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Dom, 3/2/13 21:02

Jiu-Jitsu

FLEXIBILIDADE DA ARTICULAÇÃO DO QUADRIL EM ATLETAS DE JIU-JITSU NO ESTADO DE SERGIPE

Autores:
* Marcelo Mendonça Mota (Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade Tiradentes)
Tharciano Luiz Teixeira Braga da Silva (Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade Tiradentes)
Marco Antônio Chalita (Especialista do Curso de Educação Física da Universidade Tiradentes)

INTRODUÇÃO
    Há mais de 2.500 anos surgia na Índia a primeira forma de autodefesa criada pelo homem sem o uso de armas: nesse momento nascia o jiu-jitsu, criado por monges budistas, de características físicas franzinas, alvo de ataques constantes em suas peregrinações. Baseados na observação e no conhecimento dos movimentos dos animais desenvolveram forças de alavanca, técnicas de autodefesa e passaram a não ser mais saqueados em suas viagens. O jiu-jitsu como técnica de autodefesa logo se expandiu por toda Ásia até chegar ao Japão, onde se consolidou como uma das artes marciais mais eficientes praticadas em todo território japonês, sendo difundido pelos Samurais que possuíam estilos oriundos de diferentes escolas, onde utilizavam o jiu-jitsu para defender suas colônias (feudos), as primeiras citações que se referem ao Jiu-Jitsu no nível de torneios datam de 720 a.C., que se referem aos torneios de Shikara Kurabe. (SUGAI, 2000; RENZO, 2004).
    O que realmente atrai os praticantes a esta arte marcial é a possibilidade de um homem mais fraco vencer um oponente mais forte de forma suave e estratégica, aproveitando o que se sabe da técnica para em um descuido subjugar o oponente com astúcia. (SUGAI, 2000). O Jiu-jitsu é uma modalidade de luta relativamente nova entre nós, apesar de ser conhecida e praticada em boa parte do mundo. Os aspectos competitivos estão profundamente enraizados no jiu-jitsu brasileiro (BORGES, 1999). Seguindo o raciocínio do autor vemos que cada vez mais o calendário de competições de Jiu-jitsu brasileiro cresce conforme o número de seus participantes em todo o Brasil, inclusive no Estado de Sergipe.
    Podem-se observar posicionamentos na luta que exigem grandes amplitudes de movimentos, onde a falta de flexibilidade talvez possa influenciar como fator limitante do movimento durante as lutas de jiu-jitsu. A flexibilidade interfere diretamente na amplitude de movimento e a carência da mesma neste tipo de modalidade esportiva pode interferir na performance. A importância da flexibilidade aumenta quando lidamos com esportes em que existem movimentos executados nos extremos da amplitude articular. (FARINATTI, 2000; PLATONOV; BULATOVA, 2003)
    O jiu-jitsu por ser um esporte que tem como características em seus gestos esportivos posicionamentos que exigem grandes amplitudes de movimentos na maioria das grandes articulações, principalmente na articulação do quadril, nos leva a crer que este estudo pode ser considerado de grande importância para os praticantes da modalidade, como também para os professores que ministram esta arte marcial. O presente estudo tem por objetivo medir os níveis de flexibilidade da articulação do quadril nos atletas de jiu-jitsu do Estado de Sergipe.

II. REVISÃO DE LITERATURA
     A flexibilidade é a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões. A flexibilidade é certamente a qualidade física utilizada pelo maior número de desportistas. (DANTAS, 2003; PLATONOV; BULATOVA, 2003; PITANGA, 2004).
    No jiu-jitsu a flexibilidade é bastante solicitada em diversas articulações, dependendo do posicionamento de luta em que os atletas se encontram. Uma das articulações mais solicitadas é a articulação do quadril, onde podemos observar na figura 1 (ANEXO 1), o atleta que está de costas para o solo aplicando uma raspagem , realiza neste gesto esportivo uma flexão de quadril com uma extensão de joelhos simultâneas, provocando assim, um encurtamento do reto da coxa em ambas as extremidades , enquanto os jarretes se alongam também em suas extremidades. Tanto o reto da coxa, quanto os jarretes são músculos biarticulares, agonista e antagonistas entre si, e quando atingem amplitudes extremas sofrem tensões em suas extremidades. (RASCH, 1991; KAPANDJI, 1990). Neste posicionamento em particular, a musculatura posterior de coxa sofre um alongamento que ultrapassando os limites de seu arco articular pode levar a uma tensão músculo-tendínea excessiva, considerando o músculo como um dos principais componentes limitantes da amplitude de movimento articular, seria indesejável uma flexibilidade extremamente limitada, porque se os tecidos colágenos e os músculos que atravessam esta articulação estiverem tensos, aumentam a probabilidade de sua laceração ou ruptura quando a articulação é forçada além de sua amplitude de movimento normal. (DANTAS, 2003; HALL, 2000).
    Ainda para Holland citado por Shankar (2002) o músculo, a fáscia, o tendão e o ligamento podem exibir um grau de rigidez aumentado - que conduz a um funcionamento não-ótimo em uma determinada articulação. Todo o músculo tem seu cumprimento normal desejado para a sua função, exceder este cumprimento realizando amplitude extremas podem predispor tal musculatura a lesões.
    Para Zito citado por Achour Júnior (1997), é na amplitude final do movimento que geralmente ocorrem lesões. A utilização da flexibilidade como profilaxia para a diminuição de riscos de lesões, decorrentes da execução de movimentos que exigem amplitude máxima de uma articulação, ainda são pouco investigados. Muitos autores defendem a utilização da flexibilidade na prevenção de lesões por acharem necessária a inclusão desta qualidade física em todos os períodos de treinamento de um atleta, independente da sua modalidade esportiva. (DANTAS, 2003; FARINATTI, 2000; PLATONOV; BULATOVA, 2003)
    É importante relembrar que a flexibilidade embora não seja uma qualidade física de importância prioritária na performance, se comparada com a força, à velocidade ou a resistência, ela está presente em quase todos os desportos. (Dantas, 1999).
    Castro (2001), sugere a prática constante de exercícios de flexionamento, procurando dar ênfase nos grupos musculares mais solicitados durante a prática de alguma modalidade, respeitando o princípio da especificidade, os exercícios para manter ou aumentar a flexibilidade, seriam aplicados para prever encurtamentos e possíveis contraturas para otimização da performance muscular. As lesões para Farinatti (2000), decorem de fatores múltiplos, não somente pela influência de uma má flexibilidade.

III. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Tipo de Pesquisa
    O estudo foi realizado através de uma pesquisa de campo de natureza quantitativa, no intuito de medir os níveis de flexibilidade da articulação do quadril em atletas de jiu-jitsu. Pesquisa a qual segundo LAKATOS (1991), tem como objetivo conseguir informações e/ou conhecimentos a cerca de um problema, para qual se procura uma resposta, ou uma hipótese que se queira comprovar.

Amostragem
    Para composição da amostragem foram selecionados aleatoriamente 30 atletas participantes de competições da Federação de Jiu-Jitsu do Estado de Sergipe, na faixa etária de 20 à 29 anos.

Instrumento de Pesquisa
    Foi utilizado o teste de "Sentar-e-alcançar" (Seat and Reach Test (Jonson e Nelson, 1979)), proposto por Filho (1999), que objetiva medir a flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores.
O avaliado deve realizar um prévio aquecimento com exercícios de alongamento. Sentado no solo, pernas estendidas com a sola dos pés descalças apoiadas contra o banco. O avaliado de projetar-se lentamente para frente com ambas as mãos paralelas tão distantes quanto possíveis, mantendo esta posição momentaneamente. O avaliador deve apoiar com as mãos os joelhos do avaliado, sem pressioná-los para que se mantenham estendidos. O escore é o ponto mais distante alcançado com a ponta dos dedos das mãos. Deve ser registrada a melhor das três marcas. (ACMS, 2000).

Coleta de Dados
    Os procedimentos para a coleta de dados aconteceram através de uma ficha para obtenção dos dados referentes ao avaliado, como nome, idade, tempo de prática, como também os resultados em "cm" das três tentativas do teste. (Anexo 2).

Tratamento Estatístico
    Para obtenção das estatísticas descritivas média e desvio padrão ( X e S), foi utilizado o Microsoft Excel, encontrado no Software Windows 2000.
Para análise dos resultados obtidos foi utilizada a tabela da ACMS (2000), de classificação da flexibilidade, onde a qual irá fornecer os dados comparativos de forma quantitativa em percentis. (Anexo 3).


IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO


Figura 2 - Gráfico dos resultados obtidos no estudo dos 30 atletas de Jiu-Jitsu,
expressos em "cm", atleta por atleta.

    Na figura 2, acima, o gráfico do resultado da flexibilidade dos atletas, mostra que o atleta 20 obteve o maior índice com 48 cm, correspondente à classificação da ACMS (2000), como acima da média da população. Já o atleta número 29 foi o que obteve o menor índice, atingindo 13 cm, obtendo uma classificação bem abaixo da média da população.
     Quando quantificamos o grupo por inteiro obtivemos a média de 32,53 cm de flexibilidade, o que classifica o grupo como estando na média da população não atleta.
Talvez este resultado do grupo de atletas não seja muito vantajoso, pois os mesmos na prática da modalidade necessitam das amplitudes máximas da articulação do quadril.
    Segundo Platonov e Bulatova (2003), um bom nível de flexibilidade permite ao atleta obter amplitude ideal de movimento em todas as articulações utilizadas para realizar eficazmente os exercícios de competição.
    Os atletas de jiu-jitsu em determinados movimentos do combate trabalham com grandes amplitudes de movimento na articulação do quadril, com também em outras articulações a depender do posicionamento adotado.
    Com base nos resultados, acreditamos que os atletas de Jiu-Jitsu para obter uma melhor performance esportiva, deveriam ter resultados bem acima da população não atleta.
    Já que para Dantas (2003), a importância da flexibilidade está relacionada a uma maior eficiência mecânica por permitir a realização dos gestos desportivos, em faixas bastantes aquém do limite máximo do movimento.


V. CONCLUSÃO
    Com base nos resultados conclui-se que os atletas de jiu-jitsu do estado de Sergipe, para obter uma melhor performance esportiva e evitar lesões músculo-articulares devem ter resultados em seu índice de flexibilidade acima da média da população não-atleta, pois os mesmos classificam-se na média da população não-atleta.
    Com isto, exercícios de alongamento com a finalidade de aumentar os índices de flexibilidade devem seguir a especificidade de cada esporte preparando as articulações e seus fatores limitantes para atingir os seus últimos graus de amplitude de movimento, quando solicitados no gesto esportivo particular de cada modalidade.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
ACHOUR JÚNIOR, A. Estabilidade Músculo - Articular. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde - V.2, N.5, p.76-83, 1997.

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. ACSM's guidelines for exercise testing and prescription. 6th ed. USA: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.

BORGES, O. A. Jiu-jitsu: educação ou adestramento? Revista Treinamento Desportivo. V.4, N.1, p.67-71, 1999.

CASTRO, R. Treinamento da flexibilidade: Uma Abordagem Metodológica. Revista Baiana de Educação Física, V.2, N.3, 2001.

DANTAS, E. H. M. A Prática da Preparação Física. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Shape,2003.

_______, E. H. M. Flexibilidade: Alongamento e Flexionamento. 4ª ed. - Rio de Janeiro: Shape, 1999.

FARINATTI, P. T. V. Flexibilidade e Esporte: Uma revisão da Literatura. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo. 14(1): 85-96. Jan./Jun. 2000.

FERNANDES FILHO, J. A prática de avaliação física: testes, medidas, avaliação física em escolares, atletas e academias de ginástica. Rio de Janeiro: Shape ed., 1999.

HALL, S. J. Biomecânica Básica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

KAPANDJI, I. A. Fisiologia articular: esquemas comentados de mecânica humana: menbro inferior. São Paulo: Manole, 1990.

LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1991.

PITANGA, F. J. G. Testes, Medidas e Avaliação em Educação Física - 3 ed. - São Paulo: Phorte, 2004.
PLATONOV, V. N. A preparação física. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.

Raio X. Tatame, Rio de Janeiro: Editora ?, nº 67, pp. ? , set. 2001.

RASCH, P. J. Cinesiologia e Anatomia Aplicada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

Regras Oficiais da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu. Rio de Janeiro: CBJJ (2004). Disponível em http://www.cbjj.com.br/regras.htm. Acessado em 18 de novembro de 2004.

SHANKAR, K. Prescrição de exercícios. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

SUGAI, V. L. O caminho do guerreiro.V. 1 . São Paulo: Ed. Gente, 2000.

RENZO, G. Brazilian Jiu-Jitsu. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

Obs: Anexos e pesquisa na íntegra: * Prof. Marcelo Mota - Email:marcelomota@bol.com.br


 

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