BIOMECÂNICA NO CICLISMO
O
ciclismo tem se desenvolvido notavelmente nas últimas décadas. No âmbito
esportivo, de alto rendimento e preocupações
diversas, questões como a posição
tomada pelo atleta na bicicleta, até acessórios
como pedais, freios, assentos, pneus, entre outros, tem
intrigado pesquisadores e forçados a buscar soluções
para as perguntas acerca das respostas fisiológicas
e mecânicas para as alterações na
carga de trabalho e/ou na produção de energia,
bem como dos efeitos da posição do corpo
e configuração do quadro sobre desempenho
(Gregor, 2000).
A discussão sobre modelos biomecânicos
para a extremidade inferior durante o ciclismo geralmente enfocam o movimento
rítmico das pernas, operando em alguma escala "ótima" de
movimento projetada para produzir o máximo de benefício partindo
das propriedades mecânicas dos músculos envolvidos, como exemplo,
músculos esqueléticos nas extremidades inferiores utilizados para
dar potência a bicicleta (Gregor, 2000).
A grande parte das pesquisas em biomecânica
considera apenas movimentos no plano sagital, de flexão e extensão
do joelho e de flexão plantar e dorsal do tornozelo. A partir dessas análises,
os deslocamentos, velocidades e acelerações da coxa, perna e pé,
parecem ser mais afetadas pela cadência e pela configuração
da bicicleta, como por exemplo, a altura do assento, posição para
frente ou para trás do assento, comprimento do pé de vela e posição
do pé sobre o pedal. Com relação à extremidade superior
do corpo, a inclinação do tronco parece ter pouco efeito sobre
a cinemática dos membros inferiores.
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Cinemática da pedaladaCinemática
angular
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Cinemática da pedaladaCinemática
angular
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Laboratório de Biomecânica
da UFSM
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Analisando a pedalada
no plano sagital, Faria & Cavanagh (1978) reportaram
um deslocamento angular total, durante um ciclo da pedalada
de 45º para a coxa, 75º para o joelho e de
20º para o tornozelo. Já Rugg & Gregor
(1987), demonstraram o efeito das alterações
da altura do assento sobre a escala de movimento do quadril
e do joelho à medida que é variada a altura
de 100% para 115% da altura da cintura pélvica
(a altura medida a partir da sínfise púbica
até o solo).
Com base nesses dados, muitos ciclistas de estrada
escolhem entre 106 e 109% da altura da sínfise púbica como uma
posição de assento de maior conforto. Os achados dos autores ainda
indicaram que a articulação do joelho foi a mais afetada pelas
alterações na altura de assento, sendo as outras articulações
analisadas (quadril e tornozelo) menos afetadas. Além disso, parece que
o joelho se flexiona a um grau maior na condição de altura do assento
baixa e se estende para um grau maior na condição de assento alto,
sendo que embora a escala de movimento do quadril se altere menos drasticamente,
a coxa é geralmente mais estendida na condição de assento
alto. Deve-se atentar ao fato de que a escala de movimento de cada articulação
irá afetar a escala de encurtamento/alongamento dos músculos individuais,
mas a escala absoluta dentro da qual eles distendem ou encurtam será afetada
pelos ângulos nos quais dada articulação age durante o movimento
cíclico da extremidade inferior (Ericson, Nisell & Nemeth, 1988).
2.2.2 Cinética
do Ciclismo
A literatura apresenta
vários estudos que consideram as forças
atuantes no pedal como objeto de estudo, visto que a
maior energia para o movimento é gerada pelas
pernas e transmitida a bicicleta pelo pedal, já estudos
que envolvam as forças atuantes no guidom e assento
são mais escassos.
Em estudo acerca das forças geradas no guidom
e assento, Soden & Adeyefa (1979), se interessaram em avaliar a resistência
e o desempenho dos quadros de bicicleta, e para alcançar esse objetivo
fizeram medições de forças no guidom, no assento e nos pedais,
durante a partida, a subida e a nível normal (terreno sem inclinação)
no ciclismo. Os autores descrevem "puxadas" no guidom realizadas com
uma força equivalente a 0,64 vezes o peso corporal, com assimetrias nas
forças exercidas pelos baços que compensam as cargas assimétricas
aplicadas aos pedais no esforço para iniciar o movimento da bicicleta
para frente.
Sanderson & Black (2003), analisaram as forças
aplicadas ao pedal e a cinemática das articulações do quadril,
joelho e tornozelo durante os três minutos iniciais e finais de um teste
máximo. Os sujeitos estudados pareceram apresentar uma menor efetividade
durante a fase de recuperação, o que parece ter influenciado o
aumento do pico de torque no final do teste.
Da análise da pedalada por meio de pedais
devidamente instrumentados para a medição de forças atuantes,
Gregor (2000), coloca que o pico de força perpendicular à superfície
do pedal é de aproximadamente 60% do peso corporal do indivíduo,
sendo essa porcentagem aproximadamente a mesma para todos os ciclistas, desde
que por um período consistente, dificilmente excedendo o peso do ciclista,
a menos que ele se apóie no guidom. O mesmo autor explica que embora os
ciclistas freqüentemente sintam que estão puxando o pedal durante
a recuperação, isso é raro. Puxar o pedal não é essencial
para uma técnica eficiente de pedalada no ciclismo, e os ciclistas competitivos
reservam essa ação para subidas e arrancadas (também chamadas
entre os atletas de sprints). A simetria de força na pedalada é rara,
e iremos encontrar constantemente assimetrias entre as pernas na força
aplicada ao pedal.
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Geração de torque
durante 40 km contra-relógio
(CARPES, 2004).
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Um estudo de Ericson & Nisell
(1988) propõe que a força efetiva, perpendicular
ao pé de vela tem seu maior valor próximo
aos 90º do pé de vela, isto porque ela é relacionada
com a distância horizontal entre o pedal e o pé de
vela. A magnitude e a orientação dessas
forças de reação no pedal se alteram
constantemente durante todo o ciclo da pedalada conforme
a mudança nas posições dos membros
inferiores. Como conseqüência, o estudo da
pedalada em uma abordagem tridimensional torna-se bastante
complexa. Com esse tipo de análise, Ruby, Hull & Hawkins
(1992), indicaram que uma carga em varo é aplicada
ao joelho durante a fase de potência na propulsão.
Na fase de propulsão, a força de reação é medial,
aproximando-se de uma linha vertical e na fase de recuperação,
no momento em que as forças de reação
no pedal são baixas, estas aparecem laterais ao
joelho, assim o vetor força é medial ao
joelho durante a fase de potência, sendo afetada
pela altura do assento e, em geral, lateral ao joelho
durante a recuperação.
Buscando uma melhor aplicação e aproveitamento
da força muscular, Martin, Lamb & Brown (2002) apresentam trabalhos
propondo novas geometrias para pé de vela e trajetória de pedal,
na busca de uma melhor eficiência na pedalada.
Dessa forma, dados de avaliações
biomecânicas são complexos, porém, estes podem ser transmitidos
para a linguagem popular de treinamento e preparação física,
não só para descrever a realidade, mas também para testar
estratégias na busca da otimização do desempenho.
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REFERÊNCIAS CONSULTADAS (na ordem em
que aparecem no texto)
- GREGOR, R. J. Biomechanics of cycling. In: GERRET, W. E. & KIRKENDAL,
D. T. Exercise and Sport Science. Philadelphia - EUA: Lippincott Williams & Wilkins,
2000.
- FARIA, I. E. & CAVANAGH, P. R. The physiology and biomechanics of cycling
- ACSM series. New York: John Wiley & Sons, 1978.
- ENOKA, M. R. Bases neuromecânicas da cinesiologia. São Paulo:
Manole, 2000.
- RUGG, S. G. & GREGOR, R. J. The effect of seat height on muscle lengths,
velocities and moment arm lengths during cycling. Journal of Biomechanics.
v.20 p: 899. 1987.
- ERICSON, M. O.; NISELL, R. & NEMETH, G. Joint motions of the lower limb
during ergometer cycling. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy.
9 p:273-278. 1988.
- RUBY, P.; HULL, M. L. & HAWKINS, D. Three dimensional knee loading during
seated cycling. Journal of Biomechanics. v.25 p:41-53. 1992.
- SANDERSON, D. J. & BLACK, A. The effect of prolonged cycling on pedal
forces. Journal of Sports Science. v.21 n.3 p:191-199. 2003.
-CARPES, F. P. Biomecânica do ciclismo. Universidade Federal de Santa
Maria. Relatório de Estágio Profissionalizante. 2004.
- ERICSON, M. O. & NISELL, R. Efficiency of pedal forces during ergometer
cycling. International Journal of Sports Medicine. v.9 n.2 p:118-122. 1988.
- MARTIN, J. C.; LAMB, S. M. & BROWN, N. A. T. Pedal trajectory alters
maximal single-leg cycling powers. Medicine and Science in Sports and Exercise.
v.34 n.8 p:1332-1336. 2002.
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Autores:
Felipe Pivetta Carpes - pedal@mail.ufsm.br
Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciclismo - www.ufsm.br/gepec
Laboratório de Biomecânica - www.ufsm.br/labiomec
Universidade Federal de Santa Maria - www.ufsm.br