TORCIDAS ORGANIZADAS,
SINÔNIMOS DE VIOLÊNCIA?
Christiana Pereira de Barros1
Luiz Fernando de Sousa Silva1
Tiago de Souza Costa1
Alice Almerita Machado Burkowski 2
____________________________________________________
1
Acadêmicos dos Cursos de Educação
Física da Faculdade Metodista Granbery, Juiz de
Fora/MG.
luizfernando-ss@hotmail.com, chris.nut@hotmail.com , tiagodesouzacosta@hotmail.com
2 Professora orientadora, docente dos Cursos de Educação Física
da Faculdade Metodista Granbery.
alicebkw@gmail.com
____________________________________________________
RESUMO
O
presente trabalho é uma resenha crítica
acerca do artigo “Origem, Evolução
e Composição das Torcidas”, escrito
por Fabio
Aires da Cunha no ano 2003. A obra foi publicada
pelo diário eletrônico Cooperativa do Fitness.
E apresenta um pouco da história do fenômeno
das torcidas organizadas, desde sua origem em Portugal
no final do século XX até os dias atuais,
expondo os motivos que levaram a inserção
da violência neste ambiente, razões entendíveis,
mas não plausíveis para a utilização
de atos violentos pelas torcidas. Durante o mesmo serão
apresentadas análises produzidas pelos discentes
responsáveis pela resenha, além de opiniões
de mais três autores, retiradas das obras: “Violência
entre Torcidas Organizadas de Futebol”, “A
Violência das Torcidas e Racismo no Futebol: O
que a escola tem com isto?” e “Relacionamento
entre Torcidas Organizadas e a Sociabilidade com os Membros
Femininos”.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta
uma resenha crítica
acerca do artigo “Origem, Evolução
e Composição das Torcidas”, escrito
por Fabio Aires da Cunha no ano 2003. A obra publicada
pelo diário eletrônico Cooperativa do Fitness
trata de um texto expositivo no qual o autor apresenta
como tema as torcidas organizadas e, aborda desde sua
origem em Portugal na década de 80 do século
XX, com as torcidas uniformizadas, passando por sua evolução
no decorrer da história, ilustrando as causas
e conseqüências da inserção
da violência nesta que deveria ser uma prática
saudável de apreciação do esporte.
Apontando por último, maneiras profiláticas
contra o seu agravamento e possíveis medidas para
a extinção da brutalidade neste cenário.
No decorrer da resenha serão expostas apreciações
dos discentes responsáveis pela mesma, e opiniões
de mais três autores a cerca do tema, opiniões
estas retiradas de artigos publicados pelos mesmos: Carlos
Alberto Máximo Pimenta, Doutor e Mestre em Ciências
Sociais pela PUC/SP; Adelgício Ribeiro de Paula,
Mestre em Educação pela UNINOVE e; Viviane
Hansen da Silva, Mestre em Educação Física
pela UFPR.
2. DESENVOLVIMENTO
A obra trata da origem e da evolução durante
os anos das torcidas organizadas no âmbito do futebol.
Seu surgimento oficial, já de forma organizada,
ocorreu em Portugal no fim da década de 1970,
com as torcidas uniformizadas, tendo na década
de 80 o seu auge.
A violência proveniente das arquibancadas teve
início na Inglaterra, com os hoolingans durante
a década de 50. Porém, anteriormente já era
possível observar casos de violências em
jogos de futebol, na Inglaterra (1880), ocasionado pelas
multidões. Um dos fatores que contribuíram
para o hooliganismo foi a falta de um agente regulador
dos jovens que iam aos jogos, depois da II Guerra Mundial,
uma vez que antes desta eles eram acompanhados por diferentes
grupos etários, seja de sua família ou
vizinhança, tendo seu comportamento controlado.
Infelizmente essas pessoas, ligadas aos atos de violência
das torcidas organizadas, estão crescendo mais
em relação às juntas educacionais
e prisões, magistrados e polícia, e as
ações filantrópicas não estão
sendo eficientes na sua regeneração.
Atualmente, as brigas entre torcidas organizadas, que
anteriormente ocorria entre equipes rivais, passaram
a acontecer entre as do mesmo clube e, ferindo inocentes,
somente pelo motivo de estar utilizando camisa de uma
equipe adversária ou até mesmo de uma torcida
organizada do clube diferente dos demais. O confronto
também passou a ser travado com órgãos
públicos, como Polícia Civil e Militar,
sendo, muitas vezes, feito atos de vandalismo contra
patrimônio público e particular. Com o auxílio
dos meios de comunicação, brigas são
marcadas com antecedência através da internet,
por programas como Orkut e MSN, formas de relacionamento
virtual. Durante essa evolução foram aderidos
pela torcida, camisas, bandeiras, apitos, cornetas, papéis
picados e até fumaça colorida e sinalizadores
nas cores das equipes.
Na Europa esses atos de vandalismo foram duramente punidos,
sendo que hoje é cada vez mais raro um acontecimento
como este e, uma das conseqüências do seu
fim é a falta de divisória entre a arquibancada
e o campo, nos estádios da Europa. Mesmo sem nenhum
tipo de separação em relação
ao gramado, os torcedores se mantêm nos seus lugares
sem nenhum tipo de tumulto, o que também se deve à política,
primeiramente punitiva, e em um segundo caso, educativa,
com intenção de prevenir novos casos.
O objetivo das torcidas organizadas está ligado à aquisição
de respeito, sendo, para isto, utilizados slogans e símbolos
que além de incitar a violência, demonstrem
sua superioridade. Hoje em dia, as torcidas organizadas
são constituídas cada vez mais por adolescentes
que se tornam agressivos e sem comando, que têm
por características similares serem: “companheiros
de idade em situações idênticas,
sem organização explícita e ausência
de liderança... delinqüência juvenil,...
experiências negativas no processo de integração
social.” (CUNHA, 2003).
As torcidas organizadas têm se tornado cada vez
mais um comércio, fonte de lucro através
da venda de produtos ligados ao clube e a uma torcida
específica, e como todo comércio necessita
de uma propaganda positiva. E no caso se trata de uma
equipe vencedora, e para tal fazem pressão sobre
o clube, seus dirigentes e jogadores, se utilizando também
da imprensa como transmissora das informações
e insatisfações. Sendo muitas vezes responsáveis
por mudanças nos resultados das partidas e na
administração dos seus clubes, tanto na
contratação e dispensa de técnicos,
jogadores e dirigentes. Acreditando ter uma eficaz participação
no clube.
Portanto, o surgimento das torcidas organizadas é um
fenômeno sócio-cultural. E para o seu controle
se faz necessário uma vasta mudança na
estrutura político-social, acompanhada de estudos
específicos nesta área. Ao adotar uma política
de punição aos infratores e de (re)educação
(nas escolas, com palestras e campanhas publicitárias),
estaremos prevenindo possíveis incidentes e formando
cidadãos mais conscientes e críticos quanto à realidade
das torcidas organizadas no país.
Infelizmente a força da torcida é, muitas
vezes, utilizadas de forma errada, sabemos que o apoio
da arquibancada pode mexer com o brio dos jogadores e
modificar totalmente a história do jogo, por isso,
cremos que com essas modificações apresentadas
pelo autor do texto acarretará na melhora do espetáculo,
dando novamente o seu brilho característico.
3.CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Acredito que o texto é de grande relevância
para as pessoas que estão envoltas no ambiente
do futebol, independente de idade, escolaridade ou classe
social, pois além de mostrar a origem das torcidas
organizadas e da violência presente nas mesmas,
contribuindo para uma melhor compreensão acerca
do assunto, é uma excelente aquisição
de conhecimento e também de grande valia cultural.
Fabio Aires da Cunha é graduado em Esporte pela
Universidade de São Paulo, com especialização
em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol
pela Universidade Gama Filho, e em Ciências do
Movimento pela Universidade Guarulhos (UNG), além
de ser Mestre em Ciências do Movimento pela própria
UNG. O autor possui 25 (vinte e cinco) artigos publicados
em periódicos, 4 (quatro) textos em jornais de
notícias e revistas além de 1 (um) resumo
publicado em anais de congressos e 1 (um) livro publicado.
Esta resenha crítica foi produzida em conjunto
pelos discentes Christiana Pereira de Barros, Luiz Fernando
de Sousa Silva e Tiago de Souza Costa, acadêmicos
do Curso de Educação Física Bacharelado
da Faculdade Metodista Granbery (FMG).
REFERÊNCIAS
CUNHA, F. A. Origem, Evolução e Composição
das Torcidas. In: Cooperativa do Fitness. 2003. Disponível
em: <http://www.cdof.com.br/futebol15.htm>. Acessado
em: 21 de Novembro de 2008.
PAULA, A. R. A Violência das Torcidas e Racismo
no Futebol: O que a escola tem com isto?. In: Revista
Urutágua. Maringá, n. 07, 2005. Disponível
em: <http://www.urutagua.uem.br/007/07paula.htm>.
Acessado em: 21 de Novembro de 2008.
PIMENTA, C. A. M. Violência entre Torcidas Organizadas
de Futebol. In: São Paulo em Perspectiva. São
Paulo. v.14, 2001, p. 122-128. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo...>.
Acessado em: 21 de Novembro de 2008.
SILVA, V. H. Relacionamento entre Torcidas Organizadas
e a Sociabilidade com os Membros Femininos. In: Revista
Digital. Buenos Aires, ano 10, n° 79 – Dezembro
de 2004. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd79/torcidas.htm>.
Acessado em: 21 de Novembro de 2008.
TOLEDO, L. H. Torcidas Organizadas de Futebol. Campinas:
Autores Associados/Anpocs, 1996.
APÊNDICE A – Fichamento do artigo “Relacionamento
entre Torcidas Organizadas e a Sociabilidade com os Membros
Femininos”
SILVA, V. H. Relacionamento entre Torcidas Organizadas
e a Sociabilidade com os Membros Femininos. In: Revista
Digital. Buenos Aires, ano 10, n° 79 – Dezembro
de 2004. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd79/torcidas.htm>.
Acessado em: 21 de Novembro de 2008.
O artigo trata das duas relações que permeiam
as Torcidas Organizadas de Futebol (TOF): a inimizade
e a amizade. A fim de argumentar sua opinião a
autora faz uso de exemplificações de casos
ocorridos em jogos entre clubes brasileiros.
As TOFs são associações compostas
de membros de ambos os sexos para apoiar o seu time e
buscar reconhecimento a nível estadual e nacional,
que pode ser considerado a sociabilidade com outras torcidas
e poder e prestígio adquiridos perante as mesmas,
sabemos também que os meios de comunicação
têm um importante papel no que tange a demonstração
de poder das torcidas, uma vez que constantemente expõe
gráficos quantitativos a respeito do número
de torcedores de cada equipe, seja por cidade, estado
ou país. O que aumenta a rivalidade entre os clubes.
Demonstrando que a rivalidade de dentro do campo ultrapassa
os limites do gramado e chega às arquibancadas.
O que gera atritos e discussões. Mas como a busca é muitas
vezes pelos mesmos interesses, no outro lado da moeda, é possível
observar a sociabilização entre diferentes
TOFs, formando alianças, “demonstrando que
não só de rivalidade é feito o futebol
brasileiro.” (SILVA, 2004).
Durante o texto se fala das recomendações
das TOFs sobre a utilização de camisas
de clubes e torcidas em dias de jogos, que deve ser evitada,
como forma de precaução de confusões.
E também sobre a não agressão das
mulheres durante as brigas, o que demonstra um pouco
de civilidade dos agressores, que orientam o afastamento
das mesmas nos momentos anteriores às brigas.
Sabemos também que umas das outras regras dos
integrantes das TOFs que participam de brigas é a
não-agressão de idosos, crianças
e deficientes. Mas infelizmente muitos fazem uso das
confusões geradas nos arredores dos estádios
como forma de assaltar os desprevenidos. E apesar de
a agressão física ser evitada, o mesmo
não ocorre com a verbal, uma vez que constantemente
ouvem comentários grosseiros partidos de torcedores
rivais ou do mesmo clube.
Muitas vezes ocorrem alianças entre as Torcidas
de clubes distintos baseadas na reciprocidade, que evoca
a esfera da reciprocidade, poder e prestígio (Toledo,
1996, p. 105). E têm como base a hospitalidade
entre ambas, principalmente na recepção
em jogos realizados pelas duas equipes. Nessas partidas
a presença feminina aumenta, devido à aparente
ausência de conflitos, tanto nos estádios
quanto nos seus arredores. Mas essa aliança pode
ser quebrada por vários fatores, dentre eles o
desrespeito com as mulheres da torcida co-irmã,
além de torcedores idosos, deficientes e crianças.
APÊNDICE B – Fichamento do artigo: “
Violência entre Torcidas Organizadas de Futebol”
PIMENTA, C. A. M. Violência
entre Torcidas Organizadas de Futebol. In: São
Paulo em Perspectiva. São
Paulo. v.14, 2001, p. 122-128. Disponível em: <http://www.scielo.br/...>.
Acessado em: 21 de Novembro de 2008.
A violência nos jogos de futebol no que se refere
aos jogadores não é um evento recente.
Todavia, é inédito o fato de tal violência
estar difundida em meio a um movimento de jovens, os
quais passam à sociedade um novo contexto simbólico
e cultural. Cremos que o comportamento do torcedor mudou
muito, passando de uma simples mobilização
de camadas da sociedade que apreciam e torcem por um
time de escolha particular, para uma massa organizada
com caráter burocrático/militar.
Nas décadas de 60 e 70, o Brasil passava por uma
busca do avanço econômico e, a cidade de
São Paulo, por um processo de crescimento populacional
urbano. Em meio a estas modificações começam
a surgir as torcidas organizadas e fica clara para nós
a impossibilidade de dissociar tais torcidas dos aspectos
políticos, econômicos e culturais da sociedade.
O conflito pelo poder econômico e social marcou
a construção do espaço urbano de
grandes cidades, onde o que realmente interessava era
o capital. Este sistema marcou inclusive a constituição
da identidade do jovem que neste período se formava
como cidadão, despertando a disputa prazerosa
entre grupos rivais, o que levou a um afastamento da
noção de coletivo. Portanto, o aumento
dos atos de violência entre as torcidas é provindo
destes sujeitos, jovens individualizados sem consciência
social ou coletiva.
A seguir está uma parte da entrevista de um repórter
a um torcedor, publicada no programa “Apito Final”,
do jornalista Armando Nogueira, em agosto de 1995, pela
rede bandeirantes de TV:
Repórter: “Você chegou a bater em
alguém?”
Torcedor: “Não sei...”
R: “Você se defendeu pelo menos?”
T: “Defendi...”.
R: “O que você acha disso, você gosta?”
T: “Gosto... é só pra chegar em casa
e ter o prazer de tirar um barato com os meus amigos.”
R: “Não importa que alguém morra
nisso?”
T: “Mão sendo amigo meu, tudo bem!”
Após uma competição com entrada
gratuita em 20/08/1995, em São Paulo, o repórter
Flávio Prado entende que: “(...) Esses jogos
de graça, envolvendo grandes equipes, são ótimos
pretextos para que esses marginais compareçam” (PIMENTA,
2001). A solução encontrada em tais declarações é a
intervenção policial ou a majoração
dos ingressos. O problema da violência tanto aos
olhos dos torcedores quanto aos olhos das autoridades
esportivas permanecem no eixo da economia e das classes
sociais.
No período entre os anos 1992 e 1994 os confrontos
passaram a ser constantes e os instrumentos utilizados
para defesa ou ataque, como bombas e armas de fogo ocasionavam
lesões de natureza grave. Nota-se aqui, a intenção
do torcedor organizado ao assistir os jogos: transformar
os estádios em arenas de disputa violenta e coletiva.
Contudo isto não significa que antes do período
descrito não havia briga, mas, estas eram sem
o uso de armas.
Os novos membros, geralmente entre 12 e 18 anos, são
atraídos por aspectos estético-lúdico-simbólico
disponibilizados à massa jovem, intimamente ligados
ao modelo de sociedade de consumo instaurado no Brasil,
tais como a vestimenta, a força e a coesão
do grupo, além do estilo de vida e do prazer da
violência. À medida que cresciam os números
estatísticos do aumento da violência nas
torcidas, crescia também a procura por filiações.
Vemos que a violência começa de forma verbal
e, quando os ânimos já estão alterados,
parte-se para a violência física, sendo
o primeiro um aquecimento para algo maior que está por
vir.
Os dirigentes dos times acham que a culpa para o brusco
aumento da violência está na mídia – que
tem de vender manchetes – e no próprio jogo.
Segundo Jamelão, ex-presidente da “Gaviões
da Fiel”:
(...)a imprensa tem que chegar junto com a gente (...),
porque todo aquele que for associado que está na
faixa de 15 à 17 anos, vendo uma matéria
no jornal: ‘são paulino taca bomba no
corintiano”, isso automaticamente fica na memória
dele no próximo jogo, ele vai fazer bomba para
atacar o são-paulino. (...) A imprensa ao invés
de colaborar e querer saber quais os pontos para ter
uma solução, eles preferem vender a imagem,
vender jornal (...). (PIMENTA, 2001)
Representantes das torcidas argumentam que existem vários
fatores que geram os tumultos, é um detalhe do
bandeirinha, do juiz, do policiamento e, até a
condição dos estádios. Quer dizer,
o pouco é o suficiente para levar a torcida às
brigas, uma vez que a mesma já chega na expectativa
de confrontos. Não sendo o torcedor organizado
mais um mero torcedor, mas sim parte do espetáculo,
pois ele expressa seu sentimento de companheirismo e
pertencimento a um grupo que o acolhe.
Portanto, a violência da torcida organizada passou
a ser um incômodo à verdadeira intenção
do esporte, mais um problema sócio-urbano para
as grandes cidades.
Em meio às declarações das autoridades
esportivas e líderes de torcida, listou-se as
seguintes justificativas para a violência: má distribuição
de renda; exploração dos dirigentes esportivos
e dos líderes de torcida; efeitos da criminalidades
e da pobreza; ausência de expectativa de futuro
aos jovens; ausência do Estado, enquanto mentor
de políticas de formação social;
afrouxamento da ordem legal e das posturas repressivas
das instituições de segurança e
justiça; falta de emprego; miséria generalizada;
familiarização com a violência; falta
de infra-estrutura nos estádios de futebol; má arbitragem;
gozações de adversários e; derrota
em uma partida de futebol.
Nenhum dos argumentos é desprezível, mas,
ainda assim, não justificam os excessos observados
entre as torcidas. Visto por nós que, a torcida
possui indivíduos de várias classes sociais
e econômicas e de vários partidos políticos,
não se pode atribuir às práticas
somente questões sociais ou econômicas.
O que se arrisca, por derradeiro, é dizer que
a violência caracterizou-se como parte do cotidiano
urbano contemporâneo, em especial, nos grandes
centros e, a repressão utilizada para manter certa
ordem, contribui também para o deslocamento das
massas para movimentos que lhes ofereça prazer
e excitação, mesmo que as práticas
para se atingir tais sensações sejam envoltas
pela violência.
APÊNDICE C – Fichamento do artigo: “
Violência das Torcidas e Racismo no Futebol - O
que a escola tem com isto?”
PAULA, A. R..
A Violência das Torcidas e Racismo
no Futebol: O que a escola tem com isto?. In: Revista
Urutágua. Maringá, n. 07, 2005. Disponível
em: <http://www.urutagua.uem.br/007/07paula.htm>.
Acessado em: 21 de Novembro de 2008.
Nos últimos anos é notório o aumento
da violência no futebol, não somente entre
os jogadores, mas, sobretudo entre as torcidas. Que na
busca pela afirmação de sua identidade,
têm grande influência da educação
obtida, pois “cada tipo de povo tem um tipo de
educação que lhe é próprio
e que pode servir para defini-lo.” (PAULA, 2005)
O sistema educacional pode criar no indivíduo
um novo ser social. E é nesse sistema que o sujeito
vai ser inserido num modelo de vida em sociedade, desenvolvendo
formas de consenso ou pacto social, tendo as oportunidades
de experimentar e exercer certos padrões de sociabilidade,
ou seja, a internalização da moral social
e do grupo. Em nossa opinião, é na escola
que o aluno tem a chance de debater assuntos que permeiam
a sociedade, sem estar de fato inserido na questão,
permitindo assim ter uma visão exterior do problema,
possibilitando-o debater e chegar a uma resolução
que seja a melhor para todos.
O futebol pode servir como estratégia para fortalecer
as relações de classes entre os participantes,
mas não significa que jogando futebol o indivíduo
alcançará ascensão social. Infelizmente
a Educação Física Escolar tem contribuído
para o desenvolvimento desta desigualdade quando privilegia
esportes de alto rendimento, voltados para competições
escolares, excluindo os menos aptos.
Uma segregação no futebol moderno pode
ser observada quando verificamos o cenário de
exportação de jogadores, mercado que hoje
gera altos lucros. Como a maior parte dos jogadores é exportada
para a Europa, Ásia e Oriente, fica muito mais
viável a comercialização de jogadores
brancos ou que tenham traços semelhantes aos dos
habitantes dos países de destino, facilitando
sua adaptação e a possibilidade de naturalização.
Acreditamos que, desta forma, fica evidente o caráter
racista em tal ação, pois, ao se dar preferência à classe
de jogadores citadas acima, concomitantemente, se esquece
que os mesmos, na maioria das vezes, são afro-descendentes.
E a discriminação não pára
por aí, com tanto interesse capitalista presente
neste esporte, o futebol feminino não tem espaço
e, suas possibilidades de um futuro de sucesso ficam
cada vez mais distante, apesar de, na prática,
as jogadoras da seleção já terem
comprovado que têm muito potencial.
A verdade é que o racismo não se manifesta
somente entre “os poderosos” do time, mas
também entre os torcedores e os próprios
jogadores, como ocorreu na Taça Libertadores da
América do Sul de 2005, quando o jogador do São
Paulo, Grafite, alegou ter sido chamado de negro de m...
e macaco, pelo jogador argentino, Sanches, do Quilmes-ARG.
O caso teve repercussão mundial.
O futebol é um fenômeno urbano, que engloba
andar pelas ruas em grupo, vestindo a camisa do seu time,
construindo para tal grupo uma nova identidade. Fazendo
uma análise sociológica e antropológica,
pode-se constatar que o esporte tem sido usado como forma
de controle social e manipulação das massas. É através
da torcida que o indivíduo extravasa seu sentimento
de repressão perante a sociedade e, pratica atos
que se estivesse sozinho, provavelmente, não os
faria. Na verdade, o torcedor, na arquibancada, demonstra
o seu sentimento de indignação e frustração.
O jogo de futebol em si já demonstra um aspecto
de violência marcado pelo fato de ser um esporte
coletivo e que, no entanto, apresenta uma batalha individual
quando cada jogador deve marcar seu oponente e, o sucesso
na partida vai depender desta marcação
eficaz. Todavia, tal situação não
deveria ser levada a uma disputa pessoal, a qual, muitas
vezes, leve o adversário à condição
de inimigo, como se fosse uma guerra.
Sociologicamente, o futebol é um esporte de integração
do indivíduo celebrando o sentimento de solidariedade
e responsabilidade social, o que pode ser observado ao
serem marcadas disputas casados x solteiros, campo x
cidade, professores x alunos, em sua maioria, com jogos
de volta, fazendo com que ambos os lados interajam na
disputa. Contudo, não é tal sentimento
que vem sendo observado nas disputas e, principalmente,
nos profissionais. Toda esta modificação
na essência do que seria o intuito do jogo de futebol
se reflete na torcida.
Dentro da escola o esporte deve ser ensinado a todos
sem qualquer forma de discriminação. Nela
podem ser vistas alternativas para solucionar os problemas
encontrados na prática esportiva, pois, as regras
e o comportamento da sociedade são amplamente
difundidos. A Educação Física Escolar
deve envolver o aluno em seu próprio conceito
social.
Em função da violência vivida nos
estádios, principalmente se referindo ao torcedor,
em 2004 foi realizada uma pesquisa em uma escola estadual
da periferia de São Paulo, abordando o tema de
torcida organizada entre outras questões. Como
resultado, observou-se que a relação de
fidelidade para a torcida organizada é maior do
que a em relação ao próprio clube
e, grande parte dos entrevistados brigaria por ela, mesmo
sendo de outras regiões. Ou seja, mesmo os próprios
jogadores dos clubes pedindo para que não haja
violência entre as torcidas, pois, além
de todas as conseqüências de uma briga, não
fica bem para o time, existe grande possibilidade de
não serem ouvidos, uma vez que a relação
de honra a ser prestada é com o grupo organizado
e não com o clube.
A preocupação da Escola deve ser, portanto,
contribuir para a formação do homem enquanto
cidadão, através de um processo pedagógico
humanizante. Assim, o cidadão será capaz
de organizar e praticar o lazer de forma mais proveitosa,
difundindo-o na sociedade.
Publicado no cdof: 5/06/2010
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luizfernando-ss@hotmail.com