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Dom, 26/9/10 20:58
RELEVÂNCIA DA VARIAÇÃO
DE EXERCÍCIOS PARA UMA MESMA MUSCULATURA OBJETIVANDO HIPERTROFIA
MUSCULAR
Por: * Consultor Prof.
Rodolfo A. Raiol
Data de Publicação: 27/09/2010
INTRODUÇÃO
Entende-se por hipertrofia muscular, o aumento volumétrico
das fibras musculares, ocasionando assim, o aumento do
volume do músculo (GENTIL, 2005).
A hipertrofia muscular é promovida principalmente
por exercícios resistidos que são os que
se realizam contra resistências graduáveis,
e esses são os mais eficientes para aumentar a
capacidade contrátil e o volume dos músculos
esqueléticos (GHORAYEB & BARROS NETO, 1999).
Dentro do treinamento de hipertrofia muscular há inúmeras
variáveis, as principais variáveis são:
a escolha e a ordem dos exercícios, o volume dos
exercícios, intensidade dos exercícios,
intervalos entre as séries e exercícios,
a freqüência das sessões de exercícios,
velocidade, coordenação e flexibilidade
(BACURAU, NAVARRO & UCHIDA, 2005).
O guia de exercícios e prescrição
do Colégio Americano de Medicina do Esporte -ACSM-
(2000), deixa claro que a variação dos
estímulos é um princípio fundamental
do treinamento de hipertrofia muscular. A variação
de aspectos como volume e intensidade de treino são
fundamentais para a promoção de bons resultados.
Entretanto a variação de exercícios
e/ou ângulos diferenciados nesses exercícios
objetivando hipertrofia muscular não está totalmente
clara. Assim, essa revisão bibliográfica
visa elucidar a questão da variação
ou não de exercícios para uma mesma musculatura
objetivando hipertrofia muscular e utilizando o treinamento
resistido como meio de se obter a hipertrofia muscular.
Dessa forma, conflitaremos os mais diversos trabalhos
existentes na literatura, tanto de autores que acreditam
na importância da variação de exercícios
para uma mesma musculatura objetivando hipertrofia muscular
quanto de autores que considerem não ser importante
tal variação de exercícios. Assim,
poderemos, ao final do estudo, ter ciência da validade
ou não da variação de exercícios
dentro de um mesmo grupo muscular visando o aumento volumétrico
das fibras e entender como e porque se deve ou não
variar exercícios para mesma musculatura para
obtermos hipertrofia muscular.
1 – REFERENCIAL TEÓRICO
Vários autores já manifestaram opinião
sobre o assunto, vamos ver o que dizem os autores que
acreditam na importância da variação
de exercícios para o mesmo grupo muscular visando à hipertrofia
do mesmo.
“Não se deve admitir que um único exercício seja capaz
de criar aprimoramentos uniformes da força ou uma resposta hipertrófica
no(s) músculo(s) ativado(s)” (MCARDLE, KATCH & KATCH, 2003,
p. 553).
Wilmore & Costill (2001) aconselham que ao invés de utilizar um
grande número de séries para um determinado exercício,
deve-se incluir uma maior variedade de exercícios dentro de um mesmo
grupamento muscular.
Seguindo o mesmo raciocínio, Fleck & Figueira Júnior (2003)
expõem que é importante utilizar várias angulações
e exercícios diferentes para um mesmo grupamento muscular, pois essas
práticas diferentes alteram o padrão de recrutamento das fibras
musculares envolvidas. Essas variações, ao longo do tempo, têm
o propósito de garantir que todas as partes do músculo sejam
solicitadas, com isso teremos aumentos similares de força e volume muscular
em todos os segmentos do músculo esquelético.
A mudança da biomecânica pode ser o ângulo da articulação
em relação à carga ou mesmo a posição do
membro, trará um novo estímulo para o sistema nervoso. (SALE,
1987; IRWIN, PALMIERI & SIFF, 1990). Já Moritani & Vries (1979),
ressaltam que diferentes tipos de movimentos podem levar o músculo a
se comportar de forma desigual ou mesmo fazer com que a musculatura sinergista
seja mais ou menos ativada. A publicação de Bloomer & Ives
(2000) salienta que nesses casos o sistema nervoso é forçado
a reorganizar os padrões de contração ou Extrair das diferentes
unidades motoras, recursos que possam, mais tarde, promover ganhos de força
ou massa muscular. Partilhando de idéia semelhante, Fleck & Kraemer
(1999) expõem que uma mudança no ângulo do exercício
já é capaz de alterar qual tecido muscular vai ser ativado, sendo
importante variar os ângulos para que o músculo seja estimulado
de forma mais completa.
Segundo Simão (2004), todos os músculos poderão ser treinados
continuamente, entretanto, diferentes movimentos podem ser escolhidos em ordem
para permitir a recuperação do sistema nervoso e assim, realizar
mais séries ou repetições já que o sistema nervoso
não teve falha nas suas inervações. Simão complementa
expondo, que sem variação nos exercícios dentro da sessão
de treino haverá dificuldades de recrutamento das unidades motoras.
Por outro lado, vamos analisar agora a opinião dos autores que defendem
não ter importância a variação de exercícios
para o mesmo grupo muscular visando à hipertrofia muscular.
Para Mirzabeigi et al. (1999) Não há como isolar uma parte do
músculo e promover hipertrofia somente nessa área, ou seja, não
podemos selecionar apenas uma parte do músculo para ser desenvolvida.
Segundo Verkhoshanski (2000) contrações máximas indicam
que há alteração no padrão de recrutamento das
fibras musculares, ou seja, o padrão motor será alterado para
se adequar às condições fisiológicas atuais, ativando
gradualmente todas as partes de todos os músculos envolvidos no exercício
para possibilitar a continuidade do movimento.
Foi constatado por Nosaka & Sakamoto (2001) que foram as mesmas áreas
do bíceps braquial que sofreram microlesões num exercício
de rosca Scott, tanto em treinos com amplitude completa quanto em treinos com
amplitude parcial, ou seja, mesmo com diferentes angulações o
resultado foi o mesmo.
2 - ENTENDENDO CONCEITOS
Para compreendermos a relevância ou não
da variação de exercícios no mesmo
grupamento muscular, faz-se necessário entendermos
o conceito de algumas ciências e exames que nos
auxiliam na verificação da musculatura
solicitada em cada exercício, cada um deles tem
uma análise distinta em relação à ação
do exercício na musculatura, sendo assim, é preciso
entendê-los para verificar a validade de sua aplicação.
2.1 - Biomecânica
Biomecânica é o estudo do movimento humano,
para isso ela se apropria de conhecimentos da anatomia
e da fisiologia para delimitar as particularidades estruturais
e funcionais do aparelho locomotor do ser humano (BARBANTI
et al., 2002). No treinamento de força, a biomecânica
tem grande importância, podendo ser considerada
uma das ciências bases do treinamento resistido.
A influência biomecânica no treinamento visando
hipertrofia muscular se dá por influenciar na
capacidade do músculo em desenvolver tensão
(HAMILL & KNUTZEN, 2007). Isso acontece porque quando
um músculo está em um ângulo encurtado,
ele tem uma menor capacidade contrátil, pois a
uma sobreposição dos filamentos que dificultará a
contração muscular. Por outro lado, se
o músculo estiver alongado excessivamente, a contração
muscular também será prejudicada, pois
haverá um distanciamento dos filamentos que no
momento da contração muscular causará uma
formação de menos pontes transversas, dificultando,
assim, a contração muscular (WILMORE & COSTILL,
2001). Em músculos que têm várias
inserções a produção de força
irá depender da angulação em que
o mesmo se encontra, pois alguns desses feixes de fibras
podem estar em um ângulo encurtado ou excessivamente
alongado o que dificultará a produção
de força (MCGINNIS, 2002). Isso ocorre freqüentemente
em músculos multiarticulares, ou seja, aqueles
músculos que fazem parte de várias articulações.
2.2 - Eletromiografia
É
um exame clínico que mede através de eletrodos
colocados na superfície da pele humana (eletromiografia
de superfície) ou invadindo a mesma (eletromiografia
invasiva) a atividade dos músculos a partir da
captação dos eventos elétricos vinculados à contração
muscular (BARBANTI et al., 2002).
Os resultados das pesquisas eletromiográficas
servem para comparar as atividades elétricas dos
músculos em um o exercício, observando
o padrão temporal (GENTIL, 2005). Os estudos eletromiográficos
demonstram haver diferenças percentuais de ativação
muscular entre os exercícios dentro de um mesmo
grupamento muscular, logo os exercícios que tem
maior ativação elétrica, são
os exercícios que mais recrutam unidades motoras
(BOMPA, PASQUALE & CORNACCHIA, 2004).
Por permitir a interpretação de parâmetros
de natureza interna, a Eletromiografia vem sendo utilizada
como principal ferramenta na determinação
dos padrões de movimento e dos mecanismos de controle
do sistema nervoso (BARBANTI et al., 2002).
2.3 - Ressonância Magnética
É
um exame clínico, onde o avaliado entra no aparelho
de ressonância magnética antes de realizar
o exercício e imediatamente após medindo
a quantidade de fluxo sangüíneo para determinada
região do músculo (TESCH, 2000). Dessa
forma, quanto maior for a hiperemia (aumento do fluxo
sangüíneo) para determinada parte do músculo,
maior terá sido a ação do exercício
nessa região (COSSENZA, 1995).
A Ressonância Magnética tem a vantagem de
dividir o músculo nos seus feixes musculares (por
exemplo, no bíceps braquial, em cabeça
longa e cabeça curta), mostrando assim um resultado
de ativação bastante preciso.
2.4 - Marcadores de
Microlesões
Algumas substâncias que estão em nosso corpo
(Creatina Kinase, por exemplo) servem de parâmetro
para avaliar o grau de microlesões que ocorreram
pós-exercício físico e assim avaliarmos
a eficiência do exercício. Dessa forma,
faz o exame antes e depois da sessão de treinamento
resistido e comparando o nível de Creatina kinase
(CK) no corpo, quanto maior for concentração
da substância, maior foi a ocorrência de
microlesões (Gentil, 2005).
3 - CONCLUSÃO
Após a comparação dos vários
trabalhos anteriores encontrados na literatura fica mais
fácil de chegarmos a um entendimento sobre o assunto,
primeiramente é preciso deixar claro a biomecânica,
a eletromiografia, a ressonância magnética
e os marcadores de microlesões têm muito
valor e o objetivo de compará-los não é dizer
qual metodologia está certa ou errada e sim, saber
qual devo utilizar em determinado momento e com o cruzamento
das informações determinarem a importância
ou não de se variar os exercícios dentro
do mesmo grupamento muscular.
É
interessante entendermos que tanto a eletromiografia
quanto a ressonância magnética são
usados para detectar a ativação muscular,
logo elas não servem para detectar os estímulos
fisiológicos que causam hipertrofia (Gentil, 2005),
servindo apenas para determinar se o músculo ou
suas partes estão sendo submetidas a estímulos
e a grandeza desses estímulos, além disso, “Diversos
estímulos importantes para hipertrofia produzem
poucos sinais de ativação, como o alongamento
e as contrações excêntricas” (GENTIL,
2005, p. 142). Sugere-se ainda que essa relação
seja inversa, segundo Prior et al. (2001) a baixa ativação
muscular está intimamente ligada à ocorrência
de microlesões, pois um músculo que tiver
poucas unidades motoras ativadas sofrerá mais
microlesões em suas fibras musculares do que um
músculo que tenha grande ativação.
As microlesões sofridas pelo músculo após
o treinamento resistido têm um papel fundamental
no processo da hipertrofia muscular, pois a ocorrência
das mesmas dará início ao processo de migração
de células satélites para a região
que sofreu a lesão iniciando o seu reparo e aumentando
a sua área de seção transversa (HAWKE & GARRY,
2001).
Outro fator que deve ser levado em consideração é o
prejuízo mecânico, pois, tem sido sugerido
que o mesmo leva ao catabolismo da proteína, provocando
uma supercompensação da síntese
da proteína do músculo durante o período
de recuperação de um indivíduo.
(KRAEMER, FLECK & EVANS, 1996). Dessa forma, exercícios
que dificultem a produção de força
pelos músculos seriam melhores para produzir hipertrofia.
Um trabalho contundente foi o de Akima et. al. (2002),
ele mostrou que após a fadiga de partes da musculatura
outras partes seriam ativadas, no estudo de akima, realizou-se
o exercício de extensão do joelho esquerdo
na cadeira extensora, onde através de imagens
de ressonância magnética, mostrou-se a grande
atuação do vasto lateral no exercício,
após o exercício o vasto lateral esquerdo
do indivíduo foi eletroestimulado para que o mesmo
entrasse em fadiga, logo após foi o indivíduo
repetiu o exercício e o vasto lateral esquerdo
fadigado teve pouca participação, o que
parece indicar que ocorre um revezamento das partes da
musculatura estimulada após a fadiga muscular.
Parece claro que o objetivo principal dos exercícios
resistidos visando hipertrofia muscular deve ser o de
promover microlesões, entretanto existem alguns
outros fatores que cercam o treinamento que de vê ser
analisados. Começando pelo padrão de ativação
dos músculos que é alterado quando a mudanças
nos tipos de exercícios (TESCH & DUDLEY, 1993).
Além do padrão de ativação é importante
analisarmos como se comporta o sistema nervoso em relação à variação
dos exercícios, segundo Hortobagy et. al. (1996), É interessante
a utilização de vários exercícios
e/ou ângulos por grupamento muscular para evitar
a fadiga do sistema nervoso em relação
aquele movimento específico. Além disso,
ainda em relação ao sistema nervoso, a
variação dos exercícios e/ou ângulos,
possibilitará aos praticantes mais adaptações
neurais e, conseqüentemente, uma melhoria de seu
acervo motor (UCHIDA et al., 2006).
Há ainda o fator psicológico-motivacional,
temos de concordar que a aderência ao treinamento
tem importantíssima relevância para alcançarmos
os objetivos propostos, assim Campos (2001) propõe
que os exercícios realizados sejam periodicamente
alterados, pois isso evitará a monotonia do treinamento
e, dessa forma, aumentando a motivação
pode-se, através de fatores neurais, aumentar
a força do indivíduo, o que parece contribuir
para a hipertrofia muscular.
Outro fator importante é a segurança do
treinamento resistido, de acordo com Graves & Franklin
(2006) a variação dos estímulos é importante
para prevenir a trivialidade e excesso de treinamento
de um indivíduo, dando-lhe tempo necessário
a sua recuperação. Além disso, a
variação evitará que ocorram lesões
mio-articulares por excesso de uso de determinado ângulo
articular (CAMPOS, 2001).
As pesquisas indicam para que a base do treinamento de
hipertrofia muscular ser a ocorrência de microlesões
como o início do processo para o aumento da área
de seção transversa do músculo,
dessa forma, o exercício e/ou ângulo escolhido
parece não ter importância quando o treinamento é conduzido
até a fadiga muscular momentânea (treinamento
utilizando cargas máximas), que parece ser o mais
eficiente para promover hipertrofia (FLECK & KRAEMER,
2006), pois ocorre alternância entre as fibras
musculares conforme vai ocorrendo à fadiga, por
outro lado, quando treinamento é realizado com
cargas submáximas, ou seja, antes de ocorrer à fadiga
muscular momentânea, a variação de
exercícios e/ou ângulos parecem ter maior
importância para um desenvolvimento harmônico
da musculatura, pois, como não fadiga muscular
momentânea, não ocorre grande revezamento
entre as fibras musculares.
Em treinamentos de maior volume, variar exercícios
e/ou ângulos parecem ter grande importância
na recuperação do sistema nervoso, ora
se o mesmo entrar em fadiga, o estímulo para produção
de força será diminuído e, dessa
forma, não será possível erguer
a carga antes erguida, quando se muda exercício
e/ou ângulo, o estímulo para o sistema nervoso
também é modificado, o que irá evitar
ou retardar a fadiga do mesmo.
A variação de exercícios e/ou ângulos
tem papel fundamental na motivação desse
treinamento, pois esse estímulo novo pode manter
o praticante motivado a continuar o treinamento, o que é fundamental
para a obtenção dos resultados desejados.
Mudar a angulação e/ou os exercícios
pode ser importante também na segurança
do treinamento resistido, pois evitará excesso
de treinamento e uso excessivo do mesmo ângulo
articular.
Concluindo, podemos dizer que existe Relevância
na variação de exercícios para a
mesma musculatura objetivando hipertrofia muscular, pois
existem vantagens em vários como: recuperação
do sistema nervoso, segurança, aumento do acervo
motor, motivação, desenvolvimento mais
harmônico da musculatura em treinos de carga submáxima
e nos treinos de carga máxima importante quando
este treino é de volume alto.
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