Jiu-Jitsu
FLEXIBILIDADE
DA ARTICULAÇÃO
DO QUADRIL EM ATLETAS DE JIU-JITSU NO ESTADO DE SERGIPE
Autores:
* Marcelo Mendonça Mota (Acadêmico do Curso de Educação
Física da Universidade Tiradentes)
Tharciano Luiz Teixeira Braga da Silva (Acadêmico do Curso de Educação
Física da Universidade Tiradentes)
Marco Antônio Chalita (Especialista do Curso de Educação
Física da Universidade Tiradentes)
INTRODUÇÃO
Há mais de 2.500 anos surgia na Índia a
primeira forma de autodefesa criada pelo homem sem o uso de armas: nesse momento
nascia o jiu-jitsu, criado por monges budistas, de características físicas
franzinas, alvo de ataques constantes em suas peregrinações. Baseados
na observação e no conhecimento dos movimentos dos animais desenvolveram
forças de alavanca, técnicas de autodefesa e passaram a não
ser mais saqueados em suas viagens. O jiu-jitsu como técnica de autodefesa
logo se expandiu por toda Ásia até chegar ao Japão, onde
se consolidou como uma das artes marciais mais eficientes praticadas em todo
território japonês, sendo difundido pelos Samurais que possuíam
estilos oriundos de diferentes escolas, onde utilizavam o jiu-jitsu para defender
suas colônias (feudos), as primeiras citações que se referem
ao Jiu-Jitsu no nível de torneios datam de 720 a.C., que se referem aos
torneios de Shikara Kurabe. (SUGAI, 2000; RENZO, 2004).
O que realmente atrai os praticantes a esta arte marcial é a
possibilidade de um homem mais fraco vencer um oponente mais forte de forma suave
e estratégica, aproveitando o que se sabe da técnica para em um
descuido subjugar o oponente com astúcia. (SUGAI, 2000). O Jiu-jitsu é uma
modalidade de luta relativamente nova entre nós, apesar de ser conhecida
e praticada em boa parte do mundo. Os aspectos competitivos estão profundamente
enraizados no jiu-jitsu brasileiro (BORGES, 1999). Seguindo o raciocínio
do autor vemos que cada vez mais o calendário de competições
de Jiu-jitsu brasileiro cresce conforme o número de seus participantes
em todo o Brasil, inclusive no Estado de Sergipe.
Podem-se observar posicionamentos na luta que exigem
grandes amplitudes de movimentos, onde a falta de flexibilidade talvez possa
influenciar como fator limitante do movimento durante as lutas de jiu-jitsu.
A flexibilidade interfere diretamente na amplitude de movimento e a carência
da mesma neste tipo de modalidade esportiva pode interferir na performance. A
importância da flexibilidade aumenta quando lidamos com esportes em que
existem movimentos executados nos extremos da amplitude articular. (FARINATTI,
2000; PLATONOV; BULATOVA, 2003)
O jiu-jitsu por ser um esporte que tem como características
em seus gestos esportivos posicionamentos que exigem grandes amplitudes de movimentos
na maioria das grandes articulações, principalmente na articulação
do quadril, nos leva a crer que este estudo pode ser considerado de grande importância
para os praticantes da modalidade, como também para os professores que
ministram esta arte marcial. O presente estudo tem por objetivo medir os níveis
de flexibilidade da articulação do quadril nos atletas de jiu-jitsu
do Estado de Sergipe.
II.
REVISÃO DE LITERATURA
A flexibilidade é a qualidade física responsável
pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular
máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações,
dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões.
A flexibilidade é certamente a qualidade física utilizada pelo
maior número de desportistas. (DANTAS, 2003; PLATONOV; BULATOVA, 2003;
PITANGA, 2004).
No jiu-jitsu a flexibilidade é bastante solicitada
em diversas articulações, dependendo do posicionamento de luta
em que os atletas se encontram. Uma das articulações mais solicitadas é a
articulação do quadril, onde podemos observar na figura 1 (ANEXO
1), o atleta que está de costas para o solo aplicando uma raspagem , realiza
neste gesto esportivo uma flexão de quadril com uma extensão de
joelhos simultâneas, provocando assim, um encurtamento do reto da coxa
em ambas as extremidades , enquanto os jarretes se alongam também em suas
extremidades. Tanto o reto da coxa, quanto os jarretes são músculos
biarticulares, agonista e antagonistas entre si, e quando atingem amplitudes
extremas sofrem tensões em suas extremidades. (RASCH, 1991; KAPANDJI,
1990). Neste posicionamento em particular, a musculatura posterior de coxa sofre
um alongamento que ultrapassando os limites de seu arco articular pode levar
a uma tensão músculo-tendínea excessiva, considerando o
músculo como um dos principais componentes limitantes da amplitude de
movimento articular, seria indesejável uma flexibilidade extremamente
limitada, porque se os tecidos colágenos e os músculos que atravessam
esta articulação estiverem tensos, aumentam a probabilidade de
sua laceração ou ruptura quando a articulação é forçada
além de sua amplitude de movimento normal. (DANTAS, 2003; HALL, 2000).
Ainda para Holland citado por Shankar (2002) o músculo,
a fáscia, o tendão e o ligamento podem exibir um grau de rigidez
aumentado - que conduz a um funcionamento não-ótimo em uma determinada
articulação. Todo o músculo tem seu cumprimento normal desejado
para a sua função, exceder este cumprimento realizando amplitude
extremas podem predispor tal musculatura a lesões.
Para Zito citado por Achour Júnior (1997), é na
amplitude final do movimento que geralmente ocorrem lesões. A utilização
da flexibilidade como profilaxia para a diminuição de riscos de
lesões, decorrentes da execução de movimentos que exigem
amplitude máxima de uma articulação, ainda são pouco
investigados. Muitos autores defendem a utilização da flexibilidade
na prevenção de lesões por acharem necessária a inclusão
desta qualidade física em todos os períodos de treinamento de um
atleta, independente da sua modalidade esportiva. (DANTAS, 2003; FARINATTI, 2000;
PLATONOV; BULATOVA, 2003)
É importante relembrar que a flexibilidade embora
não seja uma qualidade física de importância prioritária
na performance, se comparada com a força, à velocidade ou a resistência,
ela está presente em quase todos os desportos. (Dantas, 1999).
Castro (2001), sugere a prática constante de exercícios
de flexionamento, procurando dar ênfase nos grupos musculares mais solicitados
durante a prática de alguma modalidade, respeitando o princípio
da especificidade, os exercícios para manter ou aumentar a flexibilidade,
seriam aplicados para prever encurtamentos e possíveis contraturas para
otimização da performance muscular. As lesões para Farinatti
(2000), decorem de fatores múltiplos, não somente pela influência
de uma má flexibilidade.
III.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Tipo de Pesquisa
O estudo foi realizado através de uma pesquisa
de campo de natureza quantitativa, no intuito de medir os níveis de flexibilidade
da articulação do quadril em atletas de jiu-jitsu. Pesquisa a qual
segundo LAKATOS (1991), tem como objetivo conseguir informações
e/ou conhecimentos a cerca de um problema, para qual se procura uma resposta,
ou uma hipótese que se queira comprovar.
Amostragem
Para composição da amostragem foram selecionados
aleatoriamente 30 atletas participantes de competições da Federação
de Jiu-Jitsu do Estado de Sergipe, na faixa etária de 20 à 29 anos.
Instrumento de Pesquisa
Foi utilizado o teste de "Sentar-e-alcançar" (Seat
and Reach Test (Jonson e Nelson, 1979)), proposto por Filho (1999), que objetiva
medir a flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros
inferiores.
O avaliado deve realizar um prévio aquecimento com exercícios
de alongamento. Sentado no solo, pernas estendidas com a sola dos pés
descalças apoiadas contra o banco. O avaliado de projetar-se lentamente
para frente com ambas as mãos paralelas tão distantes quanto
possíveis, mantendo esta posição momentaneamente. O avaliador
deve apoiar com as mãos os joelhos do avaliado, sem pressioná-los
para que se mantenham estendidos. O escore é o ponto mais distante alcançado
com a ponta dos dedos das mãos. Deve ser registrada a melhor das três
marcas. (ACMS, 2000).
Coleta de Dados
Os procedimentos para a coleta de dados aconteceram através
de uma ficha para obtenção dos dados referentes ao avaliado, como
nome, idade, tempo de prática, como também os resultados em "cm" das
três tentativas do teste. (Anexo 2).
Tratamento Estatístico
Para obtenção das estatísticas descritivas
média e desvio padrão ( X e S), foi utilizado o Microsoft Excel,
encontrado no Software Windows 2000.
Para análise dos resultados obtidos foi utilizada a tabela da ACMS (2000),
de classificação da flexibilidade, onde a qual irá fornecer
os dados comparativos de forma quantitativa em percentis. (Anexo 3).
IV. RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Figura 2 - Gráfico dos resultados obtidos no estudo dos 30 atletas de
Jiu-Jitsu,
expressos em "cm", atleta por atleta.
Na figura
2, acima, o gráfico do resultado da flexibilidade
dos atletas, mostra que o atleta 20 obteve o maior índice
com 48 cm, correspondente à classificação
da ACMS (2000), como acima da média da população.
Já o atleta número 29 foi o que obteve
o menor índice, atingindo 13 cm, obtendo uma
classificação bem abaixo da média
da população.
Quando quantificamos o grupo por inteiro obtivemos a
média de 32,53 cm de flexibilidade, o que classifica o grupo como estando
na média da população não atleta.
Talvez este resultado do grupo de atletas não seja muito vantajoso,
pois os mesmos na prática da modalidade necessitam das amplitudes máximas
da articulação do quadril.
Segundo Platonov e Bulatova (2003), um bom nível
de flexibilidade permite ao atleta obter amplitude ideal de movimento em todas
as articulações utilizadas para realizar eficazmente os exercícios
de competição.
Os atletas de jiu-jitsu em determinados movimentos do
combate trabalham com grandes amplitudes de movimento na articulação
do quadril, com também em outras articulações a depender
do posicionamento adotado.
Com base nos resultados, acreditamos que os atletas de
Jiu-Jitsu para obter uma melhor performance esportiva, deveriam ter resultados
bem acima da população não atleta.
Já que para Dantas (2003), a importância
da flexibilidade está relacionada a uma maior eficiência mecânica
por permitir a realização dos gestos desportivos, em faixas bastantes
aquém do limite máximo do movimento.
V. CONCLUSÃO
Com base nos resultados conclui-se que os atletas de
jiu-jitsu do estado de Sergipe, para obter uma melhor performance esportiva e
evitar lesões músculo-articulares devem ter resultados em seu índice
de flexibilidade acima da média da população não-atleta,
pois os mesmos classificam-se na média da população não-atleta.
Com isto, exercícios de alongamento com a finalidade
de aumentar os índices de flexibilidade devem seguir a especificidade
de cada esporte preparando as articulações e seus fatores limitantes
para atingir os seus últimos graus de amplitude de movimento, quando solicitados
no gesto esportivo particular de cada modalidade.
VI.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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Disponível em http://www.cbjj.com.br/regras.htm.
Acessado em 18 de novembro de 2004.
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2002.
SUGAI, V. L. O caminho do guerreiro.V.
1 . São Paulo: Ed. Gente, 2000.
RENZO, G. Brazilian Jiu-Jitsu. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2003.
Obs: Anexos e pesquisa na íntegra: * Prof. Marcelo Mota - Email:marcelomota@bol.com.br