FUTEBOL
PERFIL E OPINIÃO DE UM
TREINADOR DE FUTEBOL
José Carlos Rodrigues dos Santos
Orientador: Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
Introdução
Sabemos que no desporto há valores
permanentes de todas as formas tempos ou espaços,
valores esses como a Verdade, a Virtude, a Ética,
a Dignidade, a Coerência, o Fair-Play, que me
importam assumir enquanto Cidadão, Homem, Pai,
e Treinador de futebol, identificando acções
e empregando-as no comportamento... Este é o
Homem... Este é o Treinador... Este é o
Zé Carlos.
A primeira palavra que vem a cabeça
de qualquer pessoa quando se fala da relação
entre clubes e treinadores é "resultado". É obvio
que estamos a falar das pessoas que em abono da verdade
e de uma forma mais acalorada quando se trata do nosso
clube só pensa e fala em ganhar e resultados.
Deixe-me dizer-lhes por vezes eu também ajo assim quando
vou ver o "meu" Sporting de Lisboa e depois chego a um bar qualquer
e com os meus amigos discutimos as peripécias que o jogo envolveu, e sabe
por vezes dou comigo muitas vezes a pensar "eu também sou treinador
e a minha visão não é obviamente esta". Então
com calma e num ambiente de reflexão vem ao de cima o José Carlos
treinador e esse é extrovertido, irreverente, mas metódico e que
tem linhas mestras de acção que assentam, sobretudo nesta trilogia "Respeito/Qualidade/Trabalho".
E quanto aos resultados nem pensar neles, mas vamos desenvolver
e falar um bocadinho sobre isto para me compreender.
Não aceitar tarefas que não sou capaz de concretizar
ou das quais não posso dar garantias.
Eis como o que acima escrevo se poderia tornar uma regra básica
e será???
Quando se chega a um clube a sempre por parte de quem contrata
ou quem é contratado muitas vezes falsas juras de realidade, para mim
esse não é trunfo que um treinador tem de usar. A boa execução
do meu trabalho e dos meus colaboradores, não é sinônimo
de ser campeão ou ganhar um jogo, nem a taça ou torneio. Na minha
opinião a palavra êxito tem a ver com o mundo actual que se vive
hoje no futebol e não só, com algo completamente diferente, ou
seja, progresso do meu clube - "ou será empresa".
Isto que fique claro, não ter a obrigação
de ganhar, não quer dizer que não se faça tudo para que
tal não aconteça, ou seja, obrigação de fazer tudo
para alcançar a vitória.
Sou polêmico e, muitas vezes, incompreendido, mas a minha
filosofia assenta em três princípios fundamentais, bons futebolistas,
boas estratégias e os detalhes. Por isso, quando falo de jogadores, falo
de Dinâmica, Coragem, Motivação. Quando
digo estratégias falo de ser capaz de organizar e de gerir um plantel
para obter vitórias e êxitos.
Quando falo de detalhes refiro-me a ter a capacidade de discernir
os pequenos pormenores que fazem a diferença.
Sou, por isso, um apaixonado a distância. Sou apaixonado
pelo treino, pelo jogo, pelos meus jogadores. Adoro as minhas equipas, tento
e, muitas vezes consigo que os meus jogadores percebam isso, mas também
não deixo que eles se aproximem muito de mim.
Para mim, um treinador não deve dar prioridade ao resultado,
mas sim ao seu trabalho, chamem-me parvo ou idiota, mas eu respondo-lhes que
por meio do meu trabalho tenho muito mais chances de alcançar o resultado
e não o contrário.
Um exemplo, se o Presidente me diz: "- José Carlos
quero ganhar o campeonato!". Eu ouço, compreendo e sei que tem sede
de ganhar, mas como foi falado anteriormente, as realidades financeiras hoje
são demasiadamente pobres por isso respondo-lhe: "- Então
contrate este ou aquele jogador". Então, o Presidente que se calhar
não tem dinheiro, reflecte e vê que esta a pedir o topo. E eu (porque
também é a minha função) faço-o ver que me
deve pedir antes a base, isto por meio da palavra e dos actos.
Por isso ganhar o campeonato e alcançar o topo - é o
menos importante -, a base de tudo é o trabalho; esta é a garantia
de resolução dos nossos problemas.
Como treinador procuro valorizar-me por meio do trabalho e,
transmito aos meus jogadores que o que me interessa e como eles devem conseguir
uma boa execução das suas tarefas. Eu procuro sempre a solução,
e não a explicação.
Para isto aposto na qualidade que acentua em cada aspecto pessoal
e na força de um colectivo, ou seja, utilizar capacidades individuais
ao dispor de uma equipa, estou a transmitir confiança e feedback positivos
para o grupo e assim se eu quero ganhar, acentuo as qualidades positivas e não
as negativas.
Como treinador a minha missão é transmitir aos
jogadores e, sobretudo aos mais jovens que eu sei que com trabalho posso evoluir,
mas eles saberão? Por isso passo tempo a explicar-lhes, porque se não
o fizer como posso eu exigir.
Outro ponto fundamental, as regras, estas tem de ser claras,
eles precisam perceber que é preciso respeitar o homem e o treinador.
E a regra é simples, dentro de alguma flexibilidade, digo o que é obrigatório
e que não tem perdão para quem não cumprir.
Falei-lhe do "distanciamento" que tento manter dos
jogadores, outra regra básica. Nos dias que ocorrerem um relacionamento
entre jogador e treinador isto é meramente profissional. O trabalho por
si já nos une. Repare qual é o objectivo. O progresso dos jogadores,
sendo também fundamental que o clube por meio do nosso trabalho progrida;
por isso quando tem problemas ao nível do jogo eu ouço-os e escuto
propostas, mas quem toma as decisões sou eu. Manter
a distância é fundamental, tem de saber que a última decisão é minha,
para no fundo perceberem quem é o Treinador. Como tal, tiro partido de
tudo o que me rodeia. Procuro identificar os líderes da equipa que muitas
vezes se manifestam por si mesmo.
Observo o seu caracter e, procuro conhecer cada um deles profundamente
para depois executar quando preciso a passagem da mensagem para dentro do grupo.
Tudo gira no futebol e este hoje se tornou muito difícil. Os jogadores
mudaram muito ganham somas astronômicas, ganham muito mais que nós
e isso alterou o panorama eles pensam-se autônomos e muitos deles tem pouquíssima
cultura de base e acadêmica simplesmente tem dois belos pés ou mãos,
rodearam-se de "abutres".
Por isto ou por aquilo ser treinador esta difícil, os
jogadores são ricos, mediatizados, estão inseridos num clima de
pressão e inveja. O que fazer? Desistir? Nem pensar, falta ainda muito.
Ir a "luta" e o mote a partir do momento em que não o faço
não progrido; isso é o que os abutres querem e os jogadores de
uma forma inconsciente colaboram.
Caros amigos, esse é um testemunho real tantas vezes
vivido por mim ou por si ou por qualquer outro colega. Agora perguntamo-nos tantas
e tantas vezes e voltamos a isto: o interesse de uma equipa é sempre mais
importante que o individual?
Todos os jogadores devem aceitar este princípio básico,
isto é, se quiserem ter um entendimento perfeito com os técnicos.
Importante não é somente a beleza do futebol (essa querem os
espectadores) importante não é somente a eficácia (essa
querem os directores e Presidente) as duas quer o Treinador.
Para ganharmos o respeito dos jogadores e sermos líderes
temos de dar o exemplo por meio do trabalho. Por meio dele obtenho respeito e
progresso, isso se vai reflectir na qualidade do mesmo, essa será a melhor
recompensa pelo meu trabalho diário, só depois posso pensar no
resultado.
Sei que tudo isto tem um lado negativo e isso tem um nome -
rotina. Mas quero ser criativo e eliminar isso do meu horizonte, até mesmo
o que ele pode trazer, ou seja, a nossa destruição enquanto indivíduos
e, por conseqüência, como treinadores. Entrar em alerta máximo,
a que ser e manter a imaginação activa e viva.
Este, caríssimos amigos, sou eu. Tenho como vêem
a minha metodologia assentada no trabalho, mas também no estudo e curiosidade
sobre o fenômeno. Tenho muitas vezes para mim que sou um inútil,
mas depois vindo sei lá de onde vem aquela força (Será a
voz? A família?). Obriga-me e torna-me um bom trabalhador.
Sou este que como qualquer um tem família, tem desejos,
tem umas horas para estar num bar, tem... enfim uma vida além do futebol.
Não sou letrado, nem sequer tenho qualquer grau acadêmico,
tenho vontade e perseverança e isso me deu a vida uma enorme capacidade
analítica despertado pela curiosidade do que é o jogo.
Utilizo esta capacidade que a vida me deu e aprendendo com gente como o caríssimo
professor Fabio Cunha.
No treino ou trabalho utilizo o método analítico
para abordagens dos problemas, diagnósticos, soluções disponíveis
e planos de acção.
Imagino muitas vezes... ahhh... se tivesse um curso acadêmico!!!
Uma coisa de certeza, melhoraria a minha qualidade na reflexão e como
identificar melhor a gravidade dos problemas.
Quero também deixar algumas palavras a quem ministra
cursos de capacitação. Formar e ser instruído tem grande
importância. É muito importante e Oxalá os dirigentes os
compreendessem. Eu por mim não duvido, para isso é preciso trabalho
e trabalhar.
Critico aqueles que por terem 15, 20, ou simplesmente um ano de qualquer curso
ou cargo que pensam por o ter, em determinadas alturas estão
relutantes com a sua mentalidade e não vêem o caminho.
Mudar, mesmo que pouco, já é um sinal. Portanto,
está é a base.
Os formadores e licenciados têm de ter tempo, paciência
e muita disponibilidade, aos dirigentes e adeptos e, também compreensão
e tolerância para o processo de desenvolvimento que acentua na formação
e na base dos clubes.
Quem quer hoje ser competitivo tem de apostar numa formação
séria e muito bem estruturada.
Aqueles que dirigem ou simplesmente aqueles que lerem este
documento e que de alguma forma imediata estejam expostos mesmo que a um nível
regional deixo um apelo: Não se deixem influenciar por aqueles que negativamente
influenciam opiniões e que não compreendem a capacidade de entendimento
do jogo.
Para conclusão e no mundo actual, o trabalho de um todo
se tornou fundamental para um grupo, equipa de futebol, família etc.
Nós, os treinadores, já há muito que entendemos
ser este "jogo viciado" e aceitamos (os que aceitam) viver na "corda
bamba" de forma permanente, isto é, uns dias são bestiais
e no outro podem passar a bestas. A facilidade com que somos despedidos (sobretudo
no Brasil) é a mesma com que somos admitidos. Na maioria dos casos o sucesso
do treinador vai depender mais da sorte ou do azar, da bola que bate na trave
e não entra na baliza, do que da qualidade do seu trabalho, e aqui que
entro com esta minha filosofia barata apostador e sonhador do trabalho e da formação,
mas a quem só agora e pelo caríssimo professor foi dada oportunidade
de me expressar desta forma.
Como diz um comentarista (Paulo Jorge Pereira) do Burgo (Portugal)
e da qual eu partilho a opinião: "- Ao jogador pode suceder o técnico,
o dirigente, o administrador, o empresário, o comentarista etc.".
Eu sou José Carlos, a quem um Homem chamado Fabio Cunha
deu oportunidade de se valorizar por meio da leitura, do estudo e do conhecimento
do futebol com mais esta ação de formação. Eu sou
como tanto outros de percurso singular e que já fez um pouco de tudo e
muito de nada... Este é o treinador José Carlos Rodrigues dos Santos.
José Carlos
Alverca - Portugal