Home |CDOF Responde | Cadastro de Usuários | Cadastro de Consultores|


 

Seg, 19/1/09 17:55

NATAÇÃO
  

NATAÇÃO EM ÁGUAS ABERTAS E MARATONAS AQUÁTICAS
JAVIER EDUARDO ORMACHEA DURAN - CREF 3626 G/RJ
Pós-graduando em Fisiologia do Exercício e professor de capacitação para maratonas natação em águas abertas

    
  O ser humano desde os primórdios de sua existência, por necessidade de deslocamento, fuga, ou fins estratégicos utiliza-se de técnicas de progressão aquática para atravessar cursos de água, lagos, rios, praias, ilhas e todo um gênero de obstáculos aquáticos ao seu caminho. Em tempos antigos também era vista, a natação, como elemento de formação integral do ser humano, treinamento militar e educacional.

- BREVE HISTÓRICO
  O nado para atravessar cursos de água sempre esteve presente na história da humanidade, desde que o Homem existe a natação também existe. O que foi acontecendo em certos povos, por necessidades diversas, especialização de estilos de nado seja de formas utilitárias ou de progressão silenciosa ou de fuga em velocidade, estes estilos foram os mais variados possíveis ficando no anonimato cultural daquele povo ou tribo, com o início de guerras entre povos. Os Fenícios foram os primeiros povos a utilizarem a natação com um meio estratégico, que lhe conferia grande vantagem sobre os seus oponentes, ainda sendo ensinado de forma didática para treino dos soldados.
  Em tempos da idade média ocorreu um grande recuo em função da crença difundida de que a natação era um grande difusor de doenças, fato difícil de ser vencido ao longo dos anos vindouros. Nos jogos Helênicos encontram-se competições de nado onde não se visava estilos e sim velocidade, não importando o tipo de movimento. No começo dos jogos olímpicos encontram-se modalidades diferentes e no pós II Guerra Mundial já estão estabelecidos os quatro estilos, sendo o nado Crawl utilizado nas provas mais velozes, classificadas como estilo livre, tendo sua origem peculiar em tribos de indígenas australianos, aprendidos por um professor que posteriormente foi residir nos Estados Unidos da América, e melhorando seu desempenho com a respiração lateral, e ritmos trifásicos de braçadas por respiração, sendo este estilo preferido por todos os travessistas do mundo inteiro.

- O ESTILO DAS ÁGUAS ABERTAS
  A partir deste nado o que muda basicamente para o estilo de águas abertas é a forma da respiração que volta a ser frontal em algumas vezes, por motivos de orientação, e o "nado cego" adquirido por alguns nadadores de travessias experientes, que seria a capacidade de nadar por várias braçadas em uma linha reta sem ter que se orientar olhando pra frente, um bom fator de economia de energia durante o nado.
  Outro fator preponderante na técnica de nado seria a natação de contato físico, usada por jogadores de pólo aquático, onde se busca uma defesa de nado e manutenção da direção com contato físico de tronco dos nadadores, proteção da braçada e capacidade de mudança de direção rápida em provas que hajam saídas com muitos nadadores ao mesmo tempo de um ponto de largada e a capacidade de "esgueirar-se como uma cobra" na "floresta" dos nadadores, em função de algumas provas que ocorra uma saída muito concentrada de nadadores na largada.
  Cabe informar aqui que provas oficiais de maratonas aquáticas o nadador não poderia correr durante a largada e na chegada (caso de desclassificação, se usar de impulso para prosseguir seu nado e obter vantagens), a saída deverá ser feita de dentro d'água e a chegada também. Os triatletas realizam largada e chegada com corrida e "golfinhadas" no solo deixando um espetáculo de habilidade nesse sentido e diferencia-se do proposto das travessias em que o nadador deve iniciar sua prova nadando e terminá-la nadando também.
  A largada de dentro da água inviabilizaria famosa Travessia dos Fortes, que não teve sua versão em 2007 e não tem previsões até o momento ainda para 2008, onde uma "massa humana" cria um espetáculo, a olhos vistos de quem assista, na hora da largada a ponto de acalmar as ondas do mar, enquanto ocorre à entrada de um fluxo de mais de 3000 nadadores ao mesmo tempo no mar. Existem provas peculiares, como a Travessia 14 Bis, numa prova praticada no litoral do Estado de São Paulo, onde o nadador pode andar no meio do percurso em função da maré baixa, passando por comportas de um canal e o fluxo da água cria situações interessantes, pois no transpor do percurso da prova de 40 km a correnteza é contrária para os nadadores de ponta e favorável aos nadadores retardatários.
  Em provas variadas temos também travessias noturnas que são nadadas a noite e usa-se de tochas e fogo em pontos do percurso para nadadores poderem orientar-se, provas de nado equipado como no caso de militares em cursos de comandos anfíbios onde se nada com equipamento completo de combate, provas onde se possa usar de pés de pato e snorkel em condições de igualdade a um nadador de sunga e touca e óculos de natação na mesma prova.
  As variações de provas e comportamentos diferenciados dos nadadores durante o percurso ficam a critério de quem organize e consiga arrebanhar nadadores inscritos para realização da prova, mas não estão incluídos no calendário oficial da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) ou FINA (Federation Internationale de Natation), embora gozem de certo prestígio e tradição local.

- EXEMPLO DA TRAVESSIA DO CANAL DA MANCHA
  Em relatos de 1875, um capitão chamado Mattheu Webb, realizou a primeira travessia do CANAL DA MANCHA (Inglaterra-França), desde lá existe a Chanel Swimming Association Ltd. Temos exemplo de brasileiros tentando pela primeira vez nadar o Canal da Mancha em 1958 (83 anos após a primeira tentativa bem sucedida) na pessoa de Abílio Couto com tempo de 12 horas e 45 minutos e Igor de Sousa em 1992 fazendo o percurso de ida e volta em 18 horas e 33 minutos, mostrando também que quanto maior for a dificuldade sempre haverá pessoas comuns dispostas a enfrentarem. Muitos nadadores deste evento sequer aparecem em listas de nadadores de destaque de provas da CBDA ou FINA.

- O INÍCIO DOS DESAFIOS DAS ÁGUAS ABERTAS
  O homem vem buscando na natação em águas abertas (ou seja, travessias aquáticas) como um obstáculo a ser vencido prestigiando o nadador como herói pelo feito.
  Aos poucos e de maneira progressiva as travessias aquáticas vêm sendo utilizadas como forma de treino aos nadadores e triatletas, seja de experiência em provas de alto nível, como para nadadores comuns de piscinas, sendo praticada em rios, lagos, represas, canais e praias e todas as formas de provas aquáticas ocorrendo, cada ano que passe, uma procura maior de nadadores por este tipo de prova seja em forma de lazer ou com intenções de desempenho. Podem-se encontrar organizações de eventos voltados a este tipo de público crescente onde o perfil do nadador não é o desempenho, mas o lazer que o esporte proporciona a todo tipo de nadadores que aprenderam a nadar na vida adulta, pessoas comuns encontram seu objetivo pessoal em completar um determinado percurso de uma travessia realizada por poucas pessoas no mundo e no passar dos anos.

- INCLUSÃO DA MARATONA AQUÁTICA COMO MODALIDADE OLÍMPICA PARTIR DE BEIJING-2008
  Quanto à questão olímpica da prova de maratona aquática foi formalizada em 27 de outubro de 2005 em Lausanne-Suiça, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a prova de natação em águas abertas de 10 km no programa de competição da olimpíada de Beijing-2008 e esse novo esporte a incluído nos Jogos Pan-americanos de 2007. Assim, criou-se um novo horizonte para atletas de alto nível desportivo em travessias aquáticas poderem obter medalhas, somando-se ainda as organizações que oferecem prêmios em dinheiro para provas deste tipo em circuitos variados em várias regiões do interior (represas, lagos e rios) e litoral (praias, ilhas, delta de rios) do país.

- DEFINIÇÃO, NA VERSÃO DA FINA (OPEN WATER SWIMMING)
1. Natação em águas abertas pode ser definida como qualquer competição que se use natação em rios, lagos ou oceanos.
2. Natação de longa distância pode ser definida como qualquer competição em eventos aquáticos até o máximo de 10 kilômetros.
3. Maratona aquática ou natação de maratona pode ser definida com qualquer competição em águas abertas acima de 10 kilômetros.
4. A idade mínima estabelecida para participar de tais eventos é de 14 anos de idade completos.

  Existem vários tipos de eventos de águas abertas além dos estabelecidos pela FINA em que se possam realizar provas variadas e também utilizadas por provas de triatlo (nadadores de águas abertas também), mas existe uma dificuldade em definir o que seja prova de maratonas e travessias aquáticas. Temos também as travessias solo (ou nado solo) que não é citada e nem definida no manual todas em águas abertas, pois enquanto a FINA preocupa-se com questões de segurança e acompanhamento dos nadadores buscando critérios e procedimentos minuciosos de segurança dos nadadores pessoal de apoio e arbitragem, também os desafios das travessias solo onde o mais importante é o percurso com provas que superam distâncias muito superiores aos da prova olímpica, como o caso do triatlo olímpico, que depois se tornou "Iron man", e agora com provas de "ultra iron man" ("iron man" ao dobro) traduzindo o ensejo do ser humano buscando transpor quaisquer limites que lhes seja imposto e contrariando qualquer indicação sensata de limites de saúde e auto preservação da própria vida, somando-se ainda a presença de animais que ofereçam algum risco a saúde do nadador, como águas vivas e tubarões.

- ÁGUAS ABERTAS E O LAZER
  A prática da natação em águas abertas vem tornando-se um lazer para pessoas comuns que saibam nadar um pouco e em busca da novidade da água aberta, onde o preponderante são fatores externos intervenientes em algo que não possua uma certeza de estabilidade como numa piscina onde tudo pode ser controlado e cercado de cuidados. O prazer da quebra de rotina, a possibilidade do inusitado torna-se um elemento motivador a certos nadadores onde se iniciam estudos sérios na área da psicologia desportiva a respeito de capacidade de resistir às pressões (resiliência) e enfrentamento (coping), pertinentes às características comuns de personalidade de quem o pratica.

- O QUE HÁ DE PESQUISAS
  A partir do ponto de vista de que uma prova olímpica em águas abertas exigir desempenho e capacidade aos nadadores em águas abetas, temos também a comprovação em estudos realizados por Donato et al (2002) em que, por estudos longitudinais sobre o pico de desempenho de nadadores máster (femininos e masculinos), provas de piscinas nas distâncias de 1500m e 800m estilo livre, corroborando com estudos anteriores de Tanaka e Seals (1997) feito com resultados de nadadores de estilo livre de 1500m, onde o tempos indicativos de boa performance revelam que em idade em torno de 30 anos pode-se assegurar bons tempos em provas de endurance. Sinal positivo para nadadores máster participarem de provas em águas abertas as quais são facilmente constatadas com boa presença de nadadores máster neste tipo de provas.
  Embora haja indicativo de cautela em treinos de alta intensidade para adultos na faixa etária acima dos 35 anos de idade segundo o I Consenso de Petrópolis (2001), devido aos fatores de envelhecimento e retardo em respostas que requeiram velocidade reação, ressalta que aprimoramento técnico-desportivo afeta positivamente rendimento do atleta.
  O mundo das águas abertas começa a encontrar adeptos, seja pelo aumento da expectativa de vida da população ou por recomendações permanentes às questões de saúde e manutenção de uma vida saudável e ativa, requerendo informações seguras a respeito e que possa dar treinamento adequado e manutenção de segurança mínima em algo que sempre estará sujeito a mudanças repentinas, por tal fato tendo um elemento não controlável, confronto de limites, quebra de rotina em locais fechados de prática desportiva e do fator motivador do convívio direto com a natureza, exigem uma preparação especial do profissional que queira atuar nessa área que, além de possuir conhecimentos básicos de preparação para endurance, necessite de complementos em setores multidisciplinares com procedimentos de segurança, a orientação marítima, psicologia desportiva e biologia marinha.

- ELEMENTOS ADVERSOS DO NADO SOLO
  Embora o nadador de águas abertas se previna de todas as formas para tal intento, deve ter consciência do que pode ocorrer consigo mesmo, e conhecer suas conseqüências para poder decidir a continuidade da prova o a desistência. O nadador de travessias solo deve confiar a uma pessoa de sua total confiança o poder de decisão de manter a travessia o desistir, pois algumas vezes não é possível haver uma decisão somente da parte do nadador, pois há um envolvimento muito estreito do nadador com a sua prova que não lhe permite decisões sensatas nas circunstâncias da prova.
- Hipotermia:
  É o pior inimigo do nadador, pois atua de forma silenciosa e gradual, chegando a ponto de afetar a lucidez e a percepção do nadador, embora haja possibilidade de se treinar adaptação ao frio, cada ser humano possui um limiar específico e em determinados dias, por causas diversas, pode afetar esse limiar para mais ou para menos, cabe nesse momento o nadador se conhecer muito bem e confiar a uma pessoa essa decisão conjunta de interrupção da prova.
- Hiponatremia:
  Alguns nadadores podem ingerir demasiada quantidade de água ao invés de complementar, com sais e glicose o que resulta em queda de rendimento e parada da prova.
Sintomas do estado leve: cefaléia, confusão, mal-estar, náuseas, câimbras. No estado agudo: crises convulsivas, coma, edema pulmonar, morte."
- Ingestão de água salgada e aceleração da desidratação:
  O nadador durante sua respiração, não consegue eliminar totalmente a água que por ventura entre em sua boca, logo irá sofrer os efeitos da desidratação acelerada em função da água com Cloreto de Sódio, potássio, iodo, magnésio e outras substâncias que causam diarréia, vômito, desidratação principalmente e queda de rendimento, conseqüente abandono da prova.
- Lesão do manguito rotador:
  Evento muito comum em qualquer nadador que não realize treinos específicos de reforço da musculatura protetora de tal movimento, em travessistas isso é muito comum,inclusive aposenta muitos nadadores de sua carreira por lesões agravadas em função da inflamação até o rompimento parcial ou total de tendões e inserções de músculos inflamados.
- Ataques de animais marinhos:
Embora seja muito incomum em travessias, a presença do temido tubarão (existem outros animais também) é um fator de desistência da prova e/ou cancelamento da porva, por questões de segurança. As embarcações e organização de segurança da prova devem estar atentas a esse detalhe de importância significante para decisão da manutenção da prova ou cancelamento da mesma.
- Queimaduras de Águas vivas:
Esses animais possuem venenos em seus tentáculos que causam sensação de queimadura forte e podem impedir um nadador de progredir em sua prova, mais agravado se for alérgico, pois pode entrar em estado de choque caso haja muitas áreas afetadas pelas queimaduras, devem ser tratadas prontamente pela assistência médica da prova.

- CONCLUSÃO
  A prática desportiva ou de lazer em águas abertas gera uma necessidade maior no que tange ao preparo do profissional que queira orientar tal atividade, não bastando somente embasamento de treinos de endurance, mas fatores ligados as propriedades do local a ser nadado, como também elementos que lhe permitam avaliar segurança e orientação segura e seletividade de aspectos psicológicos de seus alunos. Os poucos estudos ligados ás águas abertas deixam lacunas de conhecimento indispensável para dar devida segurança ao praticante de tal modalidade, mas com o início de provas oficiais em olimpíadas (maratonas aquáticas), em breve existirão estudos por necessidade de obtenção de melhor desempenho dos atletas olímpicos embora não seja a única prova que exista e a participação cada vez maior de nadadores máster requer cuidados específicos para tal.

- REFERÊNCIAS:
1. Russell R. Pate, Considerações Especiais Sobre Exercícios Em Climas Frios, Gatorade Sports Science Institute, número 11 (maio/junho - 1997).
2. Fernandes, Luciano Carlos, www.educacaofisica.org, Generated: 13 January, 2008, 15:19.
3. Oliveira, Carlos Eduardo de, Hidratação esporte e atividade física, www.cemafe.com.br/AULA%20-%20Hidrata%C3%A7%C3%A3o%20-%20Carlos%20-%20In.pdf.
4. Thomas, Panos; Swimming Injuries, MSc School of Human Health and Performance, Capital Sport, p 32-33.
5. Open Water Swimming Manual, 2006 edition, FINA.
6. Lazzoli, José Kawazoe, I Consenso de Petrópolis: Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte sobre esporte competitivo em indivíduos acima de 35 anos, Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Rev Bras Med Esporte _ Vol. 7, Nº 3 - Mai/Jun, 2001.
7. Hirofumi Tanaka and Douglas R. Seals, Age and gender interacions in physiological functional capacity: insight from swimming performance,J Appl Phisiol 82:846-851,1997
Eskurza and Hirofumi Tanaka
Kathleen Tench, Deborah H. Glueck, Douglas R. Seals, Iratxe
Donato, Anthony J. et AL, a longitudinal study in peak swimming performance
Declines in physiological functional capacity with age:
8. Donato, Anthony J. et AL, Declines in physiological functional capacity with age: a longitudinal study in peak swimming performance, J Appl Physiol 94:764-769, 2003. First published Oct 18, 2002; doi:10.1152/japplphysiol.00438.2002

Comunidade do orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7068204

 

|::::  Cooperativa do Fitness - Todos os direitos reservados - BH - MG - Na internet desde 05/12/1999 ::::|