Atividade Física e Diabetes
Mellitus - ATUALIZAÇÃO
Nora Mercuri*
e Viviana Arrechea*
*Cenexa Centro de Endocrinologia
experimental y aplicada -Buenos Aires -Argentina
A atividade física é um
fator importante do tratamento do Diabetes Mellitus,
e contribui para melhorar a qualidade de vida do portador
de diabetes. Mais ainda, atuando preventivamente e
implantando um programa de promoção da
atividade física,dieta sã e equilibrada,
assistência médica, educação
do paciente e da equipe sanitária,pode se reduzir
significativamente a incidênciado diabetes do
tipo 2 e das complicações associadas.
Segundo um estudo de Helmrich et al.,o risco de diabetes
do tipo 2 aumenta à medida
que aumenta o IMC (índice de massa corporal), e,ao contrário,
quando aumenta a intensidade e/ou a duração da atividade física,
expressa em consumo calórico semanal, esse risco di-
minui,especialmente em pacientes com risco elevado de diabetes.
Tal como ocorre em pessoas não diabéticas,a prática
regular de exercício pode produzir importantes benefícios a curto,
médio e longo prazo. Esses benefícios estão enumerados na
Tabela seguinte.
Tabela 1 -Benefícios da atividade física a curto,médio
e longo prazo:
Aumenta o consumo da glicose.
Diminui a concentração
basal e pós-prandial da insulina.
Aumenta a resposta dos
tecidos à insulina.
Melhora os níveis
da hemoglobina glicosilada.
Melhora o perfil lipídico:
-diminui os triglicerídeos.
-umenta a concentração de HDL-colesterol.
-diminui levemente a concentração de LDL-colesterol.
Contribui a diminuir a
pressão arterial.
Aumenta o gasto energético:
-favorece a redução do peso corporal.
-diminui a massa total de gordura.
-preserva e aumenta a massa muscular.
Melhora o funcionamento
do sistema cardiovascular.
Aumenta a força
e elasticidade muscular.
Promove uma sensação
de bem-estar e melhora a qualidade de
vida.
Dentre os benefícios à curto prazo, o aumento
do consumo de glicose como combustível por parte do músculo em
atividade, contribui para o controle da glicemia.
O efeito hipoglicemiante do exercício pode se prolongar por horas e
até dias após o fim de exercício. Esta resposta metabólica
normal pode ser alterada durante os estados de extrema deficiência de
insulina ou excesso da mesma, o que é responsável por um risco
maior de hipoglicemia e/ou hiperglicemia e ocorrência de cetoacidose.
Por essa razão,a prescrição de atividade física
para melhorar o controle glicêmico em pacientes portadores de diabetes
do tipo 1 (insulino-dependentes) foi motivo de discussão e controvérsias
entre especialistas. O que é certo é que o uso freqüente
de técnicas de auto-monitorização glicêmica e a
implantação de insulinoterapia intensificada permitem ao paciente
portador de diabetes do tipo 1 desenvolver estratégias e ajustes no
consumo de carboidratos e doses de insulina, para poder participar de maneira
mais segura em programa
de atividade física.
Por outro lado, prescrição de atividade física
em paciente portador de diabetes do tipo 2 não apresenta dúvidas
e é hoje, junto com perda de peso,uma das indicações das
mais apropriadas para corrigir a resistência à insulina e controlar
a glicemia nesse tipo de diabetes (que representa 90%dos casos), ainda mais se
está associado à obesidade. Por outro lado, no diabetes do tipo
2 cujo tratamento está baseado só em dieta, raramente o exercício
gera hipo ou hiperglicemia.
Os benefícios a médio e longo prazo, da prática
regular de atividade física, contribuem para diminuir os fatores de risco
para o desenvolvimento da doença cardiovascular (aumentado no paciente
portador de diabetes), através das seguintes alterações:
melhora do
perfil lipídico,contribuição para a normalização
da pressão arterial, aumento da circulação colateral,
diminuição da freqüência cardíaca no repouso
e durante o exercício.
No mais, independentemente das alterações fisiológicas
que acompanham o exercício,também ocorrem alterações
comportamentais que favorecem o cuidado e o auto-controle por parte do paciente,
e conseqüentemente contribuem para melhorar sua qualidade de vida.
Como manejar a atividade física em pacientes portadores de diabetes:
Como os outros elementos do tratamento,a atividade física
deve ser prescrita de maneira individual para evitar riscos e otimizar os benefícios.
O tipo, freqüência, intensidade e duração do exercício
recomendado dependerá da idade, do grau de treinamento anterior e do controle
metabólico,duração do diabetes,e presença de complicações
específicas da doença.
Por isso, antes de iniciar a prática sistemática
da atividade física,o paciente portador de diabetes deve submeter-se a
exame clínico geral (fundo de olho, presença de neuropatia, osteoartrite,etc)
e cardiovascular,incluindo na medida do possível uma prova de esforço
(ergometria).
O ajuste na prescrição do exercício será mais
eficaz se os esforços forem coordenados por:o paciente, a família,
o médico e sua equipe de colaboradores. A educação em diabetes,que
permite ao paciente combinar corretamente dieta, dosagem de insulina e hipoglicemiantes
orais com o exercício, diminui notavelmente os riscos de hipoglicemia
e/ou hiperglicemia pós-exercício.
A atividade física prescrita em pacientes portadores
de diabetes deveria reunir as características descritas no
Gráfico 1.
*****
Gráfico 1:
Tipo: Atividade Física Aeróbica - ex: nadar, correr, remar, andar
de bicicleta,ginástica aeróbica, etc...
Características:
Intensidade (moderada - 50 - 80% da Frequência Cardíaca Máxima
- segundo a condição física, idade e grau de treinamento)
Frequência: todos os dias* ou 3-4 vezes por semana.
Duração: 20-30 minutos diários** ou 45-60 minutos (3-4
vezes por semana)
*No
caso de obesidade,a prática
diária é recomendada
**O tempo sugerido deve ser acrescentado de 5-10 minutos
de exercícios
de
alongamento e mobilidade articular antes e após a atividade principal.
*****
O tipo de atividade indicada é de
natureza aeróbica, que envolve grandes grupos
musculares e pode ser mantida por um tempo prolongado.No
momento da seleção, é essencial
respeitar os gostos e interesses dos pacientes,aumentando
assim a aderência ao programa.
Apesar do que foram reportados aumentos significativos
da tolerância à glicose
e da ação da insulina em pessoas que realizam um vigoroso programa
de treinamento,o exercício de intensidade menor (50%da freqüência
cardíaca máxima)pode produzir benefícios importantes
e melhorar a condição física dos pacientes sedentários
com estado físico debilitado,quando praticado com freqüência
semanal maior. Essa última recomendação é válida
também no caso da obesidade,pela qual será prescrita a prática
diária de exercício, na medida do possível.
O risco de diabetes do tipo 2 aumenta na medida que aumenta
o IMC,e,na medida que aumenta a intensida-
de/duração da atividade física expressa em consumo calórico
semanal, esse risco diminui.Geralmente,o gasto energético deveria
ser de 900 a 1500 calorias/semana, para obter benefícios metabólicos
e cardiovasculares.
É geralmente aceito que a duração da atividade
não deve ser inferior a 20 minutos para os exercícios contínuos
e não deve ultrapassar 60 minutos para o mesmo exercício.O exercício
prolongado apresenta grandes vantagens, mas aumenta também o risco de
hipoglicemia e,por isso,necessita um melhor controle.
A prática do tipo de atividade física descrita
com uma freqüência inferior a 2 vezes por semana não fornece
benefícios significativos ao nível metabólico e cardiovascular.
No Gráfico 1,foram listados exemplos de atividades preferenciais,
sem contra-indicações em pacientes adultos sedentários.
A mudança mais importante antes deiniciar um programa formal,é a
aquisição de hábitos de vida fisicamente ativos (caminhar
ou andar de bicicleta, subir e descer as escadas,realizar atividades domésticas
e de lazer necessitando movimentos)o que,no final do dia,resulta em um gasto
energético notável.
Para os pacientes que apresentam contra-indicações
temporárias para realizar atividades físicas aeróbicas (portadores
de hipertensão arterial não controlada ou cardiomiopatia),ou com
outro elemento de tratamento, deve se recomendar a prática de técnicas
de relaxamento e movimentos suaves do tipo yoga. Elas têm propriedade de
desenvolver a capacidade de relaxamento psicofísico e diminuir a atividade
simpático-adrenérgica,o que pode contribuir no controle metabólico
e da pressão arterial,especialmente em pacientes portadores de dia-
betes tipo 2.
Toda sessão de atividade física deve começar
e terminar com um período de 5 a 10 minutos de exercícios
aeróbicos de baixa intensidade,alongamento e mobilidade articular
para reduzir o risco de complicações cardíacas e lesões
músculo-esqueléticas.
Recomendações para o paciente:
Escolher uma atividade
física a seu gosto e impor se prática regular da atividade
física escolhida.
Evitar metas inatingíveis.Aumentar
progressivamente a duração da atividade e a intensidade do
esforço.
Praticar diariamente
pelo menos durante 20-30 minutos,ou 3 a 4 vezes por semana durante 45-60
minutos.
Começar a sessão
com exercícios de alongamento e movimentos articulares.Repetir no
fim da sessão.
Se você nunca
praticou atividade física programada, comece por aumentar a atividades
diárias que faz habitualmente,como caminhar,subir e descer escadas,
etc.
Interromper o exercício
ante sinais de hipoglicemia, dor no peito ou respiração sibilante.
O sapato utilizado deve
ser confortável e as meias de algodão.Examine diariamente os
seus pés.
Beber uma quantidade
maior de líquido sem calorias nem cafeína,como água,antes,durante
e após a ativi-
dade física.
Se quiser conhecer a
intensidade do esforço realizado, controle a sua freqüência
cardíaca imediatamente após
o fim do exercício.
Não esqueça
de levar açúcar para a sessão de atividade física.
Se você caminha,corre
ou anda de bicicleta, evite as interrupções durante o tempo
proposto.
Recomendações para a equipe de saúde:
Determinar se o paciente é sedentário,
ativo ou treinador.
Realizar um exame clínico
geral (fundo de olho,presença de neuropatia,osteoartrite)e cardiovascular
incluindo uma prova de esforço (ergometria)antes de recomendar ao paciente
o tipo,intensidade e duração
da atividade física.
Selecionar junto com o
paciente atividades que sejam de seu gosto e recomendar especialmente ao sedentário
ou obeso realizar tividades em grupo ou na companhia de outras pessoas.Assim
diminui o risco de
deserção.
Ensinar o paciente (se
não sabe)a realizar auto-monitorização glicêmica
e recomendar fazê-la antes do início da sessão de atividade
física, porque: a Se glicemia >300mg/dl ou em presença
de corpos cetônicos,adiar a prática do exercício. b Se
a glicemia está dentro os limites normais,ou ante uma hipoglicemia,ingerir
carboidratos extras antes do exercício (de acordo com sua intensidade
e duração). Em regra geral,consumir 10-20 gramas de carboidratos
por cada 30 minutos de atividade moderada.
Para diminuir o risco
de hipoglicemia se o paciente recebe insulina ou sulfoniluréias:
a Estimar a intensidade e duração da atividade física.
b No caso de uso de hipoglicemiantes orais,pode diminuir ou suspender
a dose prevista antes do exercício.
c No caso de uso de insulina,fazer a aplicação mais de
uma hora antes do exercício e diminuir a dose que produz o pico no momento
da atividade.
d Se a atividade for superior ao normal,recomende o controle da glicemia
durante a noite,porque pode ser necessário diminuir a dose de insulina
ou de hipoglicemiante noturno.
Se desejar verificar o
efeito do exercício sobre a glicemia,recomende ao paciente controla-la
partir de meia- hora após o fim da atividade.
Ensinar o paciente a controlar
sua freqüência cardíaca.
Referências
1.Nora Mercuri,Daniel Assad.La práctica de actividad física en
personas con diabetes tipo 2.Diabetes tipo 2 no insulinodependiente:su diagnóstico,control
y tratamiento. Sociedad Argentina de Diabetes (SAD),69-80,1998.
2.American Diabetes Association:Diabetes mellitus and Exercise (position Statement).Diabetes
Care,24;(1),jan 2001.
3.Susan P Helmrich et al.Physical activity and reduced occurrence of non-insulin-dependent
diabetes mellitus.New England Journal of Medicine.1991;325(3):147-152.
4.The Health Professional s Guide to Diabetes and Exercice.N Rudeman,JT
Devlin (eds).American Diabetes Association. Clinical Education Series,1995.
Fonte:
Diabetes Clínica - Jornal
Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas
- E-mail:gagliardino@infovia.com.ar