Influência da atividade física
no
tratamento da osteoporose.
Andrea
Filipovith Simões-UEL
1.
INTRODUÇÃO
Na população
atual observa-se um aumento significativo na incidência
de doenças crônico-degenerativas devido
ao sedentarismo, acelerando o processo de envelhecimento.
Essa diminuição da capacidade física
, incluindo a saúde óssea, é o
preço que se paga pela dependência cada
vez maior dos meios modernos.
O consumo intenso de álcool, cigarro, inatividade física
e má alimentação agravou o quadro das doenças hipocinéticas,
entre elas a osteoporose.
Segundo GHORAYEB e BARROS, 1999, o declínio da atividade
celular, observado a partir da terceira década de vida promoveu significativas
alterações na estrutura e na função dos órgãos,
observando-se progressiva corrosão das reservas funcionais associadas
a queda de resistência do corpo humano em relação aos distúrbios,
ao estresse e aos processos patológicos.
A osteoporose consiste num enfraquecimento ósseo pela
diminuição progressiva da massa óssea por unidade de volume,
tornando os ossos porosos e facilmente fraturados.
O aumento no número de fraturas em pessoas idosas, principalmente
mulheres, sendo estas fraturas conseqüências da osteoporose, nomeou
esta doença como epidemia do século XXI, tornando essas pessoas
incapacitadas de realizar muitos movimentos antes considerados cotidianos.
Essa situação ocorre principalmente em mulheres
no período da menopausa, quando essa perda óssea chega a atingir
1 a 3% ao ano, acentuando-se ainda mais na pós-menopausa, pois ocorre
a diminuição dos níveis de estrógeno, que é o
principal hormônio regulador do metabolismo ósseo (MATSUDO & MATSUDO,
Apud PINTO & CHIAPETA, 1995).
Porém nota-se que indivíduos ativos apresentam
massa óssea mais densa, mostrando que um dos meios de evitar a porosidade
excessiva dos ossos é adotar um estilo de vida ativo, uma vez que o exercício
físico é capas de provocar adaptações no sistema ósseo
como o aumento da calcificação, reestabilizando o aparelho locomotor,
melhorando a capacidade aeróbica dos idosos e reduzindo o risco de quedas
ocasionadas por falta de força, flexibilidade ou coordenação.
2.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Sistema Ósseo
O tecido ósseo é um
dos mais resistentes e rígidos do corpo humano,
tendo como principais funções proteção
das vísceras, sustentação e mobilização
juntamente com o sistema muscular, e depósito
de íons como cálcio e fosfato, armazenando-os
ou liberando-os de forma controlada visando manter
uma constante concentração iônica
nos líquidos corporais e sangue(calcemia).
Em específico, o cálcio é um dos íons
mais importantes do sistema ósseo, sendo encontrado 99% de sua quantidade
total orgânica neste.
O íon cálcio é importante na contração
muscular, transmissão do impulso nervoso, coagulação sangüínea
e adesão celular.
Logo, devido a sua grande utilização o Cálcio(Ca++) encontra-se
sempre em transição entre o plasma e os ossos. Por isso, quando
a ingestão desse elemento e suficiente ou excessiva ele é rapidamente
depositado nos ossos, entretanto, no contrário, o cálcio dos
ossos é mobilizado, aumentando sua concentração no sangue.
A calcemia, ou seja, a concentração de cálcio
no sangue, é rapidamente suprida pelas lamelas mais jovens devido ao fato
de serem pouco calcificadas, podendo receber e ceder cálcio com mais facilidade.
Já as lamelas antigas se restringem quase que exclusivamente nas funções
de suporte e proteção.
Entretanto, os ossos como todas as outras estruturas celulares,
passam por constantes alterações, não apenas quando somos
jovens e estamos na fase de crescimento, mas também quando envelhecemos.
Eles usam materiais novos, cálcio e outros minerais e ao mesmo tempo absorvem
parte dos elementos dos ossos antigos, mais ou menos na mesma proporção,
processo esse chamado de remodelagem óssea, ou seja, enquanto os osteoclastos
degradam e removem a matéria antiga, os osteoblastos produzem osso novo.
Essa troca se realiza sob o controle de determinados hormônios.
Alterações hormonais que ocorrem na menopausa
causa um desequilíbrio na equação de reconstrução
do corpo. A reabsorção do osso antigo permanece mais ou menos a
mesma, mas a assimilação do cálcio e outros minerais diminui,
causando diminuição da densidade óssea. Quando esta atinge
30%, o paciente passa a ser enquadrado como osteoporótico.
O termo osteoporose significa literalmente "ossos porosos". É uma
doença em que a massa óssea é reabsorvida lentamente pelo
corpo e o conteúdo mineral, principalmente o cálcio, é perdido,
tornando os ossos frágeis e susceptíveis a fraturas, especialmente
na região do quadril, punho e vértebras. Por isso ela é taxada
de doença silenciosa, por não dar nenhum sinal visível nem
sensorial de sua progressão.
A osteoporose também esta associada ao sedentarismo.
A atividade física é um fator importante para manter a resistência
do esqueleto. Os ossos tornam-se mais resistentes com o exercício, reduzindo
a porosidade excessiva e as conseqüentes fraturas.
Na osteoporose há uma diminuição de massa óssea
por unidade de volume. A diminuição da resistência se dá por
atrofia das trabéculas, que se tornam mais finas e rarefeitas, e também
por uma redução da espessura na parte cortical dos ossos(NUNER & FERNANDES,1997).
O decréscimo da massa óssea acentua-se a partir
dos 40 anos, podendo resultar em perda de 35% da massa cortical e 50% da massa
trabecular em mulheres nos dez primeiros anos após a menopausa. De acordo
com(SZEJNFEID&ATRA, Apud PINTO & CHIAPETA, 1995) as fraturas representam
um estágio avançado da osteoporose, em que mais de 30% da massa óssea
já foi perdida. Porém a perda osteoporótica só aparece
nas radiografias quando já atingiu a faixa de 40%.
Existem dois tipos de osteoporose; uma que acomete mulheres
após a menopausa(tipo I) e outra, a osteoporose senil(tipo II), que surge
em torno dos 70 anos em ambos os sexos, porém na proporção
de duas mulheres para cada homem. A osteoporose pós-menopausa ocasiona
uma perda de osso trabecular e a causa principal é o estilo de vida sedentário.
Na visão de SZEJNFEID & ATRA(Apud PINTO & CHIAPETA,
1995) a osteoporose é dividida de uma forma mais clinica; primária
e secundária. A secundária é causada por diferentes doenças
tais como: endócrinas, gastrointestinais, inflamatórias e outras.
Já a primária é subdividida em quatro classificações,
em que a osteoporose pós-menopausa e senil já estão incluídas,
onde a perda de osso trabecular na pós-menopausa é duas a três
vezes maior que o normal.
Os principais sintomas são: dor lombar, perda de altura,
deformidade da coluna e múltiplas fraturas, resultantes de pequenas quedas
e impactos que em condições normais não ocorreriam. Em estado
avançado a caixa torácica pode apoiar-se no rebordo pélvico,
prejudicando a função respiratória.
A vértebras osteoporóticas também se comprimem
gradualmente a medida em que sua estrutura interna enfraquece, causando uma redução
na altura de até 4 centímetros por década a partir da menopausa.
Além disso as vértebras frágeis podem se achatar totalmente
sem que o osso se rompa, sendo conhecida por fratura por compressão. Essas
fraturas podem causar espasmos muito dolorosos nos músculos circunjacentes.
Os fatores de risco para instalação da osteoporose
são: idade; sexo; obesidade; inatividade física; consumo excessivo
de álcool, fumo, café e sal; falta de vitamina D; deficiência
de estrogênio e outros hormônios responsáveis pela retenção
de cálcio e conseqüente manutenção do sistema ósseo;
pouca exposição ao sol; mulheres claras e de descendência
européia; baixo peso corporal; histórico familiar de osteoporose;
amenorréia decorrente de exercícios intensos; nuliparidade; mulheres
magras e pequenas; utilização de certas medicações
como corticóides, esteróides, hormônios da tireóide;
distúrbios endócrinos; artrite reumatóide; hepatopatia crônica;
dietas intensas e freqüentes com alto teor de proteínas, fósforo
e fibras, além de restringir a quantidade ingerida de cálcio e
grandes períodos de imobilização e repouso. É importante
ressaltar que cerca de 60 a 80% da massa óssea é determinada geneticamente.
2.2
O Cálcio
O homem vem se modernizando,
surgindo assim uma desvalorização dos
movimentos exercidos pelo corpo e uma valorização
do intelecto. O tempo passou a ser essencial para possibilitar
maior rendimento. Com isso os enlatados, as conservas
e os lanches rápidos, ricos em carboidratos
e gorduras foram ocupando o lugar dos alimentos com
maior quantidade de vitamina, proteínas e minerais.
Os minerais ocupam um importante papel na regulação
das reações químicas celulares e na ativação
de certas reações responsáveis por liberar energia na síntese
de carboidratos, gorduras e no processo anabólico que parte dos aminoácidos.
Além disso atuam como solução no controle do equilíbrio
dos fluidos corporais.
Dentre os minerais o cálcio é o principal elemento
para o desenvolvimento e a manutenção da massa óssea, participante
obrigatório da função fisiológica vital e o corpo
humano não produz, dependendo da alimentação para obtê-lo.
Assim, sob condições de ingestão inadequada o cálcio
esquelético é lançado na corrente sangüínea
para prevenir os desequilíbrios nutricionais, gerando um balanço
negativo na remodelação óssea.
Segundo KATCH e McARDLE(1990) pessoas adultas necessitam de
800mg de cálcio diariamente. Já OTIS e LUNCH; Apud PINTO E CHIAPETA,
1995 a quantidade de cálcio diária é de 1.200 a 1.500mg
para garotas até 20 anos, 1.000mg para mulheres adultas e 1.500mg para
mulheres acima de 50 anos que possuem o ciclo menstrual irregular ou abstenção
do mesmo e também para grávidas ou em período de amamentação.
A suplementação de cálcio, ou seja, cuidado
e modificação na dieta, a administração de estrogênio
e outros medicamentos e a atividade física têm sido o principal
regime profilático e terapêutico contra a osteoporose(NIEMAN,1999).
Há ainda a suplementação com fluoretos.
Esta suplementação não demonstra ser benéfica para
prevenção ou redução da osteoporose, mas existem
estudos que demonstram que pessoas que vivem em áreas enriquecida com
fluoreto têm menos osteoporose e menos cáries que a maior parte
da população. O papel dos fluoretos na possível prevenção
da osteoporose esta sendo investigado.
2.3
Utilização
de Estrogênio
O climatério é definido
como a fase transitória na vida da mulher, entre
as idades de capacidades reprodutora e não reprodutora,
tendo como marco central a amenorréia definitiva,
isto é, a menopausa.
O estrogênio é um hormônio produzido pelos
ovários e sua função é controlar o ciclo menstrual,
aumentar a deposição de gordura e promover as características
sexuais femininas. Acredita-se que o estrogênio aprimora a absorção
de cálcio pelo organismo e limita sua retirada do osso. Nesse sentido
o decréscimo de estrogênio pode acentuar a perda óssea em
mulheres pós-menopausa .
A taxa de estrogênio é aumentada com o exercício
físico. Contudo o estímulo que o exercício proporciona ao
osso em mulheres na pós-menopausa pode não ser suficiente para
diminuir a taxa acelerada de reabsorção óssea, tornando-se
necessário administrar suplementos de estrogênio para mantê-los
em níveis adequados ao organismo. Deve-se salientar que efeitos prolongados
de terapia estrogênica aumenta o risco de câncer do útero,
da mama e de outros órgãos.
2.4
Atividade Física
Assim como os músculos,
os ossos permanecem fortes com a prática de
exercícios regulares. A manutenção
da massa óssea, ou sua hipertrofia, parece estar
relacionada não só com a contração
muscular, mas também com a ação
da gravidade e com o estresse mecânico a que
o osso esta submetido. Reforçando o efeito da
ação da gravidade, observou-se notável
perda óssea em astronautas que retornaram de
missões especiais. Quando
os astronautas passam 10 dias no espaço, livres
da ação da gravidade, perdem 75 do conteúdo
dos ossos do calcanhar; as pessoas que não correm
habitualmente possuem 1/5 a menos de conteúdo
mineral do fêmur do que os corredores de longas
distâncias. Um período de seis meses na
cama pode extraídos ossos cerca de 40%do seu
conteúdo mineral.
Exercícios com sustentação do peso do
corpo, como caminhada, jogging e dança, foram os primeiros exercícios
de terapia prescritos para reduzir a perda óssea associada a menopausa.
Recentes pesquisas sugerem que exercícios de sobrecarga em locais específicos
e com impacto promovem um estímulo mais efetivo, ou seja, o exercício
não tem somente um efeito sistêmico, mas também um efeito
local sobre o osso, visto que o tecido ósseo é sensível
as demandas que agem sobre ele e responde prontamente a elas, fazendo com que
cada modificação de um osso seja acompanhada por uma alteração
específica na arquitetura interna.
Exercícios com pesos ou aqueles em que o indivíduo
tem que suportar o peso corporal são mais eficientes para o estímulo,
o efeito piezelétrico no osso, gerando maior atividade osteoblástica
e aumentando a formação óssea através do incremento
da síntese de proteínas e de DNA (RASO et al.,1997).
FIATARONE et al. Apud PINTO E CHIAPETA, 1995, evidenciam que
o treinamento de força muscular de alta intensidade (80% de uma repetição
máxima) realizado 3X/semana, durante o período de um ano, promove
o incremento de duas gramas no conteúdo total de mineral ósseo
no mesmo intervalo de tempo.
A prática de ginástica desde a adolescência
proporciona uma massa muscular mais forte. Como os músculos estão
inseridos nos ossos, estes também são estimulados no seu desenvolvimento.
Além disso, é durante a puberdade, mais especificamente dos 9 aos
20 anos, que ocorre a formação da densidade óssea ideal.
Essa formação poderá ser decisiva no futuro, causando uma
desaceleração da massa óssea inevitável que ocorrerá com
o passar da idade.
É importante lembrar também que entra os 20 e
30 anos acontece o pico de massa óssea. Depois do pico ser atingido o
ciclo da remodelagem óssea permanece em equilíbrio até aproximadamente
50 anos. Só a partir dessa idade é que começa a ocorrer
a perda gradual da massa óssea por aceleração da atividade
osteoclástica.
Assim as mulheres com a musculatura firme estariam mais protegidas
contra a osteoporose.
Os objetivos básicos da ginástica seria prevenir
a rápida perda óssea que acontece em mulheres com níveis
inadequados de estrogênios, prevenir taxa de perda óssea nos adultos
em terceira idade e nos indivíduos menos ativos e aumentar o nível
de densidade óssea em mulheres durante a adolescência, uma vez que
a prevenção da doença não deve começar na
pré ou pós-menopausa, mas na infância.
(COOPER; Apud PINTO E CHIAPETA, 1995) relatou que o exercício aeróbico
tem o seu melhor efeito sobre o sistema cardiovascular e a obesidade, enquanto
que os exercícios de resistência muscular aumentam a força
e a densidade óssea. Porém MAZZEO at al (1998) diz que o exercício
desempenhado regularmente tem efeito positivo, porém pequeno, sobre
a densidade óssea em indivíduos idosos, promovendo diminuição
no declínio do conteúdo mineral.
No entanto, existe exercícios que possuem controvérsias
entre os estudiosos, como é o caso da natação. A natação é recomendada
por OURIQUES e FERNANDES,(1997), no tratamento de osteoporose em indivíduos
com estado avançado, com alto grau de fraturas. Sendo a natação
uma excelente atividade aeróbica além de boa para manter as articulações
em movimento, esta não exerce nenhuma pressão sobre o sistema locomotor
não se tornando tão eficaz quanto as outras formas de exercícios
para frear os efeitos nocivos da osteoporose por não criar qualquer efeito
piezelétrico, segundo ESTORF(1998)
Segundo OURIQUES e FERNANDES (1997) o efeito piezelétrico é a
transformação de energia mecânica em elétrica. A atividade
muscular juntamente com a atividade óssea (ligação ósteotendínea)
são responsáveis pela energia mecânica. As terminações
nervosas existentes nessa região são responsáveis em levar
estímulos proporcionados pela atividade física até a medula
espinhal ou cérebro. Sendo assim, o estímulo da carga mecânica
provocado pela atividade física ocasiona um efeito piezelétrico
estimulando os osteoblastos.
Além de prevenir a osteoporose, a atividade física
proporciona outros benefícios como: prevenção de problemas
cardiovasculares, combate a obesidade, promoção do bem estar físico,
integração social do indivíduo com seu meio e redução
do risco de quedas.
3.
CONCLUSÃO
Exercícios
aeróbicos e exercícios localizados proporcionam
uma diminuição respeitável no
processo de osteoporose, ou até mesmo um acréscimo
na densidade óssea, tornando a atividade física
uma grande aliada na prevenção de doenças
mesmo no período da 3º idade.
Com isso a prevenção e reversão no quadro
de osteoporose depende tanto da medicina, quanto da nutrição ou
da educação física, uma vez que uma boa alimentação
rica em cálcio, níveis adequados de estrogênio e a prática
de exercícios promovem a manutenção e até o incremento
da massa óssea em mulheres no climatério.
No entanto é importante ressaltar que a utilização
de estrogênio, embora seja benéfica, pode aumentar o risco de câncer
de útero, de mama bem como de outros órgãos.
Logo, a prevenção da osteoporose deve ser um
projeto ao longo da vida, no qual se comece estabelecendo hábitos e condutas
saudáveis desde a infância.
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