Disfunção do ciclo menstrual
AMERICAN COLLEGE OF SPORT MEDICINE - CURRENT COMMENT
OCTOBER - 2000
Tradução: Tarcilla Sodré Burginga
Menezes*
Durante as últimas décadas, o número de
mulheres de faixas etárias diferentes que praticam esportes tanto para
recreação como para competição vem aumentando. A
maioria das garotas e mulheres obtém benefícios significativos
para a saúde através de atividades físicas regulares. Assim
como os homens, elas podem alcançar os mesmos efeitos durante os treinos
tais como diminuição da pressão sanguínea, redução
da taxa do batimento cardíaco, aprimoramento da capacidade aeróbica
bem como redução percentual da taxa de gordura corporal. Tais mudanças
ajudam na prevenção de arterosclerose e doenças do coração.
Além disso, exercícios de alto impacto fortalecem os ossos, deixando-os
mais saudáveis.
Mitos relacionados aos efeitos prejudiciais no sistema reprodutor
feminino, provindos de exercícios excessivos têm sido amplamente
descartados. No entanto, atletas, pais, treinadores e médicos devem se
conscientizar de que mulheres que praticam exercícios podem estar propensas à disfunção
do ciclo menstrual.
O início dos ciclos menstruais (menarca) ocorre geralmente
aos 12 anos e 7 meses de idade, com o desenvolvimento de seios e pêlos
pubianos (características sexuais secundárias), que normalmente
se manifestam com dois anos de antecedência. Ciclos menstruais normais
acontecem de 21 e 35 dias, tendo a média de 28. Em geral, o fluxo menstrual
dura aproximadamente cinco dias. O primeiro dia de sangramento marca o início
da fase folicular. Ao longo do começo desta fase, os níveis dos
hormônios femininos estrogênio e progesterona no sangue estão
baixos. No fim da fase folicular, a secreção do estrogênio
atinge seu grau máximo antes da ovulação. A ovulação
normalmente ocorre por volta da metade do ciclo (entre o 13º e 15º dia),
embora o estresse e uma série de outros fatores possam causar atraso ou
ausência desta. A fase luteal dura desde a ovulação até o
início da próxima menstruação, geralmente por volta
de 14 dias. Esta fase também pode ser afetada por fatores externos. Os
níveis de estrogênio permanecem altos-embora não tão
altos como são imediatamente antes da ovulação - e os de
progesterona também aumentam. Esses hormônios do aparelho reprodutivo
podem causar alguns sintomas fisiológicos e psicológicos descritos
a seguir. Se a fecundação de um óvulo fertilizado não
acontecer, a queda dos níveis de hormônio levará a uma sangramento
da parede interna do útero (endométrio) e sairá na forma
de fluxo menstrual, e um novo ciclo se inicia.
Ciclos menstruais ovulatórios são regulares apenas
se o sistema de feedback que abrange o hipotálamo, a glândula pituitária
anterior (hipófise) e os ovários, estiver funcionando corretamente.
Além disso, o útero e os demais órgãos do aparelho
reprodutor devem estar intactos.
A amenorréia primária é diagnosticada
quando a mulher não começa a menstruar por volta de 16 anos, ou
ainda quando não começa desenvolver seios e pêlos pubianos
aos 14. Em algumas mulheres é possível haver um atraso constitucional
da menarca, sobretudo se as suas genitoras apresentaram demora no desenvolvimento.
A amenorréia secundária é a ausência
de três ou mais ciclos menstruais consecutivos após a menarca.
A oligomenorréia é caracterizada por três
a seis ciclos menstruais ao ano, ou ciclos com intervalos maiores do que 35 dias.
Mulheres atletas podem apresentar redução da fase luteal (menos
de dez dias de duração), ou ciclos anovulatórios. Essas
variações podem ser difíceis de se identificar, visto que
ainda podem parecer sangramentos menstruais regulares. O único sinal externo
pode ser a dificuldade de engravidar.
Alguns sintomas sugerem ovulação, incluindo dores nas mamas,
retenção de líquidos, mudanças de apetite e humor
ao longo da segunda metade do ciclo. De maneira moderada, eles indicam que
o eixo neuroendócrino está funcionando de forma correta. Já em
excesso, podem se tornar um incômodo tal qual a Tensão Pré-Menstrual
(TPM).
Cólicas menstruais dolorosas e fluxo intenso são denominados
dismenorréia. Cientistas acreditam que exercícios físicos
regulares podem ser benéficos para a diminuição da gravidade
dessas duas últimas condições.
A Amenorréia ocorre em 2 a 5% da população
geral, o equivalente a uma entre 44 mulheres que se exercitam. Outras disfunções
de ciclos menstruais também são comuns em atletas.
A amenorréia atlética ou exercício associado à amenorréia é um
diagnóstico de exclusão, ou seja, que outras causas médicas
como gravidez, tireóide e disfunções endócrinas,
excesso de hormônios masculinos (andrógenos), tumor pituitário
(prolactinoma), síndrome do ovário policístico e anomalias
genéticas devam ser descartadas. Com base no histórico familiar
e no exame físico, o médico pode pedir exames de sangue específicos
e realizar outras pesquisas. Não há uma causa única
para a aparecimento da amenorréia atlética. Outros fatores em potencial
são: redução da massa e da gordura corporal, perda de peso
rápida, início repentino de exercícios pesados, privação
nutricional, alimentação não balanceada e desequilíbrio
de energia, estresses físico e psicológico. A supressão
do ciclo reprodutivo varia em cada mulher. Esportes que evidenciam a magreza
(como endurance sports ou esportes estéticos) são mais prováveis
de apresentarem uma porcentagem alta de atletas com disfunções
menstruais. A incidência de amenorréia em corredoras (24 a 26%),
por exemplo, tem sido maior do que em nadadoras (12%).
A pré-disposição genética também
pode ser relevante. Antigamente, pensava-se que a prática de esportes
competitivos precocemente adiaria a menarca. No entanto, é mais provável
que mulheres que alcançam a maturidade tardiamente desenvolvam habilidades
específicas para certos esportes e disciplinas.
Exercícios de alta intensidade e aumento na freqüência
de treinos são associados a uma incidência maior de disfunções
menstruais, porém, não há evidências científicas
para uma relação de causa e efeito direta. Alterações
metabólicas e mudança na composição corporal como
perda de peso e diminuição da porcentagem de gordura no corpo são
mais coincidentes do que causativas. Um bom equilíbrio de energia (consumo
de calorias suficientes para a quantidade de exercícios realizados) parece
ser decisivo para a manutenção dos ciclos ovulatórios. A
deficiência nutricional pode também acarretar déficit de
cálcio, ferro ou de outros nutrientes importantes. Mulheres com amenorréia
devem consumir o equivalente a 1500 mg de cálcio natural diariamente para
manter sua densidade óssea.
Fatores de ordem psicológica e emocional bem como o
estresse também desempenham um papel importante no desenvolvimento de
disfunções nos ciclos menstruais. Em alguns esportes, a tendência
de técnicos, pais e juízes de focarem a composição
do corpo e sua porcentagem de gordura gera uma preocupação prejudicial
com a estética corporal. Por que você deveria se preocupar com ausência
de alguns ciclos menstruais? Amenorréia, outrora considerada um resultado
de treino "normal" e "desejável" entre as atletas,
desde 1984 tem sido relacionada à perda prematura de densidade óssea. É um
sintoma de um problema subjacente que requer avaliação médica
dentro dos primeiros três meses de ocorrência.
Em algumas mulheres, o maior problema é a infertilidade,
mas o risco mais invisível de uma amenorréia prolongada é a
perda da densidade óssea ou osteoporose precoce. Por que razão
isso acontece? Amenorréia e outras formas de disfunção menstrual
são associadas a um estado de deficiência de estrogênio semelhante
ao da menopausa. O estrogênio, e possivelmente a progesterona ampliam a
absorção de cálcio, sua absorção e acúmulo
no osso. A perda de estrogênio pode também aumentar teoricamente
os níveis de lipídeos no sangue e levar a uma aterosclerose precoce
e a doenças cardiovasculares. É possível que haja ainda
uma incidência maior de câncer nos órgãos do aparelho
reprodutor.
A falta de efeitos protetores de estrogênio nos ossos
causa desmineralização ou osteoporose precoce, aumentado o risco
de escoliose, fraturas devido ao estresse ou outras fraturas mais sérias.
Mesmo com a retomada das menstruações normais, algumas dessas mudanças
podem ser irreversíveis. A adolescência, em particular, ocorre quando
os ossos do esqueleto estão formados e consolidados entre 60 a 80%. O
Hipoestrogenismo e má nutrição ao longo desses anos podem
levar de à quantidade mínima de massa óssea.O tratamento
contra amenorréia varia de acordo com o motivo. A atleta deve procurar
um médico que lhe conceda os primeiros cuidados ou um profissional de
medicina do esporte para excluir as causas médicas da amenorréia.
Tendo feito o diagnóstico da amenorréia atlética,
o médico pode aplicar um tratamento de cinco dias com progesterona sintética
denominado Provera (com 10mg/dia). Qualquer sangramento de remoção
pode ser considerado uma evidência de que o eixo pituitário esteja
intacto. Soluções para o tratamento podem então incluir
uma redução modesta de exercícios físicos (de 5 a
10%), um leve aumento de peso (de 5% ou de acordo com o indicado), e uma atenção
especial à nutrição, estresse, sono e treinamentos. Atletas
com amenorréia que devem suspender seus treinos para evitar complicações,
geralmente terão seus ciclos regularizados novamente em dois meses. A
ovulação e o controle da amenorréia são imprevisíveis,
mas podem ocorrer antes do início das menstruações. Portanto,
métodos de controle da natalidade se fazem necessários.
Se os ciclos não iniciarem espontaneamente em mulheres
acima de 16 anos, pode tornar-se necessária a reposição
hormonal de estrogênio e progesterona. Para uma mulher jovem que possui
uma vida sexual ativa, anticoncepcionais orais são alternativas seguras
e práticas. Por meio de fórmulas mais recentes com doses reduzidas,
não há impactos significativos na performance atlética.
Mulheres com amenorréia secundária que desejem engravidar e que
não respondam a intervenção dietética, redução
da freqüência de treinos ou de estresse, podem precisar de certos
medicamentos para estimular a ovulação.
De modo geral, os inúmeros benefícios associados
a exercícios físicos regulares não oferecem riscos. Uma
conscientização prévia dos problemas e uma conduta apropriada
são essenciais. Para maiores informações sobre disfunções
de ciclo menstruais, bem como outras edições médicas envolvendo
garotas e mulheres ativas, contate ACSM A/C Triad, POB # 1440, Indianápolis
IN 46206.
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* aluna do 3º ano do curso de Tradução e Interpretação
da UNISANTOS - Universidade Católica de Santos.