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Dom, 21/10/12 21:33

ATIVIDADE FÍSICA E USO DO CÉREBRO PODEM REGENERAR NEURÔNIOS

Autoria:Luiz Carlos de Moraes CREF1 RJ 003529-P/R
E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
Data de Publicação: 19/10/2012

Introdução
    Lá pelos idos anos 50 acreditava-se que os neurônios uma vez destruídos não se regeneravam. Além disso, dizia-se que só usávamos 10% do nosso cérebro e ao longo da vida a gente ia perdendo capacidade de raciocínio. Ledo engano. Os neurônios podem se regenerar e normalmente usamos todo o cérebro a vida toda. Claro, desde que se queira usar.

As Pesquisas
   Os pesquisadores descobriram que a atividade física entre tantos hormônios, proteínas e outros produtos bioquímicos estimulados também interferem de forma favorável na produção da neurotrofina. Uma proteína responsável pela sobrevivência dos neurônios, comunicação entre eles, suas mudanças adaptativas chamada de plasticidade sináptica e na capacidade de formação de novos neurônios (neurogêse).
   Em experiência com ratos também descobriram que a neurotrofina se acumula na medula espinhal e nos músculos esqueléticos permanecendo por algumas horas após o exercício. Ficou provado que o crescimento maior acontece justamente nas terminações conhecidas como axônio e dentritos ou conjunto chamado de neuritos. Para chegarem a essa conclusão comprimiram o nervo ciático de ratos que se exercitaram durante sete dias consecutivos comparando com ratos sedentários verificando regeneração de mais axônios de nervos ciáticos no grupo fisicamente ativo.
   Outra descoberta importante foi a de que os ratos que correram por mais tempo a regeneração foi maior. Ou seja, proporcional à distância percorrida.

Os humanos
   Claro, com seres humanos a experiência se faz comparando grupos sedentários com fisicamente ativos especialmente em idosos sabendo que o avanço da idade, entre outras reações pode declinar nas funções cerebrais se não for estimulado. Homens sedentários com mais de 50 anos foram divididos em dois grupos. Ao primeiro foi aplicado um treinamento físico dividido em parte aeróbia de força e flexibilidade enquanto o segundo grupo continuou sedentário. Ao final de 12 semanas foi feito testes de memória e raciocínios lógicos, similares as testes psicotécnicos nos dois grupos e o primeiro obteve melhores desempenhos. Os mesmos testes também foram aplicados antes do início da etapa de treinamento físico.
   Outro estudo semelhante comparou três grupos de idosos. Um estudando e fazendo exercício físico, outro só fazendo exercício e o terceiro não fazendo nada. O melhor desempenho em testes de raciocínio foi o primeiro grupo. Embora não fosse objeto do estudo ficou comprovado que os dois primeiros grupos diminuíram o consumo de medicamentos. Idosos sedentários costumam consumir medicamentos para pressão arterial, diabetes, dor de cabeça, depressão e muitos outros. Ou seja, é remédio para tudo cujos males o exercício físico tem ação preventiva.
   Em outras experiências com indivíduos vítimas de AVC há algum tempo se sabe que parte dos movimentos perdidos podem ser recuperados, mas isso não acontece recuperando os neurônios danificados e sim estimulando o brotamento de axônios nos neurônios vizinhos que passam a exercer funções que antes não eram suas. Hoje existem exames de imagem apurados capazes de mostrar neurônios inervando mais de uma placa motora em pacientes com síndrome amiotrófica por conta do fenômeno chamado de brotamento colateral estimulado com manobras de exercícios fisioterápicos. Fazendo uma analogia com uma planta quando cortamos os galhos (poda) elas voltam a brotar em torno do galho cortado. Entretanto se for cortada no tronco é bem provável que ela morra. Sabe-se que quanto mais movimentos variados, mais estímulos, mais neurônios ativados corroborando a teoria de se praticar vários exercícios diferentes e não apenas uma atividade física não só em benefício de melhorar a estrutura muscular como também as ramificações dos neurônios (dentritos).

A Musculação e os Neurônios
    Vários pesquisadores têm se desdobrado para identificar qual o tipo de treinamento capaz de liberar maior quantidade de hormônios anabólicos sem que o indivíduo recorra à ingestão de anabolizantes. O objeto desses estudos tem sido a testosterona não só pelo resultado na hipertrofia como também no prazer pós-exercício muito similar à endorfina assim como no aumento da libido em homens e mulheres.
   Hakkinen et al., 1988a, 1988b, 1989, 1992 entre muitos outros que o sucederam comparou série simples (uma) com séries múltiplas (três) e comprovou que a liberação aguda de testosterona é maior na série simples. Concluiu também que quanto maior o número de séries maiores as chances de o efeito contrário acontecer gerando o que se conhece em fisiologia de catabolismo (perda de massa muscular). Como sabemos que a função de crescimento da testosterona não é apenas nos músculos e sim em todo o organismo e o corpo humano é uma eterna batalha de células morrendo e se regenerando. A musculação é mais um grande aliado em manter o corpo em equilíbrio de forma natural inclusive dos neurônios pela ação da testosterona.
   Em contrapartida sabe-se que tudo em falta ou excesso no corpo é ruim e a testosterona não foge á regra. Cientistas descobriram que o excesso de testosterona pode destruir neurônios por um processo chamado apoptose ou de células suicida. Ou seja, simpatizantes de ingestão de anabolizantes devem pensar bem, pois o excesso de testosterona além de todos os males conhecidos não deixa o indivíduo mais macho e ainda pode deixá-lo menos inteligente.

Conclusão
   A neurociência tenta desvendar o funcionamento do cérebro e a partir do final dos anos 90 deu um grande avanço descobrindo que tal como os músculos se tornam fortes com treinamento físico o cérebro também se torna mais eficiente com o uso experimentando novos desafios de aprendizado, lendo, escrevendo e aprendendo coisas novas. As mesmas pesquisas descobriram que o cérebro pode regredir com o estresse, sedentarismo, hábitos de vida nada saudáveis e leituras fúteis. Basta encher a cabeça com informações inúteis na Internet, algumas redes sociais e programas de televisão especializados em notícias ruins.

Para Refletir
   Alguns cérebros pensam, concluem e realizam; outros pensam concluem e não realizam; outros pensam não concluem e não realizam; outros nem pensam. Não servem para nada. (Moraes 2012)

Sobre a Ética
  Ética não está na cor dos cabelos, no comprimento nem de quantos fios permanecem grudados no couro cabeludo. Está dentro da cabeça de cada um. (Moraes 2012).


Leitura sugerida:

1) CADORE EL, Lhullier FLR, Brentano MA, Silva EM, Spinelli R, Kruel LFM, et al. Homens de meia idade treinados e não treinados possuem diferentes respostas hormonais salivares ao treinamento de força. Livro de Resumos da XXI Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental – Águas de Lindóia 2006: 61.
2) CARDOSO, Silvia Helena e SABBATINI, Renato M.E. – Aprendizagem e Mudanças no Cérebro – Universidade Estadual de Campinas – 2000 - Acesso em: 26/09/2012 – Disponível em: http://www.cerebromente.org.br/n11/mente/eisntein/rats-p.html
3) FLECK Steven J. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular - 2ª edição - Porto Alegre - R.S. - Editora Artes Médicas Sul Ltda - 1999.
4) KENSKI, Rafael – Revista Super Interessante Digital, A Revolução do Cérebro – Agosto 2006. Acesso em: 26/09/2012 – Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/revolucao-cerebro-446545.shtml
5) LUNA, Carolina e DIAS, Luciana Baltazar – O Papel da Plasticidade Cerebral em Terapia Intensiva – Universidade Estadual de Campinas - Agosto de 2002 - Acesso em 26/09/2012 – Disponível em: http://www.cerebromente.org.br/n15/mente/plasticidade1.html
6) McARDLE WD, KATCH FI., KATCH VL. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1991.
7) PORTO, Marcelo e colaboradores – Influência das Variáveis do Treinamento de Força Sobre a Secreção de Testosterona e Hormônio do Crescimento – REVISTA HISPECI & LEMA - Acesso em: 26/09/2012 – Disponível em: http://www.unifafibe.com.br/revistahispecilema/pdf/revista6.pdf
8) SIMÃO, Roberto – Fundamentos Fisiológicos Para o Treinamento de Força e Potência – São Paulo – Editora Phorte, 2003.
9) SHIMIZU, Heitor – Exercício para Regenerar Neurônios – Agência FAPESP – Acesso em: 26/09/2012 – Disponível em: http://agencia.fapesp.br/1851
10) UCHIDA MC, Bacurau RFP, Navarro F, Pontes LF, Tessuti VD, Moreau RL, et al. Alteração da relação testosterona: cortisol induzida pelo treinamento de força em mulheres. Rev. Bras Med. Esporte 2004; 10:165-168.


 

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