A SAÚDE CARDÍACA DAS MULHERES
E UM ESTILO DE VIDA FISICAMENTE ATIVO
AMERICAN COLLEGE OF SPORT MEDICINE - CURRENT COMMENT
November - 1999
Tradução: Renata Bersacola*
As Mulheres e a Doença Arterial Coronariana: os Fatos
A Doença Arterial Coronariana (DAC) é a principal
causa de morte em homens e mulheres. No entanto, morrem mais mulheres do que
homens de DAC a cada ano. O risco de ataques cardíacos em mulheres é semelhante àquele
que atinge homens dez anos mais jovens, mas com o passar dos anos, esse risco
se torna similar para ambos os sexos na mesma faixa etária. O que causa
grande preocupação é o fato de que a taxa de mortalidade
devido à DAC em mulheres com idades que variam de 35 a 74 anos é 74%
maior nas negras do que nas brancas. Apesar dessas estatísticas, os clínicos
gerais e o grande público freqüentemente apontam o câncer de
mama e a osteoporose como os maiores riscos para a saúde das mulheres
com mais de 50 anos. Essas idéias errôneas em relação à saúde
cardíaca das mulheres são alarmantes, considerando que, ao longo
da vida, o risco de mortalidade por DAC entre mulheres na pós-menopausa é de
aproximadamente 31% quando comparado aos 2,8 % de risco de fratura de bacia e
de câncer de mama.
Quando as mulheres apresentam DAC, elas desenvolvem problemas
clínicos mais adversos do que os homens. As mulheres têm duas vezes
mais probabilidade de morrerem no primeiro ano após um ataque cardíaco
do que os homens e aproximadamente 63% das mulheres que morrem inesperadamente
devido à DAC já haviam apresentado sintomas prévios. Mulheres
que se submetem a cirurgias de revascularização do miocárdio
com implantação de pontes possuem duas vezes mais chances de morrerem
em conseqüência do procedimento do que os homens, têm menos
alívio de seus sintomas e mais freqüentemente necessitam de outra
operação. Esses dados, bem como a expectativa de vida das mulheres
que supera a dos homens em oito anos, ressaltam a importância de um tratamento
preventivo das doenças cardíacas em mulheres de todas as idades.
Os fatores primários de risco de DAC, como a dislipidemia (quantidade
anormal de lipídeos e lipoproteínas no sangue), hipertensão
arterial, inatividade física, sobrepeso e Diabetes Mellitus (DM) são
de grande importância para as mulheres.
Fatores de Risco Coronarianos em Mulheres
Enquanto a taxa de mortalidade
por DAC diminuiu para mulheres e homens nos últimos
20 anos, esse declínio é menor em mulheres
do que em homens. Esse fenômeno é em parte
atribuído à uma maior associação,
em mulheres mais velhas do que em homens, dos fatores
de risco coronarianos, combinados com a Síndrome
Metabólica (SM) e, pode explicar a eliminação
da "vantagem feminina" em relação
a sua maior expectativa de vida. As doenças e
condições da SM incluem: obesidade, especialmente
na região abdominal, hipertensão arterial,
dislipidemia e distúrbios na utilização
da glicose. A Síndrome Metabólica freqüentemente
leva a doenças coronarianas e à Diabetes
Mellitus tipo 2.
Mais de 50% das mulheres com mais de 20 anos estão acima
do peso ou obesas, quando comparadas a 60% dos homens. Muito preocupante é o
fato de que mais de 65% das negras americanas e das americanas descendentes de
mexicanos estão acima do peso ou obesas. Mulheres mais velhas apresentam
um maior risco de ganho de peso e acúmulo de gordura abdominal, um componente
importante na SM. A inatividade física tem sido considerada o principal
contribuinte para a obesidade geral e a abdominal.
A hipertensão arterial afeta mais ou menos 52% das mulheres
com mais de 40 anos e, aproximadamente, três de cada quatro mulheres acima
de 75 anos apresentam essa condição. A hipertensão é mais
comum nas mulheres negras do que nas brancas e acredita-se que ela contribua
para a elevação da taxa de mortalidade por DAC. Apesar das controvérsias,
parece que o tratamento da hipertensão arterial com uso de drogas traz
benefícios. Essas observações novamente corroboram a importância
da prevenção de doenças cardíacas em mulheres de
todas as idades.
A quantidade anormal de lipídeos e lipoproteínas
no sangue tem sido ultimamente relacionada à SM e à DAC e vem sendo
chamada de "dislipidemia aterogênica". Essas anormalidades consistem
em um aumento de leve a moderado no colesterol LDL (lipoproteínas de baixa
densidade) e nos triglicérides, com a predominância de um LDL menor,
mais denso e mais aterogênico e em baixos níveis de colesterol HDL
(lipoproteínas de alta densidade).
Depois dos 65 anos, um baixo nível de HDL e um alto índice
de triglicérides parecem ser fatores de risco de desenvolvimento da
DAC mais relevantes para mulheres do que para homens. Os aumentos do LDL
e do colesterol total relacionados à idade são maiores nas
mulheres do que nos homens, assim como a substituição por partículas
de LDL menores, mais densas e mais aterogênicas. Mais de 40% das mulheres
com mais de 55 anos possuem níveis elevados de colesterol.
Nenhum outro fator de risco cardíaco tão significante
quanto a Diabetes Mellitus aumenta a predisposição feminina para
adquirir DAC. A DM afeta 8% de todas as mulheres acima dos 20 anos e é mais
prevalente em mulheres americanas negras, hispânicas e índias. Uma
mulher com DM possui um risco três a sete vezes maior de ter um problema
cardíaco do que uma mulher que não é diabética. Isto
em oposição ao risco duas a três vezes maior de os homens
com DM desenvolverem DAC. A DM dobra a chance de um segundo ataque cardíaco
em mulheres, mas não nos homens. Além disso, 80% das mulheres com
DM morrerão por causa de algum tipo de doença cardiovascular. A
Diabetes tipo 2 afeta mais mulheres do que homens. A saúde do coração
das mulheres é claramente relacionada com seu estado metabólico,
particularmente à medida que elas envelhecem.
A Atividade Física e a Saúde
Cardíaca da Mulher
Dentre os fatores de
risco cardiovasculares presentes nas mulheres referidas
nesse estudo, o mais prevalente é a inatividade
física. Mais de 60% das mulheres não praticam
a atividade física recomendada hoje, sendo que
mais de 25% não praticam atividade física
regular. O comportamento sedentário aumenta com
a idade e é maior entre as minorias e entre aqueles
com menor poder sócio-econômico.
A inatividade física é um grande fator de risco independente
para DAC, em parte devido à sua influência desfavorável
sobre as doenças e condições da SM. A relação
dose-resposta entre atividade física ou condicionamento físico
e morte devido a doenças cardiovasculares tem-se apresentado inversamente
proporcional em muitos estudos.
Mulheres e homens sedentários
apresentam uma taxa mais elevada de infarto do miocárdio
não-fatal, derrame, doença vascular periférica,
hipertensão arterial e Diabetes Mellitus Tipo
2. Além do mais, há um aumento dos fatores
da coagulação no sangue, triglicérides,
LDL, índice de massa corporal ou peso corporal
e da prevalência do tabagismo, além de uma
diminuição da taxa de colesterol HDL. Séries
controladas de exercícios físicos têm
resultado em reduções do colesterol total,
triglicérides, LDL, pressão arterial sistólica
e diatólica, gordura corporal e fatores de coagulação
e em aumento do colesterol HDL, dos fatores fibrinolíticos
e da sensibilidade à insulina. Embora os dados
disponíveis sejam limitados, as mulheres parecem
obter benefícios similares aos dos homens com
a prática de atividade física.
CONCLUSÕES
A DAC é uma grande
ameaça para a saúde das mulheres. Conseqüentemente, é vital
a conscientização das mulheres, dos profissionais
da saúde e dos profissionais de fitness a respeito
desse fato.
Estratégias de prevenção possuem o potencial de diminuir
significantemente o risco de DAC em mulheres e homens. O aumento da atividade
física é a mudança de estilo de vida com maior probabilidade
de levar a resultados de amplo alcance na prevenção primária
e secundária da DAC. A atividade física tem favoravelmente
alterado a SM e os fatores de risco relacionados à DAC, como dislipidemia,
obesidade, DM Tipo 2 e hipertensão. Ademais, para homens e mulheres
com DAC, a melhora nos índices dos fatores de risco tem grande chance
de resultar em aumento da expectativa de vida e em uma melhor qualidade de
vida. Em vista destes fatos, o American College of Sports Medicine (Colégio
Americano de Medicina Esportiva) fortemente defende a prática de atividades
físicas como meio de melhorar a saúde do coração
das mulheres de todas as idades.
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* aluna do 3º ano do curso de Tradução e Interpretação
da UNISANTOS - Universidade Católica de Santos.