FUTEBOL
CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES
DO AQUECIMENTO NO FUTEBOL
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
A
utilização do
aquecimento antes de treinamento e partidas de futebol é uma
prática comum, em vista disso, é realizada
quase que instantaneamente e, em muitos casos, de forma
empírica e sem embasamento científico.
O conhecimento das características do esporte
e da fisiologia humana é de fundamental importância
para a programação correta dos exercícios
e duração dessa atividade.
Procurou-se nesse artigo, elucidar a importância do aquecimento para
a realização de uma atividade física e demonstrar as suas
características para o futebol.
CONCEITOS
"Sob aquecimento entende-se todas as medidas, que antes de uma carga esportiva
- seja para treinamento ou competição -, servem para a preparação
de um estado psicofísico e coordenativo-cinestésico ideal, assim
como para a profilaxia de lesões" (WEINECK, 1991, p. 434).
A capacidade de realizar atividades por um período prolongado depende
da ativação de três sistemas: sistema cardiopulmonar; sistema
circulatório e sistema neuromuscular (BOSCO, 1994). "Ao alcançar
a temperatura ideal, todas as reações fisiológicas decisivas
para a capacidade de desempenho motor transcorrem com o grau de eficiência
mais favorável" (ISRAEL citado por WEINECK, 1991, p. 435).
Para a eficácia do treinamento é necessária a realização
de aquecimento sempre antes do mesmo (SCHMID; ALEJO, 2002).
Não se deve confundir aquecimento com alongamento. O aquecimento prepara
gradualmente o atleta para a competição, inclusive utilizando
exercícios de alongamento (SCHMID; ALEJO, 2002).
TIPOS
O aquecimento divide-se em passivo, ativo, mental e instintivo.
· Aquecimento Passivo - é uma atividade na qual o atleta praticamente
não realiza movimento algum. Exemplo: sauna, duchas quentes, massagens,
fornos etc (WEINECK, 1991; BATISTA, 2003; CHIESA, 2003). Deve ser utilizado como
complemento do ativo (WEINECK, 1991).
· Aquecimento Ativo - divide-se em geral e específico (WEINECK,
1991; McARDLE; KATCH; KATCH, 1992; BATISTA, 2003; CHIESA, 2003).
* Geral - desenvolver as funções mais importantes do organismo
mediante a estimulação dos principais grupos musculares, aumentando
a temperatura corporal e temperatura muscular. Os exercícios gerais
devem preceder os específicos.
* Específico ou Especial - é a continuação do geral,
mas capacitando os grupos musculares que irão atuar no treinamento ou
jogo de forma específica.
· Aquecimento Mental - imitação dos gestos que serão
utilizados no treino ou jogo. Esta reprodução ativa involuntariamente
o sistema nervoso e o coloca em prontidão para realização
da atividade (WEINECK, 1991; CHIESA, 2003). Segundo ROLOFF, citado por WEINECK
(1991) o aquecimento mental só pode ser utilizado em seqüências
muito fáceis ou totalmente automatizadas.
· Aquecimento Instintivo - acionado por estímulos dos centros nervosos
cerebrais que produzem aumentos da freqüência cardíaca e respiratória,
provocando aumento metabólico e elevando a temperatura corporal (CHIESA,
2003).
EFEITOS/BENEFÍCIOS
O aquecimento bem realizado pode ocasionar uma série de benefícios:
· Aumento da espessura cartilaginosa reduzindo o impacto sobre as superfícies
articulares (BATISTA, 2003; CHIESA, 2003).
· Maior velocidade na contração e relaxamento muscular (WEINECK,
1991; McARDLE; KATCH; KATCH, 1992; SCHMID; ALEJO, 2002; BATISTA, 2003; CHIESA,
2003).
· Menor elevação na pressão arterial e menor elevação
brusca da freqüência cardíaca (CHIESA, 2003).
· Melhoria da coordenação motora facilitando a realização
de movimentos explosivos e de habilidade exigidos durante uma partida de futebol
(POMBO; MORAIS, 1997a; SCHMID; ALEJO, 2002; BATISTA, 2003).
· Melhoria da oxigenação muscular pela facilitação
da liberação de oxigênio pela hemoglobina ocasionada pelo
aumento da temperatura corporal (McARDLE; KATCH; KATCH, 1992; SCHMID; ALEJO,
2002; BATISTA, 2003; CHIESA, 2003).
· Aumento da motivação (POMBO; MORAIS, 1997a; CHIESA, 2003).
· Menor incidência de lesões (WEINECK, 1991; BOSCO, 1994;
POMBO; MORAIS, 1997a; SCHMID; ALEJO, 2002; CHIESA, 2003).
· Maior deficiência mecânica em virtude da menor resistência
viscosa dentro dos músculos (McARDLE; KATCH; KATCH, 1992).
· Facilitação da transmissão nervosa e do metabolismo
muscular nas temperaturas mais altas; um aquecimento específico também
pode facilitar o recrutamento das unidades motoras necessárias numa atividade
máxima subseqüente (McARDLE; KATCH; KATCH, 1992; BATISTA, 2003).
· Maior fluxo sangüíneo por meio dos tecidos ativos à medida
que ocorre vasodilatação com temperaturas mais altas (McARDLE;
KATCH; KATCH, 1992; BATISTA, 2003).
· Estimula gradualmente processos psicofísicos até alcançar
níveis muito altos de ativação neuromuscular e neuro psíquica
(BOSCO, 1994).
FATORES QUE INFLUENCIAM O AQUECIMENTO
Uma série de fatores pode alterar a forma, a duração e
a intensidade do aquecimento. Estes fatores são divididos em: endógenos
e exógenos (WEINECK, 1991; POMBO; MORAIS, 1997a; BATISTA, 2003).
Endógenos:
· Idade - quanto mais idade tiver uma pessoa, maior será a preocupação
com o aquecimento. Deverá ser mais longo e gradual.
· Condição de Treinamento - um aquecimento muito intenso
poderá cansar um atleta com pouco condicionamento físico.
· Estado Psicológico - o estado psicológico do atleta no
momento da atividade poderá influenciar positiva ou negativamente no resultado
do aquecimento.
Exógenos:
· Hora do dia - com o sono há um desligamento ou amortecimento
de diversas funções corporais. Com o passar das horas aumenta a
circulação e a temperatura corporal. Portanto, o aquecimento realizado
durante a manhã deve ser mais lento e gradual.
Melhor horário seria entre 5 e 6 horas da tarde, ocorre um rápido
aquecimento.
· Modalidade Esportiva - observar as características de cada modalidade
para executar exercícios específicos.
· Temperatura Ambiente - quanto maior for a temperatura ambiente, menor
deverá ser o tempo de aquecimento. Em ambientes chuvosos e frios, a duração
do aquecimento deverá ser mais prolongada.
FORMAS
E DURAÇÃO
Ao programar e executar um aquecimento deve-se observar
os conceitos descritos até o momento. Agora a questão é saber
como executar os movimentos e em que ordem eles devem
ocorrer?
Para SCHMID e ALEJO (2002); LATORRE e BARELLA (2003), deve-se iniciar com
movimentos simples e lentos, aumentando gradativamente a intensidade, complexidade
e velocidade
até alcançar movimentos semelhantes ao jogo. Deve ser gradual
o suficiente para aumentar a temperatura muscular e central (McARDLE; KATCH;
KATCH, 1992).
SCHMID e ALEJO (2002); LATORRE e BARELLA (2003) colocam que o primeiro passo
no aquecimento são os exercícios de alongamento e depois se realizam
movimentos balísticos.
Principalmente para atletas que treinam todos os dias, é necessário
haver uma constante variação das formas de aquecimento, inclusive
utilizando exercícios recreativos, isso é um componente motivacional
para o treinamento, (LATORRE; BARELLA, 2003).
A duração mínima de uma atividade de aquecimento deve
ser de 10 minutos (LATORRE; BARELLA, 2003), mas o que irá determinar
realmente o tempo de duração são os fatores endógenos
e exógenos descritos anteriormente.
Entre o fim do aquecimento e o início da atividade, o descanso deve
ser de 5-10 minutos, apesar do efeito durar de 20-30 minutos (ISRAEL, citado
por WEINECK, 1991; POMBO; MORAIS, 1997b).
POMBO e MORAIS (1997b) relataram um estudo no qual indivíduos aqueciam-se
por 8 minutos em corrida contínua a 70% do VO2 máx. Foram utilizados
vários protocolos (1o - descanso de 5 minutos; 2o - descanso de 10 minutos;
3o - descanso de 15 minutos; 4o - descanso de 20 minutos). Constatou-se que
os indivíduos que descansavam mias de 10 minutos, demoravam mais para
alcançar o VO2 máx. e o mantinham por menos tempo.
POMBO e MORAIS (1997b) ressaltam a importância do cuidado com o tempo
de duração do aquecimento para não gastar as reservas
energéticas e cansar o atleta.
CARACTERÍSTICAS
PARA O FUTEBOL
É necessário observar os objetivos da sessão de treinamento.
O aquecimento deverá ser diferente para um treinamento do que para o jogo
(LATORRE; BARELLA, 2003).
Os atletas jovens, aproximadamente 12 anos, devem realizar um aquecimento com
intensidade menor que os adultos, devido ao gasto calórico menor, maior
temperatura muscular e evolução limitada dos sistemas biológicos
(LATORRE; BARELLA, 2003).
Para jogadores de futebol é importante aquecer e preparar as articulações
do tornozelo, joelho e coxo-femural (CHIESA, 2003).
Os exercícios devem compreender: tiros de no máximo 30 metros;
movimentos de frente, costas, laterais e angulares; movimentos combinados da
parte superior e inferior; trocas de direção e, saltos com uma
e duas pernas (SCHMID; ALEJO, 2002).
A primeira parte do aquecimento não deve ter uma exigência anaeróbica,
devendo a freqüência cardíaca ficar entre 130 e 160 bpm (POMBO;
MORAIS, 1997b).
POMBO
e MORAIS (1997b) definem uma seqüência
para o aquecimento no futebol:
1. Exercícios técnicos com características aeróbicas
de baixa intensidade (6 minutos);
2. Alongamento passivo (3 minutos);
3. Exercícios específicos com velocidade. Mini-jogos 5 X 5 (3-4
minutos);
4. Trabalho alático: 4-5 repetições, tiros de no máximo
10 metros (2 minutos);
5. Alongamento livre (2 minutos).
O
autor, por meio de sua experiência prática
e teórica coloca uma seqüência de
movimentos que devem ser executados no aquecimento
antes de uma partida de futebol:
1. Movimentos balísticos de baixa intensidade
e velocidade, como deslocamentos de frente, laterais,
costas etc. (3-5 minutos).
2. Exercícios de alongamento, ênfase nos grupos musculares dos
membros inferiores (panturrilha, parte anterior e posterior da coxa, adutores,
abdutores etc). É importante não esquecer os membros superiores
e, principalmente os músculos do pescoço, esses muito exigidos
durante uma partida (3-5 minutos).
3. Exercícios técnicos realizados em duplas. Como: passe, cabeceio,
condução etc. Nessa etapa, aumentar a velocidade e intensidade
dos movimentos (5-6 minutos).
4. Exercícios de deslocamentos e passes longos em grande espaço
ou mini-jogos, simulando ações do jogo (3-5 minutos).
5. Novamente exercícios de alongamento, só que nessa etapa os
atletas escolherão individualmente os grupos musculares que necessitam
um novo estiramento. O preparador físico pode utilizar esse momento
para motivar os atletas (2 minutos).
CONCLUSÕES
A exigência física durante um treino ou jogo é muito grande.
Os atletas devem estar aptos há realizar diversos movimentos na maior
amplitude e intensidade possível. Portanto, pode-se constatar a importância
fundamental do aquecimento antes da prática do futebol.
Infelizmente muitas atividades de aquecimento estão baseadas no empirismo,
ou seja, na tentativa erro/acerto e não em estudos científicos
(POMBO; MORAIS, 1997a). O preparador físico deve estar atento as características
físicas e fisiológicas da modalidade, para definir a intensidade,
a duração e os tipos de exercícios a serem executados
durante o aquecimento, evitando esse empirismo preconizados pelos autores acima.
Os membros da comissão técnica ou o professor devem estar atentos
com a hidratação do atleta antes e após o aquecimento.
Atividades em ambientes muito quentes e úmidos podem provocar desidratação
muito rápida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1)BATISTA, D. A importância do aquecimento na atividade física.
Disponível em: <http://www.e-muitomais.com/web_pages/edfisica/artigo15otemas.html>.
Acesso em: 8 out. 2003.
2) BOMPA, T. O. Treinamento Total para Jovens Campeões. Barueri: Manole,
2002. Cap. 3, p. 37-49.
3) BOSCO, C. Aspectos Fisiológicos de la Preparación Física
del Futbolista. Barcelona: Paidotribo, 1994. Cap. 16, p. 177-188.
4) CHIESA, L. C. Aquecimento e atividade física. Disponível em: <http://www.e-muitomais.com/web_pages/edfisica/artigo16otemas.html>.
Acesso em: 8 out. 2003.
5) LATORRE, D. L. S.; BARELLA, A. D. Fundamentos básicos del calentamiento
en el fútbol base I - Objetivos y princípios. Disponível
em: <http://www.efdeportes.com>. Revista Digital. Buenos Aires, año
9, n.63, ago. 2003. Acesso em: 7 out. 2003.
6) McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício
- Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Tradução
Giuseppe Taranto. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.&
7) POMBO, M. F.; MORAIS, F. S. P. Bases teórico-practicas del calentamiento
de competición en fútbol. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd5/mfp51.htm>.
Buenos Aires, año 2, n. 5, jun. 1997a.
8) ______. Modelo aplicativo del calentamiento de competición en el
fútbol. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd7/mfp7.htm>.
Buenos Aires, año 2, n. 7, out. 1997b.
9) SCHMID, S.; ALEJO, B. Complete Condiotining for Soccer. Champaign: Human
Kinetics, 2002. Cap. 2, p. 19-53.
10) WEINECK, J. Biologia do esporte. Tradução Anita Viviani.
São Paulo: Manole, 1991. p. 434-441.