FUTEBOL
A
ALMA DA COPA
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
Procura-se um verdadeiro
líder na Seleção Brasileira. Hoje
não temos um líder dentro de campo. Apesar
de alguns discordarem do seu futebol, se o Dunga de
1994 estivesse na seleção de hoje, com
certeza o desempenho brasileiro seria muito superior,
não porque ele apresentaria um futebol vistoso,
mas sim porque conduziria os atletas ao seu desempenho
máximo dentro de campo. O Brasil precisa de
um jogador que cobre vontade e dedicação,
que tire os outros atletas do marasmo e da apatia,
esse é o homem que procuramos e não temos
mais.
Por quê estou falando de um líder quando o assunto é outro?
Porque na seleção de 2002, também não tínhamos
esse jogador, mas a equipe tinha um líder apesar dele não entrar
em campo, seu nome... Felipão.
Se o Brasil conquistou o pentacampeonato com ótimas atuações
de Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e da defesa, grande parte deve-se
ao treinador, Luiz Felipe Scolari.
Quatro anos se passaram e ele está de volta a uma Copa do Mundo, infelizmente
não à frente da nossa seleção, mas felizmente à frente
de nossos patrícios e irmãos, Portugal.
No início, os portugueses foram reticentes quanto a sua contratação,
não queriam um estrangeiro, mas aos poucos foram aceitando, admirando
e agora... amando. Com a conquista do vice-campeonato da Eurocopa - é importante
lembrar que Portugal nunca tinha chegado a uma final com sua equipe principal
-, Felipão conquistou o respeito e a tranqüilidade que precisava
para montar a sua equipe para a Copa do Mundo.
Os primeiros jogos vieram, a equipe portuguesa não apresentou um futebol
vistoso, mas foi eficiente, venceu os três jogos. Veio as oitavas e o
primeiro adversário de peso: a Holanda. O jogo não foi espetacular
tecnicamente, mas a vitória conquistada com raça, vontade, dedicação
e muito amor à camisa, mostrou ao mundo quem é Luiz Felipe Scolari.
A TV alemã, geradora das imagens, em nenhuma outra partida mostrou tanto
um técnico como mostrou Felipão nessa partida. Quem nunca acompanhou
futebol ou não conhecia esse gaúcho de Passo Fundo poderia até se
assustar ao ver aquele senhor, quase sexagenário, em coreografias e
movimentos que mais pareciam de uma pessoa à beira de um ataque de nervos,
mas não, aquele era simplesmente Felipão trabalhando. Isso mesmo,
trabalhando.
Muitas pessoas criticam treinadores que ficam berrando na lateral do campo,
dizendo que a maioria do que falam os jogadores não escutam, isso pode
até ser verdade, mas quando os atletas olham para o banco e vêem
o seu treinador motivando-os, pulando, gritando, ou seja, participando do jogo,
muitas vezes o seu rendimento se eleva fazendo com que superem as dificuldades.
Vimos tudo isso no jogo entre Portugal e Holanda. Portugal teve dois jogadores
expulsos, perdeu seu principal jogador desde o começo do jogo e quando
todos achavam que a derrota seria inevitável, quem surge para salvá-los,
desculpem o trocadilho, isso mesmo, Felipão. A atuação
do treinador foi fundamental nessa vitória e será na continuação
do torneio.
Motivador como poucos, Felipão não se preocupa com um futebol
de grande beleza técnica, se preocupa em conduzir equipes que lutem
e busquem as vitórias com o coração. Posso afirmar: uma
Copa do Mundo não se ganha só com técnica, se ganha com
coração e o do Felipão é imenso, com saúde
e com muita determinação.
Os jogadores o têm como um pai. A sua forma de trabalho, como lidera
e se relaciona com o grupo torna o ambiente propício e acolhedor, como
uma família, daí... "Família Scolari".
Voltando ao Brasil, temos os melhores jogadores de futebol do mundo, mas será que
temos a melhor seleção?
Como coloquei no início, se tivéssemos um líder dentro
de campo ou "o líder" fora dele, a conquista do hexacampeonato
seria muito menos árdua e penosa, talvez até fácil. Não
podemos garantir tal afirmação, mas posso garantir que Luiz Felipe
Scolari é, disparado, o melhor treinador do torneio, ele é "a
alma da Copa".
O autor é técnico de futebol, bacharel
em Esporte, mestre em Ciências do Movimento e
autor do livro: Torcidas no futebol - espetáculo
ou vandalismo?
www.fcunha.com.br