Treinamento Funcional: Um novo
conceito de Treinamento Físico para Idosos
Por:
Kalysson Araujo Dias *
Data de Publicação: 23/06/2011
RESUMO
O envelhecimento é um processo inevitável, associado ao declínio
fisiológico e da capacidade funcional do ser humano. O treinamento funcional
vem se desenvolvendo muito na área da saúde, tem como objetivo
aperfeiçoar as capacidades físicas e motoras, assim favorecendo
para diminuição de doenças crônicas e aumentando seu
desempenho no dia-a-dia. Esta revisão teve como objetivo analisar, treinamento
funcional: um novo conceito de treinamento físico para idosos, para nós
darmos subsídios para desenvolvermos mais pesquisas sobre o assunto. Para
tanto, procurou-se coletar dados quanto aos seguintes aspectos: a) conceituação
do treinamento funcional; b) aptidão física e funcional c) impacto
do envelhecimento no organismo humano d) treinamento funcional para idosos. Conclui-se
que o treinamento funcional, tem maiores benefícios funcionais para a
vida dos idosos, assim influenciando em seu cotidiano, o tornando mais ativo
para suas tarefas diárias.
Palavras-chave - Envelhecimento; Capacidade funcional; Treinamento funcional;
Idoso.
ABSTRACT
Aging is an inevitable process associated with the physiological
decline and functional capacity of human beings. Functional training
has evolved much in the area of health, aims to improve physical
and motor skills, thereby enhancing for reduction of chronic
diseases and increasing their performance in day-to-day. This
review aimed to examine functional training: a new concept of
physical training for seniors, for us to give grants to develop
more research on the subject. To this end, we attempted to collect
data on the following aspects: a) concepts of functional training,
b) physical fitness and functional c) the impact of aging on
the human body d) functional training for seniors. We conclude
that functional training, has greater functional benefits for
the life of the elderly, thus, influence in their daily lives,
making it more active for their daily tasks.
Keywords - Aging, Functional capacity,
functional training; Elderly.
INTRODUÇÃO
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde
(OLIVEIRA, 2002), entre 1950 e 1998, a porcentagem de pessoas
com idade maior ou igual há 60 anos aumentou de 8 para
10%, e na projeção para 2050, as pessoas dentro
dessa faixa etária seriam responsáveis por 20%
da população mundial. Esses números se tornam
mais surpreendentes, quando são calculados para projeção
de países em desenvolvimento, onde a população
de idosos aumentará cerca nove vezes até 2050,
ou seja, de 171 milhões para 1,6 bilhões.
Para
o Brasil, estas perspectivas são muito importantes, pois
será um dos maiores contribuidores para o crescimento
dessa população. O envelhecimento populacional,
aliado à falta de políticas públicas voltadas
a essa nova realidade mundial, vem preocupando todos os segmentos
da sociedade. Faz-se necessário, uma concentração
de esforços nas diferentes áreas profissionais,
objetivando um maior conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento,
e principalmente como envelhecer de forma saudável priorizando
esses esforços na manutenção da independência
e autonomia do indivíduo.
De acordo com Robert A. Robergs e Scott O. Robert (2002) O envelhecimento
não é simplesmente
o passar do tempo, mas as manifestações de eventos biológicos
que ocorrem ao longo de um período. Não há uma perfeita
definição de envelhecimento. O envelhecimento não deve
ser visto como uma doença, mas como um processo natural. De certa maneira,
qualquer coisa neste planeta envelhece com o tempo, não apenas seres
humanos. O período de vida é a duração máxima
que um membro da espécie humana pode alcançar em condições ótimas.
Como a morte precoce foi reduzida neste século, uma proporção
maior da população tem sobrevivido ao seu período natural
de vida, que parece ser de 85 anos.
Durante o processo de envelhecimento são observados declínios
significativos nos diferentes componentes da capacidade funcional (CF), em
especial, nas expressões da força muscular (força muscular
concêntrica, excêntrica e isométrica máxima, resistência
de força, potência muscular, entre outras) e na flexibilidade,
caracterizada pela capacidade de mover uma articulação através
de sua amplitude máxima de movimento (ACSM, 1998). Assim, estudiosos
têm utilizado critérios que combinam status funcional com nível
de saúde que correspondem a aplicações práticas
do dia-a-dia (COTTON, 1998). Para isso têm usado como referência
as atividades da vida diária (AVD) para determinar se um idoso é capaz
de viver independentemente. As medidas de AVD permitem saber o que um idoso
pode realmente fazer (MATSUDO, 2004). Afinal, o treinamento funcional vem com
uma proposta de tornar o indivíduo preparado para o seu dia-a-dia, assim
prevenindo lesões, retardando o processo do envelhecimento e favorecendo
as doenças crônicas, obesidade; hipertensão; diabetes;
que são mais acometidas principalmente na terceira idade.
De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF,
2000), o Educador Físico deverá lançar mão de todos
os meios formais e não-formais (exercícios, ginásticas,
esportes, danças, atividades de aventura, relaxamento, etc.) para educar
o ser humano para a saúde e para um estilo de vida ativo.
O CONFEF defende que este trabalho educativo a partir do movimento deve estabelecer
relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência
e o Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas
da Humanidade como as pessoas com necessidades especiais, a exclusão
social, a paz e o meio ambiente.
Com relação à legislação brasileira, no
ano de 1994, foi sancionada a Lei nº 8.842, que dispõem sobre a
Política Nacional do Idoso, onde se incluem menções "ao
incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e
atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida
do idoso e estimulem sua participação na comunidade" (BRASIL,
1994).
Com base nessas diretrizes, é de dever do Educador Físico proporcionar
atividades que envolvam benefícios a essa população, como
a promoção da saúde e prevenção de doenças,
assim tendo menor incidência de morte nessa faixa etária. De certa
forma, enfatizaremos a expansão de pesquisas relacionada ao assunto,
buscando mobilizar projetos sociais para o mesmo. Esta revisão tem como
objetivo investigar treinamento funcional: um novo conceito de treinamento
físico para idosos constantes na literatura em língua portuguesa,
sob forma de livros. Para tanto, procurou-se coletar dados quanto aos seguintes
aspectos: a) Conceituação do treinamento funcional; b) Aptidão
física e funcional c) Impacto do envelhecimento no organismo humano
d) Treinamento funcional para idosos
Conceituação do Treinamento
Funcional
O que é treinamento funcional?
Em uma síntese das definições encontradas no dicionário
Michaelis (2009), pode-se dizer que o treinamento funcional refere-se a um
conjunto de exercícios praticados como preparo físico ou com
o fim de apurar habilidades, em cuja execução se procura atender à função
e ao fim prático, ou seja, os exercícios do treinamento funcional
apresentam propósitos específicos, geralmente reproduzindo ações
motoras que serão utilizadas pelo praticante em seu cotidiano.
Em um conceito mais técnico, Clark (2001) diz que movimentos funcionais
referem-se a movimentos integrados, multiplanares e que envolvem redução,
estabilização e produção de força. Em outras
palavras, os exercícios funcionais referem-se a movimentos que mobilizam
mais de um segmento ao mesmo tempo, que pode ser realizado em diferentes planos
e que envolvem diferentes ações musculares (excêntrica,
concêntrica e isométrica). Para que esse treinamento seja eficiente,
a cadeia cinética funcional deve ser treinada na busca da melhora de
todos os componentes necessários para permitir ao praticante adquirir
ou retornar a um nível ótimo de função.
Origens do treinamento funcional
O treinamento funcional teve origem com os profissionais da área de
fisioterapia e reabilitação, já que estes foram pioneiros
na utilização de exercícios que imitavam o que os pacientes
faziam em casa ou no trabalho durante a terapia, possibilitando, assim, um
breve retorno à sua vida normal e as suas funções laborais
após uma lesão ou cirurgia. Assim, se a tarefa ocupacional do
paciente requeresse levantamentos de peso repetidos, a reabilitação
deveria ter como objetivo principal permitir um retorno a essa função
o mais breve possível, com bom desempenho e sem dor.
Baseado no sucesso de sua aplicação na reabilitação,
o conceito de treinamento funcional passou a ser utilizado no desenvolvimento
de programas para a melhora do desempenho atlético e do condicionamento
físico e para minimizar possíveis lesões dos praticantes
da atividade física. Atualmente, muitos profissionais são adeptos
dessa nova metodologia, mesmo com um volume pequeno de publicações
científicas mostrando os benefícios desse tipo de treinamento
em relação aos treinamentos tradicionais.
O treinamento de força mais utilizado tradicionalmente tem seu foco
em movimentos isolados, ganhos absolutos de força e treino de grupos
musculares de forma independente e utiliza, geralmente, apenas um plano de
movimento. Esse é o caso da musculação, atividade com
muita procura nas academias de ginástica atualmente, pois é segura
e eficiente em relação a um dos principais objetivos dos praticantes,
que é o ganho de massa muscular e a manutenção de sua
força para uma boa qualidade de vida. Utilizar o treinamento funcional
como estratégia de treino refere-se a uma quebra de paradigmas e, portanto,
torna-se necessário identificar algumas vantagens que o método
possui em relação aos treinamentos tradicionais.
Caracterização do treinamento
funcional: treinamento funcional x treinamento tradicional
Algumas diferenças entre o treinamento funcional e o treinamento tradicional
são apontadas no Quadro 1.0
Quadro 1. Diferenças entre o treinamento
funcional e treinamento tradicional
Treinamento não
funcional
|
Treinamento funcional
|
Isolado
Rígido
Limitado
Uniplanar
|
Integrado
Flexível
Ilimitado
Multiplanar
|
No treinamento funcional,
como pode ser observado, o condicionamento físico é conduzido por meio de exercícios
que são integrados para que sejam alcançados padrões
de movimentos mais eficientes. Sabe-se que o treinamento isolado
apresenta resultados em termos de aumento de massa muscular e
força, pois permite que haja fadiga individual dos músculos:
entretanto, o treinamento funcional aproxima-se mais dos movimentos
reais, ou seja, daqueles realizados no cotidiano e que envolvem
integração de movimentos. Esse aspecto atende à especificidade
que é um dos mais importantes princípios do treinamento.
Segundo Weineck (2003), somente atividades semelhantes às
do esporte desenvolverão uma melhora no desempenho. Para
melhorar tarefas funcionais é necessário treiná-las.
Um maior grau de liberdade de execução dos movimentos é outra
característica do treinamento funcional, já que é possível
realizar movimentos em diferentes amplitudes, principalmente
se comparados aos exercícios da musculação.
Por conta disso, é possível dizer que o treinamento é flexível
e ilimitado, pois apresenta infinitas variações.
A realização de movimentos múltiplos planos
também é característica, já que as
atividades funcionais ocorrem em três planos e requerem
aceleração, desaceleração e estabilização
dinâmica. Apesar de os movimentos parecerem dominantes
em um plano específico, os outros dois necessitam ser
estabilizados dinamicamente para permitir ótima neuromuscular
no treinamento funcional.
Aptidão Física
e Funcional
A habilidade de realizar
as atividades durante o dia, bem como a performance física, atinge seu pico máximo por
volta dos 30 anos de idade e, depois disso declina com a idade
(Hunter et al, 2004). O declínio das capacidades físicas
e as alterações fisiológicas decorrentes
do processo de envelhecimento geram perdas da capacidade funcional,
contribuindo para a dependência física do idoso
(Tribess e Virtuoso Jr., 2005). Sendo assim, a queda da aptidão
física com o envelhecimento é um fato inexorável,
que se inicia de maneira gradativa, ao redor da quinta década
de vida (Alves et al., 2004).
Para Cooper (1972), aptidão física refere-se ao conjunto de atributos
relacionados com a saúde e com a performance, sendo que, a saúde
e a performance estão diretamente ligadas à capacidade aeróbia
de um indivíduo, ou seja, a aptidão física geral é a
aptidão de resistir ou capacidade de executar um trabalho prolongado,
sem fadiga excessiva, havendo desta forma uma forte dependência da saúde
geral, saúde cardiovascular, respiratória, muscular, etc. Carvalho
e Mota (2002), também concordam que a aptidão física está relacionada
com a saúde, embora hajam outros componentes além da aptidão
cardiorrespiratória que também devem ser levados em consideração
como: a flexibilidade, resistência e força muscular e composição
corporal. Malliou et al (2003) acrescentam ainda o equilíbrio, o controle
postural e a visão como fatores que influenciam na performance funcional.
O termo “capacidade física” é composto por uma variedade
de características incluindo categorias da capacidade respiratória
(consumo máximo de oxigênio - VO2MÁX, limiar de lactato
e capacidade metabólica), composição corporal, distribuição
localizada de gordura, força e resistência muscular e flexibilidade.
Neste contexto, capacidade física é definida como a habilidade
de realizar atividade física de nível moderada sem entrar em
fadiga (ACSM,.1998).
Para Tribess e Virtuoso Jr. (2005) o termo aptidão física também
pode ser utilizado como aptidão funcional. Entretanto, estes mesmos
autores defendem que, para os idosos, os componentes da aptidão física
e funcional de destaque são: cardiorrespiratório, força,
flexibilidade, agilidade, equilíbrio, tempo de reação
e coordenação. Tais qualidades físicas atuam como preceptores
da capacidade funcional, pois reúnem condições para que
o indivíduo consiga realizar as suas tarefas do dia a dia de modo satisfatório.
Rikli e Jones (2001) definem que, a avaliação da flexibilidade,
força muscular, resistência aeróbica, agilidade/equilíbrio
dinâmico, bem como da composição corporal são essenciais
para se definir a aptidão física de um idoso, pois formam um
conjunto de componentes relevantes à capacidade funcional do mesmo.
Williams (1996) cita que as principais vantagens de se avaliar a aptidão
física de um idoso são, por um lado, determinar a prescrição
de exercício mais apropriada, reduzindo riscos e aumentando mudanças
fisiológicas e psicológicas; e por outro lado, quantificar as
mudanças ocorridas durante o programa para efetuar mudanças a
longo prazo. Uma vez diagnosticado qual é a aptidão física
em que o idoso se encontra, faz-se necessário definir os exercícios
apropriados, bem como a intensidade, volume, freqüência, tipo de
exercício e progressão do exercício físico (ACSM,
1998), com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, retardar as alterações
fisiológicas, melhorar a capacidade motora e proporcionar benefícios
sociais e psicológicos. (Tribess e Virtuoso Jr., 2005).
Resumindo, de uma forma geral a aptidão física e funcional é definida
como o conjunto de habilidades que um indivíduo possui para desenvolver
um tipo de atividade física específica (Williams, 1996; McArdle
et al, 1998).
Em termos de atividade física, a aptidão é geralmente
dividida em duas grandes áreas: aquela mais relacionada com a performance
e, aquela mais relacionada com a saúde. Portanto, quando se trata de
aptidão física e exercício físico direcionado aos
idosos cria- se uma maior associação aos benefícios relacionados à saúde
(McArdle et al, 1998). São através da prática regular
de exercício físico que se obtêm melhoras em várias
doenças (ACSM, 1998). Dentro desse contexto, o exercício físico
representa um de seus principais componentes (McArdle et al, 1998), ou seja,
se o objetivo é melhorar a habilidade funcional ou o estado de saúde
dos idosos, as intervenções devem focar nas prevenções
de debilidades e das doenças através da prática regular
de exercício físico (Hurley e Roth,2000).
Quando nos referimos à aptidão física no idoso, estamos
a falar da sua funcionalidade e, por conseqüência, da sua autonomia
e independência (Carvalho e Mota, 2000), que por sua vez, pode ser melhorada
independente do nível de aptidão física em que o mesmo
se encontra (Evans e Campbell, 1997; Hunter et al, 2004). A aptidão
física deverá ser definida como a capacidade fisiológica
de desempenhar atividades normais do dia-a-dia de forma segura, independente
e sem fadiga, tendo como parâmetros que suportam a mobilidade funcional
e a independência física: a força muscular, a flexibilidade,
o equilíbrio dinâmico/agilidade, a resistência aeróbia
e a composição corporal (Rikli e Jones, 1999).
Impacto do envelhecimento no organismo humano
O processo do envelhecimento, do ponto de vista fisiológico,
não ocorre necessariamente em paralelo ao avanço
da idade cronológica, apresentando considerável
variação individual. Este processo é marcado
por um decréscimo das capacidades motoras, redução
da força, flexibilidade, velocidade e dos níveis
de VO2 máximo, dificultando a realização
das atividades diárias e a manutenção de
um estilo de vida saudável.
As alterações fisiológicas de perda da capacidade funcional
ocorrem durante o envelhecimento em idades mais avançadas, comprometendo
a saúde e a qualidade de vida do idoso. E são agravadas pela
falta de atividade física e conseqüentemente diminuição
da taxa metabólica basal associada à manutenção
ou ao aumento do aporte calórico, excedendo na maioria das vezes as
necessidades calóricas diárias.
O processo de envelhecimento
evidencia mudanças que acontecem em diferentes
níveis:
a) antropométrico: caracteriza-se pela diminuição da estatura,
com maior rapidez nas mulheres devido à prevalência de osteoporose
após a menopausa e o incremento da massa corporal que inicia na meia
idade (45-50 anos) e se estabiliza aos 70 anos, quando inicia um declínio
até os 80 anos. Mudanças na composição corporal,
decorrente da diminuição da massa livre de gordura e incremento
da gordura corporal, com a diminuição da gordura subcutânea
e periférica e o aumento da gordura central e visceral, aumentam os
riscos à saúde propiciando o surgimento de inúmeras doenças.
O declínio da massa mineral óssea relacionado com os aspectos
hereditários, estado hormonal, nutrição e nível
de atividade física do indivíduo, favorece para que o indivíduo
esteja mais suscetível a osteoporose, conseqüentemente a quedas
e fraturas.
b) neuromuscular: perda de 10 - 20% na força muscular, diminuição
na habilidade para manter força estática, maior índice
de fadiga muscular e menor capacidade para hipertrofia, propiciam a deterioração
na mobilidade e na capacidade funcional do idoso.
c) cardiovascular: diminuição do débito cardíaco,
da freqüência cardíaca, do volume sistólico, do VO2
máximo, e aumento da pressão arterial, da concentração
de ácido láctico, do débito de O2, resultam numa menor
capacidade de adaptação e recuperação ao exercício.
d) pulmonar: diminuição da capacidade vital, da freqüência
e do volume respiratório; aumento do volume residual, do espaço
morto anatômico; menor mobilidade da parede torácica e declínio
do número de alvéolos dificultam a tolerância ao esforço.
e) neural: diminuição no número e tamanho dos neurônios,
na velocidade de condução nervosa, no fluxo sangüíneo
cerebral, e aumento do tecido conectivo nos neurônios, proporcionam menor
tempo de reação e velocidade de movimento.
f) outros: diminuição da agilidade, da coordenação,
do equilíbrio, da flexibilidade, da mobilidade articular e aumento na
rigidez de cartilagem, tendões e ligamentos.
Na elaboração de programas de exercícios físicos
para idosos é importante atentar-se para a avaliação do
nível de dependência funcional (Quadro 1.1). A prescrição
de exercícios deverá ser direcionada ao nível de dependência
funcional do idoso, para que os programas sejam mais direcionados as necessidades
das pessoas mais velhas, aumentando a efetividade do programa e reduzindo os
riscos ao idoso.
Quadro 2 - Relação da função física em pessoas
idosas categorizadas de acordo com a funcionalidade nas Atividades da Vida
Diária e Atividades Instrumentais da Vida Diária.
Nível
I
|
Fisicamente incapazes:
totalmente dependentes
Fisicamente
dependentes: realizam algumas atividades básicas da vida diária e
são dependentes
|
Nível
II
|
Fisicamente frágeis:
Realizam tarefas domésticas leves, prepara as refeições,
faz compras. Conseguem
fazer algumas das atividades intermediárias e todas as
Atividades Básicas da Vida Diária, que incluem as atividades
de auto-cuidado.
|
Nível
III
|
Fisicamente independentes:
Conseguem realizar todas as atividades intermediárias
da vida diária, incluem os idosos com estilo de vida
ativo, mas que não realizam atividades físicas de forma
regular.
|
Nível
IV
|
Fisicamente aptos
ou ativos: Realizam trabalho físico moderado, esportes
de resistência e jogos. São capazes de realizar as atividades
avançadas da vida diária e a maioria das atividades preferidas.
|
Nível
V
|
Atleta: Realizam
atividades competitivas, podendo disputar no âmbito internacional
e praticar esportes de alto risco.
|
Adaptado de Spirduso
Treinamento Funcional para Idosos
Os benefícios que a atividade física promove
para a realização de tarefas funcionais em idosos
têm sido investigados, haja vista a diminuição
da capacidade funcional que ocorre em virtude de alteração
nos sistema musculoesquelético e nervoso nessa faixa etária.
Assim, pesquisas têm sido realizadas para verificar se
exercícios de resistência muscular, bem como exercícios
com maior ênfase alongamento ou no equilíbrio, promovem
melhor capacidade na realização de tarefas funcionais
em idosos.
Macaluso e De Vito (2004), em uma extensa revisão de literatura sobre
treinamento de força e envelhecimento, observaram, entretanto, que poucos
estudos investigaram o quanto a realização de tarefas funcionais
na pratica de exercício melhora efetivamente a sua realização
no cotidiano. A tabela 1.0 apresenta a síntese de literatura encontrada
neste estudo. Pode-se observar que somente três estudos utilizaram a
prática de tarefa funcional em sua metodologia. Como resultados, dois
apresentam melhoras significativas em tarefas funcionais, e um dos estudos
não apresenta mudanças. Todos os outros estudos apresentados
e que estudaram o efeito do treinamento de força nas capacidades funcionais
de idosos mostram benefícios. Assim, pode-se dizer que os dois tipos
de treinamento seriam interessantes e viáveis àqueles que querem
se manter funcionalmente ativos no envelhecimento. Entretanto, é interessante
observar que um dado publicado mais recente mostra que parece ser o treinamento
funcional uma estratégia que permite a manutenção dos
ganhos por um período maior de tempo.
A referida pesquisa foi
publicada na Revista da Sociedade Americana de Geriatria e procurou comparar
o treinamento funcional com o treinamento de resistência
tradicional em idosos. Nesse estudo, foram estabelecidos três grupos:
um de prática de resistência muscular (34 idosas) e outro que
não realizava que não realizava a prática, ou seja, o
grupo controle (31 idosas). Os dois grupos de pratica realizaram os exercícios
durante 12 semanas, 3 vezes na semana, alcançando intensidades semelhantes
(nível entre 7 e 8 da escala de 10 pontos da percepção
subjetiva do esforço). Cada grupo desenvolvia atividades diferenciadas.
As aulas de resistência envolviam exercícios que visavam a grupos
musculares importantes para a realização das tarefas do cotidiano,
como flexores e extensores de cotovelos, abdutores, adutores e rotadores de
ombros, flexores e extensores do tronco, flexores, extensores, abdutores e
adutores do quadril, extensores e flexores de joelho e flexores plantares e
dorsais dos pés. Como em um típico protocolo progressivo de resistência,
três a quatro músculos foram treinados em três séries
de dez repetições. O incremento de sobrecarga era feito de acordo
com os profissionais que acompanhavam o grupo e consistia na utilização
de halteres, elásticos e caneleiras.
Já o grupo de treinamento funcional desenvolvia os exercícios
exemplificados no Quadro 3.
Quadro 3. Exemplos de exercícios utilizados
no treinamento funcional
Fase
de prática
|
Fase
de variação
|
Fase
de tarefas diárias
|
1. Subir em uma plataforma
(step) de frente.
|
1. Caminhar sobre um piso
e pegar um objeto leve no chão.
|
1. Caminhar sobre um piso,
recolhendo objetos do chão e os colocando em um cesto.
|
2. Subir de lado em uma plataforma
(step).
|
2. Caminhar sobre uma linha
reta carregando uma bandeja.
|
2. Pegar um objeto do chão
enquanto se senta e coloca o objeto em uma estante.
|
3. Passar sobre o step de
frente e de lado.
|
3. Subir um pequeno lance
de escadas carregando uma garrafa d´água de plástico
em uma bandeja.
|
3. Subir escadas (12 a 17
degraus) carregando um pequeno objeto em uma das mãos.
|
4. Andar em um caminho com
obstáculos carregando uma bandeja.
|
4.
Andar sobre um caminho curvo no chão.
|
4. Pegar roupas e saquinhos
de areia de uma estante baixa e carregá-las em um cesto
em um caminho de obstáculos.
|
5. Levantar da altura dos
joelhos e carregar uma caixa pesada.
|
5. Mover diferentes objetos
entre estantes de diferentes alturas.
|
5. Caminhar sobre diferentes
superfícies (chão, colchão, sacos de areia.
|
6. Sair da cama e carregar
um pequeno objeto.
|
6.
Levantar do chão e carregar um pequeno objeto.
|
6. Levantar de uma cadeira,
andar em uma linha reta e chutar uma bola em um local
determinado.
|
Como pode ser observado,
os exercícios foram divididos
em três fases para que os idosos pudessem se adaptar lentamente às
exigências das tarefas, que iam aumentando ao longo dos
três meses. Assim, a fase de prática durou duas
semanas, a de variação, quatro, e a tarefa diárias
durou seis semanas. Durante as sessões, os instrutores
variavam diversos aspectos inerentes às tarefas, como
mudanças no número de objetos carregados, altura
dos steps, entre outros. Ao final de 12 semanas, os testes realizados
inicialmente foram refeitos, e os principais resultados demonstravam
um aumento significativo na força de membros inferiores,
no equilíbrio, na coordenação, no teste
funcional e na resistência no grupo de treinamento funcional
em relação ao grupo de treinamento de resistência.
Outro dado interessante é que, após nove meses
do início da pesquisa, a pontuação total
dos testes de treinamento funcional, força total de membros
superiores, força de membros superiores e inferiores,
equilíbrio, coordenação e resistência
se manteve maior em relação ao grupo que treinava
somente resistência muscular, parecendo, assim haver melhor
manutenção dos ganhos nas tarefas funcionais, o
que é extremamente benéfico para esse público.
Considerações
Finais
Nos últimos anos na área do condicionamento físico,
muitos profissionais de Educação Física
têm aderido a essa metodologia, associando instabilidade
na execução de exercícios físicos
para conduzir os treinamentos, sejam eles voltados ao desempenho
esportivo ou à melhora da qualidade de vida.
As evidências aqui apresentadas por diversas literaturas evidenciam que
o treinamento funcional favorece ao desempenho do cotidiano do idoso, isso
facilita seu convívio social, físico e no seu lazer. O exercício
físico é de extrema importância para vida social, mental
e física do idoso. O treinamento funcional vem se propagando por todo
mundo e está buscando seu espaço, afinal é muito recente
no Brasil. O Treinamento Funcional vem sendo bem adotado pela essa população
por mostrar benefícios bastante significativos às atividades
diárias, que por sinal é benéfico para vida desta população.
Vale salientar que o exercício físico não deve ser estimulado
somente na terceira idade e durante toda fase da vida, como forma de prevenir
e controlar as doenças crônicas que aparecem muito mais com freqüência
na terceira idade e como forma de torna-se um idoso muito mais ativo e funcional.
Enfim, talvez esse seja o grande achado desta pesquisa. Sabe-se, no entanto,
que muito mais precisa ser investigado par que haja um consenso na literatura
sobre o assunto.
Outras pesquisas devem investigar a manutenção dos resultados,
e um volume maior de trabalhos elucidará, porque outros trabalhos identificam
melhoras semelhantes entre os dois tipos de treinamento: funcional e de força.
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* Resumo
de Currículo:
Graduado
em Educação
Física Bacharel, pela Universidade UNIME- ITABUNA/BA;
Pós Graduado em Saúde Coletiva, FTC - Itabuna-BA;
idealizador e coordenador do Studio Funcional – Treinamento
Físico & Reabilitação – ITABUNA/BA,
precursor do Treinamento Funcional na região. Preparador
Físico de atletas consagrados em várias modalidades
esportivas como: MMA, Jiu-Jítsu, Judô, Boxe, Futebol,
etc. Trabalha focado para proporcionar o melhor desempenho para
os clientes, saúde, bem estar, prevenção
e reabilitação de lesões, é adepto
de Jiu-Jítsu pela EQUIPE KIMURA Itabuna-BA,