CONSCIÊNCIA CORPORAL E EDUCAÇÃO
DO MOVIMENTO
Por que o nome deste texto - Consciência Corporal e Educação
do Movimento?
Não estaremos falando
do aumento funcional de rendimento, perfeição
de exercícios, aprendizagem mecânica de
gestos, do treinamento.
Nesta leitura, não nos importa a técnica,
estaremos enfatizando o homem em sua totalidade e em seu pleno desenvolvimento
motor, cognitivo e sócio-afetivo.
Estaremos refletindo sobre a consciência corporal
e a educação do movimento e suas possíveis aplicações
na descoberta das partes do corpo e de seu equilíbrio.
Pensar sobre a linguagem do corpo é promover todas
as possibilidades do movimento através da sensibilidade, vivência
dos movimentos, conscientização das partes do corpo e a estimulação
do lúdico.
A partir daí, aprimorar os aspectos físicos
e psíquicos do corpo e suas inter-relações.
A falta de uma reflexão mais profunda dos processos
educacionais vigentes, a falta de paradigmas das ciências em geral e especialmente
educacional, leva-nos a considerar o aluno como um espectador, um corpo-objeto,
no processo de aprendizagem e com isto, uma falta de preocupação
com sua auto-organização, com suas formas de vivência e interação
com o meio, enfim, um ser UNO constituído de corpo, mente, emoções...
Hoje se teoriza muito corporeidade, falar em corporeidade
parece simples. O termo corporeidade entrou facilmente em nossa linguagem como
se sua simbologia fosse de fácil interpretação e nos levasse
a um único pensamento. No dicionário, corporeidade indica a essência
ou a natureza dos corpos, um estado corporal.
Os manuais nos fornecem o domínio científico
e a etimologia nos diz que corporeidade é o derivado do corpo, é o
organismo humano oposto à alma. A corporeidade enfim, é relativo
a tudo que preencha espaço e se movimente, e que ao mesmo tempo, situe
o homem como um ser no mundo.
Não precisamos ir muito além, a escola.
Esta mostra um disciplinamento e um controle do corpo, das idéias, dos
sentimentos, uma total anulação. Um disciplinamento que atua no
corpo com intenção de transformá-lo num corpo dócil,
num corpo preparado para se atingir melhores resultados, onde o aluno não
precisa nem deve questionar, simplesmente executar e assimilar.
Devemos aceitar o corpo não mais como a soma das
partes, mas sim, pensar o corpo, como um sistema de interação,
onde suas partes só possuem sentido quando relacionada com as demais. É uma
totalidade integrada cujas ações existem sempre em função
do conjunto.
Podemos observar que cresce a cada dia estudos e pesquisas
relacionados com consciência corporal, motricidade humana, movimento independente,
corporeidade e cada vez mais, a negação do corpo está ficando
nas páginas do passado.
Está se acentuando a necessidade de observação
do corpo, uma nova maneira de vê-lo, porém essa nova abordagem do
corpo requer uma amplitude de conhecimentos para poder estarmos entendendo a
complexidade humana e o significado da palavra corpo num sentido mais amplo.
O corpo se define simplesmente por ser, por ocupar um
espaço, faz parte do mundo, se relaciona com ele, interage com as coisas
do mundo e também se relaciona com outros corpos.
Somos corpos fazedores e transformadores de um mundo,
corpos vivos, num tempo e num espaço experimentando todas as possibilidades
emergentes e que nos são de direito.
Devemos proporcionar para nossos alunos uma educação
humanizante, uma educação onde nossos alunos possam ser psicológicos,
biológicos, fisiológicos, cinesiológicos e antropológicos.
Uma educação que transforme seus conhecimentos e que contribua
para uma integração qualitativa ao meio social.
Precisamos também, estarmos atentos a uma melhoria
nos processos educacionais, para que possamos fazer emergir a construção
de novos conceitos, novas vivências, e a partir daí, estarmos contribuindo
para a descoberta de novas possibilidades.
Não temos como fugir de uma educação
corporal, uma educação que considere o corpo como uma ligação
homem-mundo, ela está presente na cultura, nas tradições,
na natureza, no cosmos.
Nossos alunos precisam de uma educação que comprove nossa existência
e importância no mundo, que entenda que é preciso existirmos para
que o mundo possa existir também. Uma educação que considere
importante que nossos corpos se movimentem, se transformem, para que possamos
transformar as coisas do mundo e ao mesmo tempo estar organizando e desorganizando
o nosso auto fazer-se.
A educação que buscamos deve possibilitar
autoconhecimento, compreensão de si mesmo e de seu mundo, prazerosidade,
contato com o lúdico e desenvolvimento de uma consciência crítica,
favorecendo e incentivando o aluno a manifestar suas idéias através
de um agir pedagógico coerente, e a partir daí, o aluno possa expressar
sua corporeidade e sua capacidade de adaptação, favorecendo ao
mesmo, acoplamentos estruturais nessa relação bio-psico-energética.
Esse aluno-corpo é movimento em tudo o que faz, é um
significante expressando sentimento. Seu corpo é ativo no espaço
que ocupa, se comunica com os corpos ao seu redor e interage com eles.
Um corpo em busca de novas possibilidades, novos caminhos,
um corpo que necessita estar, ser, sentir e ser sentido.
Na elaboração de nossas aulas, estaremos
preocupados com a educação do movimento consciente de nossos alunos,
o foco principal está em estimular as crianças a criar e recriar
suas próprias atividades.
Estaremos envolvendo música, som, ritmo, movimento,
prazer, harmonia, intelecto, conhecimento, descoberta, formação
pessoal e sobretudo educação para a vida.
Se observamos os indivíduos quando deixamos seus
corpos livres para o som, para o espaço e para o tempo, são inacreditáveis
os movimentos que podemos visualizar, é estimulante vivenciar esse momento,
são corpos vivos, cheios de anseios, de energia e sobretudo de esperança.
As atividades a serem aplicadas devem ser naturais envolvendo
o andar, correr, saltar, saltitar, equilibrar, rodopiar, girar, rolar, trepar,
pendurar, puxar, empurrar, deslizar, rastejar, galopar e lançar. Desenvolvimento
da noção de tamanho, forma, agrupamento e distribuição.
O ser humano necessita de experiências que possibilite
o aprimoramento de sua criatividade e interpretatividade, atividades que favoreçam
a sensação de alegria (aspecto lúdico), que a partir daí ,
ele possa retratar e canalizar o seu humor, seu temperamento, através
da liberdade de movimento, livre expressão, e desenvolvimento de outras
dimensões contidas no inconsciente.
Não devemos nos preocupar com a quantidade de
atividades que iremos oferecer para os alunos, mas sim, qualidade, adequação
e principalmente uma participação espontânea, que acima de
tudo proporcione prazer, para não cairmos num processo instrucional mecanicista.
Através das atividades oferecidas, pretendemos
que nossos alunos se aprimorem quanto ao domínio de seu corpo, desenvolvendo
suas possibilidades de movimentação, descobrindo novos espaços,
novas formas, superação de suas limitações e condições
para enfrentar novos desafios quanto aos aspectos motores, sociais, afetivos
e cognitivos.
Poderíamos dizer então, que a Consciência
Corporal e Educação do Movimento enquanto uma prática da
Expressão Corporal, poderá estar contribuindo
para a reeducação ou aprimoramento das habilidades básicas,
dos padrões fundamentais do movimento, no desenvolvimento das potencialidades
humanas e sua relação com o mundo. Como benefício no desenvolvimento
social devemos criar condições para que estabeleça relações
com as pessoas e com o mundo; no desenvolvimento biológico, o conhecimento
de seu corpo e de suas possibilidades; no desenvolvimento intelectual, contribuir
para a evolução do cognitivo e no filosófico, contribuir
para o auto-controle, para o questionamento e a compreensão do mundo.
O que nós profissionais de Educação
Física temos feito?
Profª Ms. Érica Verderi - FEFISO/ACM
verderi@cy.com.br
Site: www.programapostural.com.br