PSICOLOGIA
e PSICOLOGIA DO ESPORTE
FATORES
ASSOCIADOS À MOTIVAÇÃO
EM ATLETAS NADADORES
FEDERADOS
BAIANOS
Fábio
Souza de Oliveira
Johelio Santana Barroso
Universidade Estadual De Feira De Santana - Bahia
INTRODUÇÃO
A influência dos eventos esportivos divulgados com grande
freqüência pelos meios de comunicação, a identificação
com ídolos, a pressão de pais e amigos, fazem com que as palavras
treinar, competir, vencer, prêmios, sejam palavras comuns no cotidiano
daqueles que praticam esporte competitivo e que vislumbram com a possibilidade
do sucesso no esporte (CHAVES; BARA FILHO, 2005).
Durante anos vivi a realidade dos atletas que competem na modalidade
natação tendo contato direto com diversos aspectos que circundam
a rotina dos treinamentos em piscina, de modo particular, o abando ou desmotivação
por parte de uns, e a continuidade por parte de outros, sendo este último
grupo geralmente menor.
Agora, enquanto acadêmico e técnico de natação,
observo sob um novo ângulo, outra geração de atletas vivendo
as mesmas situações onde pouquíssimos prosperam e a maior
parcela deixa as competições e treinamentos precocemente.
A natação, especificamente, onde meninas começam
a treinar entre os sete e nove anos e meninos dos nove aos onze (PLATONOV, 2005),
vem sendo recordista em abandono precoce entre as diversas modalidades esportivas
(SILVA, 2005). Os estudos mais recentes têm evidenciado que a sofisticação
dos treinamentos esportivos possibilita a obtenção de altos níveis
de resultados e exige dos atletas, cada vez mais, determinação,
tempo e esforços, que podem contribuir para a ocorrência desse abandono
(SILVA, 2005).
Diante destes dados e das observações destes
anos, sobretudo os mais recentes, surgiu o problema: quais os fatores associados à motivação
dos nadadores federados baianos?
O objetivo deste estudo então foi proporcionar uma visão
mais clara dos fatores que motivam ou desmotivam nadadores em sua carreira de
atleta, identificando ainda os que mais interferem positiva ou negativamente.
Deste modo, os profissionais que atuam nesse segmento, podem intervir de forma
consciente rumo aos objetivos traçados, antes que o atleta se desestimule
e desista da carreira de nadador.
Dividimos este estudo em três capítulos. No primeiro,
utilizamos o olhar da psicologia sobre motivação, tratando do seu
conceito e dos seus processos. O segundo capítulo trata da natação
competitiva e suas principais características, dando uma visão
clara de como é desenvolvida nos principais centros de treinamento. O
terceiro e último capítulo trata da motivação especificamente
na natação, buscando os fatores que podem interferir na motivação
deste grupo de atletas de acordo com pensadores da psicologia e do treinamento
desportivo.
Acredita-se que o principal motivo que leva um nadador competidor
ao desanimo sejam a falta de patrocínio que custeie seus treinamentos
e competições, seguido pela não obtenção dos
resultados traçados no início de sua temporada de treinamento.
REVISÃO
DE LITERATURA
MOTIVAÇÃO
Nossos comportamentos não são determinados pelo
acaso, mas por uma necessidade ou uma motivação, consciente ou
inconsciente (DE BENI et al, 2004). Enquanto a necessidade é uma deficiência,
falta de algo, a motivação é resultante de uma necessidade, é quem
ativa o comportamento direcionado para a satisfação da necessidade
(DAVIDOFF, 2001).
A motivação é explicada sob dois aspectos:
fisiológicos e comportamentais (reações intra e extracelulares)
(PENNA, 2001).
No nível comportamental, define-se motivação
em termos relacionais, onde o conceito de motivação lembra também
o de meta, de projeto ou de ação para um fim (DE BENI et al., 2004).
Para os efeitos desta pesquisa, foi adotado o conceito de motivação
de Davidoff (2001), onde motivação é um ativador do comportamento
para satisfação de determinada necessidade.
A abordagem fisiológica orienta-se para a determinação
de certas estruturas nervosas envolvidas com a motivação, como
as que integram o hipotálamo, o sistema reticular e o sistema límbico.
Tratando-se de motivação, pressupõe-se
que o corpo tem padrões de referência, ou valores estabelecidos
para cada uma de suas necessidades, é o estado ótimo, ou estado
equilibrado (DAVIDOFF, 2001). Esses padrões podem ser determinados pelos
genes ou pela experiência. Quando o corpo se afasta significativamente
de um de seus padrões de referencia surge uma necessidade. A necessidade
por sua vez, ativa um motivo. O motivo aciona um comportamento para o retorno
ao equilíbrio. Motivo para comida, água e drogas que viciam parecem
seguir este modelo. O motivo neste caso é busca pela substância
ausente para reestabelecer o equilíbrio. A literatura menciona que algumas
substâncias podem alterar o estado de equilíbrio natural estabelecendo
novos valores de referência, como é o caso do álcool e das
drogas que viciam. Para o esporte de alto nível, este dado leva a cogitar
a manipulação de substâncias para intervenção
em necessidades e, portanto, comportamentos.
Para o comportamento motivado, diversas vezes os incentivos
são mais importantes do que o equilíbrio. Incentivos são
objetos, eventos ou condições que incitam a ação.
O modelo de incentivo, diz que experiências e incentivos também
levam à motivação. A motivação aciona o comportamento.
Nesse modelo, uma variedade de forças internas e externas controla nossa
motivação. Alguns psicólogos diferenciam os incentivos intrínsecos
e extrínsecos. Os intrínsecos têm relação direta
ou inerente à atividade. Os extrínsecos são motivos que
não tem relação direta com a atividade, o incentivo está fora
da atividade. Impulsos básicos como a fome e o sexo costumam ser intrinsecamente
incentivados.
Os incentivos extrínsecos ou recompensas, na concepção
de alguns autores (AMABILE, 1985; DECI, 1980; DECI; RYAN, 1985; LEPPER, 1983;
PITTMAN et al., 1983, apud DAVIDOFF, 2001) matam os incentivos intrínsecos,
já que eu preciso ser recompensado por algo que anteriormente eu apreciava
fazer.
Outra idéia de interesse a esse estudo é a da
busca de prazer. Nos acostumamos a esperar prazer quando cuidamos de uma necessidade
básica. A alegria que acompanha os motivos está radicada nos centros
de prazer, no cérebro. Diversos neurotransmissores como
a dopamina, serotonina, norepinefrina e endorfinas parecem estar envolvidos.
A compreensão da busca pelo prazer relacionada com a motivação,
deve proporcionar a treinadores e técnicos, subsídios para tornar
os treinamentos mais prazerosos e assim interferir positivamente em seus comportamentos.
Diferentes estudos fornecem evidências fisiológicas
que corroboram as afirmações acima de que o comportamento é motivado
não apenas pela redução ou prevenção de um
efeito desagradável, mas também por recompensas primárias
tais como as provocadas por estimulação do sistema de recompensa
do cérebro (GANONG, 1993).
NATAÇÃO
COMPETITIVA
Planejar uma temporada de natação implica em
separar o ano de treinamento em unidades menores e mais maleáveis que
enfatizam o desenvolvimento de certas características. Cada temporada é dividida
em fases, com objetivos muito específicos. Cada fase é subdividida
novamente em fases mais curtas, que permitam progressões sistemáticas
na metragem e/ou intensidade do treinamento. A esta estrutura de trabalho denominou-se
periodização (PLATONOV, 2005). As fases e subfases são comumente
conhecidas como macrociclos, mesociclos e microciclos.
A primeira discussão a ser tratada diz respeito à duração
do treinamento. Alguns treinadores acreditam que o valor dos programas de treinamento
deve ser julgado de acordo com o número de metros nadados a cada dia.
Outros avaliam que a metragem do treinamento pode ser reduzida sem que ocorra
perda da endurance (MAGLISHO, 1999). Harms e Hickson (1983, apud MAGLISHO, 1999)
comunicaram que aumentos nas medidas da capacidade aeróbica foram 40%
a 70% maiores quando os ratos foram treinados durante duas horas por dia, em
vez de 40 minutos. Neste mesmo estudo, concluíram ainda que, a duração
do exercício parece ter uma influência mais direta e forte nas adaptações
mitocondriais e, assim, na endurance aeróbica do que a intensidade do
treinamento.
Tais estudos baseiam as vertentes mais conhecidas e usadas
sobre natação de alto nível no mundo fazendo com que a duração
dos treinamentos torne-se tão longa quanto os estudos sugerem.
Quanto à freqüência, Hickson, (1981, apud
Maglisho, 1999) comunica que ratos que foram treinados seis dias por semana melhoraram
consideravelmente mais em suas medidas de capacidade aeróbica e tempo
de corrida até a exaustão, em comparação com roedores
que foram treinados por dois ou quatro dias por semana. O tempo de corrida até a
exaustão melhorou em até 136% para os que treinaram seis dias em
relação aos que treinaram somente dois dias e 34% em relação
aos que treinaram quatro dias. Estes resultados sugerem que os atletas devem
treinar acima de quatro dias por semana para obtenção de resultados
máximos (MAGLISHO, 1999).
Outro fator importante é a intensidade dos treinamentos.
Pesquisas mencionaram que cada tipo de fibra muscular é treinada em intensidades
diferentes, HARMS; HICKSON, 1983 apud MAGLISHO, 1999), apontando para a necessidade
de se treinar endurance em sobrecarga, limiar anaeróbico, velocidade,
potencia, endurance básica.
Quando da ocasião do planejamento da temporada de um
determinado atleta, já na confecção do seu macrociclo, devem
ser pensados aspectos como: treinamento de força, potência, flexibilidade,
Endurance Training, velocidade, exercícios de braços e pernas,
saídas e viradas, treinamento psicológico. Estes seriam os aspectos
mais importantes, não estando, porém completa esta lista.
Em qualquer das fases da temporada, o treinamento de endurance
compreende a maior parte das sessões. Ele torna o treinamento longo e às
vezes enfadonho, pois para sustentar o "lastro fisiológico" dos
atletas é necessário um volume maior de treinamento conforme discutido.
Os treinamentos de velocidade e potência muscular na piscina, apesar de
representarem um percentual consideravelmente pequeno do planejamento, são
motivo de estresse para muitos atletas, pois é aqui que acontecem as séries
principais dos velocistas, além de ser a parte do treinamento que provoca
a mais intensa dor física. Para contemplar os outros componentes do treinamento
da natação torna-se necessário treinar entre duas e quatro
horas diárias.
As qualidades físicas supra citadas são organizadas
dentro do macrociclo em suas unidades menores, os mesociclos. De modo geral um
macrociclo contém quatro mesociclos: um período de endurance geral,
um de endurance específica, um período de competição
e um último de polimento.
O período de endurance geral dura aproximadamente seis
a dez semanas (MAGLISHO, 1999). A ênfase está em melhorar a capacidade
aeróbica em geral, força, flexibilidade, mecânica de nado,
saídas e viradas e resistência ao stress psicológico (MAGLISHO,
1999). Contempla exercícios de braços, de técnica e de pernas
em velocidades de endurance básica e algum sprint training (treinamento
de velocidade). Os atletas nesta fase devem nadar todos os estilos e distâncias
(MAGLISHO, 1999). Os exercícios fora d'água devem durar três
a quatro horas para aumentar o volume e a força musculares. Os exercícios
de flexibilidade devem ser praticados diariamente.
O período de endurance específica dura em média
oito a doze semanas (MAGLISHO, 1999). A principal diferença entre o período
geral e o específico é que neste último a maior parte das
distâncias (entre 50% e 60% do volume total) deverão ser nadadas
no estilo do nadador. Os treinamentos de velocidade dobrarão nesta fase
(MAGLISHO, 1999).
Para o período competitivo estão programadas a maioria das competições
importantes. A ênfase aqui será no treinamento em ritmo de prova,
produção de lactato e treinamento de potência. Este período
dura quatro a oito semanas.
Período de polimento é a fase final da temporada. É um
período de redução no volume e intensidade do treinamento
e que deve durar duas a cinco semanas. É um repouso para a competição
final ou a mais importante.
Todos estes aspectos a serem treinados e desenvolvidos bem como as quantidades
e intensidades indicadas, diversas vezes tornam o treinamento da natação
de alto nível enfadonho e repetitivo, desestimulando até mesmo
os atletas mais envolvidos com a modalidade.
Outro aspecto que merece atenção neste estudo
diz respeito ao ritmo circadiano em atletas nadadores. As funções
básicas do organismo apresentam um ritmo circadiano relacionado com a
temperatura do corpo, a atividade hormonal, o funcionamento do sistema cardiovascular,
capacidade de trabalho, etc. (PLATONOV, 2005). A composição das
substâncias ativas biologicamente no meio interno do organismo aumenta
e diminui de acordo com o horário do dia e da noite, alterando a capacidade
de manifestação de atividades físicas e psíquicas
do indivíduo. Os picos dessa atividade são geralmente encontrados
das 10 às 13 h e, mais tarde, após uma diminuição
significativa, das 16 às 19 h (PLATONOV, 2005). Esse fato deve ser levado
em conta durante o planejamento dos treinamentos e competições
dos nadadores, principalmente no que diz respeito à escolha dos horários
das tarefas, orientação e grandeza das cargas (PLATONOV, 2005).
A natação de alto nível é, portanto,
baseada em uma gama de aspectos que a tornam repetitiva, punitiva, extenuante
diversas vezes, e assim, monótona, indo de encontro à motivação
que defende diferenciação de atividades, prazer, recompensa, entre
outros.
MOTIVAÇÃO
EM ATLETAS NADADORES
A motivação é um elemento básico
para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente
as sessões de treinamento. Os treinadores reconhecem este fato como sendo
principal, tanto nos treinamentos como nas competições. O indivíduo
motivado encontra-se disposto a grandes esforços para alcançar
os seus objetivos.
Estudos sugerem que meninos e meninas que praticam atividade
esportivas gostariam de receber mais elogios (PICOLLI, 2005; SINGER, 1997), supõe-se
então, que uma eventual desmotivação dos atletas seja compensada,
ou poderia ser, através de elogios, buscando aspectos em suas performances,
condutas ou outros fatores relacionados à sua carreira que possam ser
mencionados.
A literatura aponta diferentes fatores externos que desencadeiam
motivação ou desmotivação. Knijnik; Greguol e Sileno
(2001) mencionam a falta de competição, ênfase exagerada
na vitória e excesso de pressões por parte dos pais e dos técnicos,
tarefas muito fáceis ou muito difíceis como fatores desmotivadores,
enquanto elogios, reconhecimento e dinheiro seriam incentivantes.
Para Ferracioli (2002), Pode-se destacar como motivação
do desportista alguns aspectos, tais como: a necessidade de sensações,
ou seja, o prazer que a atividade lúdica provoca no ser humano, interesse
de competir, isto é, a manifestação ostensiva da necessidade
de afirmação para obter estima e reconhecimento, necessidade de
filiação, de incorporar-se ao meio social através da demonstração
de força ou de habilidade motora, busca de subsídios para insatisfações,
frustrações e insucessos na vida.
Como agentes motivadores, Almeida (2005) cita ainda: estabelecer
metas atrativas desafiantes e realistas como motivo para a prática de
atividades físicas, registrar as metas e acompanhá-las, estar sempre
que possível sendo avaliado física e emocionalmente durante o período
de treinamento, praticar outra atividade que você se identifique e que
possa ser feita em local próximo de casa ou do trabalho; procurar não
se exercitar até o ponto de exaustão e sair feliz da atividade.
Presídio (2005) cita a variação da atividade física
como primordial na manutenção da motivação. Almeida
(2005), chama atenção para a determinação dos objetivos
como, por exemplo: determinar metas exigentes e desafiantes, porém reais,
estabelecer metas específicas e controláveis, determinar metas
a curto, médio e longo prazo, identificar estratégias e técnicas
para alcançá-las,
O conhecimento dos motivos que levam atletas a continuarem
uma atividade motora, é um aspecto bastante relevante para os técnicos
por proporcionar subsídios para a preparação de programas
mais voltados para o interesse do praticante, facilitando a escolha das atividades,
o ritmo da aula, o comportamento relacional e a maneira de motivar para uma prática
alegre e prazerosa (PAIM, 2003).
MATERIAL
E MÉTODO
Para o desenvolvimento deste estudo, foi utilizado o método
descritivo, com o intuito de registrar e analisar dados referentes à motivação.
Segundo Mattos, Rosseto Júnior e Blecher (2004), a finalidade deste tipo
de estudo é descrever fatos ou fenômenos sem manipulá-los,
procurando descobrir com precisão a freqüência em que um fenômeno
ocorre e sua relação com outros fatores, obtendo uma nova percepção
a seu respeito, descobrindo assim novas idéias em relação
ao objeto de estudo. Foi elaborado como instrumento de coleta um questionário
estruturado, contendo trinta e duas questões acerca da motivação
relacionada à rotina de atletas nadadores. As questões trataram
de aspectos como: idade, sexo, tempo de filiação na federação
em questão, motivos para a prática competitiva, interferência
familiar, tipos de séries que compõem o treinamento, preferências
por horários, dias e freqüência para treinos, local de treinos
e competições, atividades extra-treinamentos, nível de cansaço
durante e após os treinamentos, relacionamento com o técnico, metas
a serem cumpridas e dores.
As questões que constaram neste questionário
foram elaboradas a partir de leituras prévias da literatura sobre aderência
e abandono da prática competitiva (ALMEIDA, 2005; DAVIDOFF, 2001; PRESIDIO
NETO, 2003) e mais tarde comparadas a achados na literatura específica
(PENNA, 2001; FERRACIOLI, 2002).
Fizeram parte da amostra do estudo cento e trinta praticantes da Natação
competitiva filiados à Federação Baiana de Desportos
Aquáticos (FBDA), de um total de quatrocentos e trinta, sendo 83 do
sexo masculino e 47 do sexo feminino, com faixa etária dos 11 aos 23
anos. A amostra, aleatória, constitui-se de aproximadamente trinta por
cento do total de atletas inscritos e atuantes na Federação acima
citada.
DESCRIÇÃO |
NUMÉRICO |
PERCENTUAL |
População |
430 |
100% |
Amostra |
130 |
30,23% |
Indivíduos
do sexo feminino |
47 |
36,15% |
Indivíduos
do sexo masculino |
83 |
63,85% |
Tabela 1. População e amostra.
Os dados foram coletados na Associação
Atlética da Bahia
(AAB), por ocasião
do Campeonato Baiano de Verão,
evento que reuniu considerável
parcela da população
em foco, de diferentes cidades
baianas.
O procedimento foi divulgação e explicação
acerca dos objetivos da aplicação da pesquisa pela anunciadora
da competição, distribuição de questionários
e, depois de respondidos, recolhimento dos mesmos. A coleta de dados foi realizada
durante o desenrolar da competição com a autorização
da Federação em questão. Os dados foram analisados através
de estatística descritiva por freqüências, percentuais e correlações.
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS DADOS
Com relação à questão sobre
idade foram encontrados nadadores dos onze aos vinte e três anos de idade,
e uma maior participação nesta modalidade de atletas com idades
entre doze e quinze anos. Este dado, quando relacionado com outros, fornece informações
mais consistentes sobre as questões que tangem motivação.
Analisando o tipo de relação que o atleta
acha ter com o técnico encontrou-se: um maior percentual de atletas que
sentem-se amigos dos seus técnicos nas categorias juvenil e junior, enquanto
nas categorias infantil (13 e 14 anos), petiz (11 e 12 anos) e sênior (20
anos ou mais) os percentuais foram cada vez menores(gráficos 01 a 05).
Sendo o técnico um interventor direto na vida do atleta, os dados apontam
para a necessidade de se cultivar relacionamento agradável com os nadadores
como fator que pode interferir positivamente nos treinamentos.
Gráficos (ver
o artigo na íntegra
com o autor)
Foram encontrados 75% de atletas com um ano ou mais
de federado e apenas 25%
de atletas com menos de um
ano inscritos na federação
baiana. Possivelmente, este
dado relaciona-se com a questão
que envolve dores durante
os treinamentos. Uma vez
que o atleta está envolvido
a mais tempo com competições
oficiais, as cobranças
por resultados aumentam e
por conseqüência
os treinamentos também
(gráficos 06 e 07).
|
Quanto aos motivos que levam um atleta a praticar natação
competitiva foram encontrados:
o gosto pela prática
em 80% dos questionários é considerado
o motivo principal, em 16%
dos casos secundário
e para 4% o aspecto "gostar
de praticar" não é considerado
motivo importante; as viagens
em 48% são consideradas
motivo principal, em 41%
motivo secundário
e em 11% não são
importantes; o motivo "nadar
por causa das amizades em
48% dos casos é considerado
principal motivo, em 46%
um segundo motivo e em apenas
6% um motivo sem importância;
os que praticam a natação
competitiva tendo como motivo
principal "gostar do
técnico" são
45%, como motivo secundário
são 44% e os que não
consideram este um motivo
importante 11%; os que praticam,
sobretudo por que são
cobrados pela família
constituem 27% da amostra,
os que tem este motivo como
secundário 35% e os
que não são
influenciados por este motivo,
11%; os que vêem a
fama como seu principal motivo
são 24%, como motivo
secundário, 25%, e
os que não encontram
nela motivo para nadar, 51%;
profissionalizar-se através
da natação é motivo
principal para 24% dos entrevistados,
para 31% é motivo
secundário e como
um motivo não relevante,
45%; os que praticam natação
competitiva para obter respeito
como motivo principal são
22%, como motivo secundário,
32% e como motivo sem importância,
46%. Os dados demonstram
a relevância do técnico,
das viagens e dos colegas
de treinamento para a motivação.
Por outro lado, a fama e
a natação profissional
parecem não ser grandes
atrativos para a maioria
dos atletas baianos.
Para grande parcela de atletas é importante que
alguém se interesse por sua vida de atleta: 74% dos nadadores importam-se
com isto, contra 26% que não se importam. Dos nadadores que se importam
93% preferem que sua família acompanhe sua trajetória, 3% preferem
os colegas, 2% preferem o próprio técnico e 2% a namorada. Dos
atletas que preferem ser acompanhados pela própria família, 50%
sempre são acompanhados por ela, 39% só são acompanhados às
vezes e 11% nunca são acompanhados. De acordo com os dados, a maioria
dos atletas tem o apoio que esperam da família, outra parcela razoável
de familiares não é tão assídua e, juntamente com
os que nunca acompanham seus atletas podem interferir em seu desempenho emocional.
Quanto ao horário de treinamento, 55% dos atletas
preferem treinar à tarde, 32% pela manhã e 13% à noite.
Apesar da maioria dos atletas preferirem treinar a tarde, o ritmo circadiano
tem seu principal pico pela manhã. Em relação ao treinamento
propriamente dito, para a maioria, 49%, as séries curtas são mais
atrativas, contra 20% que preferem séries longas e 31% que não
se importam com o tamanho das séries.
Quando perguntados sobre quantos dias gostariam de ficar
sem treinar 48% responderam que nenhum, 35% somente um dia, 13% dois dias e 4%
três dias.
Os aspectos do treinamento citados como mais motivantes
pelos atletas foram: colegas 29%, técnico 28%, tiros de velocidade 16%,
resultados positivos 6%, series longas 4%; educativos, treino de perna e treino
de braço cada um com 3%; e, viagens, reconhecimento, premiações,
series curtas, alongamentos, treinar em locais diferentes, patrocínio
e competições cada um com 1%. Os mais desmotivantes foram: broncas
do técnico e cansaço 21% cada um; series longas 18%, falta de patrocínios
8%, piscina suja 5%, treinar sozinho e treinos de perna 4% cada um; água
da piscina gelada 3%, desatenção do técnico, tiros de velocidade
e educativos 2% cada um; treinos não personalizados, treinos longos, competições,
falta de atenção do técnico, treinar em feriados, treino
de braço, resultados ruins, poucos atletas treinando 1% cada um. Em acordo
com o já descrito acima, estes últimos achados demonstram mais
uma vez a importância da companhia dos colegas de treinamento e o posicionamento
do técnico frente ao seu atleta.
Com relação aos aspectos motivantes de
sua vida de atleta foi encontrado: colegas 23%, viagens 15%, competições
20%, prêmios 12%, reconhecimento 11%, conhecer pessoas e locais novos 9%;
treinos, patrocínio, resultados positivos e técnico 2% cada um;
cansaço e presença de atletas do sexo oposto 1% cada um. Os aspectos
competições e divertimento. Os aspectos mais desmotivantes de sua
vida como atleta foram: não ir a festas 26%, falta de patrocínios
25%, cansaço 18%, cobranças e dores 5% cada um; treinos não
personalizados, problemas familiares, treinar em feriados, técnico, ombros
largos, falta de reconhecimento e falta de atletas do sexo oposto 3% cada um.
Quanto ao local de treinamento, 41% dos atletas preferem
treinar sempre na mesma piscina, para 35% deles não faz diferença,
23% preferem treinar em piscinas e locais diferentes e 1% dos entrevistados não
conhece outros espaços de treinamento.
Em relação aos locais de competições
71% dos atletas preferem competir na maior quantidade de locais possível,
inclusive em outras cidades. Para 8% é preferível competir sempre
no mesmo clube. Outros 8% preferem competir em clubes diferentes porém
da mesma cidade. Para 8% não faz diferença e 5% ainda não
competiram em outra cidade. Estes dados reforçam a idéia da importância
das viagens a locais diferentes já abordada anteriormente para atletas
competidores.
Quando perguntados sobre a importância da companhia
dos colegas de treinamento fora dos horários de treino, 81% disseram fazer
questão da presença destes colegas, 14% gosta da companhia, mas
fora das piscinas preferem estar com outras pessoas e, 5% não acha interessante
estar com os colegas nadadores. É possível que a incrementação
de momentos extra treinos para os atletas possibilite uma diminuição
das brincadeiras no treinamento e uma maior coesão do grupo.
Outro fator que parece interferir na motivação
de atletas que treinam horas diárias é a rotina e a monotonia.
Foi perguntado se estes atletas praticavam algum outro esporte além da
natação e 50% responderam que não, 45% responderam que praticam às
vezes e 5% praticam outro esporte todos os dias. Praticar outro esporte parece
quebrar a rotina dos treinamentos repetitivos. Este fato é corroborado
pelo pensamento de Presídio (2003) e Almeida (2005).
O cansaço parece ser mais um aspecto que interfere
na motivação de atletas de alto nível. Foram encontrados
54% de atletas que saem dos treinos cansados, 22% muito cansados e 2% extenuados.
Somente 14% saem dispostos e 8% muito dispostos. Almeida (2005), alerta para
o fato de não se exercitar até o ponto de exaustão.
A maioria dos atletas relatou não pensar em sair
no meio da sessão (39%), porém um percentual muito próximo,
35%, pensa pelo menos uma vez por semana em abandonar a sessão no meio,
8% disseram que este tipo de pensamento acontece em média duas vezes e
18% mais de duas vezes por semana.
Quanto aos principais motivos que poderiam fazê-los
deixar de treinar, 35% mencionaram os estudos, 30% o cansaço, 27% a preguiça,
6% o namoro e 2% o técnico. Quando estes dados são analisados por
categorias os valores são: Para a categoria petiz, 44% deixariam de treinar
por conta dos estudos, 28% por preguiça, 22% por cansaço, 6% o
namoro. Na categoria infantil, 33% por cansaço, 32% deixariam de treinar
por conta dos estudos, 31% por preguiça, 2% o namoro e 2% por conta do
técnico. No juvenil, 40% deixariam de treinar por conta dos estudos, 29%
por cansaço, 24% por preguiça, 7% o namoro. Para os da categoria
junior, 30% deixariam de treinar por conta dos estudos, 20% por cansaço,
20% por preguiça, 20% o namoro e 10% por conta do técnico. Na categoria
sênior 100% dos entrevistados justificaram o cansaço como maior
motivo para deixar de treinar. Parece haver uma proporção dentro
das categorias dos valores de cansaço e preguiça. À medida
que a justificativa para deixar de treinar por cansaço aumentou, cresceu
também os que alegaram preguiça. Isto pode significar que uma carga
de trabalho muito grande, para além do cansaço pode desestimular
os nadadores.
A relação entre técnico e atleta
foi observada e parece haver uma grande influência dos elogios que o técnico
faz aos seus nadadores sobre a qualidade desta relação, concordando
com o pensamento de Picolli (2005). De acordo com os dados, quanto mais elogio
dispensados pelos técnicos, melhor o tipo de relação percebida
pelo atleta, o que segundo o exposto anteriormente, interfere em sua motivação
(gráficos 08 a 11).
Gráfico
08 - Relação
atleta x técnico
Gráfico

|
09
- Relação
atleta x técnico
sem elogios. com elogios escassos.
|
Gráfico
10 -
Relação técnico x atleta Gráfico 
|
Gráfico
11 - Relação
técnico x atleta
com elogios esporádicos.
com elogios freqüentes. 
|
No inicio de cada temporada 38% dos atletas sempre traçam
as metas atingíveis
com seus técnicos,
33% somente às vezes
e 29% não participa
do processo de elaboração
de metas. Parece haver um
compromisso maior dos atletas
quando eles participam ou
decidem seus objetivos. Isso
em acordo com o dado da questão
seguinte onde 50% dos atletas
treinam pensando nas metas
traçadas, 43% dos
atletas somente às
vezes relaxam na observação
das metas e 7% não
observa as metas.
Quanto à diversidade de materiais utilizados durante
os treinamentos 75% dos atletas acham muito importante e deveriam sempre ser
utilizados, 15% acham importante mas preferem séries e repetições
e apenas 10% não acha o uso de materiais diversificados importante.
Foram perguntados sobre as correções técnicas
durante os treinos e 4% deles não gostam de serem corrigidos, 61% preferem
ser corrigidos esporadicamente e 35% gostam de serem corrigidos constantemente.
Este dado é importante pois abrir mão de algumas correções
podem ser um ganho em relação aos atletas que sentem incomodados
em serem corrigidos constantemente.
A maioria dos atletas, 80%, preferem não opinar sobre
a confecção dos treinamentos enquanto 20% acha importante opinar.
Se tivessem que modificar alguma coisa nos treinamentos ou competições
65% não mudaria nada, 6% diversificaria mais os treinamentos, 5% gostaria
de maiores premiações, 4% maiores patrocínios, outros 4%
diminuiria as séries longas dos treinos, os outros 19% juntos gostariam
de ter uma equipe maior, maior proximidade com o técnico, piscinas melhores,
diminuiria a carga de treinamentos, colocaria recreação uma vez
por semana nos treinamentos, colocaria um numero maior de séries de velocidade,
mudaria o horário de treinamento, escolheria as próprias provas
de competição, divulgaria melhor a natação e diminuiria
a duração das competições.
Os gritos dos técnicos são vistos por 52% dos
atletas como motivantes. 22% não gostam dos gritos, para 20% não
faz diferença e 6% sentem-se constrangidos.
O ultimo dado coletado diz respeito à cobrança
dos técnicos. 44% sentem-se cobrados pelos técnicos, mas este fato
não os incomoda, 28% sentem-se cobrados e este fato incomoda muito, 28%
acham que seus treinadores os deixam a vontade. Knijnik; Greguol e Sileno, (2001),
menciona a cobrança exagerada de pais e técnicos como desmotivadora.
CONCLUSÃO
A pesquisa identificou vários fatores interligados
e que podem interferir na motivação de atletas nadadores da Bahia. Os
aspectos encontrados na pesquisa como intervenientes na motivação
relacionam-se com os aspectos encontrados na revisão de literatura: relacionamento
interpessoal, horários e locais de treinamento, elogios recebidos, etc.
A pesquisa detectou que, os principais motivos que levam um nadador a manter-se
competindo e federado são a companhia dos outros atletas, as viagens e
a relação com seu técnico, que é fortemente influenciada
pelos elogios dispensados pelos técnicos aos atletas. Obter respeito,
fama ou profissionalizar-se não são fomentadores da prática
competitiva para os nadadores. Porém, todos os aspectos analisados interferem
de alguma forma em sua motivação, fazendo-os empenhar-se mais ou
menos em sua vida de atleta.
Pode-se inferir da pesquisa, em última análise
que a atenção voltada aos diferentes aspectos que permeiam a rotina
da natação competitiva pode prolongar a vida ativa de atletas,
bem como sua dedicação durante este período.
Portanto, a motivação pode ser alterada através
destes incentivos externos propiciando um estado diferente do anterior, seja
em balanço positivo ou negativo.
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