QUANDO O GÁS PARA A CORRIDA
ACABA MUDE A ROTINA
Por: Luiz Carlos de Moraes CREF1 RJ 003529-P/R
E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
Portal: www.noticiasdocorpo.com.br
Data de Publicação: 12 de maio de 2010
Introdução
Todo corredor seja ele de qualquer categoria por vezes pensa
já ter chegado ao seu limite ou, como todo ser mortal
de vez em quando também tem seus altos e baixos chegando
até mesmo pensar em desistir ou que não gosta
mais da corrida especialmente quando chegamos ao ponto de
correr todo dia. Convenhamos. Não há nada de
errado nisso, mas é que correr todo dia por anos a
fio um dia cansa. Isso acontece com qualquer um como já aconteceu
também comigo e foi quando, para não ficar
parado passei a nadar. Não demorou muito tempo para
eu descobrir que a natação não era a “minha
praia” e ela serviria até como um complemento
para a corrida. Daí a tese que sempre defendo da variação
de atividades que, de alguma forma se completam como é o
caso da corrida e a musculação com suas enormes
variedades de treinamento. Média moderada, curta forte,
intervalado, fartleck, ladeira, cross, longão e etc.
fazem parte do vocabulário do corredor identificando
cada um deles um método de treinamento. Na musculação
também existem os métodos associados a séries,
carga e intervalos, cada um visando um objetivo diferente.
Por isso é importante conhecer pelo menos um pouco
do fundamento da musculação para não
escolher métodos que possa se chocar com a corrida
e que ao invés de ajudar acaba atrapalhando mais ainda.
A corrida os leitores do CDOF conhecem bem.
Variando o Treinamento
Nos dias em que não estamos muito a fim de correr, mas
precisamos fazer alguma coisa dá, por exemplo para correr
um mínimo de 10 minutos e fazer musculação
de tal forma que um ajuda e/ou completa o outro. A forma tradicional
da musculação de três séries de 8
a 12 repetições com intervalos de “x” segundos
definitivamente não interessa ao corredor porque vai contra
o seu perfil e pode ser uma chatice ainda maior. Sendo assim
o método que considero ideal ainda é o circuito
alternando os segmentos que também já comentei
em artigos anteriores. Entretanto, o próprio método
permite variações de acordo com o objetivo e momento
que o corredor esteja vivenciando.
Numa outra época em que eu também estava “de
saco cheio” da corrida comecei a correr 10 minutos na esteira,
depois fazia uma série mínima de musculação
e em seguida corria mais 10 minutos. Interessante é que
na segunda corrida de 10 minutos me sentia bem melhor que a primeira.
A série mínima era de 15 repetições
desenvolvimento completo, 15 vezes rosca bíceps, 20 abdominais,
15 vezes na rosca tríceps, 15 vezes a subida de banco,
20 abdominais, 15 vezes puxada vertical ou remada, 15 flexões
de quadril em cada perna, 15 vezes a flexão de joelho,
15 extensões de tornozelo, 15 vezes o crucifixo, 20 abdominais,
15 agachamentos e depois voltava a correr os 10 minutos. Tudo
sem intervalo. Esse treinamento é muito fácil porque é série única,
bem leve e o tempo total não passa de 40 minutos, o suficiente
para manter o corredor ativo enquanto estiver passando por momento
de desmotivação, fazendo transição
de período, não esteja com muito tempo por causa
de compromisso com o trabalho, escola ou família e/ou
se recuperando de lesões ou algum outro mal.
Quem tem uma academia disponível deve escolher uma carga “leve” ou “boa” e
nunca “pesada” determinada por uma Escala de Borg.
Ou seja, fácil de fazer. Da mesma forma a corrida, como
se trata de uma situação especial que não
estamos “muito a fim”, deve ser de leve a moderada
sem ficar “brigando” com o tempo. Só não
dá para correr forte, pegar pesado na musculação
e depois correr forte de novo. Aí é suicídio.
Se correr forte a musculação necessariamente deve
ser “leve” e vice-versa. Da mesma forma quem está se
recuperando de lesão deve respeitar a dor que é o
melhor sinal de alerta. O método corrida x musculação
x corrida sem intervalo também é muito eficiente
para quem esteja em envolvido com emagrecimento.
Os músculos
da Corrida
Muitas vezes esse desânimo nos chega por conta de dores
ou lesões e basta um músculo estar mais cansado
ou desgastado pelo treinamento para prejudicar a performance
ou deixar de evoluir. Geralmente aquele músculo ou grupo
muscular que já sofreu lesão mais de uma vez é o
que pode ser melhorado ou reforçado e dar aqueles segundos
a menos numa corrida, mas se não tratado adequadamente
pode dar uma tremenda dor de cabeça e um empurrão
para a desistência definitiva.
Também já comentei que o gesto esportivo da corrida
envolve três fases distintas: apoio da perna que está no
chão lançando o corpo para cima e para frente,
o vôo propriamente dito e a aterrissagem. Nessas fases,
embora todos os músculos das pernas tenham participação,
alguns acabam sendo mais ou menos solicitados ora fixando, transferindo
e/ou estabilizando o movimento completo da corrida. Entre os
grupos musculares mais exigidos e consequentemente desenvolvidos,
estão o glúteo, (bum bum) o quadríceps (coxa)
o gastrocnêmio (Batata da perna) e os posteriores de coxa.
Entretanto, os flexores de quadril, os adutores e abdutores de
coxa, responsáveis pela elevação e movimentos
laterais da perna, numa corrida muito longa se esgotam com mais
facilidade porque em nenhum momento funcionam como motor primário
do movimento. Não é raro vermos corredores serem
dominados pelo cansaço no último terço da
prova dobrando as pernas, inclinando o corpo para frente tencionando
os joelhos e os músculos glúteos. Diz-se que o
corredor “sentou”. Não tenho dúvida
nenhuma nem medo de afirmar que entre dois corredores de igual
nível técnico vence uma corrida de média
distância quem tiver se dedicado mais às atividades
complementares entre elas os exercícios de força.
O corredor que se dedica apenas às diversas formas de
preparo baseado só em corrida, tais como fartleck, média
distância, intervalado e longão evolui só até certo
ponto. Depois começa a ter desgaste natural da musculatura
porque não somos de ferro. Aí vem uma lesão,
depois outra e assim sucessivamente. Realmente a corrida é uma
das atividades mais prazerosas até pelo nível de
endorfinas que libera, mas é a mais desgastante também.
Por isso precisamos dar mais atenção à preparação
muscular e à variação de treinamento. No
meu caso, como citei, optei por nadar até passar a má fase.
Depois passei a fazer musculação junto com a corrida.
Até quem está se preparando para uma corrida de
média distância dá para fazer um circuito
fraco de musculação logo após o treinamento
normal de corrida mesmo que seja forte como estou fazendo agora
me preparando para as provas de até 10km motivado pela
faixa etária nova de 60 anos.
Na função estabilizadora, o abdome, os lombares
e os dos membros superiores precisam estar bem preparados, grupos
musculares que alguns corredores não dão muita
atenção para eles. Não é difícil
encontrar, por exemplo, corredor que nunca fez abdominal ou mesmo
qualquer outro exercício para os braços, peito
ou costas.
Os Exercícios
e para que Servem
Em primeiro lugar leva-se em consideração que não
são muitos exercícios essenciais ao fundista e
ainda podemos montar as séries de acordo com o objetivo
ou ânimo. Vejam os exercícios para que servem:
Desenvolvimento Completo - Os ombros e as costas são as
primeiras partes do corpo a sentir o cansaço. Parece que
estamos carregando um urso nas costas. Essas regiões
devem ser fortalecidas a fim de evitar dores depois de uma
corrida
dura seja por causa do calor, ladeiras e etc.
Abdominal - Um abdome
fraco pode perder a função
de proteger a lombar gerando dores durante uma corrida de longa
duração ou percursos difíceis. A força
das pernas depende também da transferência de força
da área central do corpo.
Agachamento – Sendo os membros inferiores os mais exigidos
esse exercício prima por envolver muitas articulações
e grande massa muscular liderada pelo quadríceps. (frente
da coxa). É o exercício campeão para o corredor.
Após o vôo são esses músculos que
suportam todo o impacto da aterrizagem. Se estiverem fraco
o joelho paga a conta.
Flexão e Extensão de Joelho – Os músculos
posteriores de coxa são importantes quando a perna está no
chão deslocando o corpo na horizontal logo após
a aterrizagem.
Flexão do quadril – Visam os flexores de quadril
prevenindo as dores na região inguinal. Esses músculos
são importantes quando levantamos a perna na fase do vôo.
Extensão do tornozelo – Destina-se aos gastrocnêmios,
(batata da perna) muito exigidos na fase de lançamento
ao vôo e nas subidas mais ainda.
Flexão e Extensão de Cotovelo – Os braços
ajudam no equilíbrio da passada. Os músculos bíceps
e tríceps fracos deixam os braços cansados, caídos
induzindo à postura cifótica (corcunda).
Crucifixo ou Supino – Sendo um grande grupo muscular, o
peitoral dá mais estabilidade aos braços e, convenhamos.
Corredor que apenas corre parece que nem os tem. Homem quer
ter peitoral bonito e mulher, o bum bum.
As Remadas - Visam o fortalecimento da cintura escapular. Essa
parte do corpo é responsável pela postura correta
facilitando uma corrida equilibrada.
Para Quem não
Gosta de Academia
A Escada – “Quem não tem cão caça
como o gato”. Diz o adágio popular. Quem não
pode ou não gosta de academia de jeito nenhum, uma das
boas atividades para desenvolver a força e acessível
a qualquer ser mortal, é a escada. Um santo remédio
e para quem vive na cidade o que não falta são
prédios com boas escadas. Fortalecem o quadríceps,
os glúteos, os posteriores de coxa, os gastrocnêmios,
os tibiais anteriores e os flexores de quadril pela necessidade
de se elevar a perna na mesma altura.
Algumas pessoas até podem pensar que o treinamento em
escada é monótono e só existe uma forma
de se fazer. Ledo engano. É possível desenvolver
força, resistência ou velocidade. No primeiro caso,
força, pode-se subir de dois em dois ou três em
três degraus dependendo do tamanho das suas pernas, mas
deve ser uma subida lenta e constante o tempo todo.
Para resistência pode-se subir degrau por degrau ou de
dois em dois com uma velocidade maior e constante.
Para velocidade sobe-se de um em um de forma rápida. É possível
também fazer intervalado variando tanto a velocidade como
os degraus. Por exemplo. Num prédio de 10 andares podemos
a cada andar subir de uma forma diferente. Vejam só quantas
opções de treinamento tem uma escadaria!
Nas Praças e
Jardins
Uma boa opção são os bancos fixos de cimento.
Se tiver vários em volta da praça e não
tiver ninguém sentado dá para fazer um circuito
subindo e descendo deles feito criança. A atenção
maior deve ser dada na hora de descer do banco amortecendo o
impacto e na subida prestar a atenção para não
subir sempre com a mesma perna. Parece óbvio.
É bem verdade também que boa parte dos corredores
concorda com o que estou dizendo a respeito da musculação
mas detestam academia. Por isso a série sugerida acima
de seqüência básica de exercícios se
pode fazer em casa com equipamentos relativamente baratos tais
como elástico um par de caneleiras, um bastão,
um colchonete e um caixote (step) ou mesmo o primeiro degrau
de uma escada.
O elástico é aquela liga própria para prender
a circulação quando vamos tirar sangue e são
vendidas a metro em lojas de material cirúrgico. Elas
são bastante resistentes e permitem uma variedade grande
de exercícios. A metragem ideal são dois metros
e a espessura 10 mm, mas podem ser mais grossas também.
As caneleiras são de 5 kg e basta um par que será usada
no tornozelo para fazer a flexão do quadril e a subida
de banco. A barra do agachamento pode ser feita com um tubo de
pvc de 1,80 m e o peso, pode ser usada a própria caneleira
a serem colocadas nas extremidades. O step ou caixote de madeira
deve ficar entre 30 e 40 cm de altura. Quem quiser e puder também
pode comprar um par de halteres de 4 a 6 kg para fazer o desenvolvimento
completo, a rosca bíceps e a tríceps.
Com todas essas opções quem mora em apartamento
pode de vez em quando fazer isso: Antes de sair para correr deixe
todo o material de ginástica pronto. Colchonete, caneleiras,
o step e o elástico. Saia para correr de 3 a 5 km, suba
as escadas correndo devagar, faça a série de musculação
em casa e depois alonga. Moleza não?
Literatura Sugerida:
1) BOMPA, T; CORNACCHIA, L. Treinamento de Força Consciente.
Phorte, 2000.
2) CARVALHO, Jociane e BORGES, Gustavo A. - Exercícios
de Alongamento e as suas Implicações no Treinamento
de Força. Disponível na Internet em: www.educacaofisica.com.br/download.asp?tp=biblioteca&id=415 Acesso em: 22/04/2010.
3) CAMPOS, Mauricio de Arruda - Biomecânica da Musculação
- Ed. Sprint. Baixe gratuitamente aqui no CDOF acessando:
http://www.cdof.com.br/livros.htm
4) COSSENZA, Carlos Eduardo - Métodos e sistemas. Baixe
gratuitamente aqui no CDOF acessando:
http://www.cdof.com.br/livros.htm
5) DANTAS, Estélio H. M. - Alongamento e Flexionamento
- Editora: Shape – 5ª Edição – 2005.
6) FLECK, Steven J. & William J. Kraemer - Fundamentos do
Treinamento de Força Muscular - Editora Artmed – 3ª Edição – 2006.
7) MORAES, Luiz Carlos - Treinamento de força é tão
benéfico à saúde quanto qualquer outro.
Disponível em:
http://www.educacaofisica.com.br/colunas_mostra_artigo.asp?id=331
8) MORAES, Luiz Carlos - Para quem não tem tempo, musculação
em forma de circuito dá resultado. Disponível em:
http://www.educacaofisica.com.br/colunas_mostra_artigo.asp?id=300
9) MORAES, Luiz Carlos - Leve ou Pesada, Corredores Devem Fazer
Musculação
Durante Todo o Ano. Disponível em:
http://www.cdof.com.br/corrida3.htm
10) Revista Contra Relógio – Acesse: http://www.revistacontrarelogio.com.br