FUTEBOL
TREINAMENTO DA VELOCIDADE E AGILIDADE
NO FUTEBOL
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
O futebol moderno adquiriu
características físicas completamente
diferentes de trinta, quarenta anos atraz. O desenvolvimento
da força, velocidade e agilidade mudaram radicalmente
a dinâmica das partidas e até os esquemas
táticos. Por meio deste estudo, procura-se conceituar
as capacidades de velocidade e agilidade, e definir
as características de seu treinamento para o
futebol.
VELOCIDADE
HOLLMANN, citado por BARBANTI (1996, p. 68) define velocidade
como a "máxima rapidez de movimento que pode ser alcançada". "Velocidade é a
capacidade, com base na mobilidade dos processos do sistema nervo-músculo
e da capacidade de desenvolvimento da força muscular, de completar ações
motoras, sob determinadas condições, no menor tempo" (FREY,
citado por WEINECK, 1991, p. 210). De acordo com HARRE, citado por MANSO, VALDIVIELSO
e CABALLERO (1996), é a capacidade motora que se manifesta em sua totalidade
nas ações motrizes onde o rendimento máximo não seja
limitado pelo cansaço. Velocidade é a capacidade de executar ações
motoras de maneira mais rápida possível, em determinadas condições
(ZACIORSKIJ, citado por ACERO, 2000). HARRE e HAUPTMANN, citado por ACERO (2000),
definem a velocidade como uma capacidade psicofísica que se manifesta
por completo em ações motrizes, onde o rendimento máximo
não seja limitado pelo cansaço. GROSSER, citado por ACERO (2000),
define a velocidade como a capacidade de conseguir, por meio de processos cognitivos,
a máxima força volitiva e funcionalidade do sistema neuromuscular,
uma máxima velocidade de reação e de movimento em determinadas
condições estabelecidas.
A velocidade é dividida em: velocidade de reação,
velocidade de movimentos acíclicos, velocidade de locomoção
(máxima) e velocidade de força (BARBANTI, 1996). Para WEINECK (1991),
a velocidade se divide em: velocidade de reação, velocidade acíclica
e cíclica e velocidade de deslocamento. Velocidade de reação é o
tempo gasto entre a resposta (movimento) muscular e o estímulo ou sinal
recebido pelo organismo (STEINBACH, citado por BARBANTI, 1996). Para GARCIA,
MUIÑO e TELEÑA (1977), é a resposta inicial a um estímulo,
começo do movimento. Para BARBANTI (1996), velocidade de movimentos acíclicos é a
rapidez dos movimentos com mudanças de direção, também
conhecida como agilidade; velocidade de locomoção é conhecida
como velocidade máxima ou velocidade de sprint, isto é, a velocidade
máxima que pode ser empregada em qualquer movimento; velocidade de força é a
capacidade de executar movimentos rápidos contra resistências específicas.
De acordo com GARCIA, MUIÑO e TELEÑA (1977)
a velocidade é uma capacidade inata do ser humano. Para BOMPA (2002),
grande parte da capacidade de velocidade é determinada geneticamente.
Quanto maior for a proporção de fibras de contração
rápida em relação às fibras de contração
lenta, maior será a capacidade de contração rápida
e explosiva do organismo. Entretanto, apesar da relação da velocidade
com a genética, ela não é um fator limitante. Os atletas
podem melhorar sua capacidade com o treinamento.
O aspecto coordenativo é muito importante para
esta capacidade. Crianças e jovens que não desenvolverem sua coordenação
de membros superiores terão prejudicado seu desempenho de velocidade de
corrida. Aqui o desenvolvimento multilateral durante a infância auxiliará no
desenvolvimento desta capacidade física (BOMPA, 2002).
A velocidade pode se manifestar de algumas maneiras
no futebol, como descrito abaixo por ACERO (2000):
1 - Ato motor acíclico sem resistência elevada: acompanhar, empurrar,
passar a bola...
2 - Atos motores elementares e cíclicos que acontecem em pouco espaço
e sem resistência elevada: skippings e tappings.
3 - Atos motores com maior resistência (superior a 30% da força
máxima), sobretudo movimentos de aceleração: saídas,
lançamentos, saltos, ações de combates.
4 - Atos motores acíclicos e cíclicos que se repetem várias
vezes: várias saídas e sprints, sem e com mudanças de
direção, ações de jogo e de combate.
5 - Atos motores integrais, em situações simples e complexas:
em jogo - análises de informação rápida.
6 - Resistência de velocidade: tomada de decisão rápida
(com êxito).
Para WEINECK (2000, p.
356), existe uma complexa classificação
das formas como se apresenta a velocidade no futebol:
· Velocidade de percepção - por meio dos sentidos (visão,
olfato, audição), absorver rapidamente as informações
importantes para o jogo.
· Capacidade de antecipação - sobre a base da experiência
e do conhecimento do adversário prever as ações dos companheiros
e adversários.
· Velocidade de decisão - decidir-se no menor tempo possível
por uma ação efetiva entre várias possibilidades.
· Velocidade de reação - reagir rápido em ações
surpresas do adversário, da bola e dos companheiros de equipe.
· Velocidade de movimento sem bola - realizar movimentos cíclicos
e acíclicos em alta velocidade.
· Velocidade de ação com bola - realizar ações
com bola em alta velocidade.
· Velocidade-habilidade - agir de forma rápida e efetiva em relação às
suas possibilidades técnico-táticas e condicionais.
GODIK e POPOV (1999) também
consideram que a velocidade se expressa de diversas
formas no futebol.
Segundo SCHMID e ALEJO (2002), a velocidade é mais complexa do que correr
o mais rápido possível. A velocidade no futebol inclui rapidez,
tiros curtos, movimentos rápidos em todas as direções,
a habilidade de reagir e parar rapidamente, velocidade e tempo de reação.
Velocidade é uma combinação de força e excelente
resistência, o que é necessário para a realização
dos movimentos com máxima rapidez em todo o tempo.
Treinamento da velocidade
Segundo POEL e EISFELD, citado por WEINECK (2000, p. 406) o treinamento da
velocidade deve ocorrer em quatro níveis:
1. Coordenação geral, por meio do treinamento da corrida.
2. Melhoria do poder de saída e de reação com o uso
de formas de treinamento semelhantes ao jogo.
3. Treinamento da velocidade por intermédio de formas de treinamento
específicas do futebol com a utilização da bola.
4. Treinamento da força.
Considera-se que todos os tipos de treinamento e preparação
têm como objetivo aumentar a rapidez, a velocidade de resposta e a melhora
de sua utilização em condições de competição
(VERCHOSANSKIJ, citado por ACERO, 2000).
A velocidade deve ser treinada tanto no período
preparatório, como no competitivo. No período competitivo, utilizar
principalmente exercícios específicos e com bola (GODIK; POPOV,
1999).
GARCIA, MUIÑO e TELEÑA (1977); SCHMID e ALEJO (2002) colocam
como um dos primeiros passos para a aprendizagem e treinamento da velocidade,
ensinar a técnica de corrida. Com a aquisição dessa habilidade,
o treinamento será otimizado, evitando erros futuros, lesões
por esforços realizados de forma incorreta, treinamento inadequado e
insuficiente, e um gasto energético desnecessário.
De acordo com dados obtidos por ISRAEL e BLASER, citado
por WEINECK (1991); WEINECK (2000), pode-se concluir que o treinamento de velocidade
deve ocorrer o mais precoce possível, pois há um o risco de crianças
e jovens perderem velocidade por começarem a treinar tardiamente. Segundo
estudos citados por WEINECK (2000), a freqüência e a velocidade dos
movimentos têm o seu mais alto incremento durante a faixa etária
de 6 a 10 anos. Entretanto,
na infância, a velocidade e a força rápida devem ser treinadas
quase que exclusivamente por meio de formas de jogo.
De acordo com BORMS, citado por REILLY, BANGSBO e FRANKS
(2000), durante o treinamento de velocidade na fase pré-púbere,
deve-se preconizar os aspectos coordenativos. Na fase seguinte deve-se ater na
massa muscular e na performance corpórea. Na idade adulta, as mais variadas
formas devem ser aplicadas no treinamento. Para GODIK e POPOV (1999) os preparadores
físicos devem mudar constantemente a forma de aplicação
dos exercícios de velocidade.
Conforme MARKOSJAN e WASJUTINA, citado por WEINECK (1991),
no final da pubescência os tempos de latência e de reação
atingem os valores adultos. O aumento da força máxima e rápida,
condicionadas pelos hormônios (aumento da testosterona nos meninos) (KOINZER,
citado por WEINECK, 1991), e o aumento da capacidade anaeróbia resultam
em altos ganhos de velocidade nessa faixa etária. Nesse período,
os treinamentos anaeróbios podem ser introduzidos para uma melhora de
performance. Devem ser utilizados por meio do treinamento dos componentes da
velocidade, ou seja, da força rápida (FREY, citado por WEINECK,
1991).
Os principais métodos utilizados para crianças
e adolescentes são os métodos de repetição e intervalos
curtos. Deve-se observar a escolha de cargas e distâncias que garantam
uma obtenção de energia alática (WEINECK, 1991). As
crianças e os adolescentes devem iniciar um trabalho sempre partindo dos
exercícios mais simples aos mais complexos exercícios de reação,
até atingirem os mais diferentes exercícios de reação
e de formas técnico-táticas de jogo específicas do futebol
(WEINECK, 2000). GODIK e POPOV (1999) consideram que o método repetitivo é o
melhor para desenvolvimento e aperfeiçoamento da velocidade. WEINECK (2000),
acrescenta ainda, que a dosagem correta dos componentes da sobrecarga tem importância
fundamental na utilização do método de repetição.
No período da adolescência pode-se realizar
um treinamento de velocidade ilimitado, nos aspectos de condicionamento físico
e nos aspectos coordenativos. Os métodos e conteúdos são
semelhantes ao treinamento dos adultos, e apresentam diferenças no aspecto
quantitativo (WEINECK, 1991). A eficácia do treinamento de velocidade
aumenta com a idade (GOLOMAZOV; SHIRVA, 1996).
BISANZ, citado por WEINECK (2000) preconiza que, pelo menos uma vez por semana,
os adolescentes devem realizar um treinamento específico de velocidade,
de força rápida e da coordenação.
Segundo BOMPA (2002), o treinamento de velocidade na
pós-puberdade deve se tornar específico, relacionando-se com as
exigências da modalidade praticada. No caso específico do futebol,
não se deve esquecer a utilização da bola neste tipo de
treinamento. Os exercícios físicos com bola aproximam-se do jogo
e tem um efeito benéfico (KUNZE, 1987). Para GOLOMAZOV e SHIRVA (1996),
treinar a velocidade com bola aumenta a precisão do chute.
BOMPA (2002) preconiza para o período da pós-puberdade, em média,
duas sessões semanais de treino de velocidade, com distâncias
curtas de dez a trinta metros. Para GODIK e POPOV (1999) as distâncias
exercitadas devem compreender entre cinco e setenta metros, com duração
entre três e oito segundos.
A recuperação entre as séries é tão
importante quanto o exercício propriamente dito. Essa recuperação
deve ser estabelecida em função do débito de oxigênio,
girando em torno de dois a três minutos (GODIK; POPOV, 1999).
Uma dúvida importante é como saber a intensidade
e a quantidade de "tiros" de velocidade? Segundo GODIK e POPOV (1999);
WEINECK (2000), os "tiros" devem ser realizados no limite máximo
(95-100%). WEINECK (2000) complementa que atividades com intensidade submáxima
trabalharão mais a resistência de velocidade, que tem um papel secundário
nos componentes da velocidade. GODIK e POPOV (1999) afirmam ainda, que o número
de repetições varia em função do condicionamento,
quando o preparador físico detectar queda no rendimento, deverá interromper
o exercício. O controle pode ser feito por meio da medição
dos tempos de corrida.
Estudo realizado por CUNHA (2003) com equipes de futebol
da categoria juvenil mostrou que 100% das equipes trabalham a capacidade de velocidade,
utilizando exercícios específicos para desenvolvê-la.
AGILIDADE
"A agilidade se refere à capacidade do atleta
de mudar de direção de forma rápida e eficaz, mover-se com
facilidade no campo ou fingir ações que enganem o adversário
a sua frente" (BOMPA, 2002, p. 51). Segundo RIGO (1977), agilidade é a
movimentação do corpo no espaço, ou seja, movimentos que
incluam trocas de sentido e direção. Para BARBANTI (2003, p. 15), é a "capacidade
de executar movimentos rápidos e ligeiros com mudanças de direção".
Para BARROS, citado por OLIVEIRA (2000, p. 24), a agilidade é "uma
variável neuro-motora caracterizada pela capacidade de realizar trocas
rápidas de direção, sentido e deslocamento da altura do
centro de gravidade de todo corpo ou parte dela".
Para SCHMID e ALEJO (2002), equilíbrio, força,
coordenação e resistência são componentes necessários
da agilidade. Segundo OLIVEIRA (2000), muitas definições colocam
a agilidade como inserida na velocidade, diferenciando-se apenas quanto às
mudanças de direção.
A agilidade no futebol é a habilidade para mudar
os movimentos o mais rápido possível frente a situações
imprevisíveis, tomando rápidas decisões e executando ações
de modo eficiente (SCHMID; ALEJO, 2002).
Treinamento da agilidade
"A agilidade desenvolve-se por meio de exercícios
que exigem uma inversão rápida dos movimentos com participação
de todo o corpo" (KUNZE, 1987, p. 140). Para os jogadores de futebol, o
treinamento da agilidade é ótimo para melhorar os níveis
de habilidade (SCHMID; ALEJO, 2002).
O treinamento da agilidade, durante a pré-temporada,
deveria ser realizado de duas a três vezes por semana e, durante a temporada,
uma ou duas vezes por semana (SCHMID; ALEJO, 2002).
Segundo estudo realizado por CUNHA (2003), 57% das equipes
de futebol da categoria juvenil realizam um trabalho específico de agilidade.
Isso pode ser explicado, pois muitos preparadores físicos não distinguem
o trabalho da velocidade com o da agilidade, treinando as duas capacidades conjuntamente.
A definição fornecida por BARBANTI (1996) para a velocidade acíclica,
confirma essa afirmação, para o autor velocidade acíclica
também é conhecida como agilidade.
CONCLUSÃO
Portanto, pode-se demonstrar a importância fundamental
das capacidades de velocidade e agilidade no futebol.
Os preparadores físicos devem conhecer a fundo as características
de seus jogadores, como idade e biotipo, e assim, desenvolver de forma eficaz
um programa de condicionamento físico, não esquecendo também
da diferenciação do trabalho por posição.
A correta programação e execução do condicionamento
físico, acarretará ganhos importantes aos atletas, podendo assim
ser um fator determinante, de forma positiva, no resultado de uma partida.
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