LEVE OU PESADA, CORREDORES
DEVEM FAZER MUSCULAÇÃO
DURANTE TODO O ANO
Por: Luiz Carlos de Moraes CREF1 RJ 003529-P/R
E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
Portal: www.noticiasdocorpo.com.br
Data de Publicação: Março de 2009.
Por várias vezes defendi, continuo e vou defender sempre
a musculação para corredores. Há quem defenda
apenas no período básico e quem defenda de forma
diferenciada em cada período, posicionamento o qual sou
partidário. De sã consciência. Alguém
acha mesmo que um ganho de força física adquirido
num período básico possa durar o resto do ano suportando
todo tipo de esforço físico que o atleta submete
o seu corpo? Mesmo quem não é atleta, mas corre
o ano todo precisa manter um mínimo de força para
treinar, até porque o conceito mais simples dessa valência
física é o que um músculo ou grupo muscular
pode exercer contra uma resistência em esforço máximo.
Claro, quanto maior essa resistência, maior será a
força a ser exercida e essa resistência em momento
nenhum deixa de existir na vida de um atleta muito menos de um
corredor.
Há quem questione que os melhores corredores do mundo,
que são os quenianos, não são adeptos ao
treinamento de força. Ledo engano. Quando falamos em treinamento
de força, para alguns vem logo a idéia da musculação
pura e simplesmente pesada utilizada pelos fisiculturistas, mas
existem várias formas de desenvolver essa qualidade física
adequada à cada modalidade esportiva e especialidade até porque
existem também várias formas de manifestação
da força. São elas: Força Pura, Dinâmica,
Explosiva, Resistência Muscular Localizada e Endurance.
No caso do corredor fundistas, a Dinâmica, a explosiva,
a Resistência Muscular Localizada e a Endurance são
as mais populares e as formas de desenvolvê-las mais usadas
pelos treinadores são o circuito combinado com atividade
aeróbia, o treinamento em rampa e os exercícios
de musculação com ênfase nos membros inferiores.
Realmente não é comum os quenianos fazerem musculação,
mas a preferência absoluta são as rampas e os treinamentos
de Cross com todos os desafios de ladeiras íngremes e
obstáculos naturais. Eles fazem isso o ano todo e normalmente
os campeões de Cross são também os melhores
maratonistas.
O circuito, que é um conjunto de exercícios de
musculação executado praticamente sem intervalo,
combinado com atividade aeróbia tem grande aceitação,
mas precisa ser bem planejada a questão da intensidade
e duração de cada parte do treinamento para que
uma não interfira negativamente na outra. Ou seja, Uma
intensidade mais alta ou duração maior da parte
aeróbia, a solicitação motora pode ser contraditória
ao desenvolvimento da força ocorrendo o que se conhece
em Fisiologia por catabolismo. Existem trabalhos comparando atividade
aeróbia de 20 com 40 minutos sendo favorável à primeira
hipótese. Veja as conclusões de estudos de treinamento
combinado:
1) A força muscular pode ser comprometida, em ações
musculares de alta velocidade, pela execução de
treinamento de endurance de alta intensidade. Ou seja, correr
forte e depois fazer musculação compromete a segunda.
2) A potência muscular pode ser comprometida pela execução
simultânea de treinamento de força e de endurance.
Concluindo. Não é para fazer longa e musculação
ao mesmo tempo. No máximo uma corrida leve ou média
moderada.
3) O desempenho anaeróbio pode ser negativamente afetado
pelo treinamento de endurance de alta intensidade. Da mesa forma
não é para fazer musculação e longa
tentando baixar os tempos.
4) O consumo máximo de oxigênio não é comprometido
pela ação simultânea de treinamento de força
e endurance. Alguns estudos comparativos mostram uma ligeira
vantagem para quem faz treinamento combinado.
5) A endurance não é afetada negativamente pelo
treinamento simultâneo.
Para exemplo de treinamento em circuito acesse:
http://revistacontrarelogio.com.br/pdfs/CDocuments_and_SettingsUser...
Isoladamente esses dois tipos de treinamentos podem ser benéficos
e complementares, haja vista o perfil dos triatletas da atualidade,
muito mais fortes e mais rápidos com treinamento fortes
de musculação e endurance. O mesmo podemos dizer
dos ultramaratonistas e de quem participa da Comrades. Não
consigo imaginar alguém correr uma prova dessas sem fazer
musculação ou qualquer outro tipo de desenvolvimento
da força.
Outro fato a ser levado em conta quanto por onde começar é a
prioridade. Se o corredor precisa mais da musculação,
a seção deve começar por ela podendo inclusive
o aquecimento ser feito com exercícios envolvendo várias
articulações e grandes grupos musculares com cargas
mais leves. Caso o objetivo seja emagrecimento ou melhorar a
resistência na corrida, esta pode vir primeiro porque,
mesmo que por algum motivo o corredor fique cansado na musculação
o principal já foi feito.
Corredores que apenas correm têm a musculatura das pernas
bastante resistentes, são excessivamente magros, têm
bom sistema cardiovascular, colesterol bom (HDL) mais alto e
ruim (LDL) baixo, boa proteção contra as doenças
do coração, boa ossatura, mas costumam ter desequilíbrio
muscular entre lado direito e esquerdo, desproporção
entre tronco, braços e pernas além de se lesionarem
mais.
Claro, quem corre não deseja um corpo de fisiculturista.
Por isso o programa deve ser direcionado a aumentar as diversas
manifestações da força, da potência
e da flexibilidade completada com as aulas de alongamento. É bom
que se diga. O corredor precisa da flexibilidade, mas é para
desenvolver em treinamento. No dia da prova o alongamento é perfeitamente
dispensável.
Embora a força resistente seja a maior exigência
de um fundista, em vários momentos dos percursos de rua
precisa-se da potência, da força explosiva de média
ou curta duração. Nas subidas, nas descidas ou
mesmo na decisão estratégica de ultrapassar um
adversário num determinado momento, essas valências
físicas serão decisivas. Por esses motivos, a musculação
ou a ginástica localizada para o corredor não deve
se prender sempre a muitas repetições com pouca
carga ou apenas um tipo de treinamento. A prescrição
ideal deve estar incluída numa periodização
começando por um programa global envolvendo os grandes
grupos musculares seguido dos menores.
A maioria dos livros sugere uma tabela de treinamento de
percentual de carga x repetição a partir da Força Máxima
para desenvolver as diversas manifestações da força.
Esse valor de Força Máxima é conseguido
num teste chamado de 1 RM que é pouco utilizado pela sua
complexidade logística. Por isso sou partidário
que esse percentual seja atingido na tentativa de erro e acerto
a partir do número de repetições e séries
previstas. O corredor deve chegar à última repetição
da última série sem condições de
executar mais duas ou três repetições. Se
estiver fácil de fazer aumenta-se a carga e em duas ou
três seções de treinamento a carga já estará adequada
sem riscos.
Item
|
Parâmetro
|
% sobrecarga
|
Repetições
|
Séries
|
1
|
Força
Pura
|
85
a 99
|
2
a 5
|
3
a 8
|
2
|
Força
Dinâmica
|
70
a 89
|
6
a 12
|
3
a 5
|
3
|
Força
Explosiva
|
30
a 60
|
6
a 10
|
4
a 6
|
4
|
RML
|
40
a 60
|
14
a 30
|
3
a 5
|
5
|
Endurance
|
25
a 40
|
Acima
de 30
|
4
a 6
|
Sendo assim, cada fase do
treinamento, cada segmento corporal e faixa etária podem
exigir séries e cargas diferentes
na musculação.
Por exemplo: no período básico ou quando o corredor
por algum motivo parou de treinar seja por contusão ou
problemas particulares a carga deve ser mais alta (mais peso
menos repetição 6 a 12) para recuperar a força
dinâmica. (1).
Quando o atleta está visando uma prova curta, de 3 a 5
km, vai precisar de força explosiva (2) porque em algum
momento ele vai dar um popular tiro curto para decidir a prova.
Aí ele vai incluir de 4 a 6 séries e repetições
de 6 a 10 com 30 a 60 % da Força Máxima executando
as séries de modo mais rápido.
Nas corridas de 10 km a Resistência Muscular Localizada
(4) passa a ser mais importante e a Endurance (5) para as maratonas.
Entretanto vale sempre lembrar que treinamento físico
não é uma receita de bolo. Embora a Endurance seja
prioritária para o maratonista eu particularmente acredito
num treinamento misto. Quem treina musculação duas
vezes por semana pode perfeitamente num dia pegar mais pesado
com poucas repetições e no outro, muitas repetições
com pouca carga. Tudo depende do que cada corredor precisa
no momento.
Também pode haver o caso de nas pernas o corredor necessitar
de muitas repetições e pouca carga e nos braços
mais peso e pouca repetição e faz sentido. Os membros
superiores são os que mais perdem força porque
no dia a dia nem sempre são usados e costumam ser ignorados
no treinamento. Os membros inferiores mal ou bem estão
sempre em atividade porque temos que andar, subir escadas, sentar
e levantar da cadeira várias vezes ao dia e a massa muscular é maior.
De qualquer forma é um erro também achar que o
corredor só precisa fazer musculação para
as pernas. Os músculos do tronco e quadril são
importantes na transmissão de força para as pernas,
daí a necessidade do corredor fazer também abdominal,
coisa que geralmente detestam.
Mais de 50 anos - Por duas fortes razões os corredores
mais velhos são os mais beneficiados. Ao longo do tempo
existe uma perda natural de massa muscular conhecida como sarcopenia
palavra de origem grega que significa “perda de carne” (sarx
= carne e penia = perda). Na corrida de longa distância,
por si só, ocorre um processo conhecido por catabolismo
ocasionando também a perda de massa magra. Essa, em tese,
pode ser uma das razões dos corredores serem “secos”,
o que não acontece com o atleta de força. A musculação
comprovadamente promove o processo inverso chamado de anabolismo
porque estimula a produção de hormônios principalmente
a testosterona. Já existe consenso entre a comunidade
médica científica dos benefícios da musculação
para a terceira idade. Eu que estou batendo na porta dessa idade
faço musculação três vezes por semana
e como todo mundo aqui também gosto de correr e para otimizar
o treinamento faço circuito variando as intensidades.
Quando quero pegar pesado na musculação pego
leve na corrida e vice-versa.
Resumindo
podemos destacar alguns aspectos consensuais da musculação
para corredores:
1) As séries, a carga e a repetição devem
ser escolhidas de acordo com a necessidade do momento. Nem muito
peso com pouquíssimas repetições, nem pouco
peso e repetição exagerada. Muito peso pode lesionar
e repetição exagerada pode ser chato além
da possibilidade de não surtir efeito desejado.
2) Os exercícios devem priorizar os membros inferiores
sem desprezar os superiores. Se num dia não dá para
fazer tudo faça só para as pernas.
3) A musculação pode ser feita no mesmo dia ou
junto com a corrida desde que as duas seções não
sejam de alta intensidade. Ou seja, uma necessariamente deve
ser fraca.
4) A forma de treinar força deve variar com musculação,
subidas de rampa, Cross e circuito.
5) A força deve ser treinada o ano todo.
6) Os exercícios de musculação mais indicados
ao corredor são: Abdominal, agachamento, flexão
e extensão de Joelho, adução, abdução
e flexão do quadril, flexão plantar, extensão
de Tronco, flexão e extensão de cotovelo, crucifixo
ou supino, puxada pela frente, elevação de ombro
e as remadas.
7) Qualquer corredor, amadores ou de elite, a orientação
segura deve ser feita por profissionais de Educação
Física habilitados pelo respectivo CREF (Conselho Regional
de Educação Física).
Para Refletir: A pressa, a ocupação, o trabalho
excessivo e a família colocada em segundo plano, estão
sempre na contramão da saúde. Moraes 2009.
Sobre a Ética: Ninguém derruba e nem “tira
o tapete” de ninguém. O comportamento duvidoso de
cada um é que abre caminho para isso. Moraes 2009.
Literatura Sugerida:
1) BARBANTI, V. J. Teoria e prática do treinamento esportivo.
São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1997.
2) FLECK SJ, KRAEMER WJ. Fundamentos do treinamento de força
muscular. Porto Alegre: Ed. Artmed, 1999.
3) GUILHERME, Cleber da Silva, RAMIREZ, Fernanda A. e OLIVEIRA
Paulo Roberto – Treinamento de Força Corredores
de 5.000m e 10.000m - Um Estudo de Caso.
4) LEITE, Rommel S., COSSENZA, Pedro I. Cardoso, SIMÃO,
Roberto e MAIOR, Alex S. - Efeitos do treinamento de força
sobre o desempenho de resistência muscular. Disponível
na Internet em: http://www.efdeportes.com/efd75/forca.htm Acesso
em 20/03/2009.
5) MORAES, Luiz C. – Os melhores Métodos de Musculação
para Corredores – Disponível na Internet em: http://www.revistacontrarelogio.com.br/materias/... Acesso
em: 20/03/2009.
6) MORAES, Luiz, C. – Musculação só Traz
Benefícios para Corredores – Disponível na
Internet em: http://www.revistacontrarelogio.com.br/materias/?Musculação%20só%20traz%20benefícios%20para%20o%20corredor.295
Acesso em: 20/03/2009.
7) MORAES, Luiz, C. – Treinamento em Circuito – Disponível
na Internet em: http://www.revistacontrarelogio.com.br/materias/?Treinamento%20em%20Circuito.235
- Acesso em: 20/03/2009.
8) SANTANA, Márcio – Treinamento de Força
para Fundistas – Disponível na Internet em: http://tocorrendo.blogspot.com... – Acesso
em: 20/03-2009.
9) ZATSIORSKY, V. M. – Ciência e prática do
Treinamento de Força. São Paulo, Editora Phorte,
1999.