As
doenças cardiovasculares
são a principal causa de morte nos EUA, sendo responsáveis
por cerca de 50% do total de mortes a cada ano e afetando por volta
de 14 milhões de americanos. Esse número inclui aqueles
que possuem angina pectoris (dores no tórax), assim como pessoas
com uma deficiência na capacidade do coração de
bombear sangue de maneira eficaz (insuficiência cardíaca),
resultando em um fluxo insuficiente de sangue aos tecidos. Aproximadamente
1,5 milhões de americanos sofrem ataques cardíacos a
cada ano e quase um terço desses morre. Além disso, os
ataques cardíacos são assassinos oportunistas que não
diferenciam sexos: cerca de metade das 500.000 mortes anuais causadas
por ataque cardíaco ocorrem entre mulheres. E, a cada ano, mais
de 700.000 pacientes com doenças cardíacas passam por
pontes de safena ou angioplastias. O tratamento para pessoas com doenças
cardíacas é multifacetado e inclui a cessação
do tabagismo, a redução do colesterol, o controle da
pressão arterial e exercícios físicos.
Benefícios e limitações
Atingir o condicionamento físico com exercícios aeróbicos
regulares ajuda a diminuir a frequência cardíaca e a pressão
arterial seja em descanso ou em qualquer nível de exercício.
Consequentemente, a carga de trabalho do coração é reduzida
e os sintomas de angina pectoris são aliviados. O exercício
regular também melhora o funcionamento dos músculos e
aumenta a capacidade do paciente cardíaco de absorver e utilizar
o oxigênio. Isso é conhecido como consumo máximo
de oxigênio (VO² máx.) ou capacidade cardíaca. À medida
que a capacidade do corpo de transportar e distribuir oxigênio
aumenta, o paciente tem mais energia e sente menos cansaço.
Esse benefício é importante para pacientes com doenças
cardíacas cuja condição física é tipicamente
pior do que a de adultos saudáveis de mesma idade. Ademais,
os maiores progressos geralmente ocorrem entre aqueles de pior condição
física.
De que forma um aumento na capacidade
cardíaca ajuda o paciente
a realizar atividades no trabalho e em seu tempo livre com mais facilidade?
Cientistas descobriram que uma dada tarefa requer um suprimento relativamente
constante de oxigênio. Os pacientes que não possuem uma
boa condição física podem ter de trabalhar no
nível máximo de suas capacidades cardíacas para
realizar atividades de intensidade moderada em seu tempo livre, como
passear com o cachorro ou cuidar do jardim. Já os pacientes
que possuem uma boa condição física consomem a
mesma quantidade de oxigênio para tais atividades, porém,
como têm uma capacidade cardíaca maior, realizarão
essas tarefas em uma porcentagem menor de seu respectivo consumo máximo,
com menos cansaço ou quaisquer outros sintomas.
Os programas de treinamento com exercícios aeróbicos
podem resultar em uma diminuição modesta de massa corporal,
tecido adiposo, pressão arterial (especialmente em pessoas com
hipertensão), colesterol total, triglicerídeos e as lipoproteínas
de baixa densidade (LDL, o colesterol “ruim”) e em um aumento
na fração das lipoproteínas de alta densidade
(HDL, o colesterol “bom”). Também há indícios
de que o exercício traz efeitos favoráveis à resistência à insulina
(uso de açúcares no sangue) e à coagulação
sanguínea.
No entanto, apesar de a atividade
física regular afetar favoravelmente
a pressão arterial, o colesterol, a obesidade e a diabetes,
não se deve esperar que somente o exercício altere o
estado de risco global. Os programas mais eficazes para a redução
do risco coronário também incluem a reeducação
alimentar, aconselhamento para a cessação do tabagismo,
redução do estresse e uso de medicamentos, se necessário.
Os pacientes cardíacos que fazem exercícios regularmente
relatam um aumento em sua autoconfiança, especialmente ao realizarem
tarefas físicas; uma sensação de bem-estar; e
menos depressão, estresse, ansiedade e isolamento social. Além
disso, os resultados combinados de exames clínicos aleatórios
indicam que a reabilitação cardíaca por meio de
exercícios em pacientes que tiveram ataques cardíacos
resultou em uma taxa de mortalidade de 20 a 25% menor.
Embora os vários benefícios dos exercícios sejam
inegáveis, não há provas contundentes de que somente
o exercício aumente o diâmetro das artérias coronárias
ou o número de minúsculos vasos sanguíneos que
se interconectam (a chamada circulação colateral) e alimentam
o músculo do coração.
Além de que os treinos convencionais parecem ter pouco ou nenhum
efeito para melhorar a eficácia de bombeamento (conhecida como “fração
de ejeção”) de um coração danificado
ou reduzir irregularidades rítmicas do coração.
Quanto devo me exercitar?
Os benefícios mais consistentes geralmente aparecem quando o
treino é realizado pelo menos três vezes por semana durante
três meses ou mais. O exercício frequente pode produzir
melhorias ainda maiores; porém, se o programa for abandonado,
os benefícios se perdem em semanas. A duração
das sessões de treino aeróbico deve incluir um mínimo
de 30 minutos contínuos ou acumulados (ou seja, três séries
de 10 minutos cada) em uma intensidade entre 70 e 85% da frequência
cardíaca máxima do indivíduo. Entretanto, aconselha-se
que a frequência cardíaca para o exercício seja
de 10 batidas por minuto abaixo da intensidade em que sintomas ou sinais
anormais começam a aparecer no corpo. O seu médico deve
aprovar a intensidade de exercício que é considerada
segura e apropriada para você.
A caminhada é mais vantajosa do que outras formas de exercício
durante as fases iniciais de um programa de exercício cardíaco.
Programas de treinamento com caminhadas aceleradas podem resultar em
progressos substanciais na condição física e nos
fatores de saúde mencionados acima. A caminhada oferece uma
intensidade de exercício que é facilmente tolerável
e causa menos problemas ortopédicos do que o jogging ou a corrida.
Além disso, é uma atividade que não requer nenhum
equipamento especial além de um par de tênis esportivos
adequados. O exercício aeróbico e o treino de resistência
(força) para a parte superior do corpo podem aumentar a força
muscular e a resistência de forma efetiva e segura em pacientes
coronarianos clinicamente estáveis. Essas mudanças também
podem resultar em melhorias nas funções cardiovasculares,
reduzindo a frequência cardíaca e as respostas da pressão
arterial ao esforço da parte superior do corpo (por exemplo,
levantar algo). Consequentemente, esses programas de treinamento podem
diminuir a demanda cardíaca de atividades no local de trabalho
e atividades de lazer e fornecer uma maior diversidade ao seu programa
de condicionamento físico, podendo elevar o interesse e a adesão
do paciente. Programas de treinamento de resistência com série única,
realizados no mínimo de duas a três vezes por semana,
são mais recomendados do que os programas com séries
múltiplas, por serem altamente efetivos e consumirem menos tempo.
Também se recomenda que esses programas incluam de 8 a 10 exercícios
diferentes que trabalhem os principais grupos musculares (braços,
ombros, peito, costas, quadris e pernas) e que a carga permita de 10
a 15 repetições com um nível moderado de cansaço.
Uma declaração consensual recente da Associação
Americana do Coração (American Heart Association) sobre
a prevenção de ataques cardíacos e de morte em
pacientes com doenças coronárias sugeriu um mínimo
de 30 a 60 minutos de atividade moderada, de 3 a 4 vezes por semana,
suplementado por um aumento de atividades no dia-a-dia (por exemplo:
pausas para caminhar no trabalho, uso de escadas, jardinagem e atividades
domésticas); o benefício máximo seria atingido
com 5 a 6 horas de exercício por semana. O aumento da atividade
física no dia-a-dia pode ajudar nesse caso (Figura/Número
1)*.
Os riscos do exercício
O risco de complicações cardiovasculares parece aumentar
rapidamente durante a atividade física exaustiva, quando comparado
com o risco em outros momentos. Isso se torna verdade particularmente
para pessoas com doenças cardíacas que são sedentárias
por hábito. As estimativas contemporâneas de complicações
cardiovasculares significativas em programas de reabilitação
cardíaca por exercício variam entre um paciente a cada
100.000 horas de exercício e um a cada 300.000. Portanto, a
reabilitação por exercício mostrou ser segura,
com casos sérios sendo raros. Ademais, o risco global de uma
complicação cardíaca parece ser reduzido em pessoas
que se exercitam regularmente.
Independentemente do formato de exercício, os pacientes cardíacos
devem prestar atenção aos quatro sinais ou sintomas que
podem indicar um agravamento ou progressão de sua doença
cardíaca: angina pectoris nova ou recorrente (dor ou pressão
no tórax, dor na mandíbula ou no queixo, desconforto
no braço esquerdo ou direito, dores nos ombros e costas); falta
de ar incomum ou estranha; vertigem e tontura; e anormalidades rítmicas
do coração. Nesses casos, deve-se interromper o exercício
e procurar ajuda médica.
Atividades de Alto Risco
Atividades extremamente exaustivas ou de paradas e retomadas bruscas
podem ser beneficiais, mas estão mais propensas a colocar o
coração em um estresse desnecessário, especialmente
para aqueles que são sedentários. Por exemplo, foi provado
que retirar neve pesada e molhada com uma pá pode elevar bastante
a frequência cardíaca e a pressão arterial. Os
ataques cardíacos geralmente ocorrem, durante os meses frios
de inverno, com pessoas de meia-idade e idosos que estão limpando
a neve de suas garagens ou passagens e acabam exaurindo-se.
Dificuldades na realização
Com um argumento tão convincente a favor do exercício
moderado, é uma pena que mais e mais pacientes cardíacos
não aproveitem seus benefícios. Somente de 11% a 20%
dos pacientes com doenças cardíacas participam de programas
de reabilitação supervisionados, o que sugere uma vasta
inutilização, particularmente entre adultos mais velhos,
mulheres e minorias. Além disso, os programas de exercício
cardíaco têm relatado índices de abandono de 50%
depois de 3 a 6 meses. Portanto, parece que o exercício não
difere tanto de outros comportamentos relacionados à saúde:
geralmente metade ou menos daqueles que iniciam uma mudança
darão continuidade a ela. As barreiras comuns para o ingresso
e participação incluem falta de orientação
médica, problemas de transporte, tempo (calor ou frio), outros
problemas médicos (por exemplo, artrite), falta de reembolso
do seguro e acesso limitado.
Estratégias de Comportamento
Várias recomendações práticas são
oferecidas para manter a motivação pela boa condição
física. Essas incluem:
-
Aprender os “porquês” e os “comos” do
exercício.
-Minimizar a possibilidade de ferimentos com um programa de exercício
sensato. É muito comum que novatos se desencorajem devido à dor
muscular de se aumentar o nível de exercício muito abruptamente.
Peça ajuda qualificada.
-Exercite-se com outras pessoas. O reforço social de outros,
seja em um local supervisionado ou em casa, pode aumentar o comprometimento
ao exercício.
-Pratique atividades prazerosas. Quando o exercício é divertido
ou prazeroso, é mais fácil manter a motivação.
-Faça testes físicos periodicamente para avaliar seu
progresso individual.
-Marque suas conquistas em uma tabela de progresso.
-Estabeleça uma programação para exercitar-se.
-Escute música durante as sessões de exercício.
-Incorpore mais atividade física no seu dia-a-dia.
-Programas de exercício em casa versus programas supervisionados
Embora os programas de exercício em grupo supervisionados por
médicos estejam associados com custo elevado e necessidade de
locomoção, eles são recomendados a pacientes com
uma grande deficiência cardíaca ou sinais e sintomas adversos
(ou seja, aqueles com um risco elevado de eventos cardiovasculares
futuros). Ademais, os programas supervisionados facilitam a aprendizagem
do paciente quanto a mudanças no estilo de vida para a redução
do risco coronário, fornecem variedade e oportunidades recreativas
e oferecem a garantia de uma equipe de funcionários e um potencial
elevado de adesão, segurança e vigilância. A reabilitação
por exercício em casa direcionada por um médico representa
uma alternativa viável e, por causa do baixo custo, representa
acessibilidade aumentada, conveniência, potencial para promover
a modificação do fator de risco, independência
e autorresponsabilidade. Para pacientes coronarianos estáveis,
tanto a reabilitação por exercício em casa quanto
programas em grupo supervisionados mostraram ser seguros e eficazes.
Conclusões
Até a metade da década de 1980, programas de reabilitação
cardíaca focavam-se em exercícios e uma dieta “prudente”.
Apesar de esses programas resultarem em uma forma física aprimorada
e diminuições modestas na mortalidade, o curso da aterosclerose
permaneceu basicamente inalterado. Estudos contemporâneos sugerem
que a modificação súbita do fator de risco coronário,
incluindo dieta, medicamentos e exercício (especialmente combinados),
pode desacelerar, parar e até reverter a progressão da
aterosclerose coronariana. Os benefícios adicionais incluem
a redução dos sintomas de angina pectoris, menor número
de eventos cardíacos recorrentes e menor necessidade de angioplastias
e/ou pontes de safena. Hoje, o exercício continua sendo o componente
principal de um método abrangente para o tratamento de doenças
cardíacas (Figura/Número 4)* – um método
que também inclui aconselhamento psicossocial e vocacional,
apoio emergencial, vigilância médica e modificação
súbita do fator de risco coronário.
Escrito para a Colégio Americano de Medicina Esportiva (American
College of Sports Medicine) por Barry A. Franklin, Ph.D., FACSM (presidente);
Gary J. Balady, M.D., FACC; Kathy Berra, M.S.N., ANP; Neil F. Gordon,
M.D., FACSM, e Michael L. Pollock, Ph.D., FACSM.
*Não há figura no texto original.
PARCERIA DE TRADUÇÕES:

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