Infância e adolescência
"Quando vejo uma criança, ela me inspira dois sentimentos;
ternura pelo que ela é, respeito pelo que poderá ser".
Piaget.
Características ou particularidades da infância
(Desenvolvimento)
Aproximadamente aos 6 anos de idade já encontra-se
90% a 95% do desenvolvimento físico do cérebro, a coordenação
motora e as habilidades desportivas múltiplas devem ser estimuladas neste
período ao máximo, por meio de jogos e brincadeiras, exatamente
pelo fato do cérebro estar pronto a receber um gama inimaginável
de informações.
"Os jogos favoritos incluem correr para pegar outras crianças,
esconder e achar, procurar objetos que estão faltando
e jogos de adivinhação. Certas regras vão
se tornando necessárias. Estão ligadas ao tipo
de jogo e não a quem vence ou perde". Piaget
As atividades de caráter psicológico
e físico variadas, são o estímulo para produzirem
caminhos mentais, e serem armazenadas as informações
no cérebro. Estas informações serão
exigidas no futuro em situações complexas do jogo
facilitando a aprendizagem e caracterizando a prontidão
motora esportiva. Devemos lembrar que as atividades para as crianças
são completamente diversificadas e diferentes os objetivos,
quando relacionadas às atividades físicas para
os adultos, que comumente são atividades voltadas para
a performance.
"As crianças tem estruturas mentais diferentes
das dos adultos. Não são adultos em miniatura;
elas tem seus próprios caminhos distintos, para determinar
a realidade e ver o mundo". Piaget
A condição física a
ser atingida esta em momento ótimo, mas com óbvios
limites de rendimento máximo; limite o qual não
deverá ser exigido em treino, as atividades físicas
devem possuir objetivo lúdico, educacional e não
competitivo.
"A atividade esportiva precoce terá tanto melhores
condições de se fazer educativa quanto mais próxima
ficar do jogo e mais se afastar da rigidez do treinamento".
Revista Sprint, ano IV (2)
As atividades competitivas visam alto rendimento,
possuem uma estrutura muito complexa para ser compreendida pela
criança. Na realidade social momentânea do jogo
competitivo esta a tarefa de vencer, e o fato de que sempre existe
um perdedor, para a criança esta realidade é pouco
aceita e freqüentemente desperta sentimento depressivo e
provoca choro. Caso a criança seja intuitivamente competitiva
esta deverá ser conduzida ao esporte competitivo, caso
contrário não deve ser forçada a competir.
Respeitar a condição natural humana é o
principio para o equilíbrio interior e interpessoal.
"Perder pode provocar cenas, agressão e choro.
Isto não significa que as crianças não possam
tolerar não ser as primeiras na maioria de suas atividades,
mas nos esportes e nos jogos elas necessitam de ajuda para aprender
a perder esportivamente. Piaget
Outro detalhe importante desta fase do crescimento
infantil, relaciona-se à não uniformidade do crescimento
corporal, observa-se um amadurecimento na seguinte ordem: pés
e mãos, pernas e antebraços e por ultimo coxas
e braços. Os jogos e brincadeiras desenvolvidos pelo professor,
devem seguir o principio da maturação física
da criança.
O metabolismo das crianças é muito elevado e em torno de 20%
a 30% maior que do adulto gerando a necessidade de maior ingestão e
balanceamento de nutrientes alimentares, assim como da regularidade na oferta
de alimentos. As necessidades protéicas também são elevadas
2.5 gramas de proteína por kg de peso corporal dia.
O não treinamento da força é justificado pelo baixo nível
de testosterona, pela baixa capacidade das fibras musculares utilizarem o metabolismo
glicolítico ou anaeróbio (fibras brancas), em contra partida
o metabolismo aeróbio ou oxidativo é mais elevado e predominante,
justificando atividades de baixa intensidade e longo período de duração.
Dos 5 aos 7 anos (fase pré escolar) há um elevado instinto de
movimento e vivência lúdica, uma grande curiosidade pelo desconhecido,
afirmando a necessidade de experiências múltiplas motoras, as
mesmas são intrínsecas e evidenciadas nos jogos.
"A competição em jogos e no trabalho virtualmente
não significa nada para as crianças do estágio
do pensamento intuitivo. Elas tem uma idéia muito limitada
do significado de ganhar ou perder ou de superar os outros. Cada
criança trabalha ou joga para si mesma, pelo prazer da
atividade. Ela não joga contra os outros.
Piaget.
A capacidade de concentração
da criança é de aspecto médio a baixo, os
jogos devem levar em consideração esta realidade,
jogos longos e de raciocínio lógico devem ser introduzidos
de maneira lenta e gradual aos grupos de crianças. Os
jogos e as atividades que promovem o raciocínio intuitivo
devem ser vivenciados ao máximo, visto que a criança
esta em plena fase intuitiva, as deduções das crianças
não podem ser menosprezadas, coibidas ou repreendidas
pelos adultos.
Dos 7 aos 10 anos (idade escolar) há um despertar por atividades físicas
esportivas, desenvolve-se naturalmente uma atitude otimista em relação
aos jogos, assimilação rápida de conhecimentos e habilidades,
mas há um baixo nível de fixação de movimentos,
há neste período a preocupação por um gesto ótimo
e os movimentos devem ser repetidos diversas vezes.
"Não deve haver uma preocupação determinante
pela competição esportiva, que, quando existir
deverá ser restrita ao ambiente escolar e, se possível
sem espectadores, principalmente os pais". Pini
Desenvolvimento mental
O desenvolvimento mental humano é influenciado por quatro
fatores inter-relacionados e abaixo enumerados:
1. Maturação: amadurecimento físico especialmente
do sistema nervoso central.
2. Experiência: manipulação de objetos, movimentos corporais
e pensamentos sobre os objetos concretos e processos de pensamentos que os
envolvem.
3. Interação social-jogos, conversas e trabalho com outros indivíduos
especialmente outras crianças.
4. Equilibração é o processo de reunir maturação,
experiências e socialização de modo a construir e reconstruir
estruturas mentais. Jean Piaget
Estágios
do desenvolvimento
Estágio
|
Idade
|
Pensamento intuitivo
|
4 a 7 anos
|
Operações
concretas
|
7 a 11 anos
|
Operações
formais
|
11 a 15 anos
|
Iniciação
esportiva
Deverá possuir uma característica geral quando
da passagem da criança pela fase pré-escolar (4 a 7 ) e escolar
(7 a 10 anos de idade); a característica especializada deverá estar
inserida no contexto do segundo ciclo escolar (12 a 15 anos de idade).
Pini
"Uma criança é sempre uma criança onde quer que
possa estar. Mas uma criança só é criança por uma
vez... E alguns dizem que se ela não for criança que é ajudada
a crescer, então ela poderá não ser o adulto que poderia
ter sido ... Flinchum
Adolescência
Características ou particularidades da Adolescência
Conceito:
"Período de transição entre a infância e a vida
adulta, caracterizada por intensas modificações físicas,
psicológicas e sociais".
"Período de mudanças fascinantes e ampliações
de interesse onde ocorrem sensíveis transformações psíquicas
e orgânicas". Gioia & Rodrigues
A
adolescência pode
ser dividida didaticamente para estudo da seguinte forma:
Pubescência
|
Vai dos 10 a 12anos e 12 a 14 anos
|
Puberdade
|
Vai dos 12 a 14 anos e 14 a 16 anos
|
Pós-puberdade
|
Vai dos 14 a 16 anos e 18 a 20 anos
|
Dos 10 aos 12 anos (Pubescência):
O crescimento anual é em torno de 10 cm, com um acompanhamento no peso
corporal de 9.5 kg em média. Já na puberdade o crescimento anual
decresce e fica entre 1cm e 2 cm ao ano, assim como o peso corporal situa-se
em torno de 5kg. Na ultima fase do desenvolvimento caracteriza-se por atingir
a estatura máxima do indivíduo.
Na Pubescência constata-se a melhor idade para a aprendizagem motora
com melhorias nos níveis de força, rápida maturação
morfológica e funcional, maturação labiríntica.
A união destes elementos dá condições ao pleno
desenvolvimento motor.
Dos 12 aos 15 anos (Puberdade):
Observamos uma grande variação no comportamento psicológico
com uma grande instabilidade emocional, apesar do alto nível intelectual.
Fisicamente encontramos um desenvolvimento caracterizado pelo aumento de peso
corporal e estatura, esta fase vem acompanhada da incoordenação
motora e por um desinteresse competitivo, apesar de estar na idade de treinabilidade
altíssima.
Há uma grande necessidade de vivência em grupo, assim como, uma
necessidade de auto realização no grupo ao qual o jovem esta
inserido. O aumento brusco dos níveis de testosterona e irrupção
da sexualidade são identificados.
"Nas reações entre as pessoas, todo homem é um fim
em si mesmo e não deve jamais ser convertido em meio para os fins de outro
homem". Erich Fromm
Dos 15 aos 19 anos (Pós-puberdade):
Há uma harmonia das proporções corporais acompanhada da
melhoria da coordenação motora e com óbvios reflexos sobre
a plasticidade esportiva. Fixação da aprendizagem geral em limites ótimos,
assim como encontra-se um pleno equilíbrio psíquico. Visualiza-se
uma grande e aprimorada modelagem da personalidade e com um nível intelectual
aumentado e ainda em desenvolvimento nesta fase.
Aumento mais expressivo sobre a força muscular, possivelmente provocada
pela estabilidade e regularização hormonal e psíquica,
culminando na treinabilidade máxima possível.
Final
A grande preocupação dos profissionais envolvidos
nas atividades esportivas de competição baseiam-se nos índices
de violência; é um desafio mantê-los baixo ou sob controle.
As competições entre adolescentes deve estar livre de qualquer
estímulo de agressão contra o oponente.
Deve-se cultivar uma atmosfera de competição com estímulo
ao companheirismo de equipe e as habilidades motoras e esportivas. O respeito à integridade
do oponente nunca deve ser esquecido.
" O fato é que o esporte competitivo estimula uma grande carga
de agressão". Erich Fromm
"O que produz, amiúde, agressão no âmbito do esporte é o
caráter competitivo do evento, cultuado num clima social de competição
e ampliado pela comercialização generalizada". Erich Fromm
"A alegria esta na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido, não
na vitória propriamente dita". Gandhi
"Não tenho nada de novo apenas o jeito de caminhar" Thiago
de Melo
Prof. Luiz Carlos Chiesa:
Graduado pela UFES/81; pós-graduado em treinamento desportivo UNIVERSO/99;
autor dos livros: Musculação:uma proposta de trabalho e desenvolvimento
humano, editora da UFES, 1999 e Musculação aplicações
práticas: técnicas de uso das formas e métodos de treinamento,
Shape editora, 2002.