Home |CDOF Responde | Cadastro de Usuários | Cadastro de Consultores|


 

Seg, 26/1/09 17:10

TREINAMENTO DESPORTIVO

Treinamento de força para adolescentes: risco ou benefício?
Alisson Gomes da Silva
Antonio Trajano de Morais Neto²

RESUMO
   O treinamento resistido consiste em uma atividade voltada para o desenvolvimento das funções musculares através da aplicação de sobrecargas, podendo esta ser imposta através de pesos livres, máquinas específicas, elásticos ou a própria massa corporal. O fato de uma das principais adaptações musculares ao treinamento resistido ser a hipertrofia muscular, e os adolescentes estarem comumente insatisfeitos com a própria aparência, há um crescente interesse destes por esta área. Entretanto, como o sistema esquelético nessa fase da vida ainda não está completamente formado, surge uma preocupação a respeito de tal prática, que supostamente poderia provocar lesões osteomioarticulares. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar quais são os riscos e benefícios da prática do treinamento resistido por adolescentes. A literatura apontou que os exercícios resistidos exercem efeitos positivos sobre a densidade mineral óssea, e aumentam a força muscular em crianças e adolescentes. Na infância, mecanismos neurais relacionam-se mais aos aumentos da força do que a hipertrofia muscular, passando a ser considerável após a puberdade, devido ao padrão hormonal favorável. No entanto, para que os objetivos do treinamento sejam alcançados, faz-se necessário o entendimento da dinâmica do crescimento e desenvolvimento motor para a prescrição do treinamento resistido, uma vez que a adolescência é marcada por grandes transformações físicas, psicológicas e psicossociais. Assim, há evidências de que os riscos da prática do treinamento de força em crianças e adolescentes passam a surgir quando este treinamento não é planejado, estruturado e supervisionado por profissionais competentes. Com tais cuidados, este tipo de treinamento provavelmente será benéfico a crianças e adolescentes, e poderá proporcionar a obtenção dos objetivos propostos.

1. Introdução
   Na sociedade moderna, percebe-se uma busca frenética por padrões de beleza e auto-imagem idealizados e reforçados pela mídia (LIMA et al, 2001; GOLDBERG, 2001, apud GOLDBERG et al, 2003). A insatisfação com a própria aparência, além de estar relacionado com transtornos alimentares, pode conduzir adolescentes à busca de atividades físicas de alta intensidade e grande volume de treinamento, como valorização do corpo e da imagem idealizados, a serem atingidos, muitas das vezes, a qualquer custo (GOLDBERG et al, 2003).
   Um dos meios comumente utilizados para tal, é o treinamento resistido (também conhecido como treinamento de força ou contra resistência), uma vez que, segundo Godoy (1994) citado por Hansen (2002), além de apresentar finalidades terapêuticas, profiláticas, psicológicas e específicas, apresenta ainda características estéticas, uma vez que modifica a massa corporal, objetivando formas corporais desejáveis.
   O treinamento resistido consiste em uma atividade voltada para o desenvolvimento das funções musculares através da aplicação de sobrecargas, podendo esta ser imposta através de pesos livres, máquinas específicas, elásticos ou a própria massa corporal (FLECK e KRAEMER, 2006).
   A sua popularidade entre pré-púberes e adolescentes tem aumentado espantosamente durante a última década. As seguintes organizações têm produzido posicionamentos indicando que o treinamento de força para jovens é eficaz e seguro quando apropriadamente supervisionado: American Academy of Pediatrics (1990), National Strength and Conditioning Association (1996) e American College of Sports Medicine (ACSM) (1998). Apesar desses posicionamentos, ainda existem questionamentos e dúvidas a respeito do treinamento de força para jovens (FLECK e KRAEMER, 2006).
   Nesse sentido, Goldberg et al (2003) aponta que a principal preocupação da adesão de adolescentes ao treinamento com pesos é a possibilidade de lesões nas epífises ósseas, devido à grande vulnerabilidade destas à lesões, provocadas por sobrecarga, antes do amadurecimento fisiológico.
   Assim, o presente trabalho busca identificar, através de uma revisão de literatura, quais são os possíveis riscos e benefícios da prática do treinamento resistido por adolescentes.

2. Objetivos
2.1. Objetivo geral
" Identificar a relação custo-benefício no treinamento de força para adolescentes.

2.2. Objetivos específicos
" Descrever o processo de maturação humana.
" Identificar as adaptações osteo-musculares, hormonais e neurais provenientes do treinamento de força.
" Identificar, na literatura, os principais riscos e benefícios do treinamento resistido na adolescência.

3. Revisão de Literatura
3.1. Maturação humana
   A adolescência é caracterizada como um período de transição no desenvolvimento entre a infância e a idade adulta que envolve grandes e interligadas mudanças físicas, cognitivas e psicossociais. Dura quase uma década, aproximadamente dos 12 ou 13 anos até o início dos 20 anos. No entanto, não há definição clara para seu ponto de início ou fim (PAPALIA e OLDS, 2000).
   O componente "bio" da adolescência é reconhecido como puberdade e envolve, entre outras alterações fisiológicas próprias da idade, o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, o ganho acelerado de estatura e peso e as alterações da composição corporal (Goldbert et al, 2003). Segundo Oliveira et al (2003), nessa fase ocorre, ainda, aceleração do crescimento, aumento nos níveis de testosterona, diferenciação nas fibras musculares de contração lenta e rápida, diferenciação entre os sexos (antropometria e massa muscular) e menarca (início da função menstrual). Já Duarte (1993), citado por Silva (2002) e por Oliveira (2006), define maturação pubertária como variações na velocidade e no tempo de surgimento de determinadas características, capacitando o individuo a atingir a maturidade biológica.
   As diferenças físicas e psicológicas são resultantes de potenciais genéticos e velocidades diferentes de crescimento (Fleck e Kraemer, 2006). Consequentemente observa-se variações individuais e entre populações, com relação à idade de início, duração e magnitude dos eventos pubertários (Goldberg et al, 2003). Assim, Silva (2002) argumenta que a idade cronológica não pode ser usada como ponto de corte para demarcação de períodos de desenvolvimento, e segundo Goldberg et al (2003), não pode ser reconhecida como indicador temporal adequado, pois nem sempre é sensível às modificações individuais provocadas pelo processo de maturação.
   Nesse sentido, em relação ao desenvolvimento do treinamento de força, Fleck e Kraemer (2006), afirmam que a idade fisiológica é mais importante do que a cronológica, pois determina as capacidades e os desempenhos funcionais da pessoa.

   Os programas de treinamento de força para pré-púberes e adolescentes de ambos os sexos são bastante parecidos. Entretanto, algumas diferenças no desenvolvimento devem ser consideradas quando são estabelecidos os objetivos para meninos e meninas. Em meninos pré-púberes, a velocidade nos ganhos de força parece chegar ao pico seguindo o pico da velocidade do crescimento (Naughton et al, 2000), enquanto o pico da força em muitas meninas ocorre antes ou durante o pico da velocidade de crescimento. De qualquer forma, o estágio de desenvolvimento, no qual ocorrerá qualquer aumento de força é consistentemente maior em meninos do que em meninas (FLECK e KRAEMER, 2006).

   Durante a infância e adolescência, músculos, tendões e ligamentos são de duas a cinco vezes mais fortes que suas inserções nos ossos. Deve-se evitar, portanto, a técnica incorreta na realização dos exercícios; o aumento súbito da intensidade, o desrespeito à individualidade biológica; a especialização precoce, resultando em estresse mecânico sobre as estruturas músculo-tendinosas, ligamentosas e ósseas (Oliveira et al, 2003). Corroborando este pensamento, Nickols-Richardson, Modlesky, O'Connor e Lewis (2000), citados por Silva (2002), atentam para a possibilidade de lesões, recomendando que a força máxima ou próxima dela seja evitada, e enfatizam a necessidade das técnicas apropriadas.
   Diante do exposto, fica claro que as inúmeras alterações físicas, psicológicas e psicossociais na criança e no adolescente, provocam conseqüências para a atividade corporal ou esportiva (ÄSTRAND, 1980; WEINECK, 1991).
  Viru et al (1999) argumenta que a avaliação da maturação sexual é fundamental quando se objetiva prescrever programas de exercícios físicos para adolescentes, uma vez que o aumento da secreção de gonadotrofinas e esteróides sexuais gonadais induzem o desenvolvimento sexual, aumento da massa corporal, estatura e melhora na aptidão física dos jovens (Goldberg et al, 2003). Corroborando, Fleck e Kraemer (2006) ressaltam a necessidade de se entender os princípios básicos do crescimento e desenvolvimento, já que ajudam no desenvolvimento de objetivos e progressões de exercícios nos programas de treinamento de força. E por fim, Nunes (2005), afirma ser importante compreender as características individuais, para que se possa orientar o treinamento físico, mantendo bons níveis de saúde de acordo com a idade e o sexo.

3.2. Principais adaptações ao treinamento de força
   Entende-se por adaptação o processo fisiológico pelo qual o organismo responde ao exercício (FLECK e KRAEMER, 2006).
   Um treinamento sistematizado resulta em adaptações estruturais e fisiológicas, sendo que os vários sistemas do corpo adaptam-se de modo diferente. Os músculos crescem, ossos ficam mais fortes ou fracos, dependendo da carga, o sistema nervoso central torna-se mais eficiente para recrutar a ação muscular enquanto a performance motora faz-se mais coordenada e refinada (BOMPA e CORNACCHIA, 2000).
   Adaptação anatômica
Um treinamento vigoroso de força sempre desenvolve tensão em ligamentos e tendões, podendo acarretar lesões. Os tendões e ligamentos levam mais tempo para se adaptarem à contrações potentes do que os músculos. Portanto, indivíduos treinados após um período de descanso, e iniciantes em treinamento de força, necessitam de 6 a 12 semanas para treinar os tendões e ligamentos. Essa adaptação é proporcionada por um treinamento progressivo e não estressante que ative todos os músculos, ligamentos e tendões, visando ajudar o indivíduo a passar para outra fase mais intensa de treinamento, livre de lesões (BOMPA e CORNACCHIA, 2000; MELONI E GENTIL, [s/d]).
  Hipertrofia muscular (aguda, crônica e metabólica)
   Uma das adaptações mais visíveis ao treinamento de força é a hipertrofia muscular, que ocorre graças ao aumento na área da secção transversa de cada fibra muscular (WEINECK, 2003).
   Pode ser classificada em aguda (transitória) ou crônica (miofibrilar). A hipertrofia transitória é o aumento de volume do músculo que ocorre durante uma sessão de exercício, decorrente principalmente do acúmulo de líquido (originário do plasma sanguíneo) nos espaços intersticial e intracelular no músculo, sendo que o este retorna ao sangue algumas horas após o exercício (WILMORE e COSTILL, 2001). Já a crônica é proveniente de mudanças musculares estruturais, devido ao aumento do tamanho e número dos miofilamentos protéicos, que ocorre com treinamento de força de longa duração (BOMPA e CORNACCHIA, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001; CHIESA, 2003). Este tipo de hipertrofia ocorre como adaptação à sobrecarga tensional nos músculos em atividade. (SANTARÉM, 1998; CHIESA, 2003).
   Existe ainda um outro tipo ou mecanismo de hipertrofia muscular chamado de hipertrofia metabólica ou sarcoplasmática. Este processo é desencadeado pelo aumento de certas substâncias no citoplasma da célula muscular (sarcoplasma), promovendo um conseqüente aumento no tamanho da musculatura (HANSEN, 2002). As adaptações do corpo promovendo hipertrofia metabólica ou sarcoplasmática ocorrem através de sobrecarga metabólica, a qual designa um aumento de atividade dos processos de produção de energia (SANTARÉM, 1998; CHIESA, 2003).
   Bompa e Cornacchia (2000) ainda apontam que o hormônio sexual masculino "testosterona" assume papel importante no crescimento muscular, sendo outra teoria a respeito da hipertrofia.
   Adaptações neuro musculares
   Ganhos em força muscular podem ser explicados por mudanças no padrão de recrutamento de unidades motoras e pelo sincronismo das mesmas para agir em união, o que facilita a contração e aumenta a capacidade do músculo de gerar força (BOMPA e CORNACCHIA, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001).
   A grande maioria das evidências indica que os ganhos na força em pré-púberes relacionam-se mais aos mecanismos neurais do que à hipertrofia muscular (BLIMKIE, 1993; NATIONAL STRENGHT AND CONDITIONING ASSOCIATION, 1996, apud FLECK e KRAEMER, 2006). Katch e McArdle, (2003) confirmam este raciocínio argumentando que os aumentos da força em crianças resultam principalmente do aprendizado e da ativação neuromuscular aprimorada e não de aumentos substanciais no tamanho dos músculos. Da mesma forma, Silva (2002) afirma que do ponto de vista fisiológico nas crianças pré-púberes, este aumento ocorre devido à melhoria na freqüência de transmissão e recrutamento das fibras motoras e não necessariamente à hipertrofia, fato que só passa a ocorrer com a puberdade, devido ao aumento da quantidade de hormônio de crescimento, sendo que nos meninos ainda há o aumento da testosterona, o que tende a favorecer algumas respostas relacionadas à melhoria da força.
   Assim, o crescimento acentuado do músculo em resposta ao treinamento de força pode começar após a adolescência, quando os perfis hormonais de homens e mulheres adultos começam a surgir. Após a puberdade, o treinamento de força tem a capacidade de aumentar a hipertrofia muscular para além daquela alcançada no crescimento normal. Entretanto, devido às diferenças nos períodos de maturação entre as crianças, deve-se avaliar esse objetivo individualmente (FLECK e KRAEMER, 2006).
   Embora os mecanismos exatos que promovem o aumento da força em indivíduos pré-púberes e púberes ainda não estejam completamente elucidados, os autores supra-citados atestam que o treinamento de força, claramente, promove aumentos na força de meninos e meninas. No entanto, isto está na dependência de um treinamento adequadamente estruturado com relação à freqüência, tipo, intensidade e duração do programa (GOLDBERG et al, 2003).

3.3. Riscos e benefícios do treinamento de força na adolescência
   Especificamente no que se refere ao trabalho de força com crianças e adolescentes, há uma idéia geral de que este tende a acarretar uma série de lesões ósteo-mio-articulares, que poderiam favorecer a inibição do crescimento, prejudicando a estatura final (SILVA, 2002).
   Para Katch e McArdle (2003), devido à natureza formativa do sistema esquelético das crianças em crescimento, surgem preocupações acerca da possibilidade de ocorrerem lesões em virtude da sobrecarga músculo-esquelética excessiva. Além disso, o perfil hormonal de uma criança carece do desenvolvimento pleno, particularmente o hormônio testosterona. Assim, poder-se-ia questionar se o treinamento resistido em crianças seria capaz de induzir aprimoramentos significativos da força muscular.
   Damsgaard et al (2001), sustentam que o treinamento de força intenso em adolescentes parece acarretar decréscimo nos níveis de IGF-I (fator de crescimento para insulina), sugerindo que esse treinamento pode reduzir o crescimento e comprometer a estatura final (GOLDBERG et al, 2003).
   Nesse contexto, Oliveira et al (2003) alertam que são necessários cuidados com a sobrecarga ao relacionar o treinamento com o crescimento ósseo, pois este ainda não se encontra em sua formação final.
   Para Fleck e Kraemer (2006), os problemas nas costas podem ser uma das lesões mais comuns em adolescentes e pré-púberes que realizam treinamento de força, causados normalmente pelo levantamento de cargas máximas ou próximas da máxima, e pela execução incorreta de exercícios. Assim, grupos musculares adicionais são recrutados, a coluna vertebral é alinhada de forma inadequada, principalmente com arqueamento da região lombar, o que coloca uma sobrecarga nessa região (KATCH, 1996, apud JESUS e MARINHO, 2006). Nesse sentido, Weineck (2003) alerta para a importância do uso da técnica correta para o levantamento de uma carga, especialmente durante a juventude.
   Entretanto, alguns preconceitos estão sendo derrubados em relação ao treinamento de força muscular em crianças (Oliveira; Gallagher, 1999), como o comprometimento do crescimento cartilaginoso, fraturas, lesões crônicas e problemas lombares.
   A utilização de exercícios contra resistência, se realizado de forma adequada, proporciona um excelente meio de fortalecimento dos músculos do abdome e da região lombar, de modo a sustentar e proteger a coluna vertebral (JESUS e MARINHO, 2006).
   Em se tratando de densidade mineral óssea, o treinamento de força pode apresentar um efeito favorável em pré-púberes e adolescentes em ambos os sexos (NATIONAL STRENGHT AND CONDITIONING ASSOCIATION, 1996; NAUGHTON et al, 2000, citados por FLECK e KRAEMER, 2006).
   De acordo com Khan et al (2000), essa é uma consideração importante para a saúde óssea a longo prazo, já que estudos de ex-atletas e de atletas em destreinamento mostram que, aqueles que aumentam sua densidade mineral óssea na adolescência podem apresentar menor perda óssea nos anos seguintes, apesar da redução na atividade física (FLECK e KRAEMER, 2006). Portanto, qualquer aumento na densidade mineral óssea acima do crescimento normal durantes os anos da pré-puberdade e adolescência pode ajudar a prevenir uma osteoporose futura.
   Para Nordström et al (1995) apud Goldberg et al (2003), existe forte associação entre massa óssea e força dos músculos adjacentes. Assim, incremento da massa muscular reflete-se em aumento da massa óssea, ou seja, os músculos, uma vez estimulados, irão desencadear aumento osteoblástico na região óssea próxima do local onde se inserem. Krahl et al, (1994) afirmam que o estresse contínuo provocado pelo exercício físico resulta em adaptações morfológicas, tais como: aumento da espessura cortical e maior conteúdo ósseo na inserção musculotendínea (GOLDBERG et al, 2003).
   Devido ao profundo interesse na área de mineralização óssea na infância e adolescência, Goldberg e Silva (2004) conduziram investigação com adolescentes do sexo masculino, e os resultados indicaram intenso anabolismo ósseo entre as faixas etárias de 14 a 16 anos e quando os mesmos atingiam o estágio de maturação sexual G4. Estudos de khan et al (2001) sugerem que os estágios II e III de Tanner, quando associados com atividades esportivas, promovem aumento significativo na densidade mineral óssea da grande maioria de adolescentes (GOLDBERG et al, 2003). Já Haapasalo et al (1998), estudaram os efeitos do treinamento de tênis e da maturação sexual, e o seu impacto na densidade óssea dos membros superiores. Foram utilizados os critérios de Tanner para o sexo feminino. Os resultados indicaram que, no estágio I de Tanner, o ganho na densidade mineral das tenistas só ocorria quando o treinamento era muito intenso e que o aumento mais pronunciado era nos estágios III e IV. Os autores propuseram que, em estágios iniciais da puberdade, a repercussão óssea ao estímulo da sobrecarga é pouco significativa, enquanto que, em fases mais avançadas da maturidade sexual, o padrão hormonal conjugado à atividade esportiva conduz a maior deposição de massa óssea nos locais específicos dos estímulos musculares.
   Weltman et al (1986) estudaram a segurança e eficiência do treinamento de força em 26 crianças pré-púberes. Esses autores não encontraram evidências de lesão à epífise, ossos ou músculo após um programa de 14 semanas de treinamento de força com supervisão. Blimkie et al (1989), na Universidade de McMaster em Ontário, Canadá, também avaliaram a segurança e eficiência do treinamento de força em meninos pré-púberes. A segurança foi monitorada por um médico que avaliava antes, durante, e após o treinamento. Os resultados dessa pesquisa não acusaram nenhuma evidência de lesão ao sistema músculo-esquelético após o treinamento de força, e encontraram significativos ganhos de força e melhor desempenho esportivo (ROBERGS, ROBERTS, 2002).
   Portanto, tem-se verificado que, com uma adequada supervisão da sobrecarga, a incidência de lesão é praticamente nula (OLIVEIRA et al, 2003). Daí a importância do treinamento de força nessa faixa etária ser planejado e orientado por profissionais de Educação Física qualificados.
   Pollock (1986) citado por Biazussi [s/d] ainda acrescenta, apontando outros benefícios proporcionados pelo treinamento resistido aos adolescentes: hipertrofia muscular, níveis de força e resistência muscular elevados, aumento da secreção de hormônios anabólicos, redução da dor em pacientes que sofrem de dores lombares e melhora da mobilidade, melhora do metabolismo da glicose e da sensibilidade à insulina, e metabolismo basal elevado.
Entretanto, para que os objetivos e benefícios dos programas de treinamento de força sejam alcançados, eles devem ser apropriadamente elaborados e progressivos, ensinados corretamente e supervisionados de forma competente (FLECK e KRAEMER, 2006).

3.4. Considerações acerca do treinamento de força na infância e adolescência
   Katch e McArdle (2003) indicam recomendações prudentes para iniciar um treinamento de força com crianças e adolescentes. Apesar de não ser objetivo deste trabalho, pensamos ser importante evidenciá-las.

Idade (anos)
Considerações
7 ou menos
Introduzir a criança aos exercícios básicos com pouco ou nenhum peso; elaborar o conceito de uma sessão de treinamento; ensinar as técnicas dos exercícios; progredir de calistenia com utilização de peso corporal; exercícios com parceiro e exercícios levemente resistidos; manter o volume baixo.
8 - 10
Aumentar gradualmente o número de exercícios; praticar a técnica do exercício em todos os levantamentos; começar com uma carga progressiva e gradual; proporcionar exercícios simples; aumentar gradualmente o volume do treino; monitorar com cuidado a tolerância ao estresse do exercício.
11 - 13
Ensinar todas as técnicas básicas dos exercícios; prosseguir com a carga progressiva de cada exercício; enfatizar as técnicas dos exercícios; introduzir exercícios mais avançados com pouca ou nenhuma resistência.
14 - 15
Progredir para programas mais avançados; acrescentar componentes específicos para cada desporto; enfatizar as técnicas do exercício; aumentar o volume.
16 ou mais
Conduzir a criança para programas adultos de nível inicial depois que todo o conhecimento básico foi dominado e que foi conseguido um nível elementar de experiência com o treinamento.

Fonte: Katch e McArdle (2003).

4. Conclusão
   O fato do sistema esquelético não se encontrar em sua formação final em adolescentes, não significa que estes não podem ser submetidos à exercícios de força. Entretanto, a prescrição desses exercícios à adolescentes deve ser cautelosa, uma vez que nessa fase da vida ocorrem inúmeras alterações físicas, psicossociais e psicológicas.
Mecanismos neurais são responsáveis pelos aumentos na força em crianças submetidas ao treinamento. Já a hipertrofia muscular passa a ser alcançada após a puberdade, quando os padrões hormonais adequados começam a surgir.
   Foi constatado que o treinamento de força altera significativamente a densidade mineral óssea em crianças e adolescentes, prevenindo uma possível osteoporose futura. Além disso, o treinamento proporciona manutenção da aptidão física relacionada à saúde, redução do estresse emocional; aumento da auto-estima; alterações positivas na composição corporal; melhora nos níveis de lipídios no sangue; metabolismo elevado, etc.
   No entanto, o treinamento deve ser planejado e estruturado por profissionais qualificados da Educação Física, com conhecimentos sobre o crescimento e desenvolvimento humano. Isto contribui significativamente no desenvolvimento de objetivos e progressões de exercícios nos programas de treinamento, além de garantir que os objetivos sejam alcançados, e a incidência de lesões atenuadas.
   Portanto, há evidências de que os riscos da prática do treinamento de força em crianças e adolescentes passam a surgir quando o treinamento não é planejado, estruturado e supervisionado por profissionais competentes. Com tais cuidados, o treinamento de força provavelmente será benéfico aos adolescentes e crianças, proporcionando o aumento da força muscular, hipertrofia muscular (principalmente em adolescentes), densidade mineral óssea, enfim, o alcance dos objetos propostos.

¹ Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
² Professor do Curso de Educação Física da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes

REFERÊNCIAS

ÄSTRAND, PER-OLOF. Tratado de fisiologia do exercício. 2° ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

BIAZUSSI, R. Os benefícios da atividade física aos adolescentes. Disponível em: <http://scholar.google.com.br/scholar?hl=ptBR&lr=&q=cache:DrgPqLM
_8WIJ:www.nutrociencia.com.br/upload/atividade%2520fisica%2520em%2520adolescentes.PDF
+hipertrofia+muscular+adolescente
>. Acesso em: 14/10/2006.

BOMPA, T.O.; CORNACCHIA, L.J. Treinamento de força consciente. São Paulo: Phorte, 2000.

CHIESA, L.C. Força e hipertrofia muscular. Revista virtual EFartigos, Natal/RN, v.01, n.14, novembro, 2003. Disponível em: <http://efartigos.atspace.org/fitness/artigo14.html>. Acesso em 01/04/07.

FLECK, S.T.; KRAEMER, W.J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3° ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.

GALDINO, B. Os benefícios do treinamento de força para crianças e adolescentes. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/crianca3.htm>. Acesso em: 13/10/2006.

GOLDBERG, T.B.L.; SILVA, C.C. Osteoporose é uma doença que acomete crianças e adolescentes? J. Pediatr. (Rio de J.), Porto Alegre, v. 80, n. 2, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000200017&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19/10/2006.

HANSEN, R. A relevância dos intervalos de repouso entre as séries no treinamento de treinamento resistido objetivando a hipertrofia muscular. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. Disponível em: <http://www.cds.ufsc.br/pet/doc/A_%20RELEVANCIA_DOS_INTERVALOS_DE_REPOUSO.doc>. Acesso em: 14/10/2006.

JESUS, G.T.; MARINHO, I.S.F. Causas de lombalgia em grupo de pessoas sedentárias e praticantes de atividade física. Revista Digital, Buenos Aires, Ano 10, n. 92, 2006. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd92/lombalhtm>. Acesso em: 14/10/2006.

MCARDLE, W.D. et al Fisiologia do Exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 5° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

MELONI, V.; GENITIL, P. Periodização e hipertrofia. Disponível em: <http://educacaofisica.org/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=34&Itemid=2>. Acesso em: 01/04/07.

OLIVEIRA, A.R. et al Elaboração de programas de treinamento de força para crianças. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 24, p. 85-96, jan./dez. 2003. Disponível em: <http://www.uel.br/proppg/semina/pdf/semina_24_1_20_55.pdf>. Acesso em: 12/10/2006.

PAPALIA, D.E.; OLDS, S.W. Desenvolvimento humano. 7° ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

PEREIRA, J.L. Adaptações fisiológicas ao trabalho de treinamento resistido. Fiep Bulletin, v. 73, Special Ed., p. 316-319, 2003.

ROBERGS, R.A.; ROBERTS, S. O. Princípios Fundamentais de Fisiologia do Exercício para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte, 2002.

SANTARÉM, J.M. Atualização em exercícios resistidos: hipertrofia muscular. 1998. Disponível em: <http://www.saudetotal.com/artigos/atividadefisica/hipertrofia.asp>. Acesso em 01/04/07.

SILVA, C.C.; TEIXEIRA, A.S.; GOLDBERG, T.B.L. O esporte e suas implicações na saúde óssea de atletas adolescentes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v. 9, n. 6, 2003.

SILVA, R.J.S. Características do crescimento, composição corporal e desempenho físico relacionado à saúde em crianças e adolescentes de 07 a 14 anos da região de Cotinguiba (SE). Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. Disponível em: <http://scholar.google.com.br/scholar?hl=ptBR&lr=lang_pt&q=cache:krmNVBOwtgQJ:www.nucidh.ufsc.br/Roberto.pdf+>. Acesso em: 13/10/2006.

TOURINHO FILHO, H.; TOURINHO, L. S. P. R. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, v. 12, n. 1, p. 71-84, jan./jun. 1998.

WEINECK, J. Biologia do Esporte. Tradução. São Paulo: Manole, 1991.

__________. Treinamento ideal. 9° ed. São Paulo: Manole, 2003.

WILMORE, J.H.; COSTILL, D.L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2° ed. São Paulo: Manole, 2001.

 


|::::  Cooperativa do Fitness - Todos os direitos reservados - BH - MG - Na internet desde 05/12/1999 ::::|