IDOSOS
A RECREAÇÃO NA TERCEIRA IDADE*
Autores: Thaís Simões Pires; Jorge Luiz Nogueira; Arizângela
Rodrigues; Maria Guadalupe Amorim;Andréa Flávia Oliveira. Acadêmicos/UFAL
INTRODUÇÃO
Os estudos direcionados a terceira idade, têm apontado
uma gama de benefícios à saúde a sociedade promovidos com
a prática de atividades físicas cotidianas. Fator preocupante,
pois está comprovado que a cada ano a população que pertence
ao grupo da terceira idade, cresce de forma acelerada e sem os devidos esclarecimentos
a respeito desses tais benefícios. Uma rotina ativa com simples tarefas,
incluindo atividades leves individuais ou coletivas como: caminhadas de baixa
intensidade, a utilização de escadas ao invés de elevadores,
cuidar do jardim, atividades aquáticas, viagens turísticas a lazer
em geral, proporcionam uma melhoria na condição física e
psicológica, auxiliando na realização de movimentos do dia-a-dia,
tornando esses indivíduos prestativos em seu meio social e conscientes
enquanto cidadãos (LACOSTE, 1993).
Em nosso estudo, nos deparamos com uma realidade muito diferente,
afastada da ideal. Os idosos residentes no asilo São Francisco de Assis,
por exemplo, não contam com atividades que visam uma melhoria na qualidade
de vida e bem estar físico, convivem com uma deficiência total de
atividades recreativas e a ausência de programas que estimulem o lazer,
contribuindo diretamente para que a vida destes idosos se torne cada vez mais
ociosa.
II - Problematização
do estudo
Em decorrência da idade avançada
e das perdas biológicas e sociais, o idoso passa a sofrer
preconceitos, dentre eles a exclusão do meio produtivo
e como também das perdas afetivas. Esta rejeição
na maioria das vezes parte da própria família que
o considera um estorvo dentro do lar. A solução
mais prática vista pelos seus familiares é a "internação" numa
casa de repouso - asilos.
Os asilos locais são que não oferecem atividades
suficientes para suprir suas necessidades. Tendo sempre uma vida monótona.
Com o intuito de viabilizar momentos de descontração, promovemos
atividades recreativas estimulando o organismo a produzir substâncias como,
endorfinas e andrógenos, que são responsáveis pela sensação
de bem estar fazendo com que seja recuperado a auto - estima. Estas sensações
são inibidas pelo sedentarismo que somado ao stress provoca patologias
fisiológicas e psicológicas.
III - Problema
Como desenvolver a recreação para os idosos no
Lar São Francisco de Assis?
IV - Objetivo: Verificar
as mudanças de comportamento
durante a recreação, em um estudo piloto.
* Trabalho desenvolvido junto à disciplina Introdução
a Metodologia Científica. Atualmente encontra-se em andamento junto à linha
de pesquisa Atividade Física e Saúde - LEPEL/UFAL, grupo temático
Atividade Física para a Terceira Idade.
V - Relevância do
Estudo
Através de uma proposta de intervenção,
aproximar-se, buscar entender e intervir numa realidade que até então
não conhecíamos, buscando as possibilidades de
promover uma reintegração dos idosos no asilo e
a recuperação da auto-estima.
VI
- Revisão
de Literatura
O envelhecimento é um processo fisiológico
e não está necessariamente ligado à idade
cronológica. É nessa perspectiva que encaminhamos
nosso trabalho, no sentido de compreender a fim de amenizar os
problemas inerentes à Terceira Idade, promovendo momentos
de prazer e descontração para que essa realidade
seja plena, saudável e com melhores condições
de vida.
Antigamente, nas sociedades tradicionais, os velhos eram muito
considerados, por serem sinônimo de lembranças e sabedoria. Atualmente
o descaso e o desprezo os excluem da sociedade, que os julgam improdutivos. É comum
encontrar idosos abandonados e ignorados dentro da própria família.
A velhice sempre é vista, como um período de
decadência física e mental. É um conceito equivocado, pois
muitos cidadãos que chegam aos 65 anos, já que esta é a
idade oficializada pela Organização das Nações Unidas,
ainda são completamente independentes e produtivos. Acreditamos
na decadência sim, mas da sociedade que perde, não dando valor ou
criando espaços adequados para as necessidades de nossos velhos. A população
idosa, em nosso país, cresce a cada dia e com ela as dificuldades e as
necessidades de adequar soluções eficientes, junto aos órgãos
públicos, com o objetivo de tornar digna a vida dos nossos idosos.
Essa população que vem aumentando acentuadamente,
não é, na maioria das vezes, reconhecida pela sociedade - até mesmo
pela sua família - sendo vítimas de um relacionamento social impregnado
de preconceitos.
Geralmente, a velhice está ligada às modificações
do corpo, com o aparecimento das rugas e dos cabelos brancos, com o andar mais
lento, diminuição das capacidades auditiva e visual, é o
corpo frágil. Essa é a velhice biologicamente normal, que evolui
progressivamente e prevalece sobre o envelhecimento cronológico. Cientistas
e geriatras preferem separar a idade cronológica (idade numérica)
da idade biológica (idade vivida). Para eles, tanto o homem quanto à mulher
se encontra na terceira idade por parâmetros físicos, orgânicos
e biológicos.
Uma velhice tranqüila é o somatório
de tudo quanto beneficie o organismo, como por exemplo, exercícios
físicos, alimentação saudável, espaço
para lazer, bom relacionamento familiar, enfim, é preciso
investir numa melhor qualidade de vida. Ao contrário do
que se pensa os idosos podem e devem manter uma vida ativa. Essa
vitalidade se estende à vida sexual e suas transformações
hormonais, com isso a idade avançada não deve impedir
que um casal tenha uma vida sexual ativa.
A busca de uma vida com qualidade e o não aniquilamento
da capacidade de amar, compreendendo-se aqui não só o relacionamento
sexual, mas também o preenchimento das carências no que tange à afetividade
e às expectativas de cada um: esta é a grande alavanca do bem-estar,
da felicidade e, conseqüentemente, da longevidade.
A elaboração de um programa de atividade física
para a terceira idade deve levar basicamente em consideração o
preparo para que o idoso possa cumprir suas necessidades básicas diárias
(necessidades impostas pelo cotidiano), ou seja, tentar impedir que o idoso perca
a sua auto-suficiência, através da manutenção de sua
saúde física e mental.
Antes de se iniciar a prática de exercícios com
idosos é necessário que o mesmo faça uma avaliação
médica. Sabe-se que o tipo de atividade física ideal (envolve variáveis
tais como: atividade mais adequada, freqüência, intensidade de trabalho), é determinada
por variáveis que vão desde os hábitos de vida (fumante,
tipo de alimentação, presença ou não de atividade
física atual) até os fatores geneticamente herdados. Tendo como
objetivo final à melhora ou manutenção da qualidade de vida
relacionada à saúde, deve-se, então, escolher as capacidades
físicas que sejam pré-requisitos básicos para a conquista
de uma vida saudável.
As mudanças fisiológicas, psicológicas
e sociais que ocorrem com o processo de envelhecimento, vão influenciar
de maneira decisiva no comportamento da pessoa idosa.
Com o declínio gradual das aptidões físicas,
o impacto do envelhecimento e das doenças, o idoso tende a ir alterando
seus hábitos de vida e rotinas diárias por atividades e formas
de ocupação pouco ativas. Os efeitos associados à inatividade
e a má adaptabilidade são muito sérios. Podem acarretar
numa redução no desempenho físico, na habilidade motora,
na capacidade de concentração, de reação e de coordenação,
gerando processos de autodesvalorização, apatia, insegurança,
perda da motivação, isolamento social e a solidão.
Os efeitos da diminuição natural do desempenho
físico podem ser atenuados se forem desenvolvidos com os idosos, programas
de atividades físicas e recreativas que visem a melhoria das capacidades
motoras que apóiam a realização de sua vida cotidiana, dando ênfase
na manutenção das aptidões físicas de principal importância
no seu bem estar.
É fundamental que o idoso aprenda a lidar com as transformações
de seu corpo e tire proveito de sua condição, prevenindo e mantendo
em bom nível sua plena autonomia. Para isso é necessário
que se procure estilos de vida ativos, integrando atividades físicas a
sua vida cotidiana.
Particularmente as atividades recreativas devem ser: atraentes,
diversificadas, com intensidade moderada, de baixo impacto, realizadas de forma
gradual, promovendo a aproximação social, sendo desenvolvidos de
preferência coletivamente, respeitando as individualidades de cada um,
sem estimular atividades competitivas, pois tanto a ansiedade como o esforço
aumenta os fatores de risco.
Com isso é possível se alcançar níveis
bastante satisfatórios de desempenho físico, gerando autoconfiança,
satisfação, bem-estar psicológico e interação
social.
Deve-se levar em conta que o equilíbrio entre as limitações
e as potencialidades da pessoa idosa ajudam a lidar com as inevitáveis
perdas decorrentes do envelhecimento.
VII - Metodologia
A característica do nosso estudo é a
pesquisa participante, pois nos integramos ao grupo observado.
Este tipo de estudo tem o objetivo inicial de ganhar a confiança
do grupo, deixando expostas as nossas intenções
mesmo que às vezes seja mais vantajoso ocultar alguns
objetivos. "O observador participante enfrenta grandes dificuldades
para manter a objetividade pelo fato de exercer influência
no grupo ser influenciado por antipatias ou simpatias pessoais
e pelo choque do quadro de referência entre o observador
e o observado" ( MARCONI & LAKATOS, 1982: 68). No nosso
caso, a partir das primeiras aproximações, ocorreu
a participação real do grupo pesquisador com a
comunidade através das atividades recreativas.
AMOSTRA: em um universo de 78 pessoas, a maioria delas de origem simples e
pertencentes da classe trabalhadora, a realidade da nossa amostra variou entre
7 e 12 participantes nas atividades.
INSTRUMENTOS: a coleta de dados se deu através dos seguintes instrumentos:
oficinas recreativas como desenhos, brincadeiras com massas de modelar, contos
religiosos e músicas, e um diário de campo onde registramos e
analisamos todos os nossos dados, apresentados a seguir.
Diário de Campo:
relato do desenvolvimento das atividades
No primeiro dia de visita ao Lar São
Francisco de Assis, conversamos com a diretora Elizabete, que
nos deixou totalmente à vontade, não demonstrando
nenhuma resistência para fazermos nossa pesquisa, nem tão
pouco fez questionamento a respeito da procedência das
nossas intenções, não se preocupando em
preservar a integridade dos idosos que ali residem. Este tipo
de reação nos deixou alerta para a forma como os
idosos são tratados. Reação um pouco diferente,
tivemos em outro asilo (só de mulheres: Luiza de Marilac)
que visitamos. Lá, a diretora indagou sobre nossa proposta
de estudo, a fim de saber objetivamente a finalidade do nosso
trabalho. Apesar disso, escolhemos o Lar São Francisco
de Assis, que possui as instalações mais apropriadas
para a realização do nosso projeto.
O primeiro encontro foi um choque para nós, pois não
conhecíamos de perto a realidade da vida monótona e solitária
de um asilo. Dentre as pessoas que conversamos, algumas demonstraram total resistência às
nossas aproximações, evitando qualquer possibilidade de diálogo.
Durante este contato percebemos as dificuldades tanto psicológicas que
iríamos enfrentar ao longo do trabalho.
A partir do segundo encontro tivemos mais receptividade
por parte dos idosos, que ficaram mais à vontade com nossa presença(apesar
de não se recordarem de nossa última visita). Durante a conversa
eles relatavam sobre suas tristezas, família, juventude,... e demonstraram
receio de nós sermos mais um grupo que os visitariam e depois os abandonariam.
Também fizeram reclamações do asilo, como a falta de atividades
para ocupar o tempo ocioso, a má qualidade da alimentação
e até furtos de objetos pessoais.
Lá, a relação entre homens e mulheres é limitada,
pois cada sexo tem seu corredor e um não pode visitar o outro, apesar
das distâncias entre os sexos e da abstinência sexual, o desejo está bastante
em alguns deles, como por exemplo, uma senhora que assediou o único componente
masculino do grupo pesquisador em uma das oficinas realizadas. Percebendo isto,
resolvemos integrar homens e mulheres no pátio (único lugar onde
ambos os sexos poderiam se relacionar sem restrições), em uma conversa
muito amistosa onde cantaram, contaram histórias, riram. Ao final deste
encontro, fizemos propostas de oficinas que foram realizadas na visita seguinte.
As oficinas mais cotadas foram: desenho, massa de modelar, jogos, contos religiosos,
tudo acompanhado pelo som que eles mesmos escolheram: Roberto Carlos.
Na oficina de desenhos, fornecemos materiais necessários
- giz de cera e papel - para explorar a criatividade e o desenvolvimento motor.
Sem que houvesse imposições de regras, deixando - os livres para
a realização desta atividade. Observamos que através de
rabiscos que tinham formas e cores variadas, alguns retratavam suas experiências
enquanto criança ou durante determinada etapa de suas existências.
Os desenhos não tinham uma definição lógica,
eles diziam ser animais - pato, pata, onça, cobra, urso, ganso - sereia
e até jangada. Podemos constatar que através das quantidades de
cores utilizadas poderia haver alguma relação com seu estado emocional.
Foi curiosa a receptividade na oficina de massa de modelar, pois eles nunca
tiveram a oportunidade de manuseá-la. Talvez por este fato não
foram criativos, apenas repetiram os modelos apresentados pelos monitores.
Pela falta de manuseio e o aroma atrativo, uma senhora mastigou um pedaço
de massa, imaginamos que ela se confundiu com algum doce, pois era o que a
mesma nos pedia.
Com os contos religiosos, notamos que a explanação
surtiu melhor entendimento e conseqüentemente maior participação
que a leitura detalhada. Sentimos algumas dificuldades devido às deficiências
auditivas. Talvez pela questão cultural eles preferiam escutar os contos
religiosos.
VIII - Síntese dos
resultados do estudo-piloto
Foi verificado que as atividades recreativas
proporcionam momentos de bem estar, uma vez que os idosos ali
presentes tiveram uma participação ativa nas atividades
propostas - no início apresentavam-se pacatos e no decorrer
das propostas recreativas houve uma maior adesão por parte
dos participantes - deste modo reativando sentimentos perdidos
e a auto-estima como ponto fundamental de recuperação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
:
FARIA JUNIOR, Alfredo; MARQUES,
Andréa G; KRIEGEL, Regina
- Anais do II Seminário Internacional sobre Atividades
Físicas para a Terceira
Idade. Rio de Janeiro: UnATI/UERJ, 1998.
FARIA JUNIOR, Alfredo - Atividades Físicas para a Terceira Idade. Brasília:
Sesi-DN, 1992.
LACOSTE_MARQUES, Francisca in Actas in Physical Activity And Health In The
Elderly, 486- 491. Oeiras: University of Porto, 1994.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS Eva Maria - Técnicas de Pesquisa,
1ª Edição. Ed. Atlas, 1982. São Paulo.