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Sex, 22/1/10 10:22

DANÇA: UMA PERSPECTIVA NA ESCOLA

* Autores:
Silvana dos Santos1
Silvio Pinheiro de Souza2
Data de Publicação: 21 de Janeiro de 2010.

RESUMO

Vivemos em uma sociedade que contribui para a formação de pessoas, estas por sua vez são influenciadas pelas informações provenientes dos meios de comunicação e da cultura de massa que impõem modelos prontos. Pensando na possibilidade de acesso a cultura elaboramos o estudo sobre dança no âmbito escolar, destacando suas características e sugerindo o uso da musicalidade neste processo, buscamos ainda abordar o processo histórico e sua inclusão na escola, enfatizando o seu valor educacional, pautado na linguagem corporal do aluno, permitindo desta forma que ocorra uma consciência corporal por meio de gestos livres, a qual possibilita ao aluno demonstrar seus sentimentos e emoções. Diante desta contextualização objetivamos realizar reflexões acerca da possibilidade de desenvolver uma prática de dança na escola. Ressaltando ainda a importância da dança na melhoria qualitativa, destes alunos, visto que esta modalidade proporciona o conhecimento do corpo enquanto instrumento de seu uso. Esta proposta foi efetivada por meio de uma pesquisa bibliográfica, pautada na busca de informações necessárias, afim de desenvolver uma teoria através de fontes impressas e ou eletrônicas, para a construção de um novo estudo. Por tanto o estudo evidenciou que aliar a dança à escola é um forte elemento educacional, que possibilita uma gama de experiências da cultura corporal das crianças contribuindo desta forma para sua formação integral.
Palavras-chave: Dança. Elemento educacional. Escola.


1. INTRODUÇÃO

A capacidade de se expressar por meio do corpo é intrínseca ao ser humano, é uma característica que se aprimora continuamente, desde as civilizações mais antigas. Nessa medida o movimento se constitui em um dos principais meios de interação entre o homem e o mundo a sua volta, desde as ações mais simples até o conjunto de ações simbólicas e complexas que compõem a arte da dança.

Vivemos em uma sociedade que contribui para a formação de pessoas fragmentadas, as quais se especializam em determinadas atividades, em um tipo de raciocínio, hipertrofiam algumas funções cerebrais e partes do corpo em detrimento de outras. Pessoas condicionadas pelo bombardeio diário de informações provenientes dos meios de comunicação e da cultura de massa que impõem modelos prontos e influenciam diretamente na capacidade de percepção e atuação na sociedade.

Nesse sentido, a pratica da dança seria uma forma de ampliar a percepção das pessoas, com a ampliação da consciência corporal, buscando favorecer a integração do corpo, mente e emoções por meio do contato com essa manifestação artística. Por isso a importância fundamental de que o ensino da linguagem da dança realmente ocorra nas escolas. O que permite democratizar uma linguagem tão elitizada dentro da realidade socioeconômica brasileira.

2. Dança no âmbito escolar

A educação física nas séries iniciais é fundamental para o aluno, pois possibilita a estes a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e participar de atividades culturais fazendo uso dos jogos, lutas, ginástica e principalmente da dança, de modo que expressem os sentimentos, afetos e emoções.

Sendo a Dança uma manifestação sócio/ cultural e educacional direcionada à todos por meio de linguagens diversificadas, independente da etnia, crença ou religião, podendo ainda ser praticada por homens, mulheres e crianças. Pode ser apresentada com muita técnica através de bailarinos preparados para tal, bem como de uma forma mais espontânea, demonstrando os sentimentos. Parte-se aqui do pressuposto de que a dança, enquanto manifestação artística, possui inúmeras possibilidades de concretizar-se como espaço educacional, pensando nela enquanto instrumento de mediação do conhecimento, configurando-se como aliada no momento histórico de transformação da sociedade atual, pois (SOLZHENITSY, 1972, p. 50) acredita que a dança “...transfere de um homem para outro, durante sua breve passagem pela terra, a carga de experiência de uma vida inteira, com todo o seu peso, todas suas cores e toda sua linfa vital; cria novamente na carne uma experiência desconhecida e permite-nos possuí-la como se fosse nossa própria.\"

A Dança tem marcado de forma especial cada época de maneira que está interligada a cultura, pois era uma forma do homem expressar sua cultura e sentimentos.
A dança por sua vez, emerge deste complexo de atividades humanas, como uma das manifestações do ser racional, traduzidas em linguagem gestuais através da história da humanidade. Percorrendo as mais variadas civilizações, a dança desponta como uma das expressões mais significativas, pois através dela é possível conhecer os hábitos e costumes da sociedade. (RANGEL, 2000 p.33)

Com Isadora Duncan começa a surgir a Dança Livre, que embora possuísse formação técnica, não se prendia aos princípios artificiais do clássico, se inspirava na natureza. Rangel (2000, p.38), refere que: “este estilo tinha o intuito de buscar a essência da dança, procurando atingir diretamente a alma e as emoções”.
A dança se constitui em uma linguagem com sentido e significado marcante e profundo, pois mais que perceber o corpo como um agente habilidoso o aluno se abre para a percepção das sensações, advindas das experimentações do corpo com a arte que revela redes de sentido desta manifestação, formando um corpo poético em sua complexidade de movimentos corporais dando liberdade de criação variando entre o livre e o controlado, com características tais como: contração do tronco, braços e pernas, refletindo assim os sentimentos do homem. Vale ressaltar ainda que no âmbito escolar a dança proporciona uma relação direta com os aspectos socioculturais, expressões corporais, a prática de movimentos corporais próprio, autoconfiança. (NANNI, s/d apud RANGEL, 1995, p.44) elucida que, a expressão de determinada civilização pode ser entendida como reflexo dos sentimentos e pensamentos desta comunidade.

Por razões historicamente determinadas à educação escolar tem privilegiado valores intelectuais em relação a valores corporais. Giffoni (1973, p.15) afirma que os problemas educacionais \"quase sempre são considerados pelo lado intelectual, constituindo uma das faltas da educação\". Bèrge (1988, p.24) também concorda quando utiliza a metáfora \"O cérebro se empanturra, enquanto o corpo permanece esfomeado\".

Torna-se evidente que a educação através da dança escolar não se resume em buscar sua execução em festinhas comemorativas. Mas, no sentido de se buscar uma forma de dança que se liberte do academicismo mostrando que esta não se restringe apenas ao aprendizado de técnicas e estilos, vai muito mais além do que simples classificação, pois conforme Ferrari (2003, p.1), \"a Dança na escola não é a arte do espetáculo, é educação através da arte\".
Segundo Nanni (1998), a dança é uma arte que significa expressão gestual e facial através de movimentos corporais, emoções sentidas a partir de determinado estado de espírito. Tem seu desenvolvimento impresso na história da humanidade através dos diversos estilos, ou linguagens, como: Ballet Clássico, Dança de Salão, Danças Folclórica, Dança Clássica, Danças de Salão Gaúcho, Dança Criativa, Dança Expressiva, e Hip Hop.
Uma aula de Dança na escola permite ao professor conhecer melhor o seu aluno, ou seja, saber suas preferências sobre o que gosta de brincar, de cantar, de ouvir; discutir suas experiências; fazer fluir sua imaginação e verificar a influência dela na realidade e nas atitudes da criança. Verderi (1998) afirma que a Dança é uma expressão representativa de diver¬sos aspectos da vida do homem.
Desta forma a prática da Dança na escola deve estar voltada não só para a recreação, ou simplesmente para o treino de habilidades motoras, mas para o equilíbrio psíquico, para a expressão criativa e espontânea, a fim de assegurar aos alunos a possibilidade de reconhecimento e compreensão do universo sim¬bólico. Pereira et al (2001) elucida que a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola, com ela pode-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e aos outros, a explorarem o mundo da emoção e da imaginação, a criarem, explorando novos sentidos, através de movimentos livres.
Neste contexto Nanni (1998, p.8), tem a visão de que é a partir do processo criativo, desenvolvido pela dança na escola, que o indivíduo se emancipa, \"a criatividade possibilita a independência a liberdade do ser pela autonomia e emancipação\". Enquanto Brikman (1989), afirma que a Expressão Corporal desempenha e amplia todas as possibilidades humanas, é justamente constituída no movimento corporal.
Este movimento corporal é a possibilidade de conhecimento dessa linguagem individual. Por imediato, o corpo tem a capacidade de se manifestar, o que, na expressão corporal, se apresenta através do vivido corporal, da experiência do corpo seja em situações do cotidiano ou da arte. Enquanto a linguagem não verbal traz um sentido mais amplo para o entendimento de corpo, mas, a idéia de uma expressão corporal que amplie os sentidos do movimento humano, se torna evidente na dança moderna e chega à dança contemporânea. A Expressão Corporal, segundo Stokoe e Harf (1987), é uma linguagem, através da qual o ser humano expressa sensações, sentimentos e pensamentos com o seu corpo.
É importante, contudo, que a prática da dança com objetivos educacionais tenha início na escola, como pode se verificar em Steinhilber (2000, p.8), \"Uma criança que participa de aulas de dança se adapta melhor aos colegas e encontra mais facilidade no processo de alfabetização\". Cunha (1992, p.13) também ressalta a importância da dança em âmbito escolar, \"somente a escola, através do emprego de um trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir e formar um indivíduo com conhecimento de suas verdadeiras possibilidades corporais-expressivas.\"

Neste sentido, buscar uma prática pedagógica através da dança contemporânea consiste em possibilitar ao indivíduo expressar-se criativamente, sem exclusões, tornando esta linguagem corporal transformadora e não reprodutora. O valor educacional da dança deve-se a universalidade das formas de movimento que são ativados no corpo do aluno.

Diferente das outras técnicas, a Dança Contemporânea não se utiliza de passos e sim do fluxo do movimento que se estende por todas as articulações do corpo, fato cada vez mais essencial na sociedade atual, onde a estagnação corporal impera. Gaspari (2002) elucida que assim permite ao homem utilizar os movimentos espontâneos, fugindo do movimento motor estereotipado. O que vem a reforçar; sensibilidade, imaginação e criatividade, tanto em práticas cotidianas e triviais, bem como na aquisição e aprimoramento de valores pessoais e sociais.
A Dança Contemporânea referidas por Rengel e Langendonck (2006), abandona algumas hierarquias, no sentido de haver um bailarino melhor que o outro. Sugere uma dança que pode acontecer em prédios, praças, galerias de arte e não impõe modelos rígidos aos corpos que dançam. Marcam algumas novas tendências estimulando a criação e a pesquisa do movimento e suas potencialidades.
Porém a escola deve estar sensível aos valores e vivências corporais que o indivíduo traz consigo, permitindo desta forma que conteúdos trabalhados, se tornem mais significativos. Neste sentido Marques (2003, p.32) aborda que, para se fazer escolhas significativas \"seria interessante levarmos em consideração o contexto dos alunos\", respeitando suas próprias escolhas, opiniões e criações.
Dentre essa gama de possibilidades de trabalhar com a dança, nota-se atualmente uma procura crescente nas escolas, que tem por finalidade trabalhar a dança na educação, vendo que ensinar dança na escola é possibilitar à seus praticantes um melhor conhecimento de seus sentimentos, significados, sensações, os sentidos que o ato de ensinar a dançar poderia ter para cada pessoa.
Atualmente existe uma melhor compreensão a respeito dos valores formativos e criativos da dança, que levam a uma ampliação das ações corporais. O ato de dançar na escola é importante por vários motivos, o contato com a dança, enquanto expressão artística, estimulando a sensibilidade dos alunos bem como a dança enquanto transmissor de conhecimento na educação (OSSONA, 1988).
Vale ressaltar ainda que a dança seria uma ótima opção à ser aplicada na escola, pois esta possibilita a integração a outros elementos educacionais cuja finalidade também é o de estabelecer o bom relacionamento entre seus praticantes, bem como demonstrar seus sentimentos através de movimentos corporais cadenciados e espontâneos como o caso da capoeira que de forma involuntária se relaciona com a dança contemporânea através de sua liberdade de expressão.
3. Papel da musicalidade na dança
A dança tem acompanhado o ser humano desde a antiguidade e feito parte da cultura do homem desde os tempos mais remotos. Segundo Rangel (2000, p.33) o homem através das manifestações corporais agradecia, pedia boa colheita e boa caça, dançava para comemorar suas vitórias, chorava pelos seus mortos e ainda rezava para seus deuses, pode-se dizer que a dança estava presente em praticamente todas as ocasiões, sempre envolvida com a forma de manifestação que o homem vivenciava no mundo e da forma que era influenciado.

Vale ressaltar ainda a importância da musicalidade, esta desencadeia boa parte do processo ritualístico da Dança, ou seja, é a partir da musicalidade que os movimentos são executados, os instrumentos são tocados e as cantigas entoadas.

Portanto, toda a contribuição da musicalidade no processo pedagógico poderá facilmente ser transportado para a intervenção da dança, haja vista que a mesma é essencial para a execução dos movimentos corporais na dança.

O ritmo, elemento potencialmente explorado na musicalidade da dança, tem o poder gerador de impulso e movimento no espaço, desenvolvendo a motricidade e a percepção sensorial, além de induzir estados afetivos, contribuindo para algumas aquisições, tais como: linguagem, leitura, escrita e lógica matemática.

A associação do canto e do movimento permite a criança sentir a identidade rítmica, ligando os movimentos do corpo e os sons musicais. Estes sons musicais cantados, emitidos pelas crianças e ligados a própria respiração, não têm o caráter agressivo que pode revestir um tema musical no qual a criança deve adaptar-se aos exercícios de sincronização sensório-motora. Esta atividade representa um estágio prévio ao ajustamento e um suporte musical imposto à criança (LÊ BOULCH, 1982, p.182).
O trabalho musical da dança proporciona o ajustamento rítmico da criança correlacionando a noções de tempo-espaço, o que favorece um maior equilíbrio emocional da mesma, melhorando as relações com os outros colegas a partir do respeito do ritmo do outro e de si mesmo.
Através da atividade com a dança a criança poderá facilmente familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, pois os exercícios que permeiam essa prática envolvem todas as partes do corpo, inclusive contando com a aquisição de gestos que são associados a uma cadência rítmica em dinâmicas que fortalecem a integração dos envolvidos, ajudando no amadurecimento das noções tempo-espaço, além de desenvolver, cada vez mais, uma atitude de interesse e cuidado com o próprio corpo.

A dança auxiliará na ampliação das diferentes qualidades físicas e dinâmicas do movimento, pois são freqüentes as situações em que os alunos são convidados a simularem movimentos que começarão de naturais, melhorando a condição do andar, correr, pular, trepar, equilibrar, rolar, além de trabalhar força, velocidade, resistência e flexibilidade, aliado a um suporte lúdico, que é fator preponderante para a prática da dança e nas intervenções pedagógicas com crianças na fase escolar.

4. Considerações finais
Aliar a dança à escola é acreditar na possibilidade de se trabalhar de forma diversificada, atuando com elementos educacionais que possibilita ao aluno a liberdade de se expressar. Pois suas características de contração do tronco, braços e pernas, refletem os sentimentos do homem. Um traço marcante da dança esta na liberdade e livre expressão, marcando cada movimento realizado, onde cada praticante poderá realizar seu estilo próprio sem aquela preocupação técnica onde se busca unicamente um bom bailarino. A dança possibilita aos educadores uma forma dinâmica e criativa para se trabalhar com crianças nas séries iniciais.
O presente estudo nos permite observar uma proximidade entre essa manifestações da cultura corporal e a escola, pois, um trabalho materializado pelas abordagens da dança favorece a formação de um corpo poético, o qual, acreditamos, poder ser usado nos processos criativos propiciando a liberdade de criação auxiliando a formação de um sujeito socialmente autônomo. Esses apontamentos se fortalecem ao observarmos profundamente a especificidade da dança, pois ela proporciona uma compreensão da relação homem e sociedade nas diferentes culturas e civilizações na história da humanidade.
Por tanto o estudo evidenciou que aliar a dança à escola é um forte elemento educacional, que possibilita uma gama de experiências da cultura corporal das crianças contribuindo desta forma para sua formação integral.


5. Referências bibliográficas

BÈRGE,Y. Viver o seu corpo por uma pedagogia do movimento, 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. p.24.

BRIKMAN, Lola. A linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989.

GASPARI, Telma Cristiane. A dança aplicada às tendências da educação física escolar. In: Motriz, set./dez. 2002, nº 3, p. 123 – 129, Rio Claro: UNESP.

GIFFONI, M.A. C. Danças folclóricas brasileiras e suas aplicações educativas. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos.1973.

GIFFONI, M.A. C. Danças folclóricas brasileiras e suas aplicações educativas. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos.1973.p.15.

MARQUES, Isabel A., Ensino de dança hoje: textos e contextos, São Paulo: Cortez, 1999.

NANNI, D. Dança – educação: pré escola a universidade, Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

OSSONA, P. A educação pela dança. 3 ed. São Paulo: Summus, 1988. p.155.

RANGEL, Nilda Barbosa Cavalcante; Dança, Educação,Educação Física; Jundiaí-SP; 1ª ed.; 2002.

SOLZHENITSY, A. uma palavra de verdade, Trad. Agatha Maria Auesperg. 3, ed. São Paulo: Ed. Hemus, 1972.

STEINHIBER, J. Dança para acabar com a discussão. Conselho Federal de Educação Física- CONFEF, Rio de Janeiro, n.5, p. 8, nov/dez.2000.

STOKOE, Patrícia. Expressão Corporal na pré-escola. Patrícia Stokoe, Rut Harf; Tradução de Beatriz A. Cannabrava. – SP: Summus, 1987.

VERDERI,E.B.L.P. Dança na escola. Rio de Janeiro: Sprint, 1998.

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1 e 2 Graduados do curso de Educação Física – Cesumar/ Maringá – PR.

siltata2004@hotmail.com
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