COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA
ESPORTIVA E ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE DIABETES
Posicionamento Oficial
Diabetes
Mellitus e Exercício
INTRODUÇÃO
Durante o exercício, o consumo total de oxigênio
no organismo pode aumentar em vinte vezes, e maiores aumentos podem ocorrer nos
músculos de trabalho. Para obter suas necessidades de energia nestas circunstâncias,
o músculo esquelético usa, em quantidades aumentadas, suas próprias
reservas de glicogênio e triglicérides, como também ácidos
graxos livres derivados da quebra de triglicérides do tecido adiposo e
de glicose liberada do fígado. Para preservar o funcionamento do sistema
nervoso central, níveis glicêmicos são notavelmente bem mantidos
durante o exercício. Hipoglicemia durante o exercício raramente
acontece em indivíduos não diabéticos. Os ajustes metabólicos
que preservam os níveis normais de glicemia durante o exercício
são, em grande parte, mediados por hormônios. Uma diminuição
de insulina plasmática e a presença de glucagon parece serem necessárias
para o primeiro aumento da produção de glicose hepática
durante o exercício; e durante exercícios prolongados o aumento
de glucagon e catecolaminas no plasma parece desempenhar um papel chave. Estas
adaptações hormonais são essencialmente perdidas em pacientes
diabéticos insulinodependentes. Como conseqüência, quando tais
indivíduos apresentam baixos níveis de insulina na circulação
devido à terapia inadequada, uma excessiva liberação de
hormônios contra-insulínicos durante o exercício pode aumentar
ainda mais os níveis de glicose e corpos cetônicos e provocar cetoacidose
diabética. Da mesma forma, altos níveis de insulina, devido à administração
de insulina exógena, podem atenuar ou até prevenir a alta mobilização
de glicose e outros substratos induzidos pelo exercício e resultar em
hipoglicemia. O mesmo pode ocorrer em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2
em terapia de insulina ou sulfoniluréia; porém, em geral, hipoglicemia
durante o exercício tende a ser um problema a menos nesta população.
Na verdade, em pacientes com diabetes tipo 2, o exercício pode melhorar
a sensibilidade à insulina e ajudar a diminuir elevados níveis
de glicose no sangue para a faixa de normalidade.
O objetivo deste artigo de posicionamento é atualizar
e lapidar pensamentos atuais sobre o papel do exercício em pacientes com
diabetes tipos 1 e 2. Com a publicação de novas revisões
clínicas, está se tornando cada vez mais evidente que o exercício
pode ser uma ferramenta terapêutica em uma variedade de pacientes em risco
ou com diabetes, porém, para que pareça uma terapia, seus efeitos
devem ser completamente entendidos. De um ponto de vista prático, isto
significa que a equipe de saúde de diabetes será exigida a entender
como analisar os riscos e benefícios do exercício em um determinado
paciente. Além disso, a equipe consistindo, mas não restrito, em
médico, enfermeiro, nutricionista, profissional de saúde mental
e o paciente, se beneficiarão do trabalho com um indivíduo com
conhecimento e treinamento em fisiologia de exercício. Finalmente, também
ficou claro que será o papel desta equipe educar os médicos de
atendimento primário e outros envolvidos no cuidado de um determinado
paciente.
AVALIAÇÃO DO PACIENTE ANTES DO EXERCÍCIO
Antes de iniciar um programa de exercício, o indivíduo
com diabete mellitus deve ser submetido a uma avaliação médica
detalhada com estudos diagnósticos apropriados. Estes exames devem, cuidadosamente,
investigar a presença de complicações macro e microvasculares
que possam ser agravadas pelo programa de exercício. A identificação
de áreas de interesse permitirá a elaboração de uma
prescrição individualizada de exercício que pode minimizar
o risco para o paciente. A maioria das recomendações seguintes
são extraídas do Guia de Diabetes e Exercício do Profissional
da Saúde (Health Professional's Guide to Diabetes and Exercise) (3).
Uma boa anamnese e o exame físico devem enfocar os sinais
e sintomas de doenças que afetam o coração e vasos sangüíneos,
olhos, rins e sistema nervoso.
Sistema cardiovascular
Um teste de exercício graduado pode ser útil se um paciente,
ao iniciar um programa de exercício de moderada para alta intensidade
(veja tabela 1) (4-6), apresenta alto risco de doença cardiovascular
subjacente, baseado em um dos seguintes critérios:
Idade > 35 anos
Diabetes tipo 2 de duração > 10 anos;
Diabetes tipo 1 de duração > 15 anos;
Presença de qualquer fator de risco adicional para doença
coronariana;
Presença de doença microvascular (retinopatia ou nefropatia,
incluindo microalbuminúria);
Doença vascular periférica;
Neuropatia autônoma.
Tabela 1: Classificação de intensidade da atividade física,
baseado na atividade física com duração maior de 60
minutos.
Atividade tipo resistência
|
Intensidade Relativa
|
Intensidade
|
VO2 máx (%)
|
Freqüência Cardíaca
Máxima (%)
|
* ERP** ***
|
Muito leve |
<20
|
<35
|
<10
|
Leve |
20-39
|
35-54
|
10-11
|
Moderada |
40-59
|
55-69
|
12-13
|
Intensa |
60-84
|
70-89
|
14-16
|
Muito intensa |
>84
|
>89
|
17-19
|
Máxima |
100
|
100
|
20
|
Modificada por Haskell e Polock de Physical
Activity and Health: A Report of the Surgeon General
(4). *Freqüência Cardíaca Máxima
(FCmáx) = 220 (menos) idade. (Obs.: É preferível
e recomendado que a FCmáx seja mensurada, quando
possível, durante um teste de exercício
de graduação máxima); **Classificação
de Borg da escala 6-20 do esforço relativo percebido
(ERP); ***Valores máximos são valores
médios obtidos durante exercício máximo
em adultos saudáveis.
Em alguns pacientes que exibem alterações inespecíficas
no eletrocardiograma (ECG) em resposta ao exercício, ou que tenham ST
inespecífico e alteração de onda T no ECG em repouso, testes
alternativos como a prova de estresse do radionuclídeo podem ser realizados.
Em pacientes com diabetes que planejam participar de exercício de baixa
intensidade (< 60% da taxa cardíaca máxima) como caminhada,
o médico deve usar o discernimento clínico em decidir se recomenda
um teste de exercício de tensão. Os pacientes com doença
coronariana diagnosticada devem sofrer uma avaliação supervisionada
de resposta isquêmica ao exercício, limite isquêmico, e a
propensão para arritmia durante o exercício. Em muitos casos, a
função sistólica ventricular de repouso e sua resposta durante
o exercício devem ser avaliadas.
Doença Arterial Periférica (DAP)
A avaliação da DAP é baseada em sinais
e sintomas incluindo claudicação intermitente, pés frios,
pulsos diminuídos ou ausentes, atrofia de tecidos subcutâneos e
alopécia. O tratamento básico da claudicação intermitente é não
fumar e um programa de exercício supervisionado. A presença de
pulso dorsal do pé e tibial posterior não exclui alterações
isquêmicas no membro inferior. Se existe qualquer questão sobre
fluxo sanguíneo para o pé e para os dedos no exame físico,
pressões dos dedos como também pressões de Doppler do tornozelo
devem ser realizadas.
Retinopatia
A relação de exames oftalmológicos deve
seguir as Diretrizes de Prática Clínica da Associação
Americana de Diabetes. Para pacientes fisicamente ativos que possuam retinopatia
diabética proliferativa, atividade física vigorosa pode precipitar
hemorragia vítrea ou descolamento de retina. Estes indivíduos devem
evitar exercícios anaeróbicos e exercícios que envolvem
resistência, chacoalhões ou manobras como Valsalva.
Com base na experiência da Clínica de Joslin, o grau de retinopatia
diabética tem sido usado para estratificar o risco do exercício,
e para realizar individualmente o exercício prescrito. A Tabela 2 é reproduzida,
com poucas modificações, do Guia de Diabetes e Exercício
do Profissional da Saúde (3).
Tabela 2: Considerações para limitação de atividade
em Retinopatia Diabética (RD).
Grau de RD
|
Atividades Aceitáveis
|
Atividades Desencorajadas
|
Reavaliação Oftalmológica
|
Ausência de RD |
Ditada pela condição
clínica |
Ditada pela condição
clínica |
12 semanas |
Leve RDNP* |
Ditada pela condição
clínica |
Ditada pela condição
clínica |
6-12 semanas |
Moderada RDNP* |
Ditada pela condição
clínica |
Atividades que elevam dramaticamente
a pressão sanguínea:
Levantamento pesado
Valsalva intensa |
4-6 semanas |
Severa RDNP* |
Ditada pela condição
clínica |
Atividades que aumentam substancialmente
a pressão sanguínea sistólica.
Manobras de Valsalva, e choque direto:
Boxe
Esportes competitivos pesados |
2-4 semanas (pode necessitar de
cirurgia à laser) |
RDP** |
Baixo impacto, condicionamento cardiovascular:
Natação
Caminhada
Ginástica de baixo impacto
Ciclismo estacionário
Exercícios de resistência |
Atividades extremas, manobras de
Valsalva, pesos ou choques:
Levantamento de peso
Cooper
Ginástica de alto impacto |
1-2 semanas (pode necessitar de
cirurgia à laser) |
*RDNP = Retinopatia Diabética
não Proliferativa; **RDP = Retinopatia Diabética
Proliferativa.
Nefropatia
As recomendações de exercícios específicos
não foram desenvolvidas para pacientes com nefropatia incipiente (microalbuminúria > 20
mg/min) ou evidente (albuminúria > 200 mg/min). Pacientes com nefropatia
evidente freqüentemente possuem uma capacidade reduzida para o exercício,
o que leva à auto-limitação no nível de atividade.
Embora não exista nenhuma razão clara para limitar formas de atividade
de intensidade baixa para moderada, a intensidade alta ou exercícios vigorosos
devem, provavelmente, ser desencorajados nestes indivíduos.
Neuropatia Periférica (NP)
Neuropatia periférica pode resultar em perda da sensação
protetora nos pés. NP significante é uma indicação
para limitar exercício de peso. O exercício repetitivo em pés
insensíveis pode, em última instância, resultar em uma ulceração
e fraturas. A avaliação de NP pode ser feita verificando os reflexos
do tendão profundo, sensação vibratória e de posição.
A sensação de toque pode melhor ser avaliada com a utilização
de monofilamentos. A inabilidade em detectar sensação usando o
monofilamento 5.07 (10 g) é indicativo de perda da sensação
protetora. A Tabela 3 contém exercícios contra-indicados e recomendados
para pacientes com perda da sensação protetora nos pés.
Neuropatia Autônoma
A presença de neuropatia autônoma pode limitar
a capacidade de exercício do indivíduo e aumentar o risco de um
evento cardiovascular adverso durante o exercício. Neuropatia autônoma
cardíaca (NAC) pode ser suspeita por taquicardia ao repouso (>100 batimentos
por minuto), ortostatismos (uma queda mantida na pressão sangüínea
sistólica > 20 mm Hg), ou outras manifestações na função
do sistema nervoso autônomo envolvendo a pele, pupilas, sistema gastrointestinal
ou genital. Morte súbita e isquemia silenciosa do miocárdio têm
sido atribuídas a NAC em diabetes. Cintilografia do miocárdio em
repouso ou sob tensão é um exame não invasivo apropriado
para a presença e extensão da doença coronariana macrovascular
nestes indivíduos. Hipotensão e hipertensão após
exercício vigoroso são mais propícias a serem desenvolvidas
em pacientes com neuropatia autônoma, particularmente ao iniciar um programa
de exercício. Como estes indivíduos podem ter dificuldade na termorregulação,
eles devem ser aconselhados a evitar exercícios em ambientes quentes ou
frios e serem vigilantes sobre uma adequada hidratação.
PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO
Preparar o indivíduo com diabetes para um programa
de exercício seguro e agradável é tão importante
quanto o próprio exercício. O indivíduo jovem em bom controle
metabólico pode seguramente participar da maioria das atividades. Os indivíduos
diabéticos de meia-idade e mais velhos devem ser incentivados a serem
fisicamente ativos. O processo de envelhecimento leva a uma degeneração
dos músculos, ligamentos, ossos, e articulações, e o desuso
e o diabetes podem exacerbar o problema. Antes de iniciar qualquer programa de
exercício, o indivíduo diabético deve ser completamente
investigado sobre quaisquer complicações subjacentes conforme descrito
acima.
Uma recomendação padronizada para pacientes
diabéticos, como para indivíduos não diabéticos, é exercício
que inclua um aquecimento adequado e um período de descanso. Um aquecimento
deve consistir em 5-10 minutos de atividade aeróbica (caminhada, ciclismo,
etc.) em baixa intensidade. A sessão de aquecimento é para preparar
os músculos esqueléticos, coração e pulmões
para um aumento progressivo na intensidade do exercício. Depois de um
breve aquecimento, os músculos devem ser suavemente alongados por outros
5-10 minutos. Sobretudo os músculos usados durante a sessão de
exercício ativo devem ser alongados, mas aquecimento em todos os grupos
musculares é benéfico. O aquecimento ativo pode acontecer antes
ou após o alongamento. Seguindo a sessão de atividade, um descanso
deve ser estruturado de forma similar ao aquecimento. O relaxamento deve durar
aproximadamente 5-10 minutos e gradualmente diminuir a freqüência
cardíaca para seu nível inicial.
Tabela 3: Exercícios para pacientes diabéticos com menor proteção.
EXERCÍCIO CONTRA-INDICADO
|
EXERCÍCIO RECOMENDADO
|
Trilha
Natação
Caminhada prolongada
Pedalar
Cooper
Remo
Exercícios de step |
Exercícios de cadeira
Exercícios de braço
Outro não-exercício de tolerar peso
|
Existem várias
considerações que são particularmente
importantes e específicas para o indivíduo
com diabetes. O exercício aeróbico deve
ser recomendado, porém tomar medidas de precaução
para o exercício envolvendo os pés é essencial
para muitos pacientes com diabetes. O uso de gel de
sílica ou meias-solas de ar, como também
poliéster ou mistura (algodão-poliéster)
de meias para prevenir bolhas e manter os pés
secos é importantes para minimizar trauma nos
pés. O calçado adequado é essencial
e deve ser enfatizado em indivíduos com neuropatia
periférica. Os indivíduos devem ser instruídos
a monitorar de perto bolhas e outros danos de potencial
para seus pés, antes e após o exercício.
Uma pulseira de identificação do diabetes
ou etiqueta no sapato devem ser claramente visíveis
durante o exercício. Hidratação
adequada também é essencial, uma vez
que a desidratação pode afetar a glicemia
e, adversamente, a função do coração.
Exercício no calor exige atenção
especial para a manutenção da hidratação. É recomendada
uma adequada hidratação antes do exercício
(17 onças de líquido consumidos duas
horas antes do exercício; 1 onça = 28,35g).
Durante o exercício, deve ser realizada de maneira
precoce e contínua em quantidade suficiente
para compensar perdas na transpiração
refletidas na perda de peso corporal, ou a quantidade
máxima de líquido tolerada. Precauções
devem ser tomadas quando o exercício é realizado
em ambientes extremamente quentes ou frios. Exercício
de alta resistência com pesos pode ser aceitável
para indivíduos jovens com diabetes, mas não
para indivíduos mais idosos ou aqueles com longo
tempo de diabetes. Programas de treinamento moderado
com peso que utilizam baixos pesos e muitas repetições
podem ser utilizados para manter ou aumentar a força
muscular na maioria dos pacientes diabéticos.
EXERCÍCIO E DIABETES
TIPO 2
Os possíveis benefícios do exercício
para o paciente com Diabetes tipo 2 são muitos; e estudos recentes enfatizam
a importância de programas à longo prazo de exercícios no
tratamento e prevenção deste comum distúrbio metabólico
e de suas complicações. Efeitos metabólicos específicos
podem ser destacados como os seguintes:
Controle glicêmico
Diversos estudos à longo prazo têm demonstrado
um efeito benéfico consistente da prática regular de exercício
no metabolismo do carboidrato e sensibilidade à insulina, que pode ser
mantido por pelo menos 5 anos. Estes estudos utilizaram modelos de exercício
de intensidade de 50-80% VO2 máx, 3 a 4 vezes por semana, por 30-60 minutos
cada sessão. Melhoras no HbAic foram geralmente 10-20% do basal e mostrou-se
mais marcante em pacientes com diabetes tipo 2 moderado e naqueles com maior
resistência à insulina. É verdade, infelizmente, que a maioria
destes estudos passam por uma randomização e controle inadequados,
e são confundidos pela modificação associada do estilo de
vida. Apesar dos recentes resultados sugerirem um efeito benéfico do exercício
de resistência em pessoas saudáveis ou com diabetes tipo 1, não
há dados disponíveis relacionados ao diabetes tipo 2.
Atualmente parece que programas em longo prazo de exercício
regular são realmente viáveis para pacientes com tolerância
prejudicada à glicose ou diabetes tipo 2 sem complicações,
com índices de aderência aceitáveis. Os estudos com a melhor
adesão têm utilizado um período inicial de supervisão
seguido por um informal programa de exercício domiciliar com freqüentes
avaliações completas. Vários programas semelhantes têm
demonstrado melhora relativa mantida no VO2 máximo por muitos anos, com
poucas complicações significativas.
Prevenção de doença cardiovascular
Em pacientes com diabetes tipo 2, a Síndrome de Resistência à Insulina
continua a ganhar sustento como um importante fator de risco para doença
coronariana precoce, principalmente quando acompanhada de hipertensão,
hiperinsulinemia, obesidade centrípeta, e a sobreposição
de anormalidades metabólicas de hipertrigliceridemia, HDL baixo, LDL alterado,
e FFA elevado. A maioria dos estudos mostra que estes pacientes têm um
baixo nível de aptidão física comparados ao controle, até mesmo
quando igualados os níveis de atividades rotineiras, e que a má aptidão
aeróbica está associada a muitos dos fatores de risco cardiovasculares.
A melhora de muitos destes fatores de risco tem sido associada à diminuição
dos níveis de insulina plasmática e é provável que
muitos dos efeitos benéficos do exercício no risco cardiovascular
sejam relatados pela melhora de sensibilidade à insulina.
Hiperlipidemia
Exercício regular tem mostrado ser efetivo na redução
dos níveis de triglicerídeo VLDL (very low density lipoprotein).
Entretanto, efeitos do exercício regular nos níveis de colesterol
LDL não têm sido freqüentemente documentados. Com alguma exceção,
a maioria dos estudos falham para demonstrar uma melhora significativa nos níveis
de HDL em pacientes com diabetes tipo 2, talvez devido à intensidade moderada
de exercício utilizada de forma relativa.
Hipertensão
Há evidências associando resistência insulínica à hipertensão
nos pacientes. Efeitos do exercício na redução dos níveis
de pressão arterial têm sido demonstrados mais freqüentemente
em indivíduos hiperinsulinêmicos.
Fibrinólise
Muitos pacientes com diabetes tipo 2 apresentam atividade
fibrinolítica prejudicada associada a elevados níveis de PAI-1
(Plasminogen Activator Inhibitor I), o maior inibidor natural do ativador de
plasminogênio tecidual (TPA Tissue Plasminogen Activator). Os estudos
demonstram uma associação da atividade aeróbica e fibrinólise.
Ainda não há um consenso se o treinamento físico resulta
na melhora da atividade fibrinolítica nestes pacientes.
Obesidade
Estudos sugerem que o exercício deva acentuar a perda
de peso e, em particular, a manutenção de peso quando utilizado
juntamente com um adequado plano de alimentação de controle calórico.
Existem alguns estudos específicos que discutem essa questão em
diabetes tipo 2 e muitos dos dados disponíveis são suspeitos pelo
uso simultâneo de dietas irregulares e outras intervenções
comportamentais. De particular interesse são os estudos que sugerem um
efeito desproporcional do exercício na perda de gordura intra-abdominal,
cuja presença tem sido associada muito intimamente a anormalidades metabólicas.
Informações sobre o uso do exercício de resistência
na redução de peso são promissoras, mas estudos em pacientes
com diabetes tipo 2, em particular, são escassos.
Prevenção do diabetes tipo 2
Muitas evidências foram acumuladas sustentando a hipótese
de que o exercício, juntamente com outras terapias, pode ser utilizado
na prevenção ou retardo do início do diabetes tipo 2. Atualmente,
um amplo estudo NIH prospectivo randomizado está em andamento para esclarecer
a praticidade dessa abordagem.
EXERCÍCIO E DIABETES
TIPO 1
Todos os níveis de exercício, incluindo atividades
de leitura, esportes recreacionais e performance profissional competitiva, podem
ser realizados pelas pessoas com diabetes tipo 1, que não apresentam complicações
e estão com um bom controle da glicemia (ver seção anterior).
A habilidade em ajustar o regime terapêutico (insulina e dieta) para permitir
participação segura e alta performance têm sido reconhecida
recentemente como um importante controle estratégico nestes indivíduos.
Em particular, o importante papel desempenhado pelo paciente na coleta auto-monitorada
de dados da glicemia em resposta ao exercício e, em seguida, no uso dessas
informações para melhorar o rendimento e realçar a segurança é completamente
aceitável atualmente.
A ocorrência de hipoglicemia durante, imediatamente
após ou muitas horas após o exercício pode ser evitada.
Isso exige que o paciente tenha um conhecimento adequado da resposta metabólica
e hormonal do exercício e habilidades de auto-controle bem regulados.
O aumento do uso da insulinoterapia intensiva tem proporcionado pacientes com
flexibilidade para realizar ajustes apropriados da dosagem de insulina para várias
atividades. A rígida recomendação para o uso de suplemento
de carboidrato estimado de acordo com a intensidade e duração do
exercício, sem levar em consideração a glicemia no início
do exercício; a medida prévia da resposta metabólica ao
exercício; e a insulinoterapia do paciente não são mais
adequadas. Tais medidas freqüentemente anulam os efeitos hipoglicemiantes
do exercício benéficos em pacientes com diabetes tipo 1.
Diretrizes básicas que mostraram ser úteis na
regulação da resposta glicêmica ao exercício podem
ser resumidas como o seguinte:
1) Controle metabólico antes do exercício:
Evitar exercícios se a glicemia em jejum estiver > 250 mg/dl
e cetose estiver presente ou se glicemia estiver > 300 mg/dl independente
da presença de cetose;
Ingerir carboidrato adicional de glicemia estiver < 100 mg/dl.
2) Dosagem glicêmica antes e após o exercício:
Identificar quando insulina ou ingesta de alimentos é necessária;
Aprender a resposta glicêmica para diferentes condições
de exercício.
3) Ingestão de alimentos:
Consumir carboidrato adicional se necessário para evitar hipoglicemia;
Alimentos a base de carboidratos devem estar prontamente disponíveis
durante e após o exercício.
Uma vez que diabetes está associado com o aumento do
risco de doenças macrovasculares, os benefícios do exercício
em melhorar os fatores de risco conhecidos para aterosclerose são fortemente
valorizados. Isso é particularmente verdade naqueles exercícios
que podem melhorar o perfil lipoprotéico, diminuir a pressão sanguínea
e melhorar a condição cardiovascular. Contudo, deve ser levado
em consideração que muitos estudos falharam em mostrar um efeito
independente do exercício na melhora do controle da glicemia por HbAic
em pacientes com diabetes tipo 1. Na verdade esses estudos têm sido valiosos
em mudar o foco do exercício em diabetes de um controle da glicemia para
um importante estilo de vida com múltiplos benefícios. O desafio é desenvolver
estratégias que permitam indivíduos com diabetes tipo 1 participarem
de atividades que são pertinentes com o seu estilo de vida e sua cultura
de uma maneira segura e proveitosa.
No geral, os princípios recomendados para aplicações
com o exercício em adultos diabéticos tipo 1, livres de complicações,
aplicados em crianças, com a consciência de que crianças
podem ser propensas a maiores variações de glicemia. Em crianças, é necessária
uma particular atenção com o controle do balanço glicêmico
durante atividades rotineiras, e para isso, a assistência de pais, professores
e técnicos pode ser necessária. Em caso de adolescentes, mudanças
hormonais podem contribuir para dificuldade no controle glicêmico. Apesar
desses problemas adicionais, é claro que instruções cuidadosas
no autocontrole e tratamento da hipoglicemia, o exercício pode ser uma
segura e recompensadora experiência para a grande maioria de crianças
e adolescentes com diabetes mellitus insulinodependente.
EXERCÍCIOS NA
TERCEIRA IDADE
Evidencias foram acumuladas sugerindo que o progressivo declínio
em condição física, massa muscular e força com a
idade, é, em parte, evitável pela prática regular de exercício.
O declínio da sensibilidade à insulina com a idade é também,
em parte, devido à falta de atividade física. Baixos níveis
de atividade física são especialmente prevalentes na população
de risco para diabetes tipo 2. Um grande número de estudos recentes em
treinamento de exercício têm incluído número significativo
de pacientes idosos. Esses pacientes têm passado bem com bom treinamento
e boas respostas metabólicas, níveis de aderência de pelo
menos tão bom quanto na população em geral, e um índice
aceitável de complicações. É provável que
manter melhores níveis de aptidão física nessa população
implicará em menos doença vascular crônica e uma melhor qualidade
de vida.
CONCLUSÕES
O recente Relatório de Atividade Física e Saúde
do Diretor Geral da Saúde reforça o papel essencial da prática
de atividade física na promoção da saúde e prevenção
de doenças. É recomendado que as pessoas acumulem 30 minutos de
atividade física moderada na maioria dos dias da semana. No contexto do
diabetes, está se tornando cada vez mais evidente que a epidemia de diabetes
tipo 2 que afeta o mundo está associada à diminuição
dos níveis de atividade física e um aumento da prevalência
de obesidade. Portanto, a importância em promover o exercício como
um componente vital de prevenção, como também de controle
do diabetes tipo 2, deve ser visto como uma grande prioridade. Deve também
ser ressaltado que o beneficio do exercício em melhorar as alterações
metabólicas do diabetes tipo 2 é provavelmente maior quando usado
precocemente em sua progressão, de resistência insulínica,
para tolerância prejudicada à glicose, para hiperglicemia evidente
necessitando de tratamento com agentes orais, e, finalmente, para insulina.
Para pessoas com diabetes tipo 1, a ênfase deve ser
no ajuste do regime terapêutico para permitir participação
segura em todas as formas de atividade física de acordo com os desejos
e objetivos de um indivíduo. Afinal de contas, todos os pacientes com
diabetes devem ter a oportunidade de beneficiarem-se dos muitos efeitos valiosos
do exercício.
Este Posicionamento foi originalmente aprovado em Fevereiro
de 1990 e revisado em 1997. O projeto inicial dessa revisão foi preparado
por Bernard Zimonem, MD (Coautor); Neil Ruderman, MD, Phil (Co-autor); Bárbara
N. Campaigne, PhD; Joba T. Devlin, MD; e Stephen H. Schmeider, MD. O artigo foi
revisado, modificado, e aprovado pelo Comitê de Prática Profissional
e pelo Comitê Executivo, em junho de 1997, como também pelo Comitê de
Pronunciamentos e Junta de __?__ do Colégio Americano de Medicina Esportiva,
em julho de 1997. Para revisões técnicas nesse título veja
Diabetes Care 13:785-789, 1990 e Diabetes Care 17:924-937, 1994. Diretrizes da
Associação Americana de Diabetes e do Colégio Americano
de Medicina Esportiva. Esse Posicionamento Oficial foi publicado simultaneamente
no jornal do Diabetes Care.
TRADUÇÃO: Este Posicionamento foi traduzido para a Língua
Portuguesa por João P. M. Bergamaschi, Estagiário do CELAFISCS,
e revisado por Victor K. R. Matsudo & Sandra M. M. Matsudo, CELAFISCS.