MEDICINA
ATIVIDADE FÍSICA: UMA OPÇÃO
TERAPÊUTICA PARA PACIENTES PSICÓTICOS INTERNADOS
EM INSTITUIÇÃO PSIQUIÁTRICA
Ana Cristina da Nóbrega Marinho
( Mestranda em saúde Coletiva/UEPB)
"As raízes dos distúrbios psicopatológicos
encontram-se na infância, entretanto, eles aparecem mais freqüentemente
numa fase mais tardia (final da adolescência). Qual a razão dessa
defasagem? o motivo é que para que se instale um distúrbio psicopatológico,
são necessários: a) uma estrutura de personalidade cristalizada
e organizada ao longo de uma história; b) uma gama de fatores conjunturais
que se originam da realidade externa. O peso de cada um desses é variável.
De um modo geral diz-se que qualquer indivíduo submetido a condições
traumatizantes (tortura, drogas, privação sensorial, etc.) pode
apresentar sintomas psicopatológicos. Entretanto, três situações
são consideradas privilegiadas para desencadear tais distúrbios.
- Adolescência:
pela necessidade de assumir uma identidade sexual e completar
o processo de individualização e separação
do meio familiar.
- Casamento
(estabelecimento das relações amorosas),
paternidade, maternidade: pela possibilidade de reatualização
de conflitos edipianos.
- Perda
de pessoas amadas ou de ideais, fracassos" (MAYER,
1989).
Segundo JEAMMET (1989) a noção de estrutura da
personalidade se refere ao modo como se constitui ou se organiza o psiquismo
de um sujeito. Organização essa que sofre influência tanto
dos fatores hereditários e congênitos, como das sucessivas experiências
objetais envolvendo zonas erógenas cada vez mais extensas e pulsões
cada vez menos parciais. As relações com os pais são de
capital importância, agregando-se a partir destas, e de acordo com as circunstâncias,
as relações com as demais membros do contexto social e educativo.
Tudo isto repercute no psiquismo em formação, através de
conflitos, traumas, frustrações, mas também através
de seguranças anaclíticas e identificações positivas.
As defesas são organizadas e o Ego começa a fazer frente às
ameaças externas da realidade e às internas que emanam das pulsões.
Progressivamente, o psiquismo do sujeito vai se estruturando
de forma neurótica, perversa ou psicótica, mas ele pode permanecer
sadio (livre de sintomas) caso não seja submetido a provas internas ou
externas demasiados fortes, ou não receba traumas afetivas e frustrações
demasiado intensa".
Na concepção de BRAGHIROLLI (1990) uma pessoa é considerada
psicótica quando mostra perturbações cognitivas e emocionais
muito graves; em geral o psicótico é tão incapaz de comportamento
social adequado que exige hospitalização temporária. A função
do hospital psiquiátrico para ZAGO (1986), "é receber e tratar
aquelas pessoas que no meio social apresentaram condutas latentes ou manifestas
de ameaça a si e aos outros, comportamentos esses explicáveis em
termos do universo da Psicopatologia. Desse modo há sempre a tendência
da sociedade, segregar no hospital psiquiátrico todo indivíduo
considerado"louco", esperando receber posteriormente um indivíduo "sadio".
Geralmente as instituições psiquiátricas
são dirigidas ou orientadas tecnicamente por um profissional da área
de saúde mental, como: o psicólogo, psiquiatra, assistente social,
terapeuta ocupacional, enfermeiro, dentre outros. O trabalho destes profissionais é realizado
no sentido de permitirem a integração dos pacientes de forma construtiva
na sociedade, como também, fazer com que eles se incorporem gradualmente,
sempre que for possível a seus trabalhos costumeiros (Idem).
Segundo FEIJÓ (1992) "um dado significamente estratégico
deste problema de socialização é o que ninguém nasce
com distúrbio da personalidade. Uma vez instalado o mesmo, surge consequentemente
a indisciplina do corpo e da mente". Para tratar desta indisciplina, este
projeto visa analisar os efeitos decorrentes da atividade física aplicada
em pacientes psicóticos internados em instituição psiquiátrica,
porquanto conforme LIMA( 1993) a participação do portador de deficiência
na sociedade, fica vinculada as oportunidades que os profissionais da área
oferecem, para que o mesmo possa comprometer-se com os valores de sua cultura,
tornando-se cidadão atuante e responsável. Acreditamos que para
o portador de deficiência, quanto mais oportunidades de vivenciar situações
novas, diferentes daquelas que costumeiramente são vivenciadas, e nesse
caso específico o deficiente mental, possivelmente melhore seu desenvolvimento
cognitivo, motor e social. Sobre este aspecto, JANNUZZI( 1993) defende que "se
por um lado o corpo é a mediação, o corpo é o intermédio
do homem no mundo social, pois que, ocupa uma dimensão de espaço,
por outro lado é por meio dele que o mundo social penetra no homem. Logo é o
elemento de intercâmbio HOMEM-MUNDO".
Para LIMA(1993) "esse elemento de intercâmbio entre
homem e mundo, denominado de corpo, não é possível ser qualificado
ou quantificado enquanto normal ou deficiente, necessário se faz respeitá-lo
em sua essência"; isto implica dizer que é um erro grave a
tentativa de privar um corpo de movimento pelo simples fato deste corpo ser considerado
deficiente, no entanto, a busca pelo movimento( independente da atividade exercida)
por parte do deficiente, deve ser explorada pelas pessoas interessadas em beneficiar
este corpo que necessita se movimentar, até mesmo para que eles consigam
sentir a vida de maneira diferente.
Partindo desta afirmação PELARIGO (2000) enfatiza que como o
ser humano tem a capacidade inata de realizar tarefas motoras, a pouca realização
destas representada por uma típica tendência ao sedentarismo,
tem causado sérios problemas de saúde, mas é importante
ressaltar que a atividade física em excesso pode comprometer a saúde,
porquanto é imprescindível que o profissional da área
tenha conhecimento acerca dos instrumentos e métodos que serão
aplicados, respeitando as variações individuais quanto aos aspectos
físicos, psicológicos e culturais.
No que concerne aos parâmetros a serem considerados em
uma avaliação física, PELARIGO( 2000) assinala a:
a) Anamnese Nutricional, que segundo GUEDES( 1988) "consiste em entrevista
em que se procura levantar o comportamento alimentar do indivíduo",
b) Gasto Energético- as estimativas quanto ao gasto energético
oferecem informações acerca da carência de atividade física
c) Correção Postural- indivíduos portadores de desvios
posturais apresentam limite de movimento
d) Composição Corporal-relaciona-se com a quantidade de gordura
corporal e da massa magra e e)Aspectos Neuromusculares e Hemodinâmicos/
Metabólicos que diz respeito ao controle de frequência cardáca
e pressão arterial.
Segundo MCARDLE et alii (1992) "a atividade física
planejada, estruturada, repetitiva e intencional é uma maneira eficiente
de garantir a sobrevivência dos indivíduos no ambiente em que vivem".
"Ora uma vez que eu sou meu corpo e meu corpo é a minha personalidade,
não será difícil perceber a importância da atividade
física para a educação da personalidade" (FEIJÓ,
1992).
REFERÊNCIAS
BRAGHIROLLI, Elaine Maria. Psicologia Geral.
Rio de Janeiro:Vozes, 1990.
FEIJÓ, Olavo G. Corpo e Movimento: Uma psicologia para
o esporte. Rio de Janeiro: Shape , 1992.
JANNUZZI, G. A luta pela educação do doente mental no Brasil.
São Paulo: Cortez, 1985.
JEAMMET, P. Manual de psicologia médica. São Paulo: Masson, 1989.
LIMA, Sérgio Ricardo Cavalcante. Educação física
adaptada : uma proposta de trabalho para portadores de doença mental.Campinas,
1993.
MAYER, H. Histeria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. L. & KATCH, V. L. Fisiologia do exercício:
energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1992.
PELARIGO, Luciane Cristina K. A importância da avaliação
física na prescrição de programas de exercícios
direcionados à saúde.Revista FEFIL,n.1, 2000.
ZAGO, J. A. Trabalho e doença mental: um estudo de caso. Tese de Mestrado.
Universidade Metodista de Piracicaba. 1986.