SQUASH
O ESTUDO DAS CAPACIDADES FÍSICAS E A TRANSFERÊNCIA
DE ENERGIA NA PRÁTICA DO SQUASH
Autor: Prof. Rafael V. Padua (consultor
CDOF)
INTRODUÇÃO
O Squash (pronuncia-se "squósh", de acordo com suas
origens), é um esporte antigo, que surgiu por volta do começo
do século XIX.
O Squash é uma modalidade que se caracteriza por haver "trocas
de bola" de altíssima intensidade e de curta duração.
O aumento da FC (freqüência cardíaca) no decorrer dos games
pode variar entre 94 e 100% da freqüência cardíaca máxima
prevista para cada indivíduo. As movimentações dentro
da quadra exigem um alto grau de coordenação motora aliado a
uma série de deslocamentos em velocidade. Isso faz com que o atleta
desenvolva um alto índice de resistência de força e de
elevada potência aeróbia.
O objetivo deste estudo é identificar as capacidades físicas
e os sistemas metabólicos envolvidos na prática do Squash. Com
base nessas informações, o futuro atleta poderá dispor
de um conjunto de informações que possam orienta-lo de uma forma
mais correta e com o respaldo científico necessário.
Apesar de ser uma modalidade antiga e muito popular em países como Inglaterra,
Paquistão, Canadá, Austrália entre outros, não
existem muitos estudos direcionados à prática dessa modalidade.
A falta de publicações científicas contribui para a má formação
de nossos atletas que orientados por "profissionais" desatualizados
e muitas vezes sem formação acadêmica não conseguem
se firmar no cenário mundial.
CAPÍTULO
3. COMPREENDENDO A MODALIDADE
O Squash (pronuncia-se "squósh", de acordo
com suas origens), é um esporte antigo, que surgiu por volta do começo
do século XIX.
3.1. Fundamentos e jogadas
Os principais fundamentos do Squash são:
Paralela: rebater a bola para que ela retorne na mesma direção.
Cruzada: rebater a bola com o objetivo de inverter o lado do jogo
para deixa-la mais longe do adversário, dificultando a sua
rebatida.
Boast: jogada realizada com as paredes laterais em que a bola chega à parede
central com menor velocidade, obrigando o jogador a se deslocar e assim evitar
o segundo quique da bola no solo.
Lob: a bola faz uma parábola por cima do jogador com o objetivo de obriga-lo
a ir ao fundo da quadra.
Voleio: rebater no ar sem deixar a bola tocar no solo. Tem a função
de intensificar o jogo e dificultar o posicionamento adversário.
Nick: depois de tocar na parede frontal, a bola acerta no ponto de junção
da parede lateral com o solo e não quica mais, impedindo a resposta
do adversário.
3.2. Regras
Há necessidade de a bola sempre tocar na parede frontal antes
de atingir o solo;
A bola pode quicar somente uma vez no solo depois de bater na parede
frontal;
O saque deve ser efetuado acima da segunda demarcação e abaixo
da terceira linha da parede frontal;
O árbitro pode instituir o LET quando considerar que o ponto deve ser
novamente disputado, ou STROKE, dando o ponto a um jogador por julgar que este
foi prejudicado pelo adversário na sua vez de rebater.
3.3. Pontuação
A contagem oficial da World Squash Federation é a 9 pontos com
vantagem, só o sacador faz pontos, se o recebedor ganhar a jogada
ele obtém a vantagem a o direito de sacar.
Todos os games acabam em 9 pontos, exceto quando há empate em
8 pontos, cabendo ao recebedor determinar se o game acaba em 9 (set
one) ou 10 (set two)
pontos.
Para torneios amadores, tem se usado à contagem americana que é até 15
pontos sem vantagem. Todos os "rallys" valem pontos. Se houver empate
em 14 pontos, o recebedor determina se acaba em 1 (set one) ou 3 (set three)
pontos.
CAPÍTULO IV. PERFIL PADRÃO
DOS PRATICANTES DE SQUASH
Segundo a professora Da Silvia et al 1998, no seu artigo "Características
de Aptidão Física de Jogadores de Squash", o perfil do
jogador de Squash de alto nível do sexo masculino pode ser assim definido:
Através desta tabela, podemos concluir que um
jogador de Squash de alto nível, necessita de agilidade, força
abdominal, baixos índices de gordura corporal, elevada potência
aeróbia e força de membros inferiores. Vale a pena
considerar que nenhum teste de membros superiores foi realizado para
esse grupo de voluntários.
CAPÍTULO V. CARACTERÍSTICAS
DA MODALIDADE
O Squash como modalidade esportiva é classificado como Desporto complexo.
Tal classificação deve-se ao fato de exigir de seus praticantes
uma grande habilidade coordenativa, além de flexibilidade, resistência
anaeróbia e força.
Para que se possa compreender, planejar e orientar de uma maneira mais eficiente
os atletas desta modalidade, primeiramente temos que entender quais são
as capacidades físicas envolvidas e os aspectos metabólicos utilizados.
Sabemos que atualmente existem cinco capacidades físicas básicas.
São elas: força, resistência, flexibilidade, coordenação
e velocidade. A compreensão e a forma como serão trabalhadas é o
segredo para se obter o sucesso dentro da preparação física.
5.1. Capacidades Físicas Básicas
Resistência: Weineck (1990), em seu livro Treinamento Desportivo,
definiu resistência como: "Resistência Psíquica" é a
capacidade de um atleta de suportar um estímulo no seu limiar
por um determinado período e a "Resistência Física" é a
tolerância do organismo e de órgãos isolados ao
cansaço.
Força: A força como capacidade física se relaciona
com a capacidade de superação da resistência externa
e de contra-ação a esta resistência, por meio dos
esforços musculares (ZAKHAROV,1992).
Velocidade: A velocidade é a medida de quão rápido
um atleta pode correr curtas distâncias (DINTIMAN, 1999).
Flexibilidade: Atualmente uma definição padrão
entre a maioria dos autores é que flexibilidade pode ser definida
como: "amplitude de movimento articular" podendo ser avaliada
em cada articulação, ou grupo de articulações
(MONTEIRO, 1998).
Coordenação: As capacidades coordenativas (sinônimo "habilidade")
são capacidades determinadas sobretudo pelo processo de controle
dos movimentos e devem ser regulamentados (Hirtz, 1981). Estas capacidades
capacitam o atleta para ações motoras em situações
previsíveis e imprevisíveis e para o rápido aprendizado
e domínio de movimentos nos esportes.
5.2. Capacidades físicas específicas
da modalidade
Mobilidade: Mobilidade pode ser
entendida como uma interação
entre agilidade e flexibilidade. É a capacidade de um indivíduo
cobrir um espaço rapidamente, com um bom senso de coordenação
e oportunidade.
Força de resistência: Capacidade de aplicar força
em um movimento ou gesto, por diversas repetições sem
ocasionar queda de rendimento (fadiga muscular).
Força reativa: É a capacidade para gerar força
no salto imediatamente após uma aterrissagem (BOMPA, TUDOR O.).
Força de aceleração: Refere-se a capacidade para
conquistar uma alta aceleração. Esta por sua vez, depende
da força e da rapidez da contração muscular para
levar os braços e pernas até a mais alta freqüência
de movimentos.
Força de lançamento: Está relacionada à força
aplicada contra um implemento, como a rebatida de uma bola no Squash.
Força de desaceleração: Tem como definição
deslocar-se rapidamente e com constantes mudanças de direção.
A mudança de direção é súbita e
com mínima perda de velocidade.
5.3. Princípio da Especificidade
Segundo este principio, "as atividades de
treinamento para evento específico devem estressar os grupos
musculares envolvidos, o sistema energético predominante e o
tipo de atividade característica do evento" (NAHAS, 1991).
A respeito deste princípio, a forma mais eficaz de treinar uma modalidade é praticar
os movimentos da própria modalidade. O treinamento de Squash requer
a combinação das capacidades físicas mencionadas anteriormente
e devem ser treinadas de maneira semelhante a competição.
O jogo de Squash é considerado um esporte altamente dinâmico,
a bolinha atinge grandes velocidades ao longo da partida. Como o objetivo é fazer
com que o adversário não consiga rebater a bola, cabe ao jogador
utilizar meio técnicos como a finta, efeitos sobre a bolinha, mudanças
constantes de direção e velocidade da bolinha, para dificultar
ao máximo a jogada do adversário.
Por haver tantas "variáveis" e situações adversas
durante uma partida de Squash, todas as capacidades físicas específicas
da modalidade devem ser trabalhadas da melhor maneira possível respeitando
os princípios da periodização desportiva.
CAPÍTULO VI. SISTEMAS ENERGÉTICOS NA
PRÁTICA DO SQUASH
A função das vias metabólicas no músculo é principalmente
fornecer energia para os exercícios em suas diversas intensidades. A
energia para a prática de atividades físicas como o Squash deriva
dos processos metabólicos que envolvem a degradação química
dos nutrientes energéticos (carboidratos, proteínas e gorduras)
para a produção de adenosinatrifosfato (ATP) (BOILEAU,1989).
Existem dois processos produtores de energia pelo sistema anaeróbio
para a elaboração de ATP: O sistema ATP-CP (do fosfagênio)
e a glicólise anaeróbia. Anaeróbio significa sem oxigênio
e metabolismo refere-se às várias séries de reações
químicas que ocorrem dentro do organismo. Assim sendo, metabolismo anaeróbio
refere-se a ressíntese de ATP através de reações
químicas que não exigem a presença do oxigênio que
respiramos (FOX et al., 1991).
A importância do sistema fosfagênio para o Squash é exemplificada
pelos poderosos e rápidos deslocamentos que são realizados em
questão de segundos. Sem esse sistema, os movimentos rápidos
e vigorosos não poderiam ser realizados, pois essa atividade exige muito
mais um fornecimento rápido do que uma grande quantidade de energia
ATP.
Quando a intensidade do exercício é muito elevada, substratos
potentes como CP (creatina fosfato) e o glicogênio, são metabolizados
anaeróbicamente (via da creatina fosfokinase e da glicólise anaeróbia
ou glicolítica).
O sistema do fosfagênio representa a fonte disponível mais rapidamente
do ATP para ser usado pelo músculo. As razões disso são
que não dependem de uma longa série de reações
químicas, e do transporte do oxigênio que respiramos para os músculos
que estão realizando o trabalho e tanto ATP quanto CP estão armazenados
diretamente dentro dos mecanismos contráteis dos músculos (MCARDLE
et al, 1998).
A geração energética nos primeiros 15 segundos de trabalho
muscular é denominada "fase alática da obtenção
anaeróbica de energia", uma vez que não ocorre síntese
considerável de ácido lático (lactato) (HECHT, 1972 citado
por WEINECK, 1999).
A glicólise anaeróbia, como sistema de fosfagênio, é extremamente
importante para os atletas de Squash, principalmente porque proporciona também
um fornecimento relativamente rápido de ATP. Uma troca de bola de longa
duração (60 a 120 segundos) depende altamente do sistema do fosfagênio
e da glicólise anaeróbica para a formação de ATP.
A potência máxima do mecanismo anaeróbio - glicolítico
de asseguramento energético atinge valores máximos, nunca antes
de 30/45 segundos após o início do trabalho com intensidade máxima
e se mantêm neste nível durante 2 a 3 minutos (VOLKOV, 1983 citado
por ZAKHAROV, 1992).
6.1. A formação do lactato sanguíneo e o papel
do Limiar anaeróbio
Uma das maiores "verdades" da Fisiologia é a idéia
de que tanto o lactato quanto a acidose metabólica contribuem diretamente
para a fadiga muscular. "As associações entre lactato e
fadiga se originaram em estudos de quase um século atrás, quando
se descobriu que contrações até a exaustão levam
ao acúmulo de lactato e queda no pH. Na ocasião também
foi observado que a presença de oxigênio na recuperação
era associada a um declínio na quantidade de lactato, aumento nos níveis
de glicogênio e restabelecimento da função contrátil" (BROOKS,
2001).
Entretanto estudos recentes revelaram que, em temperaturas normais, a queda
de pH não interfere no funcionamento muscular Westerblad (2002). Pelo
contrário, já estão disponíveis fortes evidências
opostas ao senso comum, trazendo a hipótese que a acidose pode ser um
importante mecanismo protetor contra a fadiga.
Contrações extenuantes levam a perda de K+ intracelular, com
acúmulo extracelular do mineral, de modo que a concentração
plasmática de íons de potássio pode chegar a 10 mM, sendo
ainda maior nas adjacências do músculo. Em um estudo de Nielsen
et al (2001), esta situação foi simulada através da incubação
de músculos de ratos a 11mM de K+ e obteve-se redução
de 75% na força de músculos de ratos, mostrando-se que o acúmulo
de K+ interfere negativamente há função muscular. A adição
de 20 mM de lactato, no entanto, levou ao restabelecimento quase total da capacidade
contrátil. Além disso, quando se adicionou lactato e K+ simultaneamente,
a queda na força induzida pelo K+ foi totalmente prevenida.
Embora exista controvérsia sobre os mecanismos que controlam a produção
de lactato, existe o consenso na literatura que a concentração
de lactato no sangue varia muito pouco em relação aos valores
de repouso, quando se realizam esforços que correspondem até 50
- 70% do VO2máx. Acima desta intensidade existe um aumento exponencial
da concentração de lactato no sangue no músculo (DENADAI,
1995).
O pico de da concentração de lactato ocorre depois de 1 - 2 minutos
em exercícios máximos. A concentração do lactato
sanguíneo e muscular é muito similar em exercícios que
levam à exaustão em aproximadamente 8 minutos (MONTGOMERY, 1990).
Na situação de repouso, são produzidos diariamente cerca
de 120g de lactato dos quais apenas 1/3 são provenientes dos tecidos
de metabolismo virtualmente anaeróbio. Nestas condições
a maior parte do lactato circulante é removida pelo fígado (53%).
No exercício submáximo de longa duração o músculo
esquelético, além de maior produtor passa a ser, também,
o maior consumidor de lactato, oxidando 2/3 do lactato produzido, gerando energia
para o trabalho muscular (BURINI, 1989).
A avaliação do sistema anaeróbio alático é possível
em exercícios de curta duração (menor que 15 segundos),
e concentração do lactato sanguíneo acima de 6 mmol/l
pode levar a uma deficiência deste sistema. Em esforços anaeróbicos
láticos, altos níveis de lactato sanguíneo e baixo índices
de fadiga podem indicar alta potência anaeróbia lática.
(SIMÕES et al., 1998).
Adicionalmente, a taxa de acumulação de lactato no sangue, a
qual resulta da relação entre os processos de produção
e de remoção do referido metabolismo, é determinada pela
combinação de vários fatores, entre os quais o tipo de
fibras, a capacidade respiratória muscular, a mobilização
de substratos energéticos bem como as características bioquímicas
das células musculares esqueléticas (SOARES, 2001).
Segundo Sousa (2003), os valores médios de lactato sanguíneo
e melhor desempenho em corridas de 150 metros observados para os rapazes, evidenciaram
uma maior potência anaeróbia lática para homens em relação às
mulheres. As mulheres apresentam menor massa muscular, menor atividade de enzimas
glicolíticas, e por conseqüência, desempenho e produção
de lactato inferiores a indivíduos do sexo masculino.
A concentração muscular e sanguínea de lactato, é menor
em indivíduos treinados, quando comparados aos sedentários, para
a mesma intensidade submáxima de exercício (absoluta ou relativa).
Entretanto, em esforços que ultrapassam o VO2máx, os indivíduos
treinados podem apresentar uma maior concentração de lactato
do que os sedentários.
O limiar anaeróbio (Lan) representa uma intensidade de esforço
a partir da qual os níveis de lactato começam a aumentar significativamente,
dificultando a continuidade do exercício, e tem sido considerado como
intensidade correspondente à concentração fixa de 4 mmol/l
de lactato.
Simões et al.(1998), afirma que o Limiar Anaeróbio é um
parâmetro de aptidão aeróbia que vem sendo utilizado extensivamente
em clínicas médicas, na prescrição de intensidades
de exercícios para o treinamento e em pesquisas na área de fisiologia
do exercício. Ultimamente vários protocolos tem sido utilizados
para determinação do Limiar Anaeróbio. Alguns utilizam-se
de variáveis ventilatórias, enquanto muitos utilizam-se de variáveis
metabólicas, especialmente dosagens de lactato sanguíneo.
Na prática do Squash, onde o gasto calórico é elevado
(517 calorias em meia hora de jogo - ACSM), o oxigênio dos músculos é insuficiente
para toda a produção energética, e a via anaeróbia é ativada
desde o início. Acumula-se então o ácido lático,
que leva à fadiga mais ou menos precoce. Por essa razão, os esforços
anaeróbios são interrompidos, exigindo intervalos de recuperação
para a sua continuidade. Todavia, durante os esforços anaeróbios,
o organismo sempre tenta ativar ao máximo a captação e
transporte de oxigênio, por mecanismos reflexos e imediatos, para que
a via aeróbia em atividade diminua a produção anaeróbia
de ácido lático. Por esse mecanismo, ficamos dispnéicos
e taquicárdicos após um esforço de alta intensidade (anaeróbio),
mesmo quando o exercício é muito curto. "Em esforços
anaeróbios mais prolongados, como nas corridas de velocidade por exemplo,
a duração maior do esforço permite que os mecanismos de
captação e transporte de oxigênio sejam ativados plenamente,
podendo ser atingido o VO2máx do indivíduo." (SANTARÉM,
2005).
Tendo em vista que o sistema aeróbio é importante para a recuperação
entre séries de exercícios anaeróbios, sugere-se que o
treinamento aeróbio anteceda o treinamento anaeróbio lático,
e que se faça uma manutenção da capacidade aeróbia
durante um período de treinamento do tipo anaeróbio lático
(SIMÕES, et al., 1998).
Em seu artigo, Gibson, et al. (1999), estudou o consumo máximo de oxigênio
em jogadores de Squash e obteve o valor de 66,5 ml/kg/min (±6 ml/kg/min).
A freqüência cardíaca dos avaliados foi de 196 batimentos
por minuto (± 5 bpm).
Um outro estudo realizado na Colômbia, Sarmiento, et al. (1997), percebeu
que ocorreu um aumento na freqüência cardíaca nos primeiros
10 minutos de partida entre 94 e 100% da freqüência cardíaca
máxima calculada para a idade em homens e mulheres respectivamente.
Já a freqüência cardíaca média de jogo ficou
em 87% da freqüência cardíaca máxima para a idade.
6.2. Lactato sanguíneo como instrumento de avaliação,
prescrição e controle de treinamento
Além da importância de sua utilização como instrumento
de pesquisa em fisiologia do exercício, a dosagem de lactato sanguíneo
tem sido bastante eficaz no controle de algumas variáveis do treinamento.
A utilização da resposta do lactato sanguíneo ao exercício
tem sido considerada melhor do que a freqüência cardíaca
ou até mesmo do VO2máx. Uma avaliação feita por
meio de dosagem de lactato nos permite avaliar a capacidade do sistema anaeróbio
alático, aeróbio e anaeróbio lático, e até mesmo
prescrever treinamento específicos e individualizados e controlar os
períodos de recuperação a determinados estímulos
de treinamento com base no limiar anaeróbio (SIMÕES, 1998).
CAPÍTULO VII. ANÁLISE BIOMECÂNICA
DOS GESTOS MOTORES
7.1. Aspectos musculares no treinamento de Squash
Os músculos e a gravidade são os principais produtores do movimento
humano. Na prática do Squash, os músculos são usados para
manter uma posição, levantar ou abaixar uma parte do corpo, desacelerar
um movimento rápido e gerar grande velocidade no corpo ou em uma bolinha
que estará sendo rebatida. Porém, no decorrer das partidas, após
diversas contrações rápidas e vigorosas, cansam-se rapidamente
e requerem repouso após períodos de atividade mesmo breves.
A tensão desenvolvida pelos músculos aplica compreensão
nas articulações aumentando sua estabilidade. Contudo, em algumas
posições articulares, a tensão gerada pelos músculos
pode agir tracionando os segmentos de forma a separá-los criando instabilidade
(HAMILL,1999).
Os músculos são usados assimetricamente na maioria das atividades
quando um lado do corpo utiliza músculos diferentes ou opostos. Isso é válido
para esportes como o Squash.
7.2. Centro de gravidade no corpo humano
Quando todos os segmentos do corpo estão combinados e o corpo é dado
como um único sólido objeto na posição anatômica,
o centro de gravidade fica aproximadamente anterior à segunda vértebra
sacral. A posição precisa do CG para uma pessoa depende de suas
proporções e tem a magnitude igual ao peso da mesma. Para a manutenção
do equilíbrio do corpo humano, a linha de gravidade deve estar, sempre,
em cima da base de suporte (que no corpo humano são os pés) (CAMPOS,2002).
Dado que a linha de gravidade deve cair sobre a base de suporte
para estabilidade, dois fatores adicionais afetam a estabilidade do corpo:
O tamanho da base de suporte de um objeto.
A proximidade do CG da base de suporte.
7.3. Classificação muscular quanto ao tipo de fibra
Cada músculo contém uma combinação de diferentes
tipos de fibras, classificadas como fibras de contração rápida
ou lenta. Os tipos de fibras constituem uma variável muito importante
no treinamento do Squash porque é uma consideração fundamental
na área do metabolismo muscular e consumo de energia (HAMILL,1999).
Vejamos a seguir resumidamente a classificação das fibras musculares.
Fibras de contração lenta ou tipo I: São encontradas em
maior quantidades nos músculos posturais do corpo, como os músculos
da parte superior das costas e o sóleo. As fibras são vermelhas
devido ao alto conteúdo de mioglobina no músculo.
Fibras de contração rápida: São divididas em: tipo "IIa",
oxidativas-glicolíticas, e tipo "IIb", glicolíticas.
O tipo "IIa" é uma fibra de contração rápida
intermediária porque não sustentar atividades por longos períodos
ou pode contrair-se com um disparo de força e então se fadigar.
A fibra tipo "IIb", proporcionará rápida produção
de força e irá fadigar rapidamente.
7.4. Características funcionais do músculo
O músculo esquelético é muito resistente e pode ser alongado
ou encurtado em velocidades bastante altas sem que ocorram grandes danos ao
tecido. O desempenho da fibra muscular em situações de velocidade
e carga variáveis é determinado por quatro propriedades do tecido
muscular esquelético: irritabilidade, contratilidade, extensibilidade
e elasticidade
7.5. Ações musculares
durante o jogo
Durante o treinamento de Squash, podemos identificar as três ações
musculares (ação muscular isométrica, ação
muscular concêntrica e ação muscular excêntrica).
Durante a posição inicial ou retomada desta ao longo da partida,
há uma tensão muscular para manter e ou controlar a flexão
/ extensão do quadril e dos joelhos. Se o músculo está ativo
e desenvolve tensão, porém sem mudança visível
ou externa na posição articular, a ação muscular é denominada
isométrica. Para curva-se 30 graus de flexão de tronco e manter
a posição, a ação muscular usada pode ser chamada
de isométrica, já que não ocorre movimento. Os músculos
que se contraem isométricamente para manter o tronco flexionado são
os músculos das costas, que estão resistindo à gravidade
que quer fletir ainda mais o tronco (HAMILL,1999 ; CAMPOS, 2002).
Se um músculo gera tensão ativamente com um encurtamento
visível na extensão do músculo, a ação muscular é denominada
concêntrica. O movimento de rebatida contra a bolinha durante o jogo é o
melhor exemplo de contração concêntrica. A flexão
do braço ou do antebraço quando se está de pé será produzida
pela ação muscular concêntrica dos agonistas respectivos
ou músculos flexores. Adicionalmente, para iniciar um movimento do braço
cruzando o corpo em uma adução horizontal, os adutores horizontais
iniciarão o movimento por uma ação muscular concêntrica
(HAMILL,1999).
O grande exemplo de contração excêntrica
na prática do Squash é o agachamento para rebater as bolas na "paralela" e
o avanço para rebater as bolas mais rápidas na frente da quadra.
Quando um músculo é sujeito a um torque externo maior que o interno
dentro do músculo, ocorre alongamento do músculo, e a ação é chamada
de excêntrica. Essa é a principal contração desenvolvida
no treinamento de Squash. Tanto no agachamento como no avanço, há uma
flexão de quadril e de joelho, isto requer um movimento excêntrico
controlado pelos extensores de quadril e joelho. No entanto, os movimentos reversos
de extensão de coxa e perna contra a gravidade devem ser produzidos concentricamente
pelos extensores (HAMILL,1999 ; CAMPOS, 2002).
VIII. MÉTODO
8.1. Amostra
Participaram deste estudo 16 jogadores de Squash profissional do sexo masculino
que competem no denominado "Circuito Mundial de Squash". A idade
média destes profissionais é de 27,7 (±3,45) anos, com
altura de 181 (±5,09) cm e peso de 76,11 (±4,67) kg. Todos os
atletas estão a pelo menos 4 anos no circuito profissional e 56,25%
estão entre os 10 primeiros do ranking mundial.
8.2. Material
Os materiais utilizados neste estudo foram 10 vídeos com os
formatos "windows media" e "real vídeo".
Todos os jogos foram analisados em um computador "Pentium 4 com
windows XP". O cronômetro utilizado para marcar os tempos
foi o Cronômetro "C510 - Oregon Scientific". Para a
coleta de dados, foi utilizada uma tabela onde continham todos os dados
a serem analisados (ver em anexo). Para a análise dos dados
obtidos foi usada uma calculadora "Casio - fx-570s".
8.3. Procedimento
Através da análise de vídeos, os dados coletados
com o cronômetro foram os seguintes: Tempo total de jogo, tempo
total por game, tempo total de "rallys", tempo total de pausas
entre os pontos, tempo médio de bola em jogo, tempo médio
de bola parada e % do metabolismo anaeróbio alático,
anaeróbio lático e movimentações em quadra.
A cada disputa de bola, o cronômetro era acionado e após
o seu término ele era parcialmente parado. Automaticamente este
marcava novamente o momento em que a bolinha voltava em jogo e assim
era obtido o tempo de pausa entre os "rallys". Após
o final de cada partida, foi somado todos os tempos de "bola em
jogo" e também de "bola parada". A finalidade
deste procedimento era descobrir o tempo total de bola em jogo e o
tempo total de bola parada. Para descobrir a média de "bola
em jogo" e de "bola parada" dividia-se o tempo total
pelo número de "rallys" ou de bolas paradas que aconteceram
durante o game em questão. Para estipular os valores do sistema
anaeróbio lático e anaeróbio alático, os
tempos foram divididos em anaeróbio alático até 15
segundos, e anaeróbio lático entre 15 e 180 segundos.
Simôes et al. (1998). A partir deste processo foi possível
identificar a porcentagem dos sistemas energéticos e calcular
a média de cada sistema. Em seguida foram marcados o número
de movimentações totais (ida até a bolinha e rebater
e voltar à posição inicial) e o tempo que o atleta
levava para realizar tal procedimento em três pontos básicos
da quadra (frente de quadra, lateral e fundo de quadra).
8.4. Análise estatística
Os dados coletados neste estudo foram os seguintes: média, desvio padrão
e mediana. Foi tomada como referência, a autora Caldeira, (1997). Todos
os dados foram calculados no "Microsoft excel" e em uma calculadora "Casio
- fx-570s".
IX. RESULTADOS E DISCUSSÃO
9.1. Resultados
TABELA 1. Número de games jogados.Tempo total do jogo e tempo por game
(minutos)
Tempo total de rallys e tempo total de pausas (minutos)
Foram calculados média, mediana e desvio padrão ( )
|
Número
de games jogados |
Tempo
total de jogo |
Tempo
por
game |
Tempo
total de rallys |
Tempo
total de pausas |
|
4 (±0,81) |
63,17 (±17,19) |
16,33 (±3,38) |
36,24 (±11,27) |
27,09 (±8,13) |
Mediana |
4 |
59,37 |
17,06 |
32,94 |
27,25 |
TABELA 2.
Tempo médio de bola em jogo e tempo médio de bola parada (segundos)
Anaeróbio alático e anaeróbio lático (%)
Foram
calculados média, mediana e desvio padrão ( )
|
Tempo médio de bola
em jogo
|
Tempo médio de bola
parada
|
|
18,23
(±4,27) |
13,48(±1,48) |
|
17,54 |
13,04 |
TABELA 3. Deslocamentos (segundos)Foram
calculados média, mediana e
desvio padrão ( )
Movimentações (ida e volta à posição inicial)
|
|
|
|
Deslocamento para o fundo
|
Média
|
379,0
(±86,56) |
2,58
(±0,06) |
2,49
(±0,09) |
3,21
(±0,13) |
Mediana
|
349,5 |
2,57 |
2,49 |
3,2 |
9.2. Discussão
Com base nos resultados obtidos durante a análise dos jogos, o Squash é uma
modalidade em que cada jogo do circuito mundial tem a duração
média de 63,17 (±17,19) minutos. Cada game disputado leva em
torno de 16,33 (±3,38) minutos para ser finalizado. A divisão
de tempo total de bola jogado e tempo total de bola parada ficou assim: 36,24
(±11,27) minutos de bola "correndo" e 27,09 (±8,13)
de bola parada.
Com relação ao tempo médio de bola em jogo e ao tempo
médio de bola parada, os resultados obtidos refletem aquilo que diz
a literatura. Vejamos então: A geração energética
nos primeiros 15 segundos de trabalho muscular é denominada "fase
alática da obtenção anaeróbica de energia" (Hecht,
1972 citado por Weineck, 1999). Comparando com os resultados obtidos quanto
ao tempo médio de bola em jogo (18,23 (±4,27)) e ao tempo médio
de bola parada (13,48(±1,48)) podemos concluir que os dados coletados
estão dentro dos valores esperados. Denadai, (1995) diz que existe um
aumento exponencial da concentração de lactato no sangue após
valores de 50 - 70% do VO2máx. Com base nessa afirmação
e com os resultados coletados por Sarmiento, (1997) aonde a frequência
cardíaca alcançou valores entre 94 e 100% da FC máxima
dos indivíduos e por Gibson, (1999) aonde o consumo de oxigênio
foi elevado (66,5 ml/kg/min (±6 ml/kg/min)), podemos concluir que os
pontos em disputa 18,23 (±4,27) segundos, são jogados dentro
do chamado "sistema anaeróbio lático" 66,86(±9,98)%.
Com relação aos deslocamentos estudados através da análise
de vídeos, as capacidades físicas mencionadas neste trabalho
estão de acordo com os resultados obtidos. O Squash como desporto complexo,
além de exigir um grau elevado de coordenação motora,
requer também mobilidade, força de resistência, força
reativa, força de lançamento, força de aceleração
e força de desaceleração. O tempo médio de movimentação
(ida e volta à posição inicial) foi de 379,0 (±86,56)
por game disputado. Essas movimentações foram divididas em três
deslocamentos básicos: frente, lateral e fundo. Pelos tempos conseguidos:
(2,58 (±0,06) segundos - frente), (2,49 (±0,09) segundos - lateral)
e (3,21 (±0,13) segundos - fundo) essas movimentações
são realizadas em alta velocidade e com inúmeras repetições
durante a partida.
X. CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, podemos concluir que o Squash como modalidade
esportiva é classificado como Desporto Complexo e apresenta como característica
as capacidades físicas a seguir:
Coordenação;
Mobilidade;
Força de resistência;
Força reativa;
Força de lançamento;
Força de aceleração / desaceleração
Com relação ao sistema energético predominante na modalidade,
o Squash pode ser possivelmente classificado em anaeróbio lático,
Isso baseado no fato de ser uma modalidade de alta intensidade (FC média:
87% e picos de 94 a 100% da FC max.) e de curta duração (18,23
(±4,27) segundos). Também foram encontrados altos valores de
consumo de oxigênio (VO2máx: g/min (±6 ml/kg/min)) indicando
uma potência aeróbia elevada. Contudo, alguns testes como a coleta
de lactato poderia ser realizada para avaliar a quantidade e a velocidade de
remoção deste e assim contribuir para avaliações
mais precisas.
I.X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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