FUTEBOL
AVALIAÇÃO FÍSICA
NO FUTEBOL
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
No
futebol moderno e competitivo, todos os detalhes são importantes, e por menores
que possam parecer, podem decidir uma partida. O controle
do treinamento é um detalhe esquecido por muitos
e de extrema importância para o bom rendimento
dos atletas e equipe.
A avaliação física é um método
utilizado para esse controle, mas ela pode ser utilizada com outros objetivos,
como avaliação inicial dos atletas e análise do grupo, não
somente dos indivíduos.
Os testes também são os mais variados possíveis,
desde testes de campo até os laboratoriais. Testes caros e baratos. De
fácil manejo e extremamente complicados e especializados.
BRAVO (2004) coloca que os testes devem seguir alguns métodos
para verificar a sua especificidade. Os testes físicos devem apresentar:
validade; confiabilidade; estabilidade e objetividade.
Procurou-se nesse artigo definir alguns testes para o futebol,
assim como sua empregabilidade e necessidade. Para BRAVO (2004) e PAVANELLI (2004)
os testes devem se aproximar ao máximo das características do jogo.
Os gestos esportivos devem ser reproduzidos durante a realização
da avaliação física.
De acordo com SCHMID e ALEJO (2002), o teste é o único
efetivo e objetivo caminho para se avaliar o programa de treinamento. O uso do
pós-teste permite avaliar com precisão muitas qualidades. Os testes
físicos são utilizados por três motivos: reunir informações,
comparar dados e determinar processos de treinamento baseados nos resultados
dos testes. Segundo GARCIA, MUIÑO e TELEÑA (1977), os testes físicos
auxiliam no conhecimento da evolução dos jogadores, na seleção
dos jogadores para cada posição, no descobrimento de novos talentos
e na reavaliação do trabalho. Para RINALDI e ARRUDA (2001, p. 187), "a
avaliação física dos jogadores de futebol tem se mostrado
importante no sentido de oferecer parâmetros mais exatos para um programa
de treinamento".
CUNHA (2003) realizou um estudo com as equipes de futebol
juvenil do Estado de São Paulo e constatou que as equipes realizam uma
série de testes antes do início dos treinamentos e depois reavaliam
os seus atletas durante a temporada. O problema encontrado foi que os testes
que necessitam de um custo financeiro mais elevado, como, por exemplo, os testes
de Wingate e o Cybex, não são realizados pela maioria dos clubes,
pois estes não possuem condições financeiras para essas
avaliações. Os testes mais utilizados por essas equipes foram:
Cooper (12 minutos); limiar anaeróbio; shuttle run; flexibilidade; força
muscular; velocidade (40 segundos) e resistência muscular localizada.
Alguns testes são propostos para o futebol (GARCIA;
MUIÑO; TELEÑA, 1977):
- Resistência: Teste de Cooper e 1500 metros.
- Força: resistência muscular localizada, impulsão vertical
e horizontal.
- Velocidade: 20 metros e 40 metros lançado.
- Agilidade: circuitos.
- Flexibilidade.
- Funcionais: Teste Harvard; Flack; Letunov; Ruffier-Dickson; Lian e Burpee.
BERETTA (2004) sugere alguns testes para o futebol:
· Composição corporal, principalmente avaliação
do índice de gordura corporal;
· Saltos verticais;
· Velocidade: 20 metros;
· VO2 máx. em esteira.
REILLY et al. (2000) realizaram um estudo com 16 jogadores
de "elite" (inscritos em um clube profissional) e 15 jogadores denominados
de "sub-elite" (não inscritos em um clube profissional, mas
que praticam regularmente); todos na faixa etária de 15 e 16 anos. Foram
realizados quinze testes antropométricos; oito testes fisiológicos;
três testes psicológicos e dois testes de habilidades específicas
do futebol. A média de idade foi de 16,4 anos. Todos foram testados
durante a temporada 1998/1999 do campeonato inglês.
Os testes realizados foram:
- Antropométricos (estatura; peso corporal; dobras cutâneas: bíceps,
tríceps, subescapular, suprailíaca, coxa, panturrilha proximal
e panturrilha medial; diâmetros: biepicondilar do úmero e biepicondilar
do fêmur; circunferências: bíceps, antebraço, coxa
e panturrilha);
- Fisiológicos (VO2 máx.; índices anaeróbios: 5
metros sprint, 15 metros sprint, 25 metros sprint, 30 metros sprint, 40 metros
sprint com mudanças de direção, tiros repetidos e salto
vertical);
- Psicológicos (questionários de motivação e ansiedade,
específicos para o esporte; teste de antecipação);
- Habilidades específicas (chute e condução de bola).
Foram encontradas diferenças significativas na maioria dos testes em
favor dos atletas de "elite". Este estudo provou que a identificação
de talentos necessita de uma bateria de testes, servindo também para
avaliar uma série de jogadores selecionados e expostos a um programa
de treinamento.
Em um estudo realizado por PERES (1996) foram utilizados alguns testes para
se avaliar a capacidade física de futebolistas, sendo: resistência
(12 minutos); impulsão vertical (jump meter); agilidade (60 metros);
impulsão horizontal; flexibilidade (Banco de Balke) e composição
corporal. Este estudo realizado com brasileiros e japoneses, um grupo com média
de idade por volta de 17 anos. Os resultados desse estudo deram suporte ao
conceito de especificidade.
As crianças e adolescentes precisam de uma avaliação
do treinamento, mas esta não pode ser uma cópia da avaliação
dos adultos (VILLAR; DENADAI, 2001).
Antropometria
A antropometria é importante como fator de avaliação
para o treinamento físico, como as medidas de perímetro, diâmetro
etc. (RODRIGUES; ROCHA, 1985). O ponto até o qual a composição
corporal pode ser alterada depende do grau e da duração do treinamento
(GALLAHUE; OZMUN, 2001).
Resistência
Segundo PAVANELLI (2004) avaliação do consumo
máximo de oxigênio é considerada a forma mais aceita de quantificar
a capacidade para realizar exercícios prolongados. De acordo com ALMEIDA
(2002), os melhores métodos para avaliação da capacidade
anaeróbia são invasivos, mas os problemas éticos dificultam
sua utilização.
Existem alguns testes intermitentes para se avaliar a capacidade
dos atletas. REILLY, BANGSBO e FRANKS (2000) descreveram dois testes e constataram
por meio deles que os laterais e os meio-campistas percorrem maiores distâncias
durante a partida com relação aos atacantes e defensores. Como
resultados, observou-se que os meio-campistas tiveram um desempenho melhor, pois
tem uma maior potência aeróbia, sugerindo que o sistema de transporte
de oxigênio é beneficiado por exercícios intermitentes extenuantes.
O teste de Cooper é utilizado na avaliação
da potência aeróbia em jogadores de futebol, e para avaliação
da potência, resistência anaeróbia e índice de fadiga,
um dos testes mais utilizados é o de Wingate (BOSCO, 1994; ALMEIDA, 2002;
PAVANELLI, 2004). O teste de Wingate é um teste físico desenvolvido
nos anos de 1970 no Instituto Wingate em Israel.
Para SILVA (1999), o ergômetro (Ergometria: Ergo = trabalho
e Metria = medida) é um aparelho muito utilizado na avaliação
do limiar anaeróbio. "A determinação do limiar anaeróbio
por meio de um método não invasivo torna-se necessária,
uma vez que a mensuração do lactato necessita de coletas programadas
de sangue arterial ou arterializado" (BABOGHLUIAN; MAHSEREDJIAN; SENCINI;
BARROS, citado por SILVA, 1999).
O teste de Shuttle Run de 20 metros é utilizado para
determinação do VO2 máx. de forma indireta. O atleta percorre
a distância de 20 metros com velocidade inicial de 8,5 km/h com incremento
de 0,5 km/h a cada minuto. A velocidade de corrida é controlada por um
sinal sonoro. O atleta deve atingir a marca de 20 metros no exato momento do
sinal sonoro. A velocidade máxima compreende o último estágio
que o atleta conseguir completar. O VO2 máx. pode ser estimado pela fórmula
(PAVANELLI, 2004):
VO2 máx. = 31,025 + (3,238 x VUE)
- (3,248 x idade) + (0,1536 x idade x VUE)
VUE = velocidade do último estágio
DENADAI et al. (2002) realizaram um estudo para verificar
o limiar anaeróbio por meio do teste de Shuttle Run de 20 metros. Concluíram
que o teste apresenta uma boa validade e excelente reprodutibilidade para determinação
do limiar anaeróbio. Destacam ainda que o teste pode ser utilizado para:
a) controle dos efeitos do treinamento em jogadores de futebol; b) a identificação/classificação
da sua performance (distância percorrida, número de sprints e
o número de ações com a bola) durante as partidas de futebol
e c) prescrição da intensidade do treinamento técnico-físico,
onde existem corridas com mudanças de direção.
RINALDI e ARRUDA (2001) propuseram um teste de campo para
avaliação do VO2 máx. em jogadores de futebol da categoria
juvenil. Foram realizados um teste laboratorial contínuo já validado
e um teste de campo. Obteve-se como resultado, que não existiu diferença
entre o teste de campo e o teste de laboratório.
BRAVO (2004) propôs alguns testes específicos
com bola para determinar a potência anaeróbia aláctica, a
potência anaeróbia glicolítica e potência aeróbia.
Os testes consistem em deslocamentos com bola e sem bola em diferentes sentidos
e direções.
Velocidade
PAVANELLI (2004) sugere testes com distâncias de 15,
20 e 30 metros, com o uso de sensores fotoelétricos. Esses sensores fornecerão
respostas mais precisas.
Um dos mais utilizados é o protocolo para o teste de 40 segundos criado
por Matsudo.
Agilidade
Segundo OLIVEIRA (2000), o teste de Shuttle Run (SR) é um
teste muito utilizado para se avaliar a agilidade. O teste de SR é considerado
adequado para a avaliação da agilidade em atletas (MATSUDO, citado
por OLIVEIRA, 2000). Existe uma adaptação deste teste com bola
(SRB): é um teste reprodutível e apresenta boa correlação
com o SR (CAICEDO; MATSUDO, citado por OLIVEIRA, 2000). Um estudo realizado por
OLIVEIRA (2000) com jovens na categoria juvenil (média de idade 16,2 anos),
constatou, por meio do teste de SRB, que o treinamento com música em atletas
de futebol, isto é, o treinamento com ritmo, melhorou em média
12,85% o desempenho dos jovens no teste de agilidade.
Flexibilidade
A flexibilidade é uma capacidade objetiva de mensurar,
mas é abstrata para quantificar. A especificidade das modalidades esportivas
prejudica a determinação de valores para a flexibilidade (SILVA
et al., citado por ACHOUR JR., 1995). As formas de mensuração desta
capacidade são na posição estática, e os esportes
a requisitam na forma dinâmica (HARDY; JONES, citado por ACHOUR JR., 1985).
O teste mais comum utilizado é o "sentar e alcançar" que
mede a flexibilidade tronco/quadril e musculatura dos membros inferiores (PAVANELLI,
2004).
As reavaliações são de extrema importância
para controle do treinamento, assim pode-se verificar se os objetivos estão
sendo alcançados ou não, e se é necessário ser feita
alguma correção. É importante lembrar que os protocolos
devem ser exatamente os mesmos nos testes iniciais e nos re-testes.
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