FUTEBOL
TREINAMENTO PARA
CRIANÇAS E
JOVENS
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
Cada vez mais
crianças e jovens estão em evidência
no esporte competitivo, seja na ginástica artística
com meninas de 10 anos ou até mesmo no futebol
profissional com garotos de 15-16 anos. Considerando
a idade que essas "crianças" estão
chegando ao topo do esporte nacional e internacional,
levanta-se uma questão muito importante: será que
o treinamento aplicado aos jovens atletas está de
acordo com sua maturação biológica,
sem prejudicar a sua carreira futura?
Neste estudo procurou-se demonstrar os aspectos do desenvolvimento
infantil e as características do treinamento para esses jovens.
"A criança não é uma miniatura
do adulto e sua mentalidade não é só quantitativa, mas também
qualitativamente diferente da do adulto, de modo que a criança não é só menor,
mas também diferente" (CLAPARÈDE, citado por WEINECK, 1991,
p. 246). As crianças não são adultos em miniaturas que podem
ser programadas para desempenhar atividades fisiológicas e psicológicas
potencialmente tão questionáveis (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000;
GALLAHUE; OZMUN, 2001; BOMPA, 2002). As crianças e adolescentes, em comparação
com os adultos, ainda se encontram em fase de crescimento, onde surgem inúmeras
alterações físicas, psicológicas e psicossociais,
que provocam conseqüências para a atividade corporal ou esportiva
(WEINECK, 1991; ASTRAND, citado por TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998). O treinamento
aplicado aos adultos não deve ser transferido aos jovens sem as devidas
adaptações (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000).
"As crianças são quanto ao seu desenvolvimento
imaturas e, por isso, faz-se necessário estruturar experiências
motoras significativas apropriadas para seus níveis desenvolvimentistas
particulares" (GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 107). Segundo HAUBENSTRICKER e
SEEFELDT, citado por GALLAHUE e OZMUN (2001), existe uma melhora sistemática
na velocidade de corrida de crianças no período médio e
no final dos anos da infância. Essa melhora na velocidade de corrida continua
na adolescência. Para WILLIAMS, citado por GALLAHUE e OZMUN (2001), o equilíbrio
melhora dos 3 aos 18 anos. Apesar das dificuldades de mensuração, é possível
concluir que o equilíbrio melhora com a idade na infância e adolescência.
A aptidão relacionada à saúde e ao desempenho do adolescente
passa por grandes alterações desde o início do período
adolescente até o final da adolescência (de 11 até 21 anos)
(GALLAHUE; OZMUN, 2001).
"O comportamento adolescente é essencialmente
exploratório e não deve ser considerado sem importância porque
ajuda o indivíduo a encontrar o seu lugar na sociedade" (p. 481).
Não se deve esperar que os adolescentes demonstrem uma obediência
cega à autoridade. Entretanto, uma liderança adulta sensata, modelos
positivos de papéis a desempenhar e uma orientação que desenvolva
a coragem são essenciais para um processo psicossocial saudável
e produtivo de desenvolvimento desses anos tumultuados (GALLAHUE; OZMUN, 2001). "...
alguns comportamentos modelares de mentores respeitados são promissores
como técnicas eficientes para inspirar alterações comportamentais
em adolescentes" (CARNEGIE REPORTE, citado por GALLAHUE; OZMUN, 2001, p.
484).
Segundo COAKLEY, citado por GALLAHUE e OZMUN (2001),
o esporte pode desenvolver o comportamento moral pelas inúmeras emoções
e situações imprevisíveis que surgem. O esporte fornece
um ambiente favorável para ensinar os valores de honestidade, lealdade,
autocontrole e de justiça (GALLAHUE; OZMUN, 2001).
De acordo com CLARK, citado por ISAYAMA e GALLARDO (1998),
o desenvolvimento motor possui seis estágios: 1 - reflexivo; 2 - pré-adaptativo;
3 - de habilidades motoras fundamentais; 4 - de habilidades motoras específicas
do contexto; 5 - habilidosa; 6 - compensatória.
A progressão de um período para outro
vai depender das mudanças nas restrições críticas,
em que as habilidades e as experiências adquiridas no período anterior
servem como base para a aquisição de habilidades posteriores. No
entanto, para esse modelo, as idades dadas para cada período são
apenas estimativas; a ordem dos períodos é que é significante,
e não a idade proposta.
"Cada faixa etária tem suas tarefas didáticas
especiais, bem como particularidades específicas do desenvolvimento. A
oferta de estímulos e aprendizagens deve ser regulada pela fase sensitiva" (p.
263). Deve ser salientado que coordenação (técnica) e condição
devem ser sempre desenvolvidas paralelamente, mas com o peso correspondente (WEINECK,
1991).
Com a queda no aprendizado de novas habilidades coordenativas
na pubescência, devido a fatores de crescimento e desenvolvimento, deveria
ser dada ênfase no aperfeiçoamento e fixação de seqüências
motoras já dominadas e técnicas esportivas. Na adolescência
ocorre uma estabilização geral da condução de movimentos,
uma melhora da capacidade de controle, de adaptação, de reorganização
e de combinação (MEINEL, citado por WEINECK, 1991).
Para WEINECK (1991), a adolescência começa
normalmente aos 14/15 anos nos meninos e vai até 18/19 anos. A adolescência
forma o fim do desenvolvimento da criança para o adulto, caracterizada
pela diminuição de todos os parâmetros de crescimento e desenvolvimento.
Ocorre uma harmonização das proporções, o que é favorável
em relação a uma melhora das capacidades coordenativas.
Pode ser treinada nessa fase com máxima intensidade
as capacidades condicionais e coordenativas, apresentando uma fase de melhoras
elevadas no desempenho motor (WEINECK, 1991). Para o treinamento, essa fase apresenta
melhoras, pois ocorre um equilíbrio psicológico. Ele deve ser atribuído à estabilização
da regulação hormonal que ainda mostrava turbulentas alterações
na fase anterior: os mecanismos de controle neurohumorais hipotálamo-hipofisários
sofrem um acerto definitivo. Ao contrário da fase anterior, agora apenas
quantidades grandes de hormônios acionam os receptores do centro de regulação
do hipotálamo (DEMETER, citado por WEINECK, 1991). Com as proporções
equilibradas, a psique estabilizada, a maior intelectualidade e a melhor capacidade
de observação fazem da adolescência a segunda "idade
de ouro" da aprendizagem (WEINECK, 1991). Aos 16 anos muitos desses conflitos
desaparecem; a necessidade de independência transforma-se num calmo desejo
de emancipação. As idéias de desenvolvimento profissional,
família, casamento são tangíveis e debatidas nessa fase
(SANSTRÖM, 1975).
"A adolescência deveria ser aproveitada para
o aperfeiçoamento das técnicas específicas da modalidade
esportiva e para a aquisição da condição específica
da modalidade esportiva" (WEINECK, 1991, p. 263).
No conjunto esta fase apresenta um bom período
para a aprendizagem motora - nos jovens do sexo masculino é mais acentuada
que nas jovens -, que possibilita um treinamento coordenativo ilimitado em todas
as modalidades esportivas (WEINECK, 1991).
Segundo ROWLAND, citado por VILLAR e DENADAI (2001),
na fase pré-pubertária e pubertária, a maturação
biológica pode diferir para a mesma idade cronológica.
Treinamento
O treinamento tem como principal objetivo causar adaptações
biológicas destinadas a aprimorar o desempenho numa tarefa específica
(McARDLE; KATCH; KATCH, 1991).
"A elaboração metodológica
tem assentado nas dominantes condicionais do treino desvalorizando-se as vertentes
de índole coordenativa" (SANTOS, 1992, p. 105).
A demonstração facilita o aprendizado,
pois instruir e depois demonstrar minimiza instruções mais complexas.
A demonstração apresenta particularidades que reduzem a incerteza
na execução de uma habilidade motora (TONELLO; PELLEGRINI, 1998).
LANDERS, citado por TONELLO e PELLEGRINI (1998) realizou um estudo comprovando
que a demonstração deve ser apresentada antes e durante a execução
da tarefa.
TONELLO e PELLEGRINI (1998) afirmam ainda que a informação
visual tem uma importância fundamental no comportamento motor humano e,
em específico, no processo de ensino-aprendizagem de habilidades motoras.
Os atletas aprendem mais a ver e fazer, do que a ouvir (McGOWN, 1991).
Os treinadores deveriam utilizar dois métodos
de ensino: a demonstração e a instrução verbal. Alguns
estudos comprovam que a aprendizagem é mais eficiente ao se utilizarem
várias demonstrações, mas somente a demonstração
não é suficiente, por isso se utiliza a instrução
ou palavras-chave. Esse recurso tem quatro funções a desempenhar:
concentrar a informação; reduzir o número de palavras, diminuindo
a exigência de processamento de informação; focalizar a atenção
do praticante no que é importante, e auxiliar a memória. Isso conclui
que o ideal é fazer uma perfeita combinação entre a demonstração
e a utilização de palavras-chave (McGOWN, 1991).
O processo de aprendizagem é influenciado por
um conjunto de variáveis, sendo a prática do indivíduo uma
das mais importantes. Para GODINHO, MENDES e BARREIROS (1995), uma dessas variáveis
que tem importância fundamental no aprendizado, além da prática, é o
feedback.
Treinamento
Físico
O treinamento físico é definido por BARBANTI
(2003, p. 595) como o "tipo de treinamento cujo objetivo principal é desenvolver
as capacidades motoras (condicionais e coordenativas) dos executantes, necessárias
para obter rendimentos elevados, e que se faz através dos exercícios
corporais". Durante a iniciação geral e os períodos
de preparação, deve-se utilizar a preparação física
geral (KUNZE, 1987).
Ao se referir à criança ou adolescente
e exercício, faz-se necessária uma classificação
pela idade biológica, pois possibilita distinguir, de forma mais clara,
as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um
programa de treinamento das modificações observadas no organismo,
decorrentes do processo de maturação, principalmente intensificado
na puberdade (TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998). De acordo com GOLOMAZOV e SHIRVA
(1996), a idade cronológica em muitos casos não coincide com a
motora. Os ritmos de amadurecimento são muito individuais.
Segundo BOMPA (2002); BAR-OR, citado por VILLAR e DENADAI
(2001), os programas de treinamento devem ser elaborados de acordo com o estágio
de maturação da criança e não de acordo com a idade
cronológica, pois as exigências e necessidades individuais variam
bastante. Crianças de mesma idade cronológica podem diferir em
anos com relação à maturação biológica.
As crianças evoluem de forma diversa. A proporção
de crescimento de ossos, músculos, órgãos e sistema nervoso é diferente
em cada estágio maturacional, e esses desenvolvimentos determinam a capacidade
fisiológica e de desempenho. Portanto, o programa de treinamento precisa
levar em consideração essas diferenças individuais e o potencial
de treinamento (BOMPA, 2002).
A avaliação maturacional pode ser usada
para identificar períodos de crescimento rápido e para justificar
reduções no regime de treinamento em longo prazo. Pode auxiliar
na redução de lesões, servindo como base na preparação
(GALLAHUE; OZMUN, 2001).
"A idade biológica refere-se ao desenvolvimento
fisiológico dos órgãos e dos sistemas no corpo que ajuda
a determinar o potencial fisiológico, tanto no treinamento como na competição,
para a obtenção de alto nível de performance". Deve-se
levar em consideração a idade biológica na classificação,
seleção e treinamento de atletas (BOMPA, 2002, p. 14). "...
os programas de treinamento infantis devem considerar a dinâmica de crescimento
e desenvolvimento para cada estágio" (BOMPA, 2002, p. 116). O princípio
da preparação física implica na utilização
de variados métodos e de exercícios físicos para obter um
efeito positivo em todos os órgãos do corpo (BOSCO, 1994).
Estudo realizado por CUNHA (2003) com equipes de futebol
da categoria juvenil, compostas de meninos na faixa etária entre 15 e
17 anos, identificou que apenas 43% das equipes estudadas realizam uma avaliação
maturacional nos atletas dessa categoria.
Após a determinação das características
biológicas de cada indivíduo, inicia-se o planejamento das atividades.
De acordo com BOMPA (2002) as cargas de treinamento devem aumentar gradativamente
com a idade e com a progressão dos treinamentos. A duração
das sessões de treino pode aumentar do início até o fim
da temporada, quando atingirem por volta de noventa minutos; os treinamentos
devem ser variados para se evitar um desgaste psicológico e a fadiga prematura.
O aumento progressivo da carga inclui um aumento do número e da repetição
dos exercícios, porém é importante observar o tempo de descanso
após o aumento das repetições. Outro aspecto relevante é o
aumento da freqüência de treinamento: o ideal é de duas a quatro
sessões para cada jogo, pois assim haverá um desenvolvimento maior
dos atletas durante os treinamentos do que nos jogos, isso no caso específico
do futebol. Ainda conforme o estudo realizado por CUNHA (2003), as equipes de
futebol juvenil paulistas realizam cinco ou seis sessões de treino por
semana e com relação a preparação física,
a sessão de treino dura em média 62 minutos.
Segundo McARDLE, KATCH e KATCH (1991, p. 284), "ainda
não foi identificada uma duração limiar por sessão
capaz de induzir aprimoramentos cardiovasculares ideais. Esse limiar depende
de muitos fatores, que incluem o trabalho total realizado, a intensidade do exercício,
a freqüência do treinamento e o nível inicial de aptidão".
Com relação à freqüência
do treinamento, alguns investigadores, citados por McARDLE, KATCH e KATCH (1991),
relatam que constitui um fator importante capaz de induzir a aprimoramentos cardiovasculares,
porém outros afirmam que esse fator é menos importante que a intensidade
e a duração do exercício. Treinar menos de dois dias por
semana, em geral não produz alterações adequadas na capacidade
aeróbia ou anaeróbia e na composição corporal.
O potencial esportivo de uma criança depende
de seu desenvolvimento físico e mental (BOMPA, 2002).
Para GONCALVES (1998), os principais fatores que devem ser considerados no
programa de preparação física para o futebol, são:
- Aumentar a capacidade do sistema respiratório (aeróbio e anaeróbio);
- Aumentar o volume de bombeamento sangüíneo pelo coração
e o sistema circulatório;
- Hipertrofiar os músculos necessários;
- Aumentar a força dos grupos musculares necessários e suas relações
com tendões e ligamentos;
- Diminuir a presença do ácido lático muscular durante
e depois da atividade do futebol.
Treinamentos seletivos
para os esportes não são necessários
antes da fase pré-púbere de desenvolvimento.
A recomendação é não aplicar
uma organização formal de atividades
no contexto do jogo por diversão, adquirindo
assim habilidades motoras (REILLY; BANGSBO; FRANKS,
2000).
O treinamento individualizado é importante, mas
deveria começar após a maturidade completa (DI SALVO; PIGOZZI,
1998), pois após a puberdade inicia a etapa de preparação
física intensa e desenvolvimento das capacidades individuais (GOLOMAZOV;
SHIRVA, 1996). O período pubertário será o ideal para proporcionar
o desenvolvimento da força rápida e da potência. Cuidados
devem ser tomados, pois o exercício anaeróbio exige uma elevada
solicitação de ossos, articulações e tecidos moles
(músculos, tendões etc.). Isso pode ocasionar lesões nos
jovens em desenvolvimento (ALMEIDA, 2002).
A especialização no esporte de alto nível é necessária,
mas ela deveria ocorrer o mais tarde possível e com base numa estrutura
de treinamento adequada ao desenvolvimento, que propiciará uma aquisição
adequada das habilidades e um desenvolvimento harmonioso do jovem (WEINECK, 1991).
Relatos de um estudo russo concluíram que a especialização
esportiva não deve começar antes da idade de 15 ou 16 anos na maioria
dos esportes (BOMPA, 2002).
O autor afirma ainda que após um desenvolvimento
multilateral no início da vida atlética, os jovens atingem o período
de treinamento especializado entre 15 e 18 anos, podendo assim atingir o ápice
esportivo futuramente. Mesmo durante a etapa de especialização
do desenvolvimento, os atletas devem dedicar apenas de 60 a 80% do tempo de treinamento
a atividades específicas da modalidade.
No estágio da especialização (15
- 18 anos), deve-se monitorar o volume e a intensidade do treinamento, para que
os jovens evoluam com pequeno risco de lesões. Alguns aspectos são
importantes nesta fase (BOMPA, 2002):
- Aumentar o volume de treinamento para repetições e exercícios
específicos a fim de facilitar o aprimoramento do desempenho.
- Envolver sempre que possível os atletas no processo de tomada de decisões;
- O desenvolvimento da força deve começar a atingir os objetivos
da modalidade específica;
- Aumentar progressivamente o volume e a intensidade do treinamento anaeróbio;
- Prática do treinamento mental. Exercícios que desenvolvam concentração,
atenção, pensamento positivo, auto-regulação, visualização
e motivação, a fim de melhorar o desempenho na modalidade.
Na maioria dos esportes de potência e velocidade,
a especialização deve ocorrer no final do período de estirão
de crescimento na adolescência (BOMPA, 2002).
Devido ao grande número de exercícios
e ao excessivo número de repetições, a introdução
de uma variabilidade de atividades e habilidades no processo de aprendizagem
e treinamento não só contribuirá para a prevenção
de lesões, como para evitar o tédio e o desgaste psicológico
dos jovens (BOMPA, 2002). Cargas intensas e monótonas podem ocasionar
um desgaste psicológico, como na utilização acentuada de
treinamentos não adequados à idade - grande motivo de desistência
do esporte. A falta de formação múltipla do organismo acarretará em
prejuízo para a obtenção de habilidades futuras (WEINECK,
1991). Segundo MEDLER, citado por WEINECK (2000), deve-se ter cuidado no treinamento
ministrado para crianças e adolescentes para serem evitados os momentos
de monotonia e enfado, assim como os momentos de dor e de sofrimento que se relacionam
com o treinamento da resistência aeróbia. A especialização
precoce nas categorias menores (infantil e juvenil), apesar de se obterem bons
resultados no princípio, deve ser observada com cuidado, pois poderá levar
ao encurtamento da vida profissional do atleta. O uso de cargas específicas
antes do momento oportuno gera estresse físico e emocional acentuado,
podendo afastar os jovens dos treinamentos e competições (FILIN
e VOLKOV, citado por AUGUSTI, 2001). MATVEEV, citado por AUGUSTI (2001) também
concorda que a especialização precoce fará que o jovem,
ao chegar à fase adulta, não será mais capaz de desenvolver
e atingir os bons resultados que obteve durante a infância.
Para não ocorrer uma especialização
prematura, devem ser considerados os aspectos do treinamento adequado à idade
e ao desenvolvimento, ou seja, a capacidade da criança suportar carga é limitada,
podendo ocorrer desgaste prematuro de cartilagem, ossos, tendões e ligamentos.
Superexigência funcional pode acarretar em redução da amplitude
da articulação, com respectiva sobrecarga dos segmentos articulares,
ocasionando prejuízo no processo de treinamento (WEINECK, 1991).
A especificidade excessiva no treinamento pode resultar
em lesões por overuse. Para ALMEIDA (2002), as lesões por overuse
são características de esportes anaeróbios que requerem
períodos de atividade de potência máxima ou quase máxima.
Outro risco que pode ocorrer na especificidade excessiva, segundo BOMPA (2002), é o
desequilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas do movimento
específico. A utilização de novos exercícios desenvolverá também
a agilidade e a coordenação, auxiliando no processo de aquisição
de novas habilidades e evitando lesões por esforços repetitivos.
Outro aspecto importante na programação
esportiva é a nutrição dos atletas. Para GONCALVES (1998),
os atletas necessitam de uma dieta balanceada, baseada em nutrientes necessários
para a requisição diária do organismo e a performance nas
atividades. REILLY (1997) afirma que a nutrição adequada, verificada
por meio dos índices iniciais de glicogênio muscular, é um
aspecto que pode diminuir a fadiga.
Conclusão
Pode-se concluir que o treinamento tanto técnico,
como tático ou físico fornecido a crianças e jovens deve
ser muito bem estudado, elaborado e conduzido por treinadores e preparadores
físicos. As características biológicas e maturacionais devem
ser levadas em consideração na programação do treinamento.
Um erro muito comum encontrado em treinamentos em equipes de competição
relaciona-se ao fornecimento da mesma carga e intensidade para todos os atletas,
isso é um erro muito grave que poderá acarretar problemas futuros
aos jovens atletas.
Portanto, não se pode esquecer a afirmação
que se encontra logo no início deste artigo: "As crianças
não são adultos em miniaturas...".
Somente a observação criteriosa de todos
esses fatores durante o treinamento, poderá obter o máximo rendimento
de um jovem desportista, sem prejudicar o seu desenvolvimento físico harmonioso
e conseqüentemente sem prejudicar sua carreira.
Com isso, procura-se auxiliar os profissionais que ministram
e orientam os treinamentos para crianças e jovens há elaborar programas
que sejam adequados a cada faixa etária e nível de maturação.
Segundo CUNHA (2003) muitos treinadores e preparadores físicos não
utilizam métodos mais científicos durante o treinamento devido
a problemas estruturais em seus clubes.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA. M. Os jovens e a performance anaeróbia. Treino Desportivo,
Lisboa, n. 20, p. 18-25, out. 2002. (Número Especial).
AUGUSTI, M. Treinamento de endurance para crianças e adolescentes. In:
Revista Digital, Buenos Aires, ano 7, n. 37, jun. 2001. Disponível em: <www.efdeportes.com>.
Acesso em: 15 nov. 2001.
BARBANTI, V. J. Dicionário de Educação Física e
Esporte. 2. ed. Barueri: Manole, 2003. 634 p.
BOMPA, T. O. Treinamento Total para Jovens Campeões. Tradução
de Cássia Maria Nasser. Revisão Científica de Aylton J.
Figueira Jr. Barueri: Manole, 2002. 248 p.
BOSCO, C. Aspectos fisiológicos de la preparación física
del futbolista. Revisão e Adaptação de Jordi Mateo Vila.
2. ed. Barcelona: Paidotribo, 1994.
CUNHA, F. A. Estudo do treinamento físico aplicado à categoria
juvenil (sub-17) em equipes de futebol do Estado de São Paulo. 2003.
138f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Guarulhos, Guarulhos.
2003.
DI SALVO, V.; PIGOZZI, F. Physical training of football players based on their
positional rules in the team. The Journal of Sports Medicine and Physical Fitness,
[S.l., s.n.], v. 38, p. 294-297, dez. 1998.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês,
crianças, adolescentes e adultos. Tradução de Maria Aparecida
da Silva Pereira Araújo. São Paulo: Phorte, 2001. 641 p.
GODINHO, M; MENDES, R; BARREIROS, J. Informação de retorno e
aprendizagem. Revista Horizonte, Lisboa: [s.n.], v. XI, n. 66, p. 217-220,
mar./abr. 1995.
GOLOMAZOV, S.; SHIRVA, B. Futebol: treino da qualidade do movimento para atletas
jovens. Adaptação Técnica e Científica de Antonio
Carlos Gomes e Marcelo Mantovani. São Paulo: FMU, 1996.
GONCALVES, J. T. The Principles of Brazilian Soccer. Spring City: Reedswain,
1998. Cap. 5, p. 63-85.
ISAYAMA, H. F.; GALLARDO, J. S. P. Desenvolvimento motor: análise dos
estudos brasileiros sobre habilidades motoras fundamentais. Revista de Educação
Física/UEM, Maringá: UEM/DEF, v. 9, n. 1, p. 75-82, 1998.
KUNZE, A. Futebol. Tradução de Ana Maria de Oliveira Mendonça.
Revisão Científica de Eduardo Vingada. Colecção
Desporto n. 10. Lisboa: Estampa, 1987. Cap. 6, p. 129-141. (Condição
Física).
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício:
Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Tradução
de Giuseppe Taranto. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 510 p.
McGOWN, C. O Ensino da técnica desportiva. Treino Desportivo, Lisboa:
[s.n.], II série, n. 22, p. 15-22, dez. 1991.
REILLY, T. Energetics of high-intensity exercise (soccer) with particular reference
to fadigue. Journal of Sports Sciences, [S.l.]: E. & F.N. Spon, v. 15,
p. 257-263, 1997.
REILLY, T.; BANGSBO, J.; FRANKS, A. Anthropometric and physiological predispositions
for elite soccer. Journal of Sports Sciences, [S.l.]: Taylor & Francis,
v. 18, p. 669-683, 2000.
SANDSTRÖM, C.I. A Psicologia da Infância e da Adolescência.
Tradução de Álvaro Cabral. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1975. 289 p.
SANTOS, J. A. R. Preparador Físico: Realidade, logro ou utopia? Revista
Horizonte, Lisboa: [s.n.], v. IX, n. 51, p. 101-112, set./out. 1992.
TONELLO, M. G. M.; PELLEGRINI, A. M. A utilização da demonstração
para a aprendizagem de habilidades motoras em aulas de Educação
Física. Revista Paulista de Educação Física, São
Paulo: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade
de São Paulo, v. 12, n. 2, p. 107-114, jul./dez. 1998.
TOURINHO FILHO, H.; TOURINHO, L. S. P. R. Crianças, adolescentes e atividade
física: aspectos maturacionais e funcionais. Revista Paulista de Educação
Física, São Paulo: Escola de Educação Física
e Esporte da Universidade de São Paulo, v. 12, n. 1, p. 71-84, jan./jun.
1998.
VILLAR, R.; DENADAI, B. S. Efeitos da idade na aptidão física
em meninos praticantes de futebol de 9 a 15 anos. Motriz, Rio Claro: Departamento
de Educação Física do Instituto de Biociências da
Universidade Estadual Paulista, v. 7, n. 2, p. 93-98, dez. 2001.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. Tradução de Anita Viviani. Verificação
Científica de Valdir Barbanti. São Paulo: Manole, 1991. Cap.
5, p. 245-318.
______. Futebol Total: o treinamento físico no futebol. Tradução
de Sérgio Roberto Ferreira Batista. Verificação Científica
de Francisco Navarro e Reury Frank P. Bacurau. Guarulhos: Phorte, 2000. 555
p.