TREINAMENTO DESPORTIVO
Treinamento de força para adolescentes:
risco ou benefício?
Alisson Gomes da
Silva
Antonio Trajano de Morais Neto²
RESUMO
O treinamento resistido consiste em uma atividade voltada para
o desenvolvimento das funções musculares através da aplicação
de sobrecargas, podendo esta ser imposta através de pesos livres, máquinas
específicas, elásticos ou a própria massa corporal. O fato
de uma das principais adaptações musculares ao treinamento resistido
ser a hipertrofia muscular, e os adolescentes estarem comumente insatisfeitos
com a própria aparência, há um crescente interesse destes
por esta área. Entretanto, como o sistema esquelético nessa fase
da vida ainda não está completamente formado, surge uma preocupação
a respeito de tal prática, que supostamente poderia provocar lesões
osteomioarticulares. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar quais são
os riscos e benefícios da prática do treinamento resistido por
adolescentes. A literatura apontou que os exercícios resistidos exercem
efeitos positivos sobre a densidade mineral óssea, e aumentam a força
muscular em crianças e adolescentes. Na infância, mecanismos neurais
relacionam-se mais aos aumentos da força do que a hipertrofia muscular,
passando a ser considerável após a puberdade, devido ao padrão
hormonal favorável. No entanto, para que os objetivos do treinamento sejam
alcançados, faz-se necessário o entendimento da dinâmica
do crescimento e desenvolvimento motor para a prescrição do treinamento
resistido, uma vez que a adolescência é marcada por grandes transformações
físicas, psicológicas e psicossociais. Assim, há evidências
de que os riscos da prática do treinamento de força em crianças
e adolescentes passam a surgir quando este treinamento não é planejado,
estruturado e supervisionado por profissionais competentes. Com tais cuidados,
este tipo de treinamento provavelmente será benéfico a crianças
e adolescentes, e poderá proporcionar a obtenção dos objetivos
propostos.
1.
Introdução
Na sociedade moderna, percebe-se uma busca frenética
por padrões de beleza e auto-imagem idealizados e reforçados pela
mídia (LIMA et al, 2001; GOLDBERG, 2001, apud GOLDBERG et al, 2003). A
insatisfação com a própria aparência, além
de estar relacionado com transtornos alimentares, pode conduzir adolescentes à busca
de atividades físicas de alta intensidade e grande volume de treinamento,
como valorização do corpo e da imagem idealizados, a serem atingidos,
muitas das vezes, a qualquer custo (GOLDBERG et al, 2003).
Um dos meios comumente utilizados para tal, é o treinamento
resistido (também conhecido como treinamento de força ou contra
resistência), uma vez que, segundo Godoy (1994) citado por Hansen (2002),
além de apresentar finalidades terapêuticas, profiláticas,
psicológicas e específicas, apresenta ainda características
estéticas, uma vez que modifica a massa corporal, objetivando formas corporais
desejáveis.
O treinamento resistido consiste em uma atividade voltada para
o desenvolvimento das funções musculares através da aplicação
de sobrecargas, podendo esta ser imposta através de pesos livres, máquinas
específicas, elásticos ou a própria massa corporal (FLECK
e KRAEMER, 2006).
A sua popularidade entre pré-púberes e adolescentes
tem aumentado espantosamente durante a última década. As seguintes
organizações têm produzido posicionamentos indicando que
o treinamento de força para jovens é eficaz e seguro quando apropriadamente
supervisionado: American Academy of Pediatrics (1990), National Strength and
Conditioning Association (1996) e American College of Sports Medicine (ACSM)
(1998). Apesar desses posicionamentos, ainda existem questionamentos e dúvidas
a respeito do treinamento de força para jovens (FLECK e KRAEMER, 2006).
Nesse sentido, Goldberg et al (2003) aponta que a principal
preocupação da adesão de adolescentes ao treinamento com
pesos é a possibilidade de lesões nas epífises ósseas,
devido à grande vulnerabilidade destas à lesões, provocadas
por sobrecarga, antes do amadurecimento fisiológico.
Assim, o presente trabalho busca identificar, através
de uma revisão de literatura, quais são os possíveis riscos
e benefícios da prática do treinamento resistido por adolescentes.
2.
Objetivos
2.1. Objetivo geral
" Identificar a relação custo-benefício no treinamento
de força para adolescentes.
2.2. Objetivos específicos
" Descrever o processo de maturação humana.
" Identificar as adaptações osteo-musculares, hormonais e
neurais provenientes do treinamento de força.
" Identificar, na literatura, os principais riscos e benefícios do
treinamento resistido na adolescência.
3.
Revisão de Literatura
3.1. Maturação humana
A adolescência é caracterizada como um período
de transição no desenvolvimento entre a infância e a idade
adulta que envolve grandes e interligadas mudanças físicas, cognitivas
e psicossociais. Dura quase uma década, aproximadamente dos 12 ou 13 anos
até o início dos 20 anos. No entanto, não há definição
clara para seu ponto de início ou fim (PAPALIA e OLDS, 2000).
O componente "bio" da adolescência é reconhecido
como puberdade e envolve, entre outras alterações fisiológicas
próprias da idade, o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários,
o ganho acelerado de estatura e peso e as alterações da composição
corporal (Goldbert et al, 2003). Segundo Oliveira et al (2003), nessa fase ocorre,
ainda, aceleração do crescimento, aumento nos níveis de
testosterona, diferenciação nas fibras musculares de contração
lenta e rápida, diferenciação entre os sexos (antropometria
e massa muscular) e menarca (início da função menstrual).
Já Duarte (1993), citado por Silva (2002) e por Oliveira (2006), define
maturação pubertária como variações na velocidade
e no tempo de surgimento de determinadas características, capacitando
o individuo a atingir a maturidade biológica.
As diferenças físicas e psicológicas são
resultantes de potenciais genéticos e velocidades diferentes de crescimento
(Fleck e Kraemer, 2006). Consequentemente observa-se variações
individuais e entre populações, com relação à idade
de início, duração e magnitude dos eventos pubertários
(Goldberg et al, 2003). Assim, Silva (2002) argumenta que a idade cronológica
não pode ser usada como ponto de corte para demarcação de
períodos de desenvolvimento, e segundo Goldberg et al (2003), não
pode ser reconhecida como indicador temporal adequado, pois nem sempre é sensível às
modificações individuais provocadas pelo processo de maturação.
Nesse sentido, em relação ao desenvolvimento
do treinamento de força, Fleck e Kraemer (2006), afirmam que a idade fisiológica é mais
importante do que a cronológica, pois determina as capacidades e os desempenhos
funcionais da pessoa.
Os programas de treinamento de força para pré-púberes
e adolescentes de ambos os sexos são bastante parecidos. Entretanto, algumas
diferenças no desenvolvimento devem ser consideradas quando são
estabelecidos os objetivos para meninos e meninas. Em meninos pré-púberes,
a velocidade nos ganhos de força parece chegar ao pico seguindo o pico
da velocidade do crescimento (Naughton et al, 2000), enquanto o pico da força
em muitas meninas ocorre antes ou durante o pico da velocidade de crescimento.
De qualquer forma, o estágio de desenvolvimento, no qual ocorrerá qualquer
aumento de força é consistentemente maior em meninos do que em
meninas (FLECK e KRAEMER, 2006).
Durante a infância e adolescência, músculos,
tendões e ligamentos são de duas a cinco vezes mais fortes que
suas inserções nos ossos. Deve-se evitar, portanto, a técnica
incorreta na realização dos exercícios; o aumento súbito
da intensidade, o desrespeito à individualidade biológica; a especialização
precoce, resultando em estresse mecânico sobre as estruturas músculo-tendinosas,
ligamentosas e ósseas (Oliveira et al, 2003). Corroborando este pensamento,
Nickols-Richardson, Modlesky, O'Connor e Lewis (2000), citados por Silva (2002),
atentam para a possibilidade de lesões, recomendando que a força
máxima ou próxima dela seja evitada, e enfatizam a necessidade
das técnicas apropriadas.
Diante do exposto, fica claro que as inúmeras alterações
físicas, psicológicas e psicossociais na criança e no adolescente,
provocam conseqüências para a atividade corporal ou esportiva (ÄSTRAND,
1980; WEINECK, 1991).
Viru et al (1999) argumenta que a avaliação da maturação
sexual é fundamental quando se objetiva prescrever programas de exercícios
físicos para adolescentes, uma vez que o aumento da secreção
de gonadotrofinas e esteróides sexuais gonadais induzem o desenvolvimento
sexual, aumento da massa corporal, estatura e melhora na aptidão física
dos jovens (Goldberg et al, 2003). Corroborando, Fleck e Kraemer (2006) ressaltam
a necessidade de se entender os princípios básicos do crescimento
e desenvolvimento, já que ajudam no desenvolvimento de objetivos e progressões
de exercícios nos programas de treinamento de força. E por fim,
Nunes (2005), afirma ser importante compreender as características individuais,
para que se possa orientar o treinamento físico, mantendo bons níveis
de saúde de acordo com a idade e o sexo.
3.2. Principais adaptações ao treinamento de força
Entende-se por adaptação o processo fisiológico
pelo qual o organismo responde ao exercício (FLECK e KRAEMER, 2006).
Um treinamento sistematizado resulta em adaptações
estruturais e fisiológicas, sendo que os vários sistemas do corpo
adaptam-se de modo diferente. Os músculos crescem, ossos ficam mais fortes
ou fracos, dependendo da carga, o sistema nervoso central torna-se mais eficiente
para recrutar a ação muscular enquanto a performance motora faz-se
mais coordenada e refinada (BOMPA e CORNACCHIA, 2000).
Adaptação anatômica
Um treinamento vigoroso de força sempre desenvolve tensão em
ligamentos e tendões, podendo acarretar lesões. Os tendões
e ligamentos levam mais tempo para se adaptarem à contrações
potentes do que os músculos. Portanto, indivíduos treinados após
um período de descanso, e iniciantes em treinamento de força,
necessitam de 6 a 12 semanas para treinar os tendões e ligamentos. Essa
adaptação é proporcionada por um treinamento progressivo
e não estressante que ative todos os músculos, ligamentos e tendões,
visando ajudar o indivíduo a passar para outra fase mais intensa de
treinamento, livre de lesões (BOMPA e CORNACCHIA, 2000; MELONI E GENTIL,
[s/d]).
Hipertrofia muscular (aguda, crônica e metabólica)
Uma das adaptações mais visíveis ao treinamento
de força é a hipertrofia muscular, que ocorre graças ao
aumento na área da secção transversa de cada fibra muscular
(WEINECK, 2003).
Pode ser classificada em aguda (transitória) ou crônica
(miofibrilar). A hipertrofia transitória é o aumento de volume
do músculo que ocorre durante uma sessão de exercício, decorrente
principalmente do acúmulo de líquido (originário do plasma
sanguíneo) nos espaços intersticial e intracelular no músculo,
sendo que o este retorna ao sangue algumas horas após o exercício
(WILMORE e COSTILL, 2001). Já a crônica é proveniente de
mudanças musculares estruturais, devido ao aumento do tamanho e número
dos miofilamentos protéicos, que ocorre com treinamento de força
de longa duração (BOMPA e CORNACCHIA, 2000; WILMORE e COSTILL,
2001; CHIESA, 2003). Este tipo de hipertrofia ocorre como adaptação à sobrecarga
tensional nos músculos em atividade. (SANTARÉM, 1998; CHIESA, 2003).
Existe ainda um outro tipo ou mecanismo de hipertrofia muscular
chamado de hipertrofia metabólica ou sarcoplasmática. Este processo é desencadeado
pelo aumento de certas substâncias no citoplasma da célula muscular
(sarcoplasma), promovendo um conseqüente aumento no tamanho da musculatura
(HANSEN, 2002). As adaptações do corpo promovendo hipertrofia metabólica
ou sarcoplasmática ocorrem através de sobrecarga metabólica,
a qual designa um aumento de atividade dos processos de produção
de energia (SANTARÉM, 1998; CHIESA, 2003).
Bompa e Cornacchia (2000) ainda apontam que o hormônio
sexual masculino "testosterona" assume papel importante no crescimento
muscular, sendo outra teoria a respeito da hipertrofia.
Adaptações neuro musculares
Ganhos em força muscular podem ser explicados por mudanças
no padrão de recrutamento de unidades motoras e pelo sincronismo das mesmas
para agir em união, o que facilita a contração e aumenta
a capacidade do músculo de gerar força (BOMPA e CORNACCHIA, 2000;
WILMORE e COSTILL, 2001).
A grande maioria das evidências indica que os ganhos
na força em pré-púberes relacionam-se mais aos mecanismos
neurais do que à hipertrofia muscular (BLIMKIE, 1993; NATIONAL STRENGHT
AND CONDITIONING ASSOCIATION, 1996, apud FLECK e KRAEMER, 2006). Katch e McArdle,
(2003) confirmam este raciocínio argumentando que os aumentos da força
em crianças resultam principalmente do aprendizado e da ativação
neuromuscular aprimorada e não de aumentos substanciais no tamanho dos
músculos. Da mesma forma, Silva (2002) afirma que do ponto de vista fisiológico
nas crianças pré-púberes, este aumento ocorre devido à melhoria
na freqüência de transmissão e recrutamento das fibras motoras
e não necessariamente à hipertrofia, fato que só passa a
ocorrer com a puberdade, devido ao aumento da quantidade de hormônio de
crescimento, sendo que nos meninos ainda há o aumento da testosterona,
o que tende a favorecer algumas respostas relacionadas à melhoria da força.
Assim, o crescimento acentuado do músculo em resposta
ao treinamento de força pode começar após a adolescência,
quando os perfis hormonais de homens e mulheres adultos começam a surgir.
Após a puberdade, o treinamento de força tem a capacidade de aumentar
a hipertrofia muscular para além daquela alcançada no crescimento
normal. Entretanto, devido às diferenças nos períodos de
maturação entre as crianças, deve-se avaliar esse objetivo
individualmente (FLECK e KRAEMER, 2006).
Embora os mecanismos exatos que promovem o aumento da força
em indivíduos pré-púberes e púberes ainda não
estejam completamente elucidados, os autores supra-citados atestam que o treinamento
de força, claramente, promove aumentos na força de meninos e meninas.
No entanto, isto está na dependência de um treinamento adequadamente
estruturado com relação à freqüência, tipo, intensidade
e duração do programa (GOLDBERG et al, 2003).
3.3. Riscos e benefícios do treinamento de força na adolescência
Especificamente no que se refere ao trabalho de força
com crianças e adolescentes, há uma idéia geral de que este
tende a acarretar uma série de lesões ósteo-mio-articulares,
que poderiam favorecer a inibição do crescimento, prejudicando
a estatura final (SILVA, 2002).
Para Katch e McArdle (2003), devido à natureza formativa
do sistema esquelético das crianças em crescimento, surgem preocupações
acerca da possibilidade de ocorrerem lesões em virtude da sobrecarga músculo-esquelética
excessiva. Além disso, o perfil hormonal de uma criança carece
do desenvolvimento pleno, particularmente o hormônio testosterona. Assim,
poder-se-ia questionar se o treinamento resistido em crianças seria capaz
de induzir aprimoramentos significativos da força muscular.
Damsgaard et al (2001), sustentam que o treinamento de força
intenso em adolescentes parece acarretar decréscimo nos níveis
de IGF-I (fator de crescimento para insulina), sugerindo que esse treinamento
pode reduzir o crescimento e comprometer a estatura final (GOLDBERG et al, 2003).
Nesse contexto, Oliveira et al (2003) alertam que são
necessários cuidados com a sobrecarga ao relacionar o treinamento com
o crescimento ósseo, pois este ainda não se encontra em sua formação
final.
Para Fleck e Kraemer (2006), os problemas nas costas podem
ser uma das lesões mais comuns em adolescentes e pré-púberes
que realizam treinamento de força, causados normalmente pelo levantamento
de cargas máximas ou próximas da máxima, e pela execução
incorreta de exercícios. Assim, grupos musculares adicionais são
recrutados, a coluna vertebral é alinhada de forma inadequada, principalmente
com arqueamento da região lombar, o que coloca uma sobrecarga nessa região
(KATCH, 1996, apud JESUS e MARINHO, 2006). Nesse sentido, Weineck (2003) alerta
para a importância do uso da técnica correta para o levantamento
de uma carga, especialmente durante a juventude.
Entretanto, alguns preconceitos estão sendo derrubados
em relação ao treinamento de força muscular em crianças
(Oliveira; Gallagher, 1999), como o comprometimento do crescimento cartilaginoso,
fraturas, lesões crônicas e problemas lombares.
A utilização de exercícios contra resistência,
se realizado de forma adequada, proporciona um excelente meio de fortalecimento
dos músculos do abdome e da região lombar, de modo a sustentar
e proteger a coluna vertebral (JESUS e MARINHO, 2006).
Em se tratando de densidade mineral óssea, o treinamento
de força pode apresentar um efeito favorável em pré-púberes
e adolescentes em ambos os sexos (NATIONAL STRENGHT AND CONDITIONING ASSOCIATION,
1996; NAUGHTON et al, 2000, citados por FLECK e KRAEMER, 2006).
De acordo com Khan et al (2000), essa é uma consideração
importante para a saúde óssea a longo prazo, já que estudos
de ex-atletas e de atletas em destreinamento mostram que, aqueles que aumentam
sua densidade mineral óssea na adolescência podem apresentar menor
perda óssea nos anos seguintes, apesar da redução na atividade
física (FLECK e KRAEMER, 2006). Portanto, qualquer aumento na densidade
mineral óssea acima do crescimento normal durantes os anos da pré-puberdade
e adolescência pode ajudar a prevenir uma osteoporose futura.
Para Nordström et al (1995) apud Goldberg et al (2003),
existe forte associação entre massa óssea e força
dos músculos adjacentes. Assim, incremento da massa muscular reflete-se
em aumento da massa óssea, ou seja, os músculos, uma vez estimulados,
irão desencadear aumento osteoblástico na região óssea
próxima do local onde se inserem. Krahl et al, (1994) afirmam que o estresse
contínuo provocado pelo exercício físico resulta em adaptações
morfológicas, tais como: aumento da espessura cortical e maior conteúdo ósseo
na inserção musculotendínea (GOLDBERG et al, 2003).
Devido ao profundo interesse na área de mineralização óssea
na infância e adolescência, Goldberg e Silva (2004) conduziram investigação
com adolescentes do sexo masculino, e os resultados indicaram intenso anabolismo ósseo
entre as faixas etárias de 14 a 16 anos e quando os mesmos atingiam o
estágio de maturação sexual G4. Estudos de khan et al (2001)
sugerem que os estágios II e III de Tanner, quando associados com atividades
esportivas, promovem aumento significativo na densidade mineral óssea
da grande maioria de adolescentes (GOLDBERG et al, 2003). Já Haapasalo
et al (1998), estudaram os efeitos do treinamento de tênis e da maturação
sexual, e o seu impacto na densidade óssea dos membros superiores. Foram
utilizados os critérios de Tanner para o sexo feminino. Os resultados
indicaram que, no estágio I de Tanner, o ganho na densidade mineral das
tenistas só ocorria quando o treinamento era muito intenso e que o aumento
mais pronunciado era nos estágios III e IV. Os autores propuseram que,
em estágios iniciais da puberdade, a repercussão óssea ao
estímulo da sobrecarga é pouco significativa, enquanto que, em
fases mais avançadas da maturidade sexual, o padrão hormonal conjugado à atividade
esportiva conduz a maior deposição de massa óssea nos locais
específicos dos estímulos musculares.
Weltman et al (1986) estudaram a segurança e eficiência
do treinamento de força em 26 crianças pré-púberes.
Esses autores não encontraram evidências de lesão à epífise,
ossos ou músculo após um programa de 14 semanas de treinamento
de força com supervisão. Blimkie et al (1989), na Universidade
de McMaster em Ontário, Canadá, também avaliaram a segurança
e eficiência do treinamento de força em meninos pré-púberes.
A segurança foi monitorada por um médico que avaliava antes, durante,
e após o treinamento. Os resultados dessa pesquisa não acusaram
nenhuma evidência de lesão ao sistema músculo-esquelético
após o treinamento de força, e encontraram significativos ganhos
de força e melhor desempenho esportivo (ROBERGS, ROBERTS, 2002).
Portanto, tem-se verificado que, com uma adequada supervisão
da sobrecarga, a incidência de lesão é praticamente nula
(OLIVEIRA et al, 2003). Daí a importância do treinamento de força
nessa faixa etária ser planejado e orientado por profissionais de Educação
Física qualificados.
Pollock (1986) citado por Biazussi [s/d] ainda acrescenta,
apontando outros benefícios proporcionados pelo treinamento resistido
aos adolescentes: hipertrofia muscular, níveis de força e resistência
muscular elevados, aumento da secreção de hormônios anabólicos,
redução da dor em pacientes que sofrem de dores lombares e melhora
da mobilidade, melhora do metabolismo da glicose e da sensibilidade à insulina,
e metabolismo basal elevado.
Entretanto, para que os objetivos e benefícios dos programas de treinamento
de força sejam alcançados, eles devem ser apropriadamente elaborados
e progressivos, ensinados corretamente e supervisionados de forma competente
(FLECK e KRAEMER, 2006).
3.4. Considerações acerca do treinamento de força na infância
e adolescência
Katch e McArdle (2003) indicam recomendações
prudentes para iniciar um treinamento de força com crianças e adolescentes.
Apesar de não ser objetivo deste trabalho, pensamos ser importante evidenciá-las.
Idade (anos) |
Considerações |
7 ou menos
|
Introduzir a criança aos exercícios
básicos com pouco ou nenhum peso; elaborar o conceito
de uma sessão de treinamento; ensinar as técnicas
dos exercícios; progredir de calistenia com utilização
de peso corporal; exercícios com parceiro e exercícios
levemente resistidos; manter o volume baixo. |
8 - 10
|
Aumentar gradualmente o número de
exercícios; praticar a técnica do exercício
em todos os levantamentos; começar com uma carga
progressiva e gradual; proporcionar exercícios simples;
aumentar gradualmente o volume do treino; monitorar com
cuidado a tolerância ao estresse do exercício. |
11 - 13
|
Ensinar todas as técnicas básicas
dos exercícios; prosseguir com a carga progressiva
de cada exercício; enfatizar as técnicas
dos exercícios; introduzir exercícios mais
avançados com pouca ou nenhuma resistência. |
14 - 15
|
Progredir para programas mais avançados;
acrescentar componentes específicos para cada desporto;
enfatizar as técnicas do exercício; aumentar
o volume. |
16 ou mais
|
Conduzir a criança para programas
adultos de nível inicial depois que todo o conhecimento
básico foi dominado e que foi conseguido um nível
elementar de experiência com o treinamento. |
Fonte: Katch e McArdle (2003).
4.
Conclusão
O fato do sistema esquelético não se encontrar
em sua formação final em adolescentes, não significa que
estes não podem ser submetidos à exercícios de força.
Entretanto, a prescrição desses exercícios à adolescentes
deve ser cautelosa, uma vez que nessa fase da vida ocorrem inúmeras alterações
físicas, psicossociais e psicológicas.
Mecanismos neurais são responsáveis pelos aumentos na força
em crianças submetidas ao treinamento. Já a hipertrofia muscular
passa a ser alcançada após a puberdade, quando os padrões
hormonais adequados começam a surgir.
Foi constatado que o treinamento de força altera significativamente
a densidade mineral óssea em crianças e adolescentes, prevenindo
uma possível osteoporose futura. Além disso, o treinamento proporciona
manutenção da aptidão física relacionada à saúde,
redução do estresse emocional; aumento da auto-estima; alterações
positivas na composição corporal; melhora nos níveis de
lipídios no sangue; metabolismo elevado, etc.
No entanto, o treinamento deve ser planejado e estruturado
por profissionais qualificados da Educação Física, com conhecimentos
sobre o crescimento e desenvolvimento humano. Isto contribui significativamente
no desenvolvimento de objetivos e progressões de exercícios nos
programas de treinamento, além de garantir que os objetivos sejam alcançados,
e a incidência de lesões atenuadas.
Portanto, há evidências de que os riscos da prática
do treinamento de força em crianças e adolescentes passam a surgir
quando o treinamento não é planejado, estruturado e supervisionado
por profissionais competentes. Com tais cuidados, o treinamento de força
provavelmente será benéfico aos adolescentes e crianças,
proporcionando o aumento da força muscular, hipertrofia muscular (principalmente
em adolescentes), densidade mineral óssea, enfim, o alcance dos objetos
propostos.
¹ Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade
Estadual de Montes Claros - Unimontes
² Professor do Curso de Educação Física da Universidade
Estadual de Montes Claros - Unimontes
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