. Para melhorar tarefas funcionais é necessário treiná-las. Um maior grau de liberdade de execução dos movimentos é outra característica do treinamento funcional, já que é possível realizar movimentos em diferentes amplitudes, principalmente se comparados aos exercícios da musculação. Por conta disso, é possível dizer que o treinamento é flexível e ilimitado, pois apresenta infinitas variações. A realização de movimentos múltiplos planos também é característica, já que as atividades funcionais ocorrem em três planos e requerem aceleração, desaceleração e estabilização dinâmica. Apesar de os movimentos parecerem dominantes em um plano específico, os outros dois necessitam ser estabilizados dinamicamente para permitir ótima neuromuscular no treinamento funcional.

Aptidão Física e Funcional

   A habilidade de realizar as atividades durante o dia, bem como a performance física, atinge seu pico máximo por volta dos 30 anos de idade e, depois disso declina com a idade (Hunter et al, 2004). O declínio das capacidades físicas e as alterações fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento geram perdas da capacidade funcional, contribuindo para a dependência física do idoso (Tribess e Virtuoso Jr., 2005). Sendo assim, a queda da aptidão física com o envelhecimento é um fato inexorável, que se inicia de maneira gradativa, ao redor da quinta década de vida (Alves et al., 2004).

   Para Cooper (1972), aptidão física refere-se ao conjunto de atributos relacionados com a saúde e com a performance, sendo que, a saúde e a performance estão diretamente ligadas à capacidade aeróbia de um indivíduo, ou seja, a aptidão física geral é a aptidão de resistir ou capacidade de executar um trabalho prolongado, sem fadiga excessiva, havendo desta forma uma forte dependência da saúde geral, saúde cardiovascular, respiratória, muscular, etc. Carvalho e Mota (2002), também concordam que a aptidão física está relacionada com a saúde, embora hajam outros componentes além da aptidão cardiorrespiratória que também devem ser levados em consideração como: a flexibilidade, resistência e força muscular e composição corporal. Malliou et al (2003) acrescentam ainda o equilíbrio, o controle postural e a visão como fatores que influenciam na performance funcional.

   O termo “capacidade física” é composto por uma variedade de características incluindo categorias da capacidade respiratória (consumo máximo de oxigênio - VO2MÁX, limiar de lactato e capacidade metabólica), composição corporal, distribuição localizada de gordura, força e resistência muscular e flexibilidade. Neste contexto, capacidade física é definida como a habilidade de realizar atividade física de nível moderada sem entrar em fadiga (ACSM,.1998).

   Para Tribess e Virtuoso Jr. (2005) o termo aptidão física também pode ser utilizado como aptidão funcional. Entretanto, estes mesmos autores defendem que, para os idosos, os componentes da aptidão física e funcional de destaque são: cardiorrespiratório, força, flexibilidade, agilidade, equilíbrio, tempo de reação e coordenação. Tais qualidades físicas atuam como preceptores da capacidade funcional, pois reúnem condições para que o indivíduo consiga realizar as suas tarefas do dia a dia de modo satisfatório.
Rikli e Jones (2001) definem que, a avaliação da flexibilidade, força muscular, resistência aeróbica, agilidade/equilíbrio dinâmico, bem como da composição corporal são essenciais para se definir a aptidão física de um idoso, pois formam um conjunto de componentes relevantes à capacidade funcional do mesmo.

   Williams (1996) cita que as principais vantagens de se avaliar a aptidão física de um idoso são, por um lado, determinar a prescrição de exercício mais apropriada, reduzindo riscos e aumentando mudanças fisiológicas e psicológicas; e por outro lado, quantificar as mudanças ocorridas durante o programa para efetuar mudanças a longo prazo. Uma vez diagnosticado qual é a aptidão física em que o idoso se encontra, faz-se necessário definir os exercícios apropriados, bem como a intensidade, volume, freqüência, tipo de exercício e progressão do exercício físico (ACSM, 1998), com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, retardar as alterações fisiológicas, melhorar a capacidade motora e proporcionar benefícios sociais e psicológicos. (Tribess e Virtuoso Jr., 2005).

   Resumindo, de uma forma geral a aptidão física e funcional é definida como o conjunto de habilidades que um indivíduo possui para desenvolver um tipo de atividade física específica (Williams, 1996; McArdle et al, 1998).
Em termos de atividade física, a aptidão é geralmente dividida em duas grandes áreas: aquela mais relacionada com a performance e, aquela mais relacionada com a saúde. Portanto, quando se trata de aptidão física e exercício físico direcionado aos idosos cria- se uma maior associação aos benefícios relacionados à saúde (McArdle et al, 1998). São através da prática regular de exercício físico que se obtêm melhoras em várias doenças (ACSM, 1998). Dentro desse contexto, o exercício físico representa um de seus principais componentes (McArdle et al, 1998), ou seja, se o objetivo é melhorar a habilidade funcional ou o estado de saúde dos idosos, as intervenções devem focar nas prevenções de debilidades e das doenças através da prática regular de exercício físico (Hurley e Roth,2000).

   Quando nos referimos à aptidão física no idoso, estamos a falar da sua funcionalidade e, por conseqüência, da sua autonomia e independência (Carvalho e Mota, 2000), que por sua vez, pode ser melhorada independente do nível de aptidão física em que o mesmo se encontra (Evans e Campbell, 1997; Hunter et al, 2004). A aptidão física deverá ser definida como a capacidade fisiológica de desempenhar atividades normais do dia-a-dia de forma segura, independente e sem fadiga, tendo como parâmetros que suportam a mobilidade funcional e a independência física: a força muscular, a flexibilidade, o equilíbrio dinâmico/agilidade, a resistência aeróbia e a composição corporal (Rikli e Jones, 1999).

Impacto do envelhecimento no organismo humano
   O processo do envelhecimento, do ponto de vista fisiológico, não ocorre necessariamente em paralelo ao avanço da idade cronológica, apresentando considerável variação individual. Este processo é marcado por um decréscimo das capacidades motoras, redução da força, flexibilidade, velocidade e dos níveis de VO2 máximo, dificultando a realização das atividades diárias e a manutenção de um estilo de vida saudável.

   As alterações fisiológicas de perda da capacidade funcional ocorrem durante o envelhecimento em idades mais avançadas, comprometendo a saúde e a qualidade de vida do idoso. E são agravadas pela falta de atividade física e conseqüentemente diminuição da taxa metabólica basal associada à manutenção ou ao aumento do aporte calórico, excedendo na maioria das vezes as necessidades calóricas diárias.

O processo de envelhecimento evidencia mudanças que acontecem em diferentes níveis:

a) antropométrico: caracteriza-se pela diminuição da estatura, com maior rapidez nas mulheres devido à prevalência de osteoporose após a menopausa e o incremento da massa corporal que inicia na meia idade (45-50 anos) e se estabiliza aos 70 anos, quando inicia um declínio até os 80 anos. Mudanças na composição corporal, decorrente da diminuição da massa livre de gordura e incremento da gordura corporal, com a diminuição da gordura subcutânea e periférica e o aumento da gordura central e visceral, aumentam os riscos à saúde propiciando o surgimento de inúmeras doenças.
O declínio da massa mineral óssea relacionado com os aspectos hereditários, estado hormonal, nutrição e nível de atividade física do indivíduo, favorece para que o indivíduo esteja mais suscetível a osteoporose, conseqüentemente a quedas e fraturas.

b) neuromuscular: perda de 10 - 20% na força muscular, diminuição na habilidade para manter força estática, maior índice de fadiga muscular e menor capacidade para hipertrofia, propiciam a deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do idoso.

c) cardiovascular: diminuição do débito cardíaco, da freqüência cardíaca, do volume sistólico, do VO2 máximo, e aumento da pressão arterial, da concentração de ácido láctico, do débito de O2, resultam numa menor capacidade de adaptação e recuperação ao exercício.

d) pulmonar: diminuição da capacidade vital, da freqüência e do volume respiratório; aumento do volume residual, do espaço morto anatômico; menor mobilidade da parede torácica e declínio do número de alvéolos dificultam a tolerância ao esforço.

e) neural: diminuição no número e tamanho dos neurônios, na velocidade de condução nervosa, no fluxo sangüíneo cerebral, e aumento do tecido conectivo nos neurônios, proporcionam menor tempo de reação e velocidade de movimento.

f) outros: diminuição da agilidade, da coordenação, do equilíbrio, da flexibilidade, da mobilidade articular e aumento na rigidez de cartilagem, tendões e ligamentos.

   Na elaboração de programas de exercícios físicos para idosos é importante atentar-se para a avaliação do nível de dependência funcional (Quadro 1.1). A prescrição de exercícios deverá ser direcionada ao nível de dependência funcional do idoso, para que os programas sejam mais direcionados as necessidades das pessoas mais velhas, aumentando a efetividade do programa e reduzindo os riscos ao idoso.

Quadro 2 - Relação da função física em pessoas idosas categorizadas de acordo com a funcionalidade nas Atividades da Vida Diária e Atividades Instrumentais da Vida Diária.

Nível I

Fisicamente incapazes: totalmente dependentes
Fisicamente dependentes: realizam algumas atividades básicas da vida diária e são dependentes

 Nível II

Fisicamente frágeis: Realizam tarefas domésticas leves, prepara as refeições, faz compras.  Conseguem fazer algumas das atividades intermediárias e todas as Atividades Básicas da Vida Diária, que incluem as atividades de auto-cuidado.

 Nível III

Fisicamente independentes: Conseguem realizar todas as atividades intermediárias da vida diária, incluem os idosos com estilo de vida ativo, mas que não realizam atividades físicas de forma regular.

Nível IV

Fisicamente aptos ou ativos: Realizam trabalho físico moderado, esportes de resistência e jogos. São capazes de realizar as atividades avançadas da vida diária e a maioria das atividades preferidas.

 Nível V

Atleta: Realizam atividades competitivas, podendo disputar no âmbito internacional e praticar esportes de alto risco.

Adaptado de Spirduso


Treinamento Funcional para Idosos

   Os benefícios que a atividade física promove para a realização de tarefas funcionais em idosos têm sido investigados, haja vista a diminuição da capacidade funcional que ocorre em virtude de alteração nos sistema musculoesquelético e nervoso nessa faixa etária. Assim, pesquisas têm sido realizadas para verificar se exercícios de resistência muscular, bem como exercícios com maior ênfase alongamento ou no equilíbrio, promovem melhor capacidade na realização de tarefas funcionais em idosos.

   Macaluso e De Vito (2004), em uma extensa revisão de literatura sobre treinamento de força e envelhecimento, observaram, entretanto, que poucos estudos investigaram o quanto a realização de tarefas funcionais na pratica de exercício melhora efetivamente a sua realização no cotidiano. A tabela 1.0 apresenta a síntese de literatura encontrada neste estudo. Pode-se observar que somente três estudos utilizaram a prática de tarefa funcional em sua metodologia. Como resultados, dois apresentam melhoras significativas em tarefas funcionais, e um dos estudos não apresenta mudanças. Todos os outros estudos apresentados e que estudaram o efeito do treinamento de força nas capacidades funcionais de idosos mostram benefícios. Assim, pode-se dizer que os dois tipos de treinamento seriam interessantes e viáveis àqueles que querem se manter funcionalmente ativos no envelhecimento. Entretanto, é interessante observar que um dado publicado mais recente mostra que parece ser o treinamento funcional uma estratégia que permite a manutenção dos ganhos por um período maior de tempo.

   A referida pesquisa foi publicada na Revista da Sociedade Americana de Geriatria e procurou comparar o treinamento funcional com o treinamento de resistência tradicional em idosos. Nesse estudo, foram estabelecidos três grupos: um de prática de resistência muscular (34 idosas) e outro que não realizava que não realizava a prática, ou seja, o grupo controle (31 idosas). Os dois grupos de pratica realizaram os exercícios durante 12 semanas, 3 vezes na semana, alcançando intensidades semelhantes (nível entre 7 e 8 da escala de 10 pontos da percepção subjetiva do esforço). Cada grupo desenvolvia atividades diferenciadas. As aulas de resistência envolviam exercícios que visavam a grupos musculares importantes para a realização das tarefas do cotidiano, como flexores e extensores de cotovelos, abdutores, adutores e rotadores de ombros, flexores e extensores do tronco, flexores, extensores, abdutores e adutores do quadril, extensores e flexores de joelho e flexores plantares e dorsais dos pés. Como em um típico protocolo progressivo de resistência, três a quatro músculos foram treinados em três séries de dez repetições. O incremento de sobrecarga era feito de acordo com os profissionais que acompanhavam o grupo e consistia na utilização de halteres, elásticos e caneleiras.

Já o grupo de treinamento funcional desenvolvia os exercícios exemplificados no Quadro 3.

Quadro 3. Exemplos de exercícios utilizados no treinamento funcional

Fase de prática

Fase de variação

Fase de tarefas diárias

1. Subir em uma plataforma (step) de frente.

1. Caminhar sobre um piso e pegar um objeto leve no chão.

1. Caminhar sobre um piso, recolhendo objetos do chão e os colocando em um cesto.

2. Subir de lado em uma plataforma (step).

2. Caminhar sobre uma linha reta carregando uma bandeja.

2. Pegar um objeto do chão enquanto se senta e coloca o objeto em uma estante.

 3. Passar sobre o step de frente e de lado.

3. Subir um pequeno lance de escadas carregando uma garrafa d´água de plástico em uma bandeja.

3. Subir escadas (12 a 17 degraus) carregando um pequeno objeto em uma das mãos.

4. Andar em um caminho com obstáculos carregando uma bandeja.

 4. Andar sobre um caminho curvo no chão.

4. Pegar roupas e saquinhos de areia de uma estante baixa e carregá-las em um cesto em um caminho de obstáculos.

5. Levantar da altura dos joelhos e carregar uma caixa pesada.

5. Mover diferentes objetos entre estantes de diferentes alturas.

5. Caminhar sobre diferentes superfícies (chão, colchão, sacos de areia.

 6. Sair da cama e carregar um pequeno objeto.

 6. Levantar do chão e carregar um pequeno objeto.

6. Levantar de uma cadeira, andar em uma linha reta e chutar uma bola em um local determinado.

   Como pode ser observado, os exercícios foram divididos em três fases para que os idosos pudessem se adaptar lentamente às exigências das tarefas, que iam aumentando ao longo dos três meses. Assim, a fase de prática durou duas semanas, a de variação, quatro, e a tarefa diárias durou seis semanas. Durante as sessões, os instrutores variavam diversos aspectos inerentes às tarefas, como mudanças no número de objetos carregados, altura dos steps, entre outros. Ao final de 12 semanas, os testes realizados inicialmente foram refeitos, e os principais resultados demonstravam um aumento significativo na força de membros inferiores, no equilíbrio, na coordenação, no teste funcional e na resistência no grupo de treinamento funcional em relação ao grupo de treinamento de resistência. Outro dado interessante é que, após nove meses do início da pesquisa, a pontuação total dos testes de treinamento funcional, força total de membros superiores, força de membros superiores e inferiores, equilíbrio, coordenação e resistência se manteve maior em relação ao grupo que treinava somente resistência muscular, parecendo, assim haver melhor manutenção dos ganhos nas tarefas funcionais, o que é extremamente benéfico para esse público.

Considerações Finais

   Nos últimos anos na área do condicionamento físico, muitos profissionais de Educação Física têm aderido a essa metodologia, associando instabilidade na execução de exercícios físicos para conduzir os treinamentos, sejam eles voltados ao desempenho esportivo ou à melhora da qualidade de vida.
   As evidências aqui apresentadas por diversas literaturas evidenciam que o treinamento funcional favorece ao desempenho do cotidiano do idoso, isso facilita seu convívio social, físico e no seu lazer. O exercício físico é de extrema importância para vida social, mental e física do idoso. O treinamento funcional vem se propagando por todo mundo e está buscando seu espaço, afinal é muito recente no Brasil. O Treinamento Funcional vem sendo bem adotado pela essa população por mostrar benefícios bastante significativos às atividades diárias, que por sinal é benéfico para vida desta população. Vale salientar que o exercício físico não deve ser estimulado somente na terceira idade e durante toda fase da vida, como forma de prevenir e controlar as doenças crônicas que aparecem muito mais com freqüência na terceira idade e como forma de torna-se um idoso muito mais ativo e funcional. Enfim, talvez esse seja o grande achado desta pesquisa. Sabe-se, no entanto, que muito mais precisa ser investigado par que haja um consenso na literatura sobre o assunto.
   Outras pesquisas devem investigar a manutenção dos resultados, e um volume maior de trabalhos elucidará, porque outros trabalhos identificam melhoras semelhantes entre os dois tipos de treinamento: funcional e de força.

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* Resumo de Currículo:
Graduado em Educação Física Bacharel, pela Universidade UNIME- ITABUNA/BA; Pós Graduado em Saúde Coletiva, FTC - Itabuna-BA; idealizador e coordenador do Studio Funcional – Treinamento Físico & Reabilitação – ITABUNA/BA, precursor do Treinamento Funcional na região. Preparador Físico de atletas consagrados em várias modalidades esportivas como: MMA, Jiu-Jítsu, Judô, Boxe, Futebol, etc. Trabalha focado para proporcionar o melhor desempenho para os clientes, saúde, bem estar, prevenção e reabilitação de lesões, é adepto de Jiu-Jítsu pela EQUIPE KIMURA Itabuna-BA,

 

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