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Seg, 23/2/09 21:16

O PESO DA IDADE E A VOLTA POR CIMA

*Autor: Luiz Carlos de Moraes

   Antigamente, uma pessoa de 60 anos, na maioria das vezes estava mais pra lá do que pra cá. Hoje, como em todo o mundo, as coisas mudaram, e muito. Temos uma população de idosos cada vez maior e, muitos até bem ativos.
   O tempo cobra o seu preço sendo o envelhecimento inevitável, porém, muito pode-se fazer para que esse envelhecimento seja mais demorado, saudável e sem precisar dos outros. Por preconceito ou desconhecimento, tem gente que acha velho um saco...
   Vamos ver então, calcado na Fisiologia, como o corpo vai desacelerando, as conseqüências e o que é ou não, possível fazer em busca de melhor qualidade de vida na chamada terceira idade.

   Lá no segundo grau, quando estudamos as células, aprendemos que as mitocôndrias são uma verdadeira usina geradora de energia aeróbia responsável pelas atividades contínuas e prolongadas. A energia anaeróbia fica no sarcoplasma. Lembram disso? Pois bem, a anaeróbia é a primeira a se perder com o avanço da idade. A mielina, camada gelatinosa que recobre certos tipos de nervos, sofre um desgaste natural interferindo diretamente nas fibras musculares brancas, as de contração rápida (tipo II). A gente sabe também que os nervos são formados por células que não se recompõem e são sensíveis à falta de oxigênio. Sendo assim, os ramos nervosos menores são os primeiros a morrerem desativando pouco a pouco os pequenos músculos. A gente vai morrendo de fora para dentro. Ou seja, distal para proximal. Interessante, né?
   O VO² Máximo absoluto pode diminuir em torno de 8 a 10% por década levando à incapacidade de realizar atividades laborais simples. Astrand 1967, Bonjer 1968 e Hughes et Goldman 1970, citado por Farinatti, no III Seminário Internacional sobre Atividade Física para a Terceira Idade - 2000, sugerem que uma atividade laboral utilizando 33 a 50% do VO² Máximo não pode ser suportada por mais de sete horas. Isso em condições favoráveis de temperatura ambiente, estações de trabalho adequada e esforços repetitivos equilibrados. No ambiente de trabalho ninguém pensa nisso...
   O custo energético pode ser descrito em MET, e 1MET corresponde a 3,5 ml/kg/min. Sendo assim, já é bem estabelecido na literatura uma classificação de medida em MET para as diversas atividades, uma delas, proposta por Brown e Crowden (1963), também citado por Farinatti, segundo a qual teríamos: trabalho sedentário ou muito leve 1 a 3 MET; Moderado 3 a 5 MET; pesado 5 a 8 MET e muito pesado mais de 8 MET por minuto. Conclui-se então que um idoso com valores de VO² Máximo abaixo de 31 ml/kg/min não possa nem trabalhar direito, e essa medida não é tão difícil de ser encontrada entre os idosos.
   A massa muscular, em português claro, de uma forma geral vai "secando". Ou seja, perde-se massa muscular sendo esse processo acelerado com o sedentarismo, vida irregular, estresse e etc.
   A massa óssea é outra estrutura também bastante prejudicada perdendo paulatinamente mais cálcio e a sua rigidez. A conseqüência mais grave e mais conhecida é a osteoporose. E por falar nela, são conhecidas duas formas: a primária causada pelo desgaste natural e deficiência hormonal, geralmente na terceira idade, e a secundária ligada a medicamentos tais como os corticóides.
Outros fatores estão relacionados ao sexo (feminino), a hereditariedade e à raça branca.
   Aí vai mais uma doença ligada ao idoso e à lei do uso e desuso, embora possa também ter outras causas. A artrose. Se não usa, atrofia....
   O corpo perde água também e uma das conseqüências é a diminuição da espessura dos discos intervertebrais que são formados por uma camada fibrosa e cheios d'água. Discos mais finos, menos mobilidade na coluna vertebral. Além do mais, a própria ação da gravidade já contribui para isso. O idoso fica mais baixo
...Alguma coisa aumenta no idoso. É a freqüência respiratória e por vezes a pressão arterial. Os ombros vão se projetando para a frente e as costas ficando arcadas dificultando os movimentos do músculo diafragma. A amplitude das passadas vai diminuindo e quando começa arrastar o chinelo... é o fim. O pé nem levanta mais. Como tudo pouco a pouco vai parando as dificuldades circulatórias vão aparecendo interferindo na pressão arterial.

A VOLTA POR CIMA
   A atividade física melhora quase tudo na vida do idoso. Mas não basta sair por aí malhando de qualquer jeito. Existem regras científicas a serem seguidas e respeito ás limitações do tempo. Em primeiro lugar, deve ser considerado para quem é o programa. Uma pessoa muito ativa a vida toda, só por ter completado 60 anos não quer dizer que de uma hora para outra tenha que mudar tudo. Daí, mais uma vez justifica-se a importância das avaliações funcionais.
   Um bom programa de ginástica engloba o desenvolvimento de pelo menos três qualidades físicas: a força, a capacidade aeróbia e a flexibilidade.

A FORÇA
   Pode ser desenvolvida com treinamento de peso livre ou nos aparelhos de Musculação.
   Nos membros inferiores é especialmente importante o desenvolvimento da força para a prevenção de quedas. Caiu porque quebrou, ou caiu e quebrou? Muitos registros médicos apontam no sentido das fraturas no idoso estarem relacionadas com a primeira hipótese associadas a dois fatores: osteoporose e fraqueza muscular. O osso quebra e o idoso cai.
   Músculos abdominais e lombares mais fortes ajudam a estabilizar a postura corporal, evitando dores crônicas e incapacidade física até para trabalhos simples.
   Segundo os especialistas, exercícios com pressão longitudinal (de cima para baixo), devem ser evitados assim como a preferência de movimentos deve ser dada aos exercícios na posição de pé. A justificativa está no fato da pressão gravitacional ser maior nos discos intervertebrais na posição sentada do que de pé.
   É recomendável que os intervalos entre as séries sejam maiores, assim como o repouso entre uma seção de treino e outro. A sobrecarga devido a posturas incorretas do dia-a-dia, ou nos exercícios mau orientados pode levar o rompimento progressivo do anel fibroso gerando a tão famosa e dolorosa hérnia-de-disco.
   Todo o disco intervertebral, como vimos, é composto pela sua maior parte de água que sob pressão constante do dia faz uma migração de parte de seu conteúdo para o corpo da vértebra (Kapandji 2000). Esse fenômeno ocorre porque o disco possui inúmeros poros microscópicos e o corpo da vértebra, apoiado no disco, sendo esponjoso facilita essa migração sob pressão. Na posição em decúbito dorsal (deitado de barriga pra cima), durante o sono, onde a pressão diminui e os músculos estão relaxados, o processo se inverte. Ou seja, a água migra do corpo da vértebra para o disco fazendo o caminho de volta e a recuperação necessária. Daí a importância das horas de sono, principalmente, no idoso no que se refere a manutenção do disco intervertebral.
   Os trabalhos isométricos ou que obriguem o bloqueio da respiração também não têm muita aceitação porque podem interferir na pressão arterial e ou provocar a manobra valsalva.
   Os maiores ramos nervosos estimulam os grandes grupos musculares, tais como quadríceps, peitorais e dorsais. Por isso, os programas devem conter, preferencialmente, exercícios destinados a esses músculos com métodos alternados por segmentos possibilitando uma recuperação adequada. Métodos mais avançados como bombeado, superset, entre outros, só devem ser usados se o idoso estiver acostumado a fazer. Não é, necessariamente, a idade que vai determinar isso. Quanto às repetições, sugere-se de 8 a 12 visando aumento da massa magra ou pelo menos evitar a perda, até certo ponto, normal à idade.
   Os exercícios com pesos livres levam uma certa vantagem por estimularem pequenos músculos que participam na estabilidade do movimento. Entretanto, a execução deve ser a mais correta possível para não causar lesões e/ou desvios posturais. As vantagens das máquinas, que se aperfeiçoam cada vez mais é de proporcionar uma execução correta, mais confortável e mais sobrecarga em caso de necessidade. Como a capacidade anaeróbia é, a princípio, mais afetada pelo tempo, os exercícios aeróbios têm uma grande aceitação com efeito direto na capacidade cardiovascular, prevenção de várias doenças e estímulo às fibras de contração lenta.

A CAPACIDADE AERÓBIA
   Pesquisas bem conduzidas mostram que uma atividade aeróbia (caminhada, corrida, ciclismo etc.) de 30 minutos, três vezes por semana, durante 24 semanas, a uma intensidade de 60 a 70% prescrita pela fórmula de Karvonen, pode-se obter um ganho de 3,5 a 7 ml/kg/min em qualquer idade. Fórmula de Karvonen: FC ESFORÇO = (FC MAX - FC REPOUSO) x .60 + FC REPOUSO. Onde FC Máxima é o resultado de 220 - idade; FC Repouso é a aferida pouco antes da atividade numa situação confortável e .60 é o percentual de intensidade pretendido.
   Um número muito grande de pesquisas estão centradas nos exercícios aeróbios e seus maiores benefícios se estendem ao emagrecimento e à melhora do sistema cardiovascular.

A FLEXIBILIDADE
   Como esta é também uma valência física importante, alguns exercícios básicos de alongamento deve encerrar a seção de treinamento seguindo alguns princípios:
1. Cada um tem o seu limite e por isso não é muito recomendável tentar "forçar a barra". A amplitude deve ir até onde o idoso sentir uma dor suportável;
2. Como na maioria das avaliações funcionais detecta-se um encurtamento do peitoral, da lombar e posteriores de coxa, deve-se dar preferência por alongamento que trabalhem essas regiões, incluindo os músculos paravertebrais. Esses, quanto mais descondicionado for o idoso, mais sobrecarregados costumam ser esses músculos responsáveis pela sustentação da posição de pé e o movimento de andar. Se o abdômen é fraco, pior ainda;
3. Os alongamentos, pela lógica devem incluir os grupos musculares trabalhados na atividade diária principal;
4. Se o idoso fez o flexiteste, os pontos fracos não devem ser esquecidos;
5. A escolha entre os métodos ativo, passivo, dinâmico ou estático deve ser prescrito com bom senso e preferência do cliente. Todos têm as suas vantagens e não existe pesquisa conclusiva mostrando ser um método melhor que outro. Depende da necessidade do momento, do fundamento e para quem é o trabalho. Se a escolha for por exemplo pelo passivo, o profissional deve ficar atento às expressões cinestésicas do cliente. A dor está sendo suportável?
6. A musculatura agônica e antagônica deve ser trabalhada a fim proporcionar um desenvolvimento harmônico da amplitude do movimento;
7. Alguns autores advogam que entre optar em alongar antes ou depois da atividade, o melhor é a segunda opção, porque estando a musculatura aquecida, o treinamento é facilitado. Gastar muito tempo alongando antes pode não trazer resultados tão significativos para a maioria das atividades, bastando o aquecimento simples. Claro, isso não é uma regra e uma atividade esportiva como por exemplo os saltos, o aquecimento seguido de alongamento justifica e muito, pois nesse caso o atleta vai precisar do máximo de amplitude. Não é o nosso caso;
8. Essa atividade também não vai se transformar numa aula de alongamento bastando 10 a 15 minutos, tempo suficiente para volta à calma atendendo os objetivos;

    Os exercícios de flexibilidade devem respeitar as limitações do idoso valendo muito o bom senso. Dor é um sinal de alarme, ou não?
Outro fator importante é oferecer ao idoso a atividade que ele mais gosta de fazer e não a que teoricamente seja a melhor por essa ou aquela razão. É muito mais importante induzir o idoso ao hábito de vida saudável.

   É isso aí moçada da geração saúde! Fazer exercício é bom em qualquer idade. Ao idoso representa a independência, a certeza de uma melhor qualidade de vida e a possibilidade de um dia, "quem sabe", poder aposentar-se ainda em plena forma física. É ou não uma boa justificativa?

REFERÊNCIAS:
1) ANDERSON, Bob - Alongue-se - Summus Editorial - 4ª edição - São Paulo, 1983.
2) BRUNNSTROM, Signe - Cinesiologia Clínica - Ed. Manole Ltda. - 4ª edição - São Paulo -1989.
3) COSTA, Marcelo Gomes - Ginástica localizada. Ed. Sprint, 2ª edição, R.J.1998.
4) COOPER, Kenneth H. - Controlando a Hipertensão. Ed. Nórdica, R.J. - 1991.
5) DANTAS, Estélio H.M. - Flexibilidade e Flexionamento. Ed. Shape. 2ª edição R.J. 1989.
6) FARIA JUNIOR, Alfredo; MARQUES, Andréa G; KRIEGEL, Regina - Anais do II Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a Terceira Idade. Rio de Janeiro: UnATI / UERJ, 1998.
7) FARIA JUNIOR, Alfredo - Atividades Físicas para a Terceira Idade. Brasília: Sesi-DN, 1997.
8) FARINATTI - Comportamento de Variáveis Cardio - Respiratórias na Recuperação Pós - Esforço: Uma análise comparativa em indivíduos jovens e Idosos. Anais do III Seminário Internacional Sobre Atividade Física para a terceira Idade. UERJ - R. J. - 2000.
9) FLECK Steven J. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular - 2ª edição - Porto Alegre - R.S. - Editora Artes Médicas Sul Ltda - 1999.
10) FOX, Bowers, Foss - Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Ed. Guanabara Koogan S.A., R.J., 4ª edição, 1991.
11) KAPANDJI, A. I. (Ibrahim Adalbert) - Fisiologia Articular, 5ª edição - volumes 1, 2 e 3 - São Paulo Ed. Panamericana, Rio de Janeiro ed. Guanabara Koogan, 2000.
12) KENDALL, Florence Peterson e Elizabeth K. Mc Creary - Músculos Provas e Funções. Ed. Manole Ltda. 3ª edição, 1987.
13) LEITE, Paulo Fernando - Fisiologia do Exercício. Ed. Robe, 3ª edição, S.P.,1993.
14) MCARDLE, William D., Katch I. Frank & Katch L. Victor. - Fisiologia do Exercício. Energia, Nutrição e Desempenho Humano - Ed. Guanabara Koogan S. A. - 4ª edição - Rio de Janeiro R.J. 1998
15) MONTEIRO, Walace D. Personal Training - Manual para Avaliação e Prescrição de Condicionamento Físico. Ed Sprint R.J. 1998.
16) POLLOCK, Michael L. - Exercício na Saúde e na Doença. Ed. Medsi, 2ª edição, R.J. 1993.
17) VANFRAECHEM Jacques - Atividades Físicas e Terceira Idade: do Presente ao Futuro - Anais do III Seminário Internacional Sobre Atividade Física para a terceira Idade. UERJ - R. J. - 2000.
18) WEINECK, Jürgen. - Anatomia Aplicada ao Esporte. Ed. Manole Ltda. 3ª edição, S.P. 1984.
19) WEINECK, Jürgen. - Biologia do Esporte. Ed. Manole Ltda. S.P. 1991.
WESTCOTT, Wayne e Thomas Baechle - Treinamento de Força para a Terceira Idade. Ed. Manole Ltda. São Paulo S.P. 2001.
Sites:
1) http://www.cdof.com.br/idosos.htm
2) http://ahmachado.vilabol.uol.com.br/terceira_idade.htm
3) http://www.geocities.com/broadway/Alley/6471/Atividade3.html
4) http://www.saudeemmovimento.com.br/profissionais/pesquisa/terceira_idade/atividadefisica.asp
5) http://www.saudetotal.com/saude/musvida/exresist.htm
6) http://www.saudetotal.com/saude/musvida/musvida.htm

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