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Seg, 12/1/09 16:08

FUTEBOL

UM, DOIS, TRÊS, QUATRO OU CINCO VOLANTES?
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha

   É evidente que o futebol mudou ao longo do tempo. Principalmente pela evolução da preparação física a dinâmica das partidas disputadas atualmente é diferente da dinâmicas das partidas disputadas a trinta, quarenta ou cinqüenta anos atraz.
   Enquanto se via equipes jogando para frente, buscando o gol a qualquer custo, observa-se hoje em dia, equipes que valorizam sobremaneira a posse de bola, muitas vezes o termo "valorizar a posse de bola" é apenas um pretexto para a cautela em demasia. Existem treinadores que não buscam o ataque, não adotam essa filosofia ofensiva e procuram desculpas mil para justificar o seu jeito de ser, ora a equipe não têm bons jogadores, ora não tem tempo para treinar etc. As desculpas mais descabidas são encontradas para justificar essa filosofia, contrária ao futebol bonito, que vemos nos dias atuais.
   O Brasil se consagrou no cenário futebolístico mundial, adotando esquemas ofensivos como o 4-2-4, o 4-3-3 e até o 4-4-2, mas que utilizava dois ou três jogadores de armação. O que se vê hoje são esquemas como o 4-4-2, o 3-5-2, o 4-5-1 etc., que utilizam três, quatro e até cinco jogadores de marcação, os chamados volantes ou cabeças-de-área.
   Esse setor do campo consagrou muitos jogadores, como: Ademir da Guia, Zico, Zizinho, Didi, Rivellino, Gérson, Sócrates, Raí, só para citar alguns nomes, pois seria impossível enumerá-los todos aqui. Mas de uns quinze anos para cá o número de jogadores criativos no meio-de-campo está cada vez diminuindo mais. Qual seria o motivo para isso?
   Ouve-se que não existem mais jogadores com essas características. Se perguntarmos a qualquer geneticista, médico ou professor de biologia, eles responderão que a raça humana não mudou tanto assim em vinte, trinta ou quarenta anos, é necessário séculos para mudanças significativas. Então fica aqui um questionamento, será que os profissionais que trabalham com o futebol não estão acabando com as promessas que surgem com a insistente exigência que se deve marcar em primeiro lugar ou com a deficiência do trabalho técnico realizado nas categorias de base?
   Sou da opinião que a melhor defesa sempre será o ataque. É óbvio, que em algumas situações devemos nos precaver, mas isso não pode ser adotado como filosofia de trabalho, uso aqui até uma palavra forte para definir essa atitude de algumas pessoas ligadas ao futebol brasileiro - covardia.
   Certamente essas afirmações podem gerar muita polêmica e discórdia entre as pessoas do futebol. Antes que críticas sem fundamento aconteçam, citarei um exemplo claro. O Real Madrid, considerado por muitos o maior time de futebol do momento. O clube espanhol possui uma defesa que pode ser considerada até certo ponto fraca, mas com um meio-de-campo e ataque fantásticos. O Real atua com apenas um volante e em alguns momentos sem nenhum jogador específico da posição. Em algumas partidas, o Real pode sofrer muitos gols, mas em contrapartida, marca muitos gols também. Além disso, se observarmos o Campeonato Brasileiro de 2003, veremos que várias equipes sofrem muitos gols jogando com três ou quatro volantes.
   Voltando as desculpas sem embasamento, muitos poderão falar que o Real Madrid é uma equipe de estrelas, por isso pode jogar bonito, então relato outro caso, agora da equipe italiana do Milan, que se dá ao luxo de deixar craques com Rui Costa e Rivaldo no banco. O problema não é que eles ficam no banco porque outros craques estão em seus lugares, simplesmente é um capricho do treinador que prefere jogadores sem criatividade no meio-de-campo, mas que marquem. O Milan normalmente, não atua de forma convincente, como por exemplo, na Liga dos Campeões da UEFA 2003/2004 onde está caminhando a passos bem curtos, quase para traz, com atuações pífias.
   Invariavelmente, a utilização de muitos jogadores de marcação no meio-de-campo inibe e até impossibilita o desenvolvimento de um futebol ofensivo e bem jogado.
   Muito se ouve falar que o futebol é um espetáculo, sendo assim ele deve ser oferecido aos espectadores como tal. Como vamos querer que os torcedores voltem aos estádios com os muitos problemas que existem, jogos em demasia, violência e outros, inclusive a má qualidade dos jogos, devida em muitos casos à falta de ousadia de treinadores, que preferem investir na defesa e não no ataque.
   Volto a enfatizar, o símbolo do futebol brasileiro é o futebol bem jogado e em busca do ataque.
   Se continuarmos a agir dessa maneira com os nossos jovens atletas, estaremos agindo contra o nosso futebol. Jogadores como Diego, Kaká, Alex e Ronaldinho Gaúcho estão rareando, enquanto tínhamos pelo menos um desses em cada time, hoje temos, três ou quatro no Brasil todo. A busca por jogadores talentosos no meio-de-campo deve ser um dos objetivos principais.
   Não me venham os críticos hipócritas dizer que esse tipo de atleta não existe mais, eles existem sim, mas esse futebol covarde de três, quatro, cinco volantes; de jogadores fortes e altos está inibindo o surgimento de novas promessas no meio-de-campo, local que é o cérebro de todas as equipes.
   Os treinadores devem criar alternativas para que os jogadores criativos possam compor as equipes. O grande defeito do nosso futebol é a falta de esquemas táticos bem definidos, sempre dependemos da criatividade e habilidade de nossos craques e não de nossos esquemas.
   Entramos em outro problema, a falta de aperfeiçoamento e conhecimento de muitos treinadores. Quando o futebol brasileiro conseguir unir a parte tática com a habilidade, aí seremos realmente imbatíveis. A parte mais difícil nós temos, que é a habilidade dos jogadores, então porque não podemos desenvolver a parte tática.
   Concluindo, o futebol atual está se tornando muito feio, salvo algumas equipes, em grande parte por culpa dos profissionais que dirigem as equipes desde as categorias de base até o profissional. O desejo incontrolável de ganhar a qualquer custo impede para muitos o desenvolvimento de um futebol bem jogado, bonito e ofensivo. O segredo é enfatizar os fundamentos durante as categorias de base, sem cercear a criatividade dos garotos.

Outubro de 2003

 

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