Introdução
Lá pelos idos anos 50 acreditava-se que os neurônios
uma vez destruídos não se regeneravam. Além
disso, dizia-se que só usávamos 10% do nosso
cérebro e ao longo da vida a gente ia perdendo capacidade
de raciocínio. Ledo engano. Os neurônios podem
se regenerar e normalmente usamos todo o cérebro a vida
toda. Claro, desde que se queira usar.
As Pesquisas
Os pesquisadores descobriram que a atividade
física entre tantos hormônios, proteínas
e outros produtos bioquímicos estimulados também
interferem de forma favorável na produção
da neurotrofina. Uma proteína responsável pela
sobrevivência dos neurônios, comunicação
entre eles, suas mudanças adaptativas chamada de plasticidade
sináptica e na capacidade de formação
de novos neurônios (neurogêse).
Em experiência
com ratos também descobriram que a neurotrofina se acumula
na medula espinhal e nos músculos esqueléticos
permanecendo por algumas horas após o exercício.
Ficou provado que o crescimento maior acontece justamente nas
terminações conhecidas como axônio e dentritos
ou conjunto chamado de neuritos. Para chegarem a essa conclusão
comprimiram o nervo ciático
de ratos que se exercitaram durante sete dias consecutivos
comparando com ratos sedentários verificando regeneração
de mais axônios de nervos ciáticos no grupo fisicamente
ativo.
Outra descoberta importante foi a de que os ratos que
correram por mais tempo a regeneração foi maior.
Ou seja, proporcional à distância percorrida.
Os humanos
Claro, com seres humanos a experiência se
faz comparando grupos sedentários com fisicamente ativos
especialmente em idosos sabendo que o avanço da idade,
entre outras reações pode declinar nas funções
cerebrais se não for estimulado. Homens sedentários
com mais de 50 anos foram divididos em dois grupos. Ao primeiro
foi aplicado um treinamento físico dividido em parte
aeróbia de força e flexibilidade enquanto o segundo
grupo continuou sedentário. Ao final de 12 semanas foi
feito testes de memória e raciocínios lógicos,
similares as testes psicotécnicos nos dois grupos e
o primeiro obteve melhores desempenhos. Os mesmos testes também
foram aplicados antes do início da etapa de treinamento
físico.
Outro estudo semelhante comparou três
grupos de idosos. Um estudando e fazendo exercício físico,
outro só fazendo exercício e o terceiro não
fazendo nada. O melhor desempenho em testes de raciocínio
foi o primeiro grupo. Embora não fosse objeto do estudo
ficou comprovado que os dois primeiros grupos diminuíram
o consumo de medicamentos. Idosos sedentários costumam
consumir medicamentos para pressão arterial, diabetes,
dor de cabeça, depressão
e muitos outros. Ou seja, é remédio para tudo
cujos males o exercício físico tem ação
preventiva.
Em outras experiências com indivíduos
vítimas
de AVC há algum tempo se sabe que parte dos movimentos
perdidos podem ser recuperados, mas isso não acontece
recuperando os neurônios danificados e sim estimulando
o brotamento de axônios nos neurônios vizinhos
que passam a exercer funções que antes não
eram suas. Hoje existem exames de imagem apurados capazes de
mostrar neurônios inervando mais de uma placa motora
em pacientes com síndrome amiotrófica por conta
do fenômeno chamado de brotamento colateral estimulado
com manobras de exercícios fisioterápicos. Fazendo
uma analogia com uma planta quando cortamos os galhos (poda)
elas voltam a brotar em torno do galho cortado. Entretanto
se for cortada no tronco é bem provável que ela
morra. Sabe-se que quanto mais movimentos variados, mais estímulos,
mais neurônios ativados corroborando a teoria de se praticar
vários exercícios diferentes e não apenas
uma atividade física não só em benefício
de melhorar a estrutura muscular como também as ramificações
dos neurônios (dentritos).
A
Musculação e os Neurônios
Vários
pesquisadores têm se desdobrado para identificar qual
o tipo de treinamento capaz de liberar maior quantidade de
hormônios anabólicos sem que o indivíduo
recorra à ingestão de anabolizantes. O objeto
desses estudos tem sido a testosterona não só pelo
resultado na hipertrofia como também no prazer pós-exercício
muito similar à endorfina assim como no aumento da libido
em homens e mulheres.
Hakkinen et al., 1988a, 1988b, 1989, 1992
entre muitos outros que o sucederam comparou série simples
(uma) com séries
múltiplas (três) e comprovou que a liberação
aguda de testosterona é maior na série simples.
Concluiu também que quanto maior o número de
séries maiores as chances de o efeito contrário
acontecer gerando o que se conhece em fisiologia de catabolismo
(perda de massa muscular). Como sabemos que a função
de crescimento da testosterona não é apenas nos
músculos e sim em todo o organismo e o corpo humano é uma
eterna batalha de células morrendo e se regenerando.
A musculação é mais um grande aliado
em manter o corpo em equilíbrio de forma natural inclusive
dos neurônios pela ação da testosterona.
Em contrapartida sabe-se que tudo em falta ou excesso no corpo é ruim
e a testosterona não foge á regra. Cientistas
descobriram que o excesso de testosterona pode destruir neurônios
por um processo chamado apoptose ou de células suicida.
Ou seja, simpatizantes de ingestão de anabolizantes
devem pensar bem, pois o excesso de testosterona além
de todos os males conhecidos não deixa o indivíduo
mais macho e ainda pode deixá-lo menos inteligente.
Conclusão
A neurociência tenta desvendar o funcionamento
do cérebro e a partir do final dos anos 90 deu um grande
avanço descobrindo que tal como os músculos se
tornam fortes com treinamento físico o cérebro
também se torna mais eficiente com o uso experimentando
novos desafios de aprendizado, lendo, escrevendo e aprendendo
coisas novas. As mesmas pesquisas descobriram que o cérebro
pode regredir com o estresse, sedentarismo, hábitos
de vida nada saudáveis e leituras fúteis. Basta
encher a cabeça com informações inúteis
na Internet, algumas redes sociais e programas de televisão
especializados em notícias ruins.
Para Refletir
Alguns cérebros pensam, concluem e realizam;
outros pensam concluem e não realizam; outros pensam
não concluem e não realizam; outros nem pensam.
Não servem para nada. (Moraes 2012)
Sobre a Ética
Ética não está na
cor dos cabelos, no comprimento nem de quantos fios permanecem
grudados no couro cabeludo. Está dentro da cabeça
de cada um. (Moraes 2012).
Leitura sugerida:
1) CADORE EL, Lhullier FLR, Brentano MA, Silva EM, Spinelli
R, Kruel LFM, et al. Homens de meia idade treinados e não
treinados possuem diferentes respostas hormonais salivares
ao treinamento de força. Livro de Resumos da XXI Reunião
Anual da Federação de Sociedades de Biologia
Experimental – Águas de Lindóia 2006: 61.
2) CARDOSO, Silvia Helena e SABBATINI, Renato M.E. – Aprendizagem
e Mudanças no Cérebro – Universidade Estadual
de Campinas – 2000 - Acesso em: 26/09/2012 – Disponível
em: http://www.cerebromente.org.br/n11/mente/eisntein/rats-p.html
3) FLECK Steven J. Fundamentos do Treinamento de Força
Muscular - 2ª edição - Porto Alegre - R.S.
- Editora Artes Médicas Sul Ltda - 1999.
4) KENSKI, Rafael – Revista Super Interessante Digital,
A Revolução do Cérebro – Agosto
2006. Acesso em: 26/09/2012 – Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/revolucao-cerebro-446545.shtml
5) LUNA, Carolina e DIAS, Luciana Baltazar – O Papel
da Plasticidade Cerebral em Terapia Intensiva – Universidade
Estadual de Campinas - Agosto de 2002 - Acesso em 26/09/2012 – Disponível
em: http://www.cerebromente.org.br/n15/mente/plasticidade1.html
6) McARDLE WD, KATCH FI., KATCH VL. Fisiologia do Exercício:
Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 3. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1991.
7) PORTO, Marcelo e colaboradores – Influência
das Variáveis do Treinamento de Força Sobre a
Secreção de Testosterona e Hormônio do
Crescimento – REVISTA HISPECI & LEMA - Acesso em:
26/09/2012 – Disponível em: http://www.unifafibe.com.br/revistahispecilema/pdf/revista6.pdf
8) SIMÃO, Roberto – Fundamentos Fisiológicos
Para o Treinamento de Força e Potência – São
Paulo – Editora Phorte, 2003.
9) SHIMIZU, Heitor – Exercício para Regenerar
Neurônios – Agência FAPESP – Acesso
em: 26/09/2012 – Disponível em: http://agencia.fapesp.br/1851
10) UCHIDA MC, Bacurau RFP, Navarro F, Pontes LF, Tessuti VD,
Moreau RL, et al. Alteração da relação
testosterona: cortisol induzida pelo treinamento de força
em mulheres. Rev. Bras Med. Esporte 2004; 10:165-168.