FUTEBOL
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
DO FUTEBOL
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
O futebol é uma das
modalidades esportivas que apresenta a maior dificuldade
para a sua caracterização com relação
ao esforço físico requerido. Nos 100
metros rasos do atletismo ou na maratona é fácil
definir, são esportes com predominância
anaeróbica e aeróbica, respectivamente.
Mas o futebol apresenta características particulares
em cada movimento. Este estudo tenta por meio de uma
revisão de literatura caracterizar o esforço
físico do futebol.
O respeito pela multiplicidade expressiva do homem no
futebol permitirá a "criação" de um modelo de
jogador desenvolvido e sem carências gritantes. Por via das exigências
analíticas se é forçado por vezes a separar o sujeito-atuante
(motor), do sujeito-sentimento (afetivo) e do sujeito-pensante (cognitivo), mas
não se poderá perder de vista a indissociabilidade de todas as
vertentes que caracterizam o homem em situação, o homem como unidade,
uno na sua diversidade (SANTOS, 1992).
O futebol é uma modalidade esportiva intermitente,
com constantes mudanças de intensidade e atividades. A imprevisibilidade
dos acontecimentos e ações durante uma partida exige que o atleta
esteja preparado para reagir aos mais diferentes estímulos, da maneira
mais eficiente possível (BARBANTI, 1996). REILLY (1997) afirma que a maioria
das atividades relacionadas com o futebol competitivo é de intensidade
submáxima.
A principal via metabólica durante o futebol competitivo é a
aeróbia e as respostas metabólicas são em geral análogas às
encontradas nos exercícios de endurance. A maioria das atividades é composta
de movimentos sem bola (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000).
O futebol compreende vários tipos de deslocamentos,
embora a caminhada e o trote sejam predominantes. É necessário
treinar a capacidade de resistência aeróbia para que os jogadores
possam se movimentar, durante os 90 minutos, com períodos de movimentos
de alta intensidade, como acelerações em pequenas distâncias
(YAMANEKA; ASAMI; TOGARI et al., citado por PERES, 1996).
Segundo MARTIN (2002, p. 2): "O futebol é um
jogo no qual as demandas fisiológicas são multifatoriais e variam
durante a partida e encontra-se alta concentração de lactato sangüíneo
e elevada concentração de amônia durante o período
de jogo, fato que indica que ocorre maior metabolismo muscular e alterações
iônicas e estas alterações levam à fadiga".
Ainda de acordo com MARTIN (2002, p. 3): "O futebol é caracterizado
como exercício de alta intensidade intermitente e a relação
entre o repouso e períodos de baixa e grande intensidades variam de acordo
com o estilo individual de jogar, mas o mais importante é a posição
de jogador em campo, já que o jogador corre aproximadamente 10 km por
partida, sendo que entre 8 - 18% é na maior velocidade individual".
De acordo com REILLY (1997), a intensidade do exercício
durante o jogo pode ser determinada pela distância percorrida. O autor
encontrou valores entre oito e doze quilômetros. Para BANGSBO, citado por
MARTIN (2002), chegam a onze quilômetros, e segundo HELGERUD et al. (2001),
os valores estão entre nove e onze quilômetros. RICO-SANZ, ZHENDER,
BUCHLI, DAMBACH e BOUTELLIER, citado por MARTIN (2002) definem o futebol como
um esporte de endurance de intensidade alternada.
O desempenho no futebol é caracterizado pela grande
demanda de potência anaeróbia, pois a concentração
de lactato sangüíneo pode chegar, durante a partida, a valores de
8 a 12 mmol/l (EKBLOM; AGNEVIK, citado por BOSCO, 1994; EKBLOM, citado por MARTIN,
2002).
MAYHEW e WENGER (1985) realizaram um estudo sobre análise
de movimentos em futebolistas e constataram que o futebol é uma atividade
predominantemente aeróbia, com somente 12% do tempo de jogo gasto com
atividades que utilizam substratos energéticos anaeróbicos. Para
BOSCO (1994), 11% da distância total é percorrida sob a forma de
sprint. Constata-se que o sistema anaeróbio alático é o
principal sistema anaeróbio da modalidade. O futebol é um esporte
com componentes anaeróbios aláticos e láticos (MARTIN, 2002).
Existem características fisiológicas específicas
para essa modalidade esportiva. As posições específicas
também apresentam características fisiológicas diferenciadas
(BARBANTI, 1996). É evidente que as demandas fisiológicas do futebol
variam com a taxa de trabalho em diferentes posições (REILLY; BANGSBO;
FRANKS, 2000).
Um estudo realizado durante a Copa América de
1995, no Uruguai, constatou uma porcentagem de gordura em torno de 11% e massa
muscular de 62% (REINZI et al., citado por REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000). As
características antropométricas apresentam uma certa heterogeneidade
entre cada posição. Os goleiros e os zagueiros são mais
altos que os jogadores de outras posições, por exemplo (REILLY;
BANGSBO; FRANKS, 2000).
Os valores máximos de VO2 encontrados em estudos
ficam em torno de 56 e 69 ml/kg/min (BOSCO, citado por BOSCO, 1994; REILLY, citado
por REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000). São valores próximos aos de
outros esportes coletivos, mas baixos em relação a esportes de
endurance, que chegam perto de 80 ml/kg/min (REILLY e SECHER, citado por REILLY;
BANGSBO; FRANKS, 2000). Existem variações no VO2 máx. em
relação às diferentes posições (REILLY; BANGSBO;
FRANKS, 2000). Atletas com maiores índices de VO2 máx. tendem a
participar mais das partidas (HELGERUD et al., 2001), apresentando um menor índice
de fadiga (REILLY, 1997).
O somatotipo tende a ficar estável mesmo com o
incremento da idade (VIVIANI; CASAGRANDE; TONIUTTO, 1993). Jogadores devem se
adaptar às exigências do jogo para poderem competir num alto nível.
Assim, a condição física dos atletas de elite pode indicar
a demanda fisiológica do jogo (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000). Para REILLY
(1997), o estilo de jogar influencia nas demandas fisiológicas dos jogadores.
Segundo REILLY et al. (2000), as características que devem ser trabalhadas
para se chegar ao profissionalismo são: resistência aeróbia,
velocidade, força, flexibilidade, agilidade, composição
corporal (percentil de gordura) e somatotipo.
MELO (1997) define que os atletas de futebol possuem características
físicas específicas por posição.
Goleiro: força explosiva, flexibilidade, equilíbrio, resistência
muscular localizada e velocidade de reação.
Laterais: força explosiva, resistência e coordenação.
Zagueiros: força, impulsão, equilíbrio, velocidade de
reação e agilidade.
Meio-campo: resistência, coordenação, recuperação
e velocidade.
Atacantes: velocidade, agilidade, equilíbrio e força explosiva.
De acordo com GARCIA, MUIÑO e TELEÑA (1977),
o futebol exige resistência, velocidade, agilidade e força. Para
KUNZE (1987), o futebol exige uma série de capacidades, resistência,
velocidade e força como princípios decisivos, mas também
agilidade e flexibilidade. A resistência tem sua importância para
desempenhar uma boa performance durante todo o jogo. A velocidade é necessária
para percorrer as distâncias curtas o mais rápido possível.
Afirma também que a ligação entre as capacidades é de
extrema importância, como também entre a velocidade e a agilidade. Para
VIVIANI, CASAGRANDE e TONIUTTO (1993), muitas qualidades são exigidas
para uma boa performance de um jogador de futebol: destreza, força, velocidade
de mobilidade articular e habilidade. Essas características independem
da posição dos atletas. Para SCHMID e ALEJO (2002), o futebol requer
força, potência, velocidade, agilidade e resistência. Destacam
que, apesar da importância dessas capacidades, a velocidade é talvez
a mais importante. O simples fato de essa capacidade estar em evidência
pode mudar uma partida.
GARRETT e KIRKENDALL, citado por OLIVEIRA (2000, p. 55)
afirmam que "a habilidade controlada com mudanças rápida de
direção, parece ser uma característica inerente aos jogadores
de futebol ou de outros esportes coletivos".
O jogador deve possuir uma grande bagagem técnica,
para que por meio da condição física possa estar apto a
desenvolver estratégias e funções táticas (SANTOS,
1992).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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