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Sáb, 17/1/09 10:01

IDOSOS

O QUE MOTIVA IDOSOS DE CLASSE MÉDIA À PRÁTICA DE
UMA ATIVIDADE FÍSICA?
Consultora CDOF Linda Denise Fernandes Moreira-Pfrimer1; Renata Nakata Teixeira2;
Luzimar Raimundo Teixeira3

1 Escola Paulista de Medicina - UNIFESP; 2,3 Escola de Educação Física e Esporte - EEFEUSP

RESUMO
     Inúmeras pesquisas já confirmaram a eficiência da atividade física regular como um meio de prevenir e reduzir o declínio funcional e os riscos de uma vida sedentária relacionados ao avanço da idade. Contudo, ainda é altíssimo o nível de idosos sedentários no Brasil. Por que, mesmo sabendo de tantos efeitos benéficos das atividades físicas, somente uma parcela pequena dos idosos incluiu uma rotina de atividade física em suas vidas?
OBJETIVOS: Investigar e analisar os motivos que levaram os idosos de uma academia de classe média em São Paulo a praticarem uma atividade física e averiguar o porquê de terem optado por determinada modalidade.
METODOLOGIA: Em uma academia de ginástica da zona sul de São Paulo foram selecionados todos os homens e mulheres acima de 65 anos matriculados (n = 56), praticantes de qualquer modalidade de atividade física oferecida pelo estabelecimento (Musculação, Ginástica , Ergometria, Alongamento, Natação e Hidroginástica). Dentre os sujeitos selecionados e convidados a participarem da pesquisa, 42 indivíduos (69 anos ± 4,1) preencheram um questionário que os indagava sobre o tempo de prática de atividade física, os fatores motivadores para uma vida ativa fisicamente, os motivos de terem escolhido aquela determinada modalidade de atividade física e qual a atividade praticada atualmente. RESULTADOS: Com relação ao tempo de prática de atividade física: 2,4% menos de seis meses, 2,4%- entre seis meses e um ano, 16,6%- entre um e três anos e 78,6% - acima de três anos. Os motivos que levaram esses sujeitos à prática da atividade física foram: Preocupação com a própria saúde - 45%, Recomendação médica - 33,5%, Outros motivos - 9,5%. O porquê de optarem por aquela modalidade de Atividade Física específica : Pela recomendação médica - 47,5%, Por ser a mais prazerosa- 31%, Por que era o que fazia quando jovem-12%, Por influência de um conhecido-4.5%, Por recomendação de um Professor de Educação Física- 2,5% e Outros motivos -2,5%. A modalidade física praticada atualmente: Natação - 40,5%, Hidroginástica - 33,5%, Musculação - 14% e Ergometria - 12%. CONCLUSÃO: A recomendação médica e a preocupação com a saúde motivaram cerca de 74% dos idosos a praticarem atividades físicas. Quase 50% dos idosos tiveram sua modalidade de atividade física já previamente prescrita pelo médico enquanto que apenas 2,5% foram influenciados por um professor de Educação Física. Em virtude dos resultados verificados, percebe-se a influência da classe médica junto aos pacientes idosos e sua importância na conscientização sobre a necessidade de uma vida fisicamente ativa. Em relação à prescrição do tipo de atividade física a ser praticada por seu paciente idoso o ideal é que o médico trabalhe conjuntamente com um profissional da Educação Física.

INTRODUÇÃO
     Segundo o último Censo do IBGE (2002), a população de idosos representa um contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade (8,6% da população brasileira), podendo ultrapassar os 30 milhões de pessoas em 20 anos.

    A expectativa de vida do brasileiro que até 1980 era de 62,5 anos , agora chega aos 71 anos. Fatores como a queda da mortalidade infantil, dieta balanceada, novas tecnologias e tratamentos cirúrgicos, cuidados médicos e a prática de atividade física estão diretamente relacionados ao aumento da expectativa de vida dos seres humanos.

    Nas últimas décadas, inúmeras pesquisas confirmaram os efeitos da atividade física regular como um meio de prevenir e reduzir o declínio funcional e os riscos de uma vida sedentária relacionados ao avanço da idade. Nunca se deu tanto valor à qualidade de vida , porém , ainda é altíssimo o nível de idosos sedentários em todo o mundo.Em um estudo de Perrier (1979), foi constatado que apenas 3% das pessoas acima de 65 anos nos EUA percorriam uma distância equivalente á 9,5 km por semana com o objetivo de condicionamento físico. Em 1986, os Centros de Controle de Doença dos EUA estimaram que somente 10% dos idosos exercitavam-se em níveis suficientes para a manutenção da saúde.
     Por que, mesmo sabendo de tantos efeitos benéficos que uma vida fisicamente ativa pode proporcionar, somente uma parcela pequena das pessoas idosas incluíram uma rotina de atividade física em suas vidas? Para responder esta indagação talvez seja útil investigar o que levou os sujeitos da terceira idade que hoje são ativos fisicamente a tomarem a atitude de incluírem alguma rotina de exercícios físicos em sua vida. Assim, quais seriam os principais fatores que motivaram esses indivíduos idosos a praticarem alguma atividade física ?
Investigando e analisando o que serviu como motivação para uma vida ativa nestes sujeitos, teríamos certamente uma diretriz que tornaria possível perceber o que está ocorrendo, como as pessoas mais velhas estão sendo influenciadas , e , assim , saberemos o que "seduz" os idosos a praticarem exercícios físicos e, assim, poderemos investir em estratégias direcionadas especificamente às suas necessidades .

MATERIAL E MÉTODOS

     A pesquisa de campo foi feita em uma academia da zona sul de São Paulo, no bairro Aclimação. Foram selecionados todos os alunos matriculados na referida academia, de ambos os gêneros, praticantes de qualquer modalidade de atividade física oferecida pelo estabelecimento (Musculação, Ginástica , Ergometria, Alongamento, Natação e Hidroginástica), desde que tivessem mais que 65 anos de idade (idade que a O.M.S. considera como início da velhice).

    Os sujeitos da pesquisa, após assinarem um termo de consentimento de participação no estudo, preencheram um questionário com nome e idade, além de responderem às três perguntas específicas: 1) Há quanto tempo pratica alguma modalidade de atividade física: a - 0 a 6 meses,b - entre 6 meses e 1 ano,c - entre 1 a 3 anos,d - mais de três anos. 2) Qual foi o motivo que o levou a tomar a decisão de iniciar a prática da atividade física: a - recomendação médica, b - preocupação própria com sua saúde, c - influência da mídia, d - estética, e - reabilitação, f - lazer, g - outros. 3) Por que optou por esta modalidade de atividade física especificamente: a - é mais prazerosa, b -é o que fazia quando jovem, c - recomendação médica, d - recomendação de um profissional da Educação Física, e - mídia, f - recomendação de um conhecido, g - outros.

RESULTADOS:
     Dentre os 56 alunos acima de 65 anos matriculadas na academia, concordaram em participar da pesquisa 42 indivíduos (69 anos ± 4,1) que preencheram os questionários, ou seja, o estudo abrangeu 75% da população em questão., que foi composta por 31% e 69% de homens e mulheres, respectivamente.

    Com relação ao tempo de prática de atividade física: 2,4% -praticavam há menos de seis meses; 2,4%- entre seis meses e um ano; 16,6%- entre um e três anos, 78,6% - acima de três anos. Os motivos que levaram esses sujeitos à prática da atividade física foram: Preocupação com a própria saúde - 45%, Recomendação médica - 33,5%, Outros motivos - 9,5%. O porquê de optarem por aquela modalidade de Atividade Física específica : Pela recomendação médica - 47,5%, Por ser a mais prazerosa- 31%, Por que era o que fazia quando jovem-12%, Por influência de um conhecido-4.5%, Por recomendação de um Professor de Educação Física- 2,5% e Outros motivos -2,5%. A modalidade física praticada atualmente: Natação - 40,5%, Hidroginástica - 33,5%, Musculação - 14%, Ergometria - 12%.

DISCUSSÃO
     No que diz respeito ao tempo de prática de atividade física, observamos que boa parte dos participantes já incorporou a atividade física em sua rotina de vida, pois a praticam a mais de três anos regularmente.
Tratando-se dos fatores motivadores da prática da atividade física, vemos que há, hoje, grande preocupação dos idosos com a manutenção da saúde. Isto fica claro quando observamos que 45% dos idosos responderam ser isso o que os motivou a estarem matriculados em uma academia de ginástica. Essa preocupação pode ter sido despertada por campanhas públicas, documentários, propagandas e outros meios.
     Também ficou evidente a grande influência que os médicos têm junto aos idosos, visto que 33,5% dos entrevistados procuraram a atividade física por recomendação médica e 47% dos idosos escolheram a modalidade de atividade que praticam baseados em prescrição médica. Nossos dados encontram respaldo em outras pesquisas como a de Andrade et al.(2000) que revelou que cerca de 40% das mulheres e 50% dos homens brasileiros optam por praticar alguma atividade física por recomendação médica.
     A influência exercida pelos profissionais da medicina junto á população em geral pode ser observada desde os tempos antigos, nos mais diversos lugares do mundo. É papel do médico, independentemente de sua especialidade, alertar o paciente idoso para o risco de uma vida sedentária e esclarecer os benefícios que a atividade física pode proporcionar para sua saúde e bem estar . Atualmente tem crescido o número de médicos que, acreditando nas vantagens de uma vida fisicamente ativa, incentivam a prática de atividades físicas, principalmente ao indivíduo idoso. Esse tipo de atitude deveria fazer parte da rotina da clínica médica de todos estes profissionais, para que , desta forma, diminuísse o número de indivíduos sedentários no Brasil e no mundo.
Observamos em nosso trabalho, contudo, que quase 50% dos alunos da academia pesquisada já se dirigiram a esse estabelecimento com a modalidade de atividade física a ser praticada previamente prescrita pelo médico. Cabem aqui alguns questionamentos: Estariam os médicos preparados para prescrever programas de exercícios físicos ? A classe médica em geral está atualizada com relação aos tipos de metodologias e estratégias de aulas que estão sendo aplicadas nas academias ?
     O que se verifica, na prática clínica, é que grande parte dos médicos não possui conhecimentos científicos profundos sobre a fisiologia do exercício que os permitam analisar corretamente os efeitos de cada modalidade em cada indivíduo. Além do mais, a Educação Física voltada para a preparação física geral, é uma das áreas do conhecimento que mais tem evoluído ultimamente, e está em constante mudança. Novas aulas, estratégias de treinamento, novos equipamentos surgem ininterruptamente, e é essencial que se saiba o que está ocorrendo nas academias, que tipos de aulas estão sendo oferecidos, para, só assim, se prescrever uma atividade física adaptada a um indivíduo.
Na presente pesquisa, vimos que 74% dos idosos estavam praticando atividades aquáticas. Isso é muito comum no dia-a-dia de uma academia: adultos jovens praticando ginástica ou musculação e idosos indo para a água. Não temos nada contra as atividades aquáticas , pelo contrário, sabemos dos inúmeros benefícios que as mesmas podem propiciar aos seus praticantes de todas as idades, (Carvalho, 2003). O que é preciso questionar é o fato de que muitos dos idosos que estavam matriculados nas aulas de Natação ou Hidroginástica poderiam certamente praticar, também, atividades outras como a caminhada, musculação ou ginástica. O que ocorre muito comumente é que, por precaução e por desconhecerem os reais efeitos de cada modalidade, alguns médicos ainda se abstêm de indicar atividades contra resistência como a musculação, para o idoso que neste contexto é quem sai mais prejudicado. Por outro lado, é também muito comum recebermos um idoso com inúmeras limitações articulares, por exemplo, em uma aula de hidroginástica para alunos avançados cujo objetivo seja o trabalho de força muscular. É provável que este aluno não poderá praticar este tipo de Hidroginástica devido as suas condições físicas. Ou seja, o fato de ser realizada na água, não significa que a atividade é menos intensa; hoje as variações nas aulas de Hidroginástica e Natação permitem uma infinidade de estímulos em intensidades que variam do leve ao muito intenso. É preciso conhecer o que está de fato ocorrendo nas academias de ginástica antes de se prescrever uma atividade física apenas baseando-se no nome ou idéia geral da mesma.
     Queremos deixar claro que a atuação do médico é fundamental para motivar os idosos á pratica de uma atividade física e quanto mais isso ocorrer, melhor será para nós profissionais da Educação Física assim como para os idosos em geral. Não queremos de forma alguma promover atitudes mesquinhas ou separatistas, questionando a competência deste ou daquele profissional. Acreditamos, assim como Jardim et al. (1996), que é realmente na união de todas as classes de profissionais da saúde, cada uma em sua especificidade, porém todas se valorizando igualmente, é que conseguiremos resultados mais positivos no tratamento dos nossos pacientes e também na nossa atuação profissional. Cremos na importância de investimentos em uma política que aproxime mais o profissional da Educação Física da classe médica, para que haja maior intercambio de informações entre estas áreas da saúde.
     Outro ponto que merece nossa reflexão é o fato de que, neste trabalho, apenas 2,5% dos indivíduos relataram estar praticando exercícios por recomendação de um professor de Educação Física. Por que este profissional teve tão pouca influência sobre os idosos? A realidade da Educação Física no Brasil mudou muito nos últimos tempos, passando de um enfoque predominantemente escolar, para a preparação física no desporto e agora, nos últimos vinte anos principalmente, houve a ênfase nos estudos na área da fisiologia visando uma educação física que proporcione saúde, estética e bem estar geral (MELO V A; 1998). Dessa forma, nós, profissionais da Educação Física, historicamente falando, ainda somos novatos no campo das ciências da saúde e temos que trabalhar muito para produzir conhecimento nesta área. Prova disto é que só recentemente a Educação Física passou a ser reconhecida como integrante das Ciências da Saúde e não mais da área das Ciências Humanas. Nossa realidade profissional se caracteriza por mudanças, basta verificar o número de estudos realizados e suas contribuições no campo da saúde .Contudo, o profissional da Educação Física ainda tem que consolidar sua imagem na sociedade como alguém capaz de cuidar da saúde e bem estar de um individuo e para isso precisamos trabalhar juntos com outros profissionais, como médicos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, dentre outros. Precisamos investir na união de nossa classe profissional, promovendo e participando de cursos, congressos e debates. E, ainda, devemos investir em campanhas públicas que mostrem á população em geral o trabalho por nós realizado para que, aos poucos, passemos a ter mais crédito por parte da sociedade.
     Concluímos que os médicos, pelo seu alto poder de convencimento junto aos seus pacientes, deveriam todos incluir em sua rotina clínica a recomendação da prática de uma atividade física pelo idoso quando o paciente puder se beneficiar da mesma, pois é no médico que ele confia e portanto, atenderá esta solicitação. Após incentivar uma vida fisicamente ativa, seria interessante que houvesse uma decisão conjunta, ou seja, médicos e professores de Educação Física deveriam optar pela modalidade mais adequada a cada paciente. Além disso, cabe a nós, profissionais da Educação Física, nos aproximarmos de outros profissionais da saúde, buscando ajuda no seu conhecimento específico e contribuindo com nossa experiência e saber, divulgando assim nosso trabalho e garantindo uma maior credibilidade á nossa profissão.


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