IDOSOS
O QUE MOTIVA IDOSOS DE CLASSE
MÉDIA À PRÁTICA DE
UMA ATIVIDADE FÍSICA?
Consultora CDOF Linda Denise Fernandes Moreira-Pfrimer1; Renata Nakata Teixeira2;
Luzimar Raimundo Teixeira3
1 Escola Paulista de Medicina
- UNIFESP; 2,3 Escola de Educação
Física e Esporte - EEFEUSP
RESUMO
Inúmeras pesquisas já confirmaram a eficiência
da atividade física regular como um meio de prevenir e
reduzir o declínio funcional e os riscos de uma vida sedentária
relacionados ao avanço da idade. Contudo, ainda é altíssimo
o nível de idosos sedentários no Brasil. Por que,
mesmo sabendo de tantos efeitos benéficos das atividades
físicas, somente uma parcela pequena dos idosos incluiu
uma rotina de atividade física em suas vidas?
OBJETIVOS: Investigar e analisar os motivos que levaram os idosos
de uma academia de classe média em São Paulo a praticarem uma atividade física
e averiguar o porquê de terem optado por determinada modalidade.
METODOLOGIA: Em uma academia de ginástica da zona sul de São
Paulo foram selecionados todos os homens e mulheres acima de 65 anos matriculados
(n = 56), praticantes de qualquer modalidade de atividade física oferecida
pelo estabelecimento (Musculação, Ginástica , Ergometria,
Alongamento, Natação e Hidroginástica). Dentre os sujeitos
selecionados e convidados a participarem da pesquisa, 42 indivíduos
(69 anos ± 4,1) preencheram um questionário que os indagava sobre
o tempo de prática de atividade física, os fatores motivadores
para uma vida ativa fisicamente, os motivos de terem escolhido aquela determinada
modalidade de atividade física e qual a atividade praticada atualmente.
RESULTADOS: Com relação ao tempo de prática de atividade
física: 2,4% menos de seis meses, 2,4%- entre seis meses e um ano, 16,6%-
entre um e três anos e 78,6% - acima de três anos. Os motivos que
levaram esses sujeitos à prática da atividade física foram:
Preocupação com a própria saúde - 45%, Recomendação
médica - 33,5%, Outros motivos - 9,5%. O porquê de optarem por
aquela modalidade de Atividade Física específica : Pela recomendação
médica - 47,5%, Por ser a mais prazerosa- 31%, Por que era o que fazia
quando jovem-12%, Por influência de um conhecido-4.5%, Por recomendação
de um Professor de Educação Física- 2,5% e Outros motivos
-2,5%. A modalidade física praticada atualmente: Natação
- 40,5%, Hidroginástica - 33,5%, Musculação - 14% e Ergometria
- 12%. CONCLUSÃO: A recomendação médica e a preocupação
com a saúde motivaram cerca de 74% dos idosos a praticarem atividades
físicas. Quase 50% dos idosos tiveram sua modalidade de atividade física
já previamente prescrita pelo médico enquanto que apenas 2,5%
foram influenciados por um professor de Educação Física.
Em virtude dos resultados verificados, percebe-se a influência da classe
médica junto aos pacientes idosos e sua importância na conscientização
sobre a necessidade de uma vida fisicamente ativa. Em relação à prescrição
do tipo de atividade física a ser praticada por seu paciente idoso o
ideal é que o médico trabalhe conjuntamente com um profissional
da Educação Física.
INTRODUÇÃO
Segundo o último Censo do IBGE (2002), a população
de idosos representa um contingente de quase 15 milhões
de pessoas com 60 anos ou mais de idade (8,6% da população
brasileira), podendo ultrapassar os 30 milhões de pessoas
em 20 anos.
A expectativa de vida do brasileiro
que até 1980 era de 62,5 anos , agora chega aos 71 anos.
Fatores como a queda da mortalidade infantil, dieta balanceada,
novas tecnologias e tratamentos cirúrgicos, cuidados médicos
e a prática de atividade física estão diretamente
relacionados ao aumento da expectativa de vida dos seres humanos.
Nas últimas décadas, inúmeras
pesquisas confirmaram os efeitos da atividade física regular
como um meio de prevenir e reduzir o declínio funcional
e os riscos de uma vida sedentária relacionados ao avanço
da idade. Nunca se deu tanto valor à qualidade de vida
, porém , ainda é altíssimo o nível
de idosos sedentários em todo o mundo.Em um estudo de
Perrier (1979), foi constatado que apenas 3% das pessoas acima
de 65 anos nos EUA percorriam uma distância equivalente á 9,5
km por semana com o objetivo de condicionamento físico.
Em 1986, os Centros de Controle de Doença dos EUA estimaram
que somente 10% dos idosos exercitavam-se em níveis suficientes
para a manutenção da saúde.
Por que, mesmo sabendo de tantos efeitos benéficos que uma vida fisicamente
ativa pode proporcionar, somente uma parcela pequena das pessoas idosas incluíram
uma rotina de atividade física em suas vidas? Para responder esta indagação
talvez seja útil investigar o que levou os sujeitos da terceira idade
que hoje são ativos fisicamente a tomarem a atitude de incluírem
alguma rotina de exercícios físicos em sua vida. Assim, quais
seriam os principais fatores que motivaram esses indivíduos idosos a
praticarem alguma atividade física ?
Investigando e analisando o que serviu como motivação para uma
vida ativa nestes sujeitos, teríamos certamente uma diretriz que tornaria
possível perceber o que está ocorrendo, como as pessoas mais
velhas estão sendo influenciadas , e , assim , saberemos o que "seduz" os
idosos a praticarem exercícios físicos e, assim, poderemos investir
em estratégias direcionadas especificamente às suas necessidades
.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa de campo foi feita em uma academia da zona sul de São Paulo,
no bairro Aclimação. Foram selecionados todos os alunos matriculados
na referida academia, de ambos os gêneros, praticantes de qualquer modalidade
de atividade física oferecida pelo estabelecimento (Musculação,
Ginástica , Ergometria, Alongamento, Natação e Hidroginástica),
desde que tivessem mais que 65 anos de idade (idade que a O.M.S. considera
como início da velhice).
Os sujeitos da pesquisa, após
assinarem um termo de consentimento de participação
no estudo, preencheram um questionário com nome e idade,
além de responderem às três perguntas específicas:
1) Há quanto tempo pratica alguma modalidade de atividade
física: a - 0 a 6 meses,b - entre 6 meses e 1 ano,c -
entre 1 a 3 anos,d - mais de três anos. 2) Qual foi o motivo
que o levou a tomar a decisão de iniciar a prática
da atividade física: a - recomendação médica,
b - preocupação própria com sua saúde,
c - influência da mídia, d - estética, e
- reabilitação, f - lazer, g - outros. 3) Por que
optou por esta modalidade de atividade física especificamente:
a - é mais prazerosa, b -é o que fazia quando jovem,
c - recomendação médica, d - recomendação
de um profissional da Educação Física, e
- mídia, f - recomendação de um conhecido,
g - outros.
RESULTADOS:
Dentre os 56 alunos acima de 65 anos matriculadas na academia,
concordaram em participar da pesquisa 42 indivíduos (69
anos ± 4,1) que preencheram os questionários, ou
seja, o estudo abrangeu 75% da população em questão.,
que foi composta por 31% e 69% de homens e mulheres, respectivamente.
Com relação ao tempo de
prática de atividade física: 2,4% -praticavam há menos
de seis meses; 2,4%- entre seis meses e um ano; 16,6%- entre
um e três anos, 78,6% - acima de três anos. Os motivos
que levaram esses sujeitos à prática da atividade
física foram: Preocupação com a própria
saúde - 45%, Recomendação médica
- 33,5%, Outros motivos - 9,5%. O porquê de optarem por
aquela modalidade de Atividade Física específica
: Pela recomendação médica - 47,5%, Por
ser a mais prazerosa- 31%, Por que era o que fazia quando jovem-12%,
Por influência de um conhecido-4.5%, Por recomendação
de um Professor de Educação Física- 2,5%
e Outros motivos -2,5%. A modalidade física praticada
atualmente: Natação - 40,5%, Hidroginástica
- 33,5%, Musculação - 14%, Ergometria - 12%.
DISCUSSÃO
No que diz respeito ao tempo de prática
de atividade física, observamos que boa parte dos participantes
já incorporou a atividade física em sua rotina
de vida, pois a praticam a mais de três anos regularmente.
Tratando-se dos fatores motivadores da prática da atividade física,
vemos que há, hoje, grande preocupação dos idosos com
a manutenção da saúde. Isto fica claro quando observamos
que 45% dos idosos responderam ser isso o que os motivou a estarem matriculados
em uma academia de ginástica. Essa preocupação pode ter
sido despertada por campanhas públicas, documentários, propagandas
e outros meios.
Também ficou evidente a grande influência que os médicos
têm junto aos idosos, visto que 33,5% dos entrevistados procuraram a
atividade física por recomendação médica e 47%
dos idosos escolheram a modalidade de atividade que praticam baseados em prescrição
médica. Nossos dados encontram respaldo em outras pesquisas como a de
Andrade et al.(2000) que revelou que cerca de 40% das mulheres e 50% dos homens
brasileiros optam por praticar alguma atividade física por recomendação
médica.
A influência exercida pelos profissionais da medicina junto á população
em geral pode ser observada desde os tempos antigos, nos mais diversos lugares
do mundo. É papel do médico, independentemente de sua especialidade,
alertar o paciente idoso para o risco de uma vida sedentária e esclarecer
os benefícios que a atividade física pode proporcionar para sua
saúde e bem estar . Atualmente tem crescido o número de médicos
que, acreditando nas vantagens de uma vida fisicamente ativa, incentivam a
prática de atividades físicas, principalmente ao indivíduo
idoso. Esse tipo de atitude deveria fazer parte da rotina da clínica
médica de todos estes profissionais, para que , desta forma, diminuísse
o número de indivíduos sedentários no Brasil e no mundo.
Observamos em nosso trabalho, contudo, que quase 50% dos alunos da academia
pesquisada já se dirigiram a esse estabelecimento com a modalidade de
atividade física a ser praticada previamente prescrita pelo médico.
Cabem aqui alguns questionamentos: Estariam os médicos preparados para
prescrever programas de exercícios físicos ? A classe médica
em geral está atualizada com relação aos tipos de metodologias
e estratégias de aulas que estão sendo aplicadas nas academias
?
O que se verifica, na prática clínica, é que grande parte
dos médicos não possui conhecimentos científicos profundos
sobre a fisiologia do exercício que os permitam analisar corretamente
os efeitos de cada modalidade em cada indivíduo. Além do mais,
a Educação Física voltada para a preparação
física geral, é uma das áreas do conhecimento que mais
tem evoluído ultimamente, e está em constante mudança.
Novas aulas, estratégias de treinamento, novos equipamentos surgem ininterruptamente,
e é essencial que se saiba o que está ocorrendo nas academias,
que tipos de aulas estão sendo oferecidos, para, só assim, se
prescrever uma atividade física adaptada a um indivíduo.
Na presente pesquisa, vimos que 74% dos idosos estavam praticando atividades
aquáticas. Isso é muito comum no dia-a-dia de uma academia: adultos
jovens praticando ginástica ou musculação e idosos indo
para a água. Não temos nada contra as atividades aquáticas
, pelo contrário, sabemos dos inúmeros benefícios que
as mesmas podem propiciar aos seus praticantes de todas as idades, (Carvalho,
2003). O que é preciso questionar é o fato de que muitos dos
idosos que estavam matriculados nas aulas de Natação ou Hidroginástica
poderiam certamente praticar, também, atividades outras como a caminhada,
musculação ou ginástica. O que ocorre muito comumente é que,
por precaução e por desconhecerem os reais efeitos de cada modalidade,
alguns médicos ainda se abstêm de indicar atividades contra resistência
como a musculação, para o idoso que neste contexto é quem
sai mais prejudicado. Por outro lado, é também muito comum recebermos
um idoso com inúmeras limitações articulares, por exemplo,
em uma aula de hidroginástica para alunos avançados cujo objetivo
seja o trabalho de força muscular. É provável que este
aluno não poderá praticar este tipo de Hidroginástica
devido as suas condições físicas. Ou seja, o fato de ser
realizada na água, não significa que a atividade é menos
intensa; hoje as variações nas aulas de Hidroginástica
e Natação permitem uma infinidade de estímulos em intensidades
que variam do leve ao muito intenso. É preciso conhecer o que está de
fato ocorrendo nas academias de ginástica antes de se prescrever uma
atividade física apenas baseando-se no nome ou idéia geral da
mesma.
Queremos deixar claro que a atuação do médico é fundamental
para motivar os idosos á pratica de uma atividade física e quanto
mais isso ocorrer, melhor será para nós profissionais da Educação
Física assim como para os idosos em geral. Não queremos de forma
alguma promover atitudes mesquinhas ou separatistas, questionando a competência
deste ou daquele profissional. Acreditamos, assim como Jardim et al. (1996),
que é realmente na união de todas as classes de profissionais
da saúde, cada uma em sua especificidade, porém todas se valorizando
igualmente, é que conseguiremos resultados mais positivos no tratamento
dos nossos pacientes e também na nossa atuação profissional.
Cremos na importância de investimentos em uma política que aproxime
mais o profissional da Educação Física da classe médica,
para que haja maior intercambio de informações entre estas áreas
da saúde.
Outro ponto que merece nossa reflexão é o fato de que, neste
trabalho, apenas 2,5% dos indivíduos relataram estar praticando exercícios
por recomendação de um professor de Educação Física.
Por que este profissional teve tão pouca influência sobre os idosos?
A realidade da Educação Física no Brasil mudou muito nos últimos
tempos, passando de um enfoque predominantemente escolar, para a preparação
física no desporto e agora, nos últimos vinte anos principalmente,
houve a ênfase nos estudos na área da fisiologia visando uma educação
física que proporcione saúde, estética e bem estar geral
(MELO V A; 1998). Dessa forma, nós, profissionais da Educação
Física, historicamente falando, ainda somos novatos no campo das ciências
da saúde e temos que trabalhar muito para produzir conhecimento nesta área.
Prova disto é que só recentemente a Educação Física
passou a ser reconhecida como integrante das Ciências da Saúde
e não mais da área das Ciências Humanas. Nossa realidade
profissional se caracteriza por mudanças, basta verificar o número
de estudos realizados e suas contribuições no campo da saúde
.Contudo, o profissional da Educação Física ainda tem
que consolidar sua imagem na sociedade como alguém capaz de cuidar da
saúde e bem estar de um individuo e para isso precisamos trabalhar juntos
com outros profissionais, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
fisioterapeutas, dentre outros. Precisamos investir na união de nossa
classe profissional, promovendo e participando de cursos, congressos e debates.
E, ainda, devemos investir em campanhas públicas que mostrem á população
em geral o trabalho por nós realizado para que, aos poucos, passemos
a ter mais crédito por parte da sociedade.
Concluímos que os médicos, pelo seu alto poder de convencimento
junto aos seus pacientes, deveriam todos incluir em sua rotina clínica
a recomendação da prática de uma atividade física
pelo idoso quando o paciente puder se beneficiar da mesma, pois é no
médico que ele confia e portanto, atenderá esta solicitação.
Após incentivar uma vida fisicamente ativa, seria interessante que houvesse
uma decisão conjunta, ou seja, médicos e professores de Educação
Física deveriam optar pela modalidade mais adequada a cada paciente.
Além disso, cabe a nós, profissionais da Educação
Física, nos aproximarmos de outros profissionais da saúde, buscando
ajuda no seu conhecimento específico e contribuindo com nossa experiência
e saber, divulgando assim nosso trabalho e garantindo uma maior credibilidade á nossa
profissão.
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